Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 48
Capítulo 41


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, mais um capítulo revisado para vocês!!! Espero que gostem... Uma boa semana para todos S2



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“Felicidade não compartilhada dificilmente pode ser chamada de felicidade; ela não tem gosto”. (Charlotte Brontë)

Dias após a morte de sua mãe, Vincent ainda não era capaz de seguir com os seus compromissos. 

Tinha finalizado toda a burocracia dos trâmites para o enterro de Elaine, e esse foi o assunto que salvou a sua mente de afundar em uma tristeza inabitada. Pois era assim que se sentia, como em um cômodo desorganizado em que apenas ele parecia incomodado com a bagunça. O mundo seguia. Sem Elaine. E as pessoas viviam as suas rotinas, ignorantes da inexistência dela, como se a sua passagem não tivesse a força de um terremoto que modifica as estruturas. 

A ausência de sua mãe mudou tantas coisas dentro dele que Vincent mal se reconhecia. Para ser justo, Elaine o modificou antes mesmo de partir. Ainda em vida, o fez resgatar emoções esquecidas, sobretudo a humildade que é sofrer, que é ser impotente e insignificante no curso natural da vida. 

E toda a melancolia da falta que sentia da mãe só era abafada de vez em quando por um único pensamento: Gilan. 

A dor de não tê-la por perto parecia exceder tudo dentro dele. 

E mais que o seu toque e presença, doía se dar conta que a sua mulher o havia deixado de maneira muito mais íntima. Gilan não confiava mais nele. E Vincent sabia que, se fosse necessário, tentaria por mil anos até que pudesse chegar em algum lugar com ela. Mas não via sentido forçá-la a sentir algo que ele mesmo havia minado em seu coração. Perdeu tanto tempo tendo medo de tudo que agora não tinha nada.

Escutou o interfone do apartamento ecoar e autorizou que Matthew Green subisse. Pouco tempo depois o jovem produtor estava a sua frente, com uma expressão amena. 

— Não esperava te ver. — Vincent tentou soar respeitoso, dentro do possível. A verdade era que preferia não receber visitas.

—  Desculpe vir sem avisar, mas eu precisava me despedir.

—  Se despedir?

— Sim. Eu não achei conveniente falar sobre isso no enterro de Elaine, por isso resolvi te procurar.

— Vai abandonar a produtora? — Vincent não esperava por aquilo, Matthew Green era muito bem sucedido no ramo.

— Vou investir em outra área, ainda no audiovisual, mas em algo menor, quero voltar para a minha cidade natal… —  o produtor hesitou um pouco. — Ficar perto da minha família.

— Entendo. — e ele podia mesmo compreender. — Você faz muito bem.

— Eu sinto muito, Vincent. — o produtor despejou. — Eu não imaginava que vocês estivessem passando por tudo isso.

— Foram tempos difíceis, mas nada justifica a farsa que eu criei. — nada justifica ter magoado a Gil, pensou.

—  Eu não estou aqui para te julgar. Apenas para me despedir.

— Você já falou com a Gilan? — Vincent precisou perguntar, e pateticamente se agarrar nas migalhas de qualquer notícia sobre ela.

— Ela já sabe que irei embora. — Matthew ficou alguns segundos em silêncio, encarando o olhar cansado de Vincent. — Gil não está bem, Parker, assim como você.

— Gil amava muito Elaine. 

— Não é só Elaine que tem esse amor. — o produtor retrucou.

E o coração de Vincent pulsou dolorido. Era tão distante lembrar que havia sido amado por ela. Não podia se entregar à ilusão do antes.  As coisas mudaram demais. Parecia em outra vida.

— Eu consegui foder com tudo, Matthew. — ele disse honestamente. — Não posso voltar atrás. 

— Eu não acho que mudar o que aconteceu faça qualquer sentido. O que deveria importar não está no passado.

— Ela pediu o divórcio. — ele riu sem humor. Falar aquilo em voz alta parecia mil vezes pior do que as noites que gastou acordado pensando no assunto. — Tudo deveria ser tão diferente. Iríamos para Monterey… Mas no dia da viagem, eu estava enterrando a minha mãe. 

A sala ficou em silêncio. Sabia que Matthew não era uma má pessoa, mas odiava a sensação de sentirem pena dele. E isso era o que transbordava no olhar do jovem produtor, uma condescendência que Vincent não precisava mais. Queria desabafar, mas não merecia uma gota da compreensão de ninguém. Tinha feito tudo errado e merecia sofrer por cada coisa que acontecia com ele.

— Eu sempre soube que existia algo errado nesse casamento… — o jovem produtor finalmente falou. — Mas, de alguma forma muito peculiar, apesar de tantos enganos, vocês se apaixonaram. 

— É uma grande pena eu ter entendido isso tarde demais.

— Eu não acho que seja assim, Vincent.

— Que seja tarde demais?

— Que você tenha entendido. — o jovem produtor respondeu, antes de ir na direção da saída. — E isso sim é uma grande pena. 

xXx

Gil se viu arrumada pela primeira vez desde o enterro de Elaine. 

Havia se demitido da B&B Larsson, ficando alguns dias reclusa e mergulhada na dor que sentia. Era tanta saudade que chegava a sufocar. Tudo o que ela e Elaine viveram juntas naqueles meses, toda a rotina, os encontros, as conversas e as trocas intermináveis que tiveram faziam uma falta que dilacerava. 

E no meio de tanto ainda havia o que sentia por Vincent. 

Não tinha mais coragem de chamar de amor. Estava apaixonada, obcecada, ou até mesmo em abstinência dele. Mas não chamaria mais de amor. Não chamaria nada que doesse de amor.

 E agora, se preparava para uma entrevista de emprego na Starprise Mtm. Precisava recomeçar a vida, mesmo que não parecesse justo com Elaine. Um mundo sem ela não deveria seguir o seu curso tão inconsciente da sua ausência. Mas era assim que deveria ser, a única certeza que tínhamos era de que estamos aqui, e um dia, não estaremos mais.

Algumas horas depois, estava almoçando em um restaurante aos arredores do seu possível novo local de trabalho. Havia ido muito bem na entrevista e se sentia positiva sobre o cargo que tanto queria, de líder de equipe. Seus pensamentos a deixaram tão absorta que não percebeu quando alguém se aproximou de sua mesa.

— Posso? — Harold Mars apontou para a cadeira vazia em frente de Gil.

Ela o encarou com dúvida, mas assentiu. Não tinha certeza se seria uma boa companhia para qualquer pessoa naquele momento. Ainda se sentia muito deprimida e tinha a impressão que estava enferrujada para socializar.

— Eu lamento muito pela sua perda. — Harold foi gentil e Gil sentiu honestidade no gesto dele.

— Elaine era maravilhosa, fará muita falta. — ela suspirou pesadamente. — Já faz.

— Quero que saiba que se precisar de qualquer coisa eu estou à sua disposição, de verdade.

— Obrigada por isso, mas agora só o tempo poderá fazer algo por mim.

— Parker não comentou que você pretendia uma vaga na Starprise, eu posso ajudá-la com isso. — apesar de direto, Harold soou delicado ao mudar de assunto.

— Foi uma decisão recente, e de qualquer maneira, eu não queria ter nenhuma vantagem.

— Não seria vantagem de forma alguma, na verdade é uma desvantagem que a B&B perca você. 

— Tivemos algumas divergências, e eu… — Gil hesitou, mas achou mais fácil apenas divulgar a informação que todos logo saberiam. — Eu e Vincent estamos nos divorciando.

— Sério? — o espanto genuíno de Harold surpreendeu Gil. — Eu jamais poderia imaginar.

— Como o senhor disse uma vez, algumas pessoas são fracas para o amor. — ela riu, sem achar nenhuma graça realmente.

— E como eu também disse, não me parece o caso de vocês. — Harold a encarou fixamente.

Gil desviou o olhar, incapaz de sustentar qualquer tentativa de alguém acessá-la. Estava cravada em sua expressão o tamanho da mentira que criaram. Harold não sabia, ninguém que ela não contasse poderia saber. Mas ainda sim, a culpa era tão explícita, como se a entregasse, como se despejasse tudo o que ela escondeu por meses para qualquer um ver. 

— Eu não quero ser mais indiscreto do que eu normalmente sou… — Harold disse com muita cautela em sua voz. — Mas preciso confessar que observo muito as pessoas. E eu pude presenciar algumas interações de vocês que me fazem acreditar que esse divórcio não parece uma decisão sensata.

— Não é uma questão de sensatez, mas de confiança. — ela foi vaga. Harold estava sendo realmente indiscreto, afinal.

— Certo. — ele disse simplesmente. — Nesse caso, me desculpe por opinar. Ninguém sabe mais do seu casamento do que você. E de que importa a opinião de pessoas que não conhecem profundamente o Vincent como você o conheceu, não é mesmo?

Gil quis responder qualquer coisa, mas se sentiu mortificada com aquela constatação tão óbvia e tão esquecida em algum lugar dentro dela. Foram tantos meses de convivência, de descobrimento e de compartilhar detalhes que só os dois conheciam que não parecia racional sustentar tantas dúvidas. Harold estava certo. Não era sensato.

E tudo o que Amelia havia dito, parecia realmente compatível com o homem que ela aprendera a desarmar tão bem? 

Sabia das expressões dele, dos silêncios e das palavras que ninguém jamais o ouvira dizer. Aprendeu tanto sobre o seu marido assim como ele aprendeu sobre ela. Eles se conheceram aos poucos, tão devagar e inesperado que talvez não puderam se dar conta do quanto. Do quanto estavam próximos.  E isso não era uma mentira.

Era a única verdade que Gil possuía. 

Sabia quem era Vincent Parker. E jamais poderia dizer que o amou sem dizer que o conheceu.

xXx

— Gil, você chegou na hora certa! 

Kerya ficou eufórica assim que a viu colocar os pés no seu apartamento. A sala parecia minúscula com as presenças de Matt e Oliver sentados no sofá. Esse segundo, era agora uma visita constante na casa das irmãs. Algo que intrigava Gil, uma vez que Kerya não parecia ser exatamente uma grande fã do chefe de pesquisas. Reparou que o advogado da família, Dr. Stan, estava encostado no balcão que separava a sala da cozinha e segurava alguns papéis.

— Está tudo bem? — Gil perguntou, se sentindo um pouco alerta com a presença do advogado, parecia algo sério. 

— Nós encontramos os golpistas! Nós recuperamos o nosso dinheiro. — Kerya revelou com entusiasmo.

— Isso é maravilhoso! — Gil comemorou, encarando o advogado em seguida. — Como? Quando?

— Darei todos os detalhes, mas posso dizer que os detetives particulares foram essenciais. — Dr. Stan revelou. — Jamais teríamos conseguido sem a ajuda do seu marido.

— Do meu marido?

— Eu descobri que o Sr. Parker foi incansável na busca dessa quadrilha. — Dr. Stan continuou. — Contratou um departamento praticamente inteiro apenas para nos auxiliar.

— Gil, eu e o Dr. Stan não fazíamos ideia disso, Vincent não te disse nada mesmo? — Kerya a questionou.

— Não, ele não disse. 

E uma onda trêmula de angústia e lágrimas varreu tudo dentro dela. Deus! Estava tão grata por Vincent, mas ao mesmo tempo tão atordoada com a ambiguidade de todos os acontecimentos recentes. 

Por que ainda tinha tanto medo? Por que era tão difícil apenas confiar no que sentia?

— Deu tudo certo, Gil. Recuperamos todo o dinheiro que perdemos. Por que você está chorando? — a mais velha se aproximou, tentando confortá-la.

— Eu não sei, eu… — ela tentou responder, sem realmente conseguir verbalizar. — Eu não sei o que pensar, eu estou tão perdida. Eu não sei mais em que acreditar.

— Só siga o seu coração. — Matt falou, ainda sentado no sofá, com o olhar menos alegre que de costume, mas ainda sim, amável.

Gil se aproximou do produtor, o abraçando em seguida.

— Eu sinto muito, Matt. Eu não queria ter mentido para você. Ter te magoado. Eu não queria que você fosse embora.

E isso era a mais honesta verdade. Desde que havia revelado tudo sobre a trama do falso casamento, Matt  a apoiou sem julgá-la. 

Mesmo que Gil o tivesse usado, se agarrando na possibilidade de esquecer Vincent e todo o peso das mentiras que criaram, mesmo que Gil não pudesse correspondê-lo como merecia, mesmo que a sua ida para outra cidade fosse parcialmente por causa dela, ainda sim, Matt estava ali. Em momentos que ele poderia apenas não estar.

— Eu não te culpo de absolutamente nada, então não existe motivo para que você se desculpe comigo. Eu não creio que você precise do meu aval, mas quero que saiba que estou indo embora porque sinto falta da minha mãe e das minhas irmãs, e que você nunca me magoou, Gil. Nunca. Ter a sua companhia foi uma das melhores coisas que me aconteceram na vida. — ele a abraçou com ainda mais força. — Eu sempre estarei por perto, Gil. Sempre que o seu coração precisar. — ele murmurou a última frase, como se compartilhassem um segredo só deles.

— Você é bom demais para esse mundo, Matthew Green.— Gil murmurou de volta.

O produtor a encarou e abriu um largo sorriso. 

— Vá logo atrás do Vincent, Gil. — ele se afastou devagar. — Deus sabe o quanto aquele homem fica terrível sem você por perto.

— Ele tem razão. — Oliver falou. — Parker não é o mesmo desde que você apareceu, e todo mundo é capaz de perceber o quanto ele mudou.

— Não pense que eu perdoei o lunático do seu marido, — Kerya complementou. — mas tenho que admitir, ele realmente está apaixonado por você, Gil. E ninguém aqui tem dúvidas disso.

— Nem mesmo o departamento de polícia. — Dr. Stan brincou.

E Gil sorriu. Porque pela primeira vez, ela também não tinha a menor dúvida.


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Notas finais do capítulo

Aaaaah será que agora finalmente vem a reconciliação deles?
Até a próxima, pessoal o/



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