–Tudo certo, querida?

–Tudo certo. Ainda pode me ouvir?

–Claramente.

Maxon cumprira o que prometeu. Quando saiu correndo muito cedo naquela manhã, não dizendo nada além de um "já volto, fique parada", achei que estivesse passando mal. Mas ele não iria para o banheiro?

Obtive minha resposta quando ele voltou trazendo quatro aparelhos pequenininhos. Ele os pôs em cima da mesa. Eram dois microfones e dois fones, todos minúsculos, imperceptíveis ao olhar. Ele me entregou um par e colocou o outro. Tentei colocar como ele, imaginado se ficariam flutuando para os vivos que o vissem. Para minha surpresa, não ficaram.

–Ok. Eu tenho que ir trabalhar. Talvez você vá gostar de ir ver nossa princesa. Tenho certeza que ela sente falta de você.

–Tudo bem. Tenha um bom dia. Te amo.

–Também te amo. Até mais tarde.

Maxon saiu e eu fui atrás dele. Dobrei na esquina dos corredores, enquanto ele seguiu reto. Entrei pelas paredes no quarto do meu bebê.

–Oi, princesa.

Ela era linda. Quando ela abriu os olhos, quase chorei de orgulho. Ela era tão perfeita. Eu a amava tanto, mesmo sabendo que ela nunca me conheceria.

Então, aconteceu algo. Ela olhou diretamente nos meus olhos, como se pudesse me ver. Para minha surpresa, ela estendeu a mãozinha frágil na minha direção, e eu estendi a minha para ela. Então, fechei os olhos e me concentrei, com toda minha vontade, estendi a mão para ela, e agarrei aquela mão gorducha.

Foi incrível. Eu senti o toque quentinho da mão da minha pequena filha. Fiquei tão feliz, e pus minhas duas mãos em sua barriguinha. Ela mexeu as pernas e deu algo que parecia um sorrisinho para mim. Que engraçado era olhar para sua boca minúscula. As gengivas eram tão lisinhas, sem nenhum sinal de dentes. E ela parecia tão feliz...

–Ei, Maxon, eu consigo sentir o toque dela! Ela é tão perfeita...

Ele demorou um pouco para responder. Achei meio estranho, mas logo ouvi o som de sua voz. Suspirei, aliviada, ainda acariciando a criança.

–America, isto é incrível. Vamos tentar novamente mais tarde. Estou no banheiro, estava na reunião. Não posso falar agora, querida. Até mais. Te amo

–Também te amo. Tchau.

Voltei as atenções para a minha filha. Tentei erguê-la, apenas uns centímetros. Quando me senti mais segura, a peguei no colo e sentei na poltrona ao lado do berço. Fiquei balançando para frente e para trás, até ela dormir. Quando aconteceu, beijei sua testa e a devolvi ao bercinho. Apaguei a luz e fui ao quarto de Maxon. Já era quase noite, então ele deveria estar voltando.

Quando a porta se abriu, eu estava assistindo TV. Ele sentou-se ao meu lado, e perguntou se eu estava pronta, ao que respondi um "sim".

Desliguei a TV e pedi que ele se concentrasse. Fiz o mesmo, e com toda a força que tinha no meu corpo, eu toquei se rosto.

Novamente, a sensação foi incrível. Era como se meu corpo estivesse sempre frio, já que não circulava mais sangue dentro dele. Então, sentir a pele quente nos meus dedos era mágico. Eu senti o toque, e ele também. Toquei o seu rosto por uma eternidade, até que ele falou.

–Isto é incrível.

Então, eu o beijei. Ele ficou surpreso, mas me beijou também. Deve ter sido meio estranho para ele, já que não me via, mas ele sentia. Disso eu tinha certeza.

–Eu te amo, America!

–Eu te amo, Maxon!

Maxon estava cansado, por isso, nos deitamos. Ele adormeceu rapidamente, e depois de observá-lo por algumas horas, voltei ao quarto da minha princesa, e e observei dormir até amanhecer.