A Guerra Santa há muito tempo que começou. Eu Régulos de Leão encontro-me deitado no chão do templo maligno protegido por Radamanthys, um dos poderosos e cruéis juízes do Inferno. O meu sangue escorre como um rio que quer desaguar no imenso oceano azul, o meu coração bate dolorosamente contra o peito, o meu corpo está pesado e quase inerte, os meus olhos apenas vislumbram uma escuridão que quase me cega.

Por vezes a sabedoria do destino assusta-me, sabes pai. Este homem foi o último a ver a tua luz da esperança. E agora, será o último a ver a luz desaparecer a pouco e pouco dos meus olhos. Não luto com ele para te vingar, pai, luto sim pela nossa querida Deusa e pela paz da humanidade. Radamanthys sem dúvida faz jus à sua posição entre os espectros de Hades, ele é mesmo muito forte. Acredito se tu, meu grande herói, estivesses pleno das tuas capacidades tinha sido uma luta bastante disputada.

Em certas ocasiões dou comigo a pensar assuntos muito complicados para uma mente tão jovem como a minha. Nós, cavaleiros, lutamos por Atena e pela paz no mundo, porque achamos que é esta a nossa justiça. Os espectros do inferno lutam acreditando que a justiça imposta por Hades está certa. Cavaleiros e espectros dão as suas vidas pelo que acham justo, será que somos assim tão diferentes dos nossos oponentes? Pai, será que posso ser punido por pensar desta forma? Tenho a certeza que compreendes o que digo.

Vivi toda a minha curta vida seguindo todos os princípios que me incutiste, era eu ainda uma criança, que nem imaginava o que o futuro me reservava. Agradeço-te teres feito de mim o Cavaleiro honrado que sou hoje. Quando partiste achei que não iria suportar a tua ausência, contudo foi mais fácil do que eu estava à espera, porque estiveste sempre a meu lado, quando salvei a garotinha na Escócia, quando fiz o meu primeiro treino, quando coloquei pela derradeira vez a nossa armadura, quando pisei o solo da nossa morada, sempre estiveste lá, sempre, obrigado Pai.

Eu não estou triste por partir cedo de mais para junto de ti, estou sim desiludido por tanto sangue nobre já ter sido derramado nesta guerra cruel e sem dignidade. Muitos dos nossos companheiros já tombaram, tantas vidas desperdiçadas. Albafica, transformou-se num anjo combatendo o feroz Minos, um dos juízes do inferno, ele lutou bravamente para proteger a aldeia que tanto amava, mas tu assististe a tudo isso, não é verdade pai? Asmita, sacrificou a sua pura vida para dar um rumo diferente a esta batalha sanguinária, ficaremos para sempre gratos. Pai, tu estavas lá quando o corajoso Touro Dourado sucumbiu ao tentar proteger a esperança de um amanhecer melhor, ele lutou até ao fim, até ouvir a doce melodia do adeus. Manigold, Dégel, Kardia, Sísifo, e o Senhor El Cid, todos eles já partiram, partiram para junto do seu herói, tu. Brevemente juntar-me-ei a vós.

Shion e Dokho são os únicos que continuam a negar a chegada da Rainha das Trevas. A nossa esperança está depositada agora em apenas duas estrelas, Balança e Carneiro serão as estrelas mais brilhantes do céu nocturno. Depositarei ainda as minhas vontades e sonhos no próximo cavaleiro de Leão. Espero do fundo do coração que a sua luz ilumine o caminho para a paz como a nossa iluminou.

Pai, sempre me ensinaste que na Natureza nada desaparece, tudo se transforma. Eu aceito a minha transformação, abraçá-la-ei como uma amiga.

Com um último suspiro agonizante a minha alma é separada do meu corpo. Estou feliz, pai, estamos unidos novamente.

A nossa luz habitará para sempre a casa de Leão.