Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 44
Capítulo 37


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, ainda tem gente que acompanha essa fanfic?
Fiquei cinco anos sem postar, e realmente, pensei em desistir de escrever. O ano de 2018 foi o ano em que meu pai faleceu e tudo ficou muito difícil, depois veio a pandemia e vocês já sabem... Mas ele acreditava em mim, e eu dizia que queria escrever e ele falava, escreva então. E além dessa história, tem tantas outras que eu quero contar para vocês. Por isso, resolvi finalizar Amor à venda em 2024 e me aventurar a lançar livros na Amazon. Mas vou contar melhor sobre esse projeto no ano que vem... Para vocês, meus primeiros leitores, que me leram quando eu tinha 27 anos (hoje tenho 36), só posso agradecer. Vou tentar viver do meu sonho e acho que o primeiro passo é finalizar essa história que tenho tanto carinho. Por isso, um capítulo quentinho, apenas para vocês saberem que volto aqui em 2024, e eu devo postar os capítulos finais de uma vez só (a história vai até o capitulo 42+epílogo).
Bora matar a saudade?



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"Na vingança e no amor

a mulher é mais bárbara do que o homem”.   

                                   (Friedrich Nietzsche) 

Muitos meses após a sua entrada na B&B Larson, e dias longos de entrega e trabalho duro, Gil finalmente conseguiu compreender aquela sensação que oscilava dentro dela.

Ao encarar as inúmeras telas na cabine de transmissão, atenta a cada detalhe dos procedimentos, se deu conta que fazia parte de algo grande. Algo que tomou forma com a sua contribuição, que por menor que fosse, era importante para todos ali. E principalmente, para ela mesma. 

Já não via mais aquilo como um sonho, estava se realizando. Bem na sua frente, ao lado de pessoas com as quais havia aprendido mais do que poderia agradecer.

Ao lado de Vincent. Com o qual dividia muito mais do que poderia um dia imaginar.

— Autorizado o start. O próximo bloco é nosso. — Matt informou Vincent que imediatamente se comunicou com a equipe responsável pelo CGI

— Vamos liberar a vinheta em trinta e nove segundos. — o chefe  ordenou, e Gil imediatamente se instalou ao lado dele. —  Gilan, assim que iniciar pode liberar os produtos de encerramento.

— Já estamos posicionados. Foco na câmera dois. — Gil falou no microfone com o background e se concentrou nas telas à sua frente.

— Temos o resultado do bloco anterior? — Vincent sussurrou para ela, a tensão exalando em seu rosto.

— Sim. A Moda Mulher bateu o pico. — Gil sabia que essa era uma grande questão.

Os itens do catálogo da Rise&Sun foram divididos entre as equipes do topo e dimensionados em dois blocos de exibição para cada uma delas. Já estavam nos blocos finais e a equipe esportiva ainda pareava com a Moda Mulher, eram os melhores resultados do ranking, mas a diferença apontava uma vantagem mínima para Amelia. O que tornava difícil prever qual das duas equipes esgotaria com a maior audiência.

— Vamos ultrapassar. — o chefe a olhou com uma determinação genuína. — Os dois próximos blocos são fundamentais para nós.

Gil suava um pouco, embora a cabine de transmissão estivesse com o ar-condicionado no limite. Recebeu um toque na linha do estúdio, onde todo o backstage e modelos estavam acomodados, e atendeu sem perder o foco dos patrocinadores que anunciavam no intervalo.

— Gil, temos um problema. — a voz de Sara era puro terror e Gil se inclinou um pouco, tentando ouvi-la com atenção.

— P.S, Sara. — uma das regras do chefe era, “traga o problema e uma ideia de solução”, então, havia inventado as siglas para otimizar o tempo, e Gil não poderia concordar mais.

— Temos apenas uma modelo para os itens finais, a agência não enviou as outras. — Sara despejou. — Pensamos em usá-la num take único.

— Impossível, precisamos do jogo de câmera nos cenários do CGI. — Gil sentiu uma pontada em sua cabeça, isso não era nada bom. — Temos que utilizar as cinco modelos, Sara. 

— Eles disseram que a nossa equipe cancelou e não enviaram mais ninguém, Gil. — o barulho da movimentação ao fundo abafou um pouco a voz da secretária. 

— Isso é um absurdo, estou descendo aí. — Gil largou o seu microfone e se levantou com pressa.

— Aonde você vai? — Vincent a encarou desacreditado e segurou em seu pulso.

— Até o estúdio.

— Ficou doida? Preciso de você aqui em cima comigo! — Vincent gritou, o que fez com que a atenção da sala se voltasse para os dois.

— Não temos modelos, Vincent. —  ela se soltou das mãos do chefe e o encarou com firmeza.

— Como assim não temos modelos? — ele ficou instantaneamente vermelho e começou a hiperventilar. — Vamos entrar no ar em oito segundos, Gilan.

— Vou resolver isso, Vincent. — ela ainda não sabia como, mas não ficaria parada escutando o chefe surtar. — Confia em mim.

— Matthew, inverta o take, foca a câmera dois no catálogo final, fecharemos com as modelos no último bloco. — Vincent rapidamente raciocinou, e em seguida, fixou o seu olhar em Gil. Um olhar de confiança.  — Gilan, você tem 3 minutos e 30 segundos para entrarmos com as modelos.

Gil agradeceu o fato de Vincent tomar decisões tão rápidas e desceu da cabine de transmissão, chegando ao estúdio que estava reservado para a sua equipe. Logo avistou Sara conversando com a secretária de Amelia, Gretta.

— Podemos trazer as modelos das outras equipes para o nosso estúdio? —  Gil imediatamente questionou Gretta.

—  Não há tempo para o deslocamento, eu estava justamente explicando isso. — Gretta olhou desolada para Gil e Sara. — Teremos mais blocos de finalização após o de vocês.

Gil examinou ao redor, os cinco cenários de tela verde e apenas um deles com a modelo concedida pela agência. Seria impossível que a pobre garota estivesse em todos os lugares ao mesmo tempo. Encarou a arara de roupas esportivas e voltou a sua atenção para Sara e Gretta.

— Qual número vocês vestem? — questionou às secretárias. 

— O que? — Sara parecia em pânico. — Você não está pensando que nós-

— Sra. Ortiz, venha até aqui. — Gilan interrompeu a colega e chamou a velha senhora que até aquele momento ajudava com os figurinos. — Preciso que vista Sara e Gretta com essas roupas.— Gil apontou para as araras, e olhou a velha senhora de cima a baixo. — E preciso que a senhora também se vista.

— Gil, o que está acontecendo? — Sara questionou, ainda mais apavorada do que antes.

— Vamos apresentar os produtos. — Gil respondeu. E era isso ou nada.

— Mas Gilan, somos pessoas normais, não somos modelos. — Sara pontuou.

— E quem disse que não podemos consumir produtos esportivos? — Gil retrucou.

— Bom, eu faço hidromassagem às quartas-feiras. — Gretta comentou.

— E eu já fui bailarina, quarenta anos atrás, mas fui. — a Sra. Ortiz completou.

— Viu só? Somos todas esportistas. — Gil correu até as araras, ajudando a distribuir as roupas para as suas novas, ou nem tão novas, modelos.

Rapidamente, começaram a se trocar atrás do provador de pano e Gil olhou ao redor procurando alguém que pudesse ser a quinta modelo. Olhou para as araras mais uma vez e pegou uma troca de roupa para si.

— O que está fazendo? — Sara a olhou intrigada.

— Precisamos de cinco modelos, eu também irei apresentar. 

E depois de pronta, correu na direção do último cenário de tela verde, se posicionando em cima do “x” marcado no chão, respirando profundamente e sem tempo para se decidir se aquilo era uma grande loucura ou simplesmente a melhor ideia da sua vida. 

xXx

— Vamos entrar no intervalo em cinco segundos. — o produtor informou, e Vincent olhou mais uma vez para o relógio, preocupado com a  demora de Gilan.

Confiava nela. Claro que sim. Mais do que em qualquer pessoa daquela equipe. Sabia que a jovem não voltaria para a cabine de transmissão sem ter resolvido o problema das modelos. Mas faltavam poucos segundos para entrarem ao ar novamente, e precisava de notícias da assistente.

— O que a Sra. Ortiz está fazendo no nosso cenário? — Vincent escutou a voz de Oliver questionar. 

Ao encarar as telas na sua frente, observou que não apenas a velha Sra. Ortiz estava em um dos cenários, como a sua secretária e a secretária de Amelia também se posicionaram, vestidas com roupas esportivas da coleção da Rise&Sun e segurando diferentes produtos do catálogo.

Vincent sentiu uma dor insuportável no estômago. A sua gastrite iria matá-lo, ele teve certeza disso. 

Então, notou no último cenário a figura da sua assistente, da sua mulher, encarando a tela com os seus olhos expressivos, ainda mais azuis por causa da luz do estúdio. Vincent imediatamente ligou para o backstage e pediu para falar com Gilan. Viu na tela o exato momento em que passaram o microfone para a jovem.

— Gilan, cadê as nossas modelos? — ele perguntou com o seu  desespero já escancarado. 

— Mais do que nunca, preciso que confie em mim, Vincent. — e a voz da jovem foi tão honesta quanto a expressão que ele observava através da tela.

Encarou a sua mulher por alguns segundos e desligou a ligação.

— Adicionem o CGI imediatamente. Matthew, pode iniciar o foco na Sra. Ortiz e siga com a ordem dos cenários. Elas são as nossas modelos. — e apesar de toda a tensão, Vincent não conseguiu conter um sorriso. — Eu casei com uma maluca. 

Iniciaram a transmissão e a cada refresh no gráfico de vendas escutava um barulho de comemoração ecoar na cabine. As modelos improváveis atuavam com muito mais desenvoltura do que poderiam imaginar, mostrando os produtos e interagindo com as animações do CGI. E talvez fosse a veracidade nos gestos delas que fizeram com que mais e mais telespectadores se identificassem com as senhoras e ficassem envolvidos no canal.

Mas apesar de todo o frenesi ao seu redor, Vincent focou a sua atenção no último cenário, não conseguia desgrudar os olhos da sua assistente, em como a jovem parecia natural e desinibida em frente às câmeras. Sentiu o seu pau endurecer e não tinha certeza se aquilo era pela admiração que Gilan lhe causava ou por vê-la com as roupas justas da coleção da Rise&Sun. Francamente, desejar aquela mulher o deixava no seu limite. 

E tudo aconteceu tão rápido que mal teve tempo de assimilar quando Oliver tacou os papéis para cima e se aproximou dele.

— Nós esgotamos! Meu Deus! Esgotamos mais uma vez!

O produtor também foi na direção deles, espanto e êxtase estampados no rosto de Matthew.

— Vincent, vocês não apenas esgotaram, essa foi a maior transmissão da nossa produtora, a maior audiência que já registramos. — Matthew revelou, passando as mãos pelo cabelo e parecendo não acreditar no que tinha acabado de presenciar. — Se existir um Guinness Book do shopping home, com certeza você estará nele.

Ainda havia alguns blocos para as outras equipes finalizarem, mas Vincent sabia que acabavam de traçar o primeiro lugar. Não existia mais chance para nenhum deles ultrapassar o que acabava de acontecer. Entretanto, não conseguia falar nada, se sentia paralizado, olhando para as telas e vendo Gilan abraçar as secretarias, comemorando o feito da transmissão com os membros do backstage.

— Eu acho que você se casou com um gênio, Parker. — Oliver constatou e Vincent sorriu com orgulho. Muito orgulho.

 Queria correr dali e abraçar Gilan. Nada mais parecia tão importante quanto isso. Nenhuma vitória, nenhuma promoção. Tudo o que precisava era dizer a sua mulher o quanto a admirava e como estava grato por absolutamente tudo que ela havia feito por ele.

Não via a hora de estarem sozinhos para mostrar o quanto queria comemorar apenas com ela. Não via a hora de estarem em Monterey, onde rasgaria o contrato em pedaços e diria finalmente o quanto estava apaixonado por Gilan. O quanto a amava.

xXx

Gil sentiu o momento exato em que Vincent chegou ao estúdio. E mesmo no meio de todas as pessoas da equipe que comemoravam, percebeu que o olhar dele a encontrou tão facilmente que o seu rosto esquentou. Cumprimentou todos pelo caminho, inclusive os eufóricos Matt e Oliver, e finalmente alcançou o chefe. 

— Você foi tão extraordinária. —  Vincent a apertou contra o seu corpo e em seguida a beijou. Sabia que deveriam se comportar, mas o toque sempre durava mais do que planejava, e Gil gemeu. — Eu faria qualquer coisa para apenas fugirmos daqui. — ele murmurou entre os seus lábios.

— Eu mal posso esperar… — ela respirou ofegante. — Ficar sozinha com você.

Vincent lançou um sorriso enorme enquanto acariciava o seu rosto e Gil  sorriu de volta, esfregando a pele nos dedos do marido, realmente desejando que já estivessem no apartamento. Porém, antes que pudesse dizer mais alguma coisa, avistou Baxter e Brianna Larsson entrarem no estúdio. Os irmãos, e sócios, vieram na direção de Vincent e o cumprimentaram calorosamente.

— Eu quero parabenizar o feito dessa equipe, com certeza uma transmissão que entrará para a história da B&B. — o Presidente Larsson chamou a atenção de todos. — E Parker, eu não poderia me surpreender mais com você.

— E eu não poderia ter conseguido sem a ajuda de todos os presentes, em especial de Gilan, que foi a grande responsável por conquistarmos esse recorde. — o chefe agradeceu e Gil não conseguia conter a emoção que a invadia, seus olhos marejaram um pouco e sorriu ainda mais. — A mulher mais criativa e imprevisível que eu já tive o prazer de trabalhar. 

E então, quando todos a aplaudiram e chamaram o seu nome, não conseguiu mais segurar e começou a chorar. Dessa vez, um choro em público de pura felicidade. Aquele era um dos momentos mais especiais da sua vida e jamais o esqueceria. 

— Você merece isso e mais. — Vincent disse, mas Gil não conseguia responder nada e apenas o abraçou.

— Mesmo sem o resultado oficial, — Brianna Larsson se aproximou de ambos. — posso dizer que estaremos juntos na diretoria muito em breve, Vincent. — e a mulher sorriu de maneira genuína. — Parabéns para os dois, de fato, formam uma dupla imbatível. 

O chefe ficou alguns segundos em silêncio, encarando Brianna e só então a agradeceu. Outras pessoas da equipe vieram cumprimentar, a euforia era nítida em todos que estiveram tão envolvidos com essa transmissão por meses. E Gil pode perceber o quanto Vincent se esforçava para assimilar que finalmente havia conseguido a sua promoção para Diretor de Vendas. 

Depois de muitas interações, o chefe a puxou para um canto do estúdio e Gil não resistiu em abraçá-lo mais uma vez.

— Você conseguiu, meu amor. — Gil sussurrou no ouvido do marido. Uma inquietação dentro dela, era a primeira vez que o chamava assim.

Vincent segurou em seu rosto e tocou as suas testas juntas, suspirou intensamente fazendo com que Gil sentisse o ar quente de sua respiração.

— Quando estivermos em Monterey, eu tenho tantas coisas para te dizer... — ele pareceu hesitar um pouco, mas continuou. — Eu jamais imaginei que pudesse sentir esse tipo de felicidade. E devo isso a você, minha mulher… Minha Gil. — e a encarou, a beijando em seguida, com aquela intensidade que somente Vincent era capaz de causar. 

Gostou que o marido a chamasse de Gil. Estavam mais próximos do que jamais estiveram. Podia sentir em cada palavra a intimidade que construíam juntos. Não era mais um fingimento, era um relacionamento real e finalmente, Gil se permitia acreditar que pudessem ter um futuro após o final daquele contrato.

— Quero fazer amor com você a noite toda. — escutou o marido sussurrar. — E não vejo a hora de chegar em casa e tirar cada peça da sua roupa. Céus! Preciso comemorar com você! Essa noite é nossa, só nossa, Gil.

Foi necessária muita força de vontade para que ela desgrudasse o seu corpo do de Vincent. Precisavam se comportar em público, e ainda teriam que encarar um coquetel com os associados e a Rise&Sun antes de finalmente ficarem sozinhos.

— Temos obrigações ainda. — ela falou desolada, se afastando um pouco mais do toque do marido. 

— Um monte de pessoas que não me importam puxando o meu saco. — Vincent bufou frustrado. 

— Não será tão ruim, você adora receber elogios. — ela o provocou.

— Adoro mais te ver gemendo na minha cama. —  e o olhar de Vincent quase a fez esquecer de todos e fugir para o apartamento.

— Vou trocar o figurino e te espero no terraço. — ela tentou disfarçar, esperando que ninguém ao redor notasse o quanto estava corada. — Precisamos ficar pelo menos um pouco no coquetel.

— Meia hora, no máximo. É só o que eu posso prometer aguentar. — e ele a beijou mais uma vez. Um beijo breve de despedida mas que significava muito mais do que as pessoas ao redor eram capazes de observar.

xXx

Gil ajeitou o seu vestido azul escuro na frente do espelho do banheiro, e então, retocou a sua maquiagem, tendo o cuidado de não deixar carregada demais. Soltou os cabelos e sorriu para a sua imagem. Estava elegante, discreta e pronta para encarar o coquetel com os associados. Mal conseguia segurar a sua euforia e o seu orgulho. 

Estava tão feliz, pela equipe, por ela, por Vincent. E aproveitaria cada segundo daquela noite, esperando ansiosa pelo momento de comemorar a sós com ele. Com o seu marido.

— Você foi muito esperta hoje, Gilan.

Pelo reflexo do espelho, Gil observou Amelia White sair de uma das cabines do banheiro. Estava muito bonita, com um vestido vermelho e o olhar impassível. O olhar da líder de equipe sempre parecia muito seguro de si e a vestia tão bem quanto as grifes que costumava usar. Gil se perguntava se esse olhar era real, ou se aquela mulher apenas se tornara uma especialista em esconder o que sentia.

— Obrigada, Amelia. — Gil respondeu. — Mas eu não precisaria agir assim se não tivessem sabotado o envio das modelos.

— Isso é uma acusação? — a líder de equipe se aproximou, ficando ao lado de Gil.

— De maneira alguma, foi apenas uma observação. — Gil sabia que precisaria de provas para confirmar as suas suspeitas, e achou melhor não criar uma cena. Por enquanto.

— Imprevistos acontecem e você se saiu muito bem. — Amelia tirou um batom de sua bolsa e se retocou com delicadeza.

Gil permaneceu calada, porém, sem perder o contato visual através do espelho. Ficaria petrificada se deixasse qualquer sinal de hesitação transparecer.

— Finalmente pude entender porque Vincent confiou tanto em você. — o comentário da líder de equipe soou estranho. — O suficiente para se casar.

Gil sentiu a sua respiração acelerar e se virou para encarar os olhos âmbar de Amelia. 

— O que você quer dizer com isso? — precisou perguntar.

— Que você é inteligente… E é leal. — Amelia a elogiou, mas nem de longe pareceu honesto. E antes que Gil pudesse retrucar, a líder continuou. — Inteligente o suficiente para não se apaixonar por ele e leal para jamais revelar sobre o contrato a ninguém. 

Um suspiro alto demais escapou de seus lábios e Gil perdeu um pouco a força nas pernas, precisando se apoiar discretamente na pia.

— Do que você está falando? — juntou forças para confrontar a líder de equipe.

— Sabemos exatamente do que eu estou falando, Gilan. — Amelia devolveu. — Vince me contou. Tudo. — a expressão de Gil ainda era de total confusão e a líder de equipe continuou. — Sobre o contrato, sobre o casamento falso, sobre o dinheiro que ele te pagou para fingir ser a sua esposa.

Gil apenas olhava para Amelia. Sem dizer nada. Nenhuma palavra. Não parecia real o que acabara de escutar. Vincent jamais poderia ter revelado isso para ela. Para ninguém. Era uma das cláusulas daquele contrato. Ninguém poderia saber, então, como justamente Amelia sabia?

— Eu disse que ele estava comigo, Gilan. — a líder de equipe se aproximou de Gil. — Vince jamais me esconderia nada. A essa altura, você já deveria saber disso. Ele sempre, sempre, vai me amar.

E então, o entendimento devastou tudo o que existia dentro dela.

 E era tão claro. Como pode ignorar o óbvio durante tantos meses? Ignorar aquilo que ela já sabia antes mesmo de admitir estar apaixonada por Vincent? Como pode se apegar a ideia de que ele havia mesmo esquecido desse amor? De um amor que nunca o deixava seguir em frente. Gil deveria saber. Deveria saber que mesmo que Vincent quisesse tentar, por mais que ele honestamente se esforçasse para começar uma nova história, ele jamais conseguiria deixar Amelia para trás. Era mais forte do que ele. E Gil podia ter empatia por esse sentimento. Porque enfrentou o mesmo todos os dias em que esteve ao lado dele.

Como pode ser tão cega de não ver o quanto uma paixão poderia fragmentar uma pessoa, assim como ela mesma, em tantos momentos, se sentiu em pedaços? Não importava o que Vincent dissesse, ele apenas se enganava, assim como Gil se enganou por todo esse tempo. Assim como se enganou essa noite.

Gil deveria saber. Mas não soube. Não quis saber. 

Apenas escutou os sons dos saltos de Amelia deixando o banheiro. Sem se mover, sem esboçar nenhuma reação. Estava imobilizada pela constatação, pela compreensão daquela conversa. 

Precisava esclarecer, precisava sair daquele lugar de letargia e encarar os olhos de Vincent. Precisava perguntar porque ele havia quebrado o contrato sem consultá-la? Porque ele havia deixado Gil sofrer sozinha por tantos meses com o fardo daquela mentira, enquanto ele desfrutava do apoio de alguém que o amava?

Foi correndo em direção ao elevador e em poucos segundos chegou até o terraço. Tantas pessoas bebendo, conversando e sorrindo. Sorrisos que não faziam mais sentido, pessoas que não conseguia identificar os rostos. Tudo ali parecia sufocante demais, quente demais. Mesmo que o ar da noite estivesse tão gelado.

Avistou Vincent brindando com os sócios e com os seus concorrentes, inclusive Amelia. O chefe sorriu para a líder da equipe e encostou a sua taça com a dela, dizendo algo que a fez pender a cabeça para trás e gargalhar. Amelia tocou no braço dele e se aproximou, seus lábios sibilavam palavras e Vincent também sorriu. 

Mais pessoas se aproximaram e ela se posicionou perto do chefe, dividindo os cumprimentos como se tivesse feito parte de tudo o que acontecia naquela noite. Como se fossem íntimos.

Amelia estava ao lado de Vincent, e esse era o ponto final que Gil tanto precisava. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, sei que terminou meio tenso, mas as coisas complicaram pro Vincent. Todas as evidências contra ele. =(

Vou deixar mais recado aqui: eu registrei Amor à venda pra preservar essa obra, e pretendo deixar ela completa para os leitores do Nyah!, não sei ainda se vou colocar na Amazon ou em outra plataforma, mas para vocês é certeza! De novo, obrigada por tudo e por ainda estarem por aqui.



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