Slasher Story escrita por PW, Felipe Chemim, VinnieCamargo


Capítulo 6
1x06: O Fogo Encontra a Gasolina


Notas iniciais do capítulo

Escrito com sangue e vísceras por Felipe Chemim.



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Phillip acordou no meio da noite, sua cabeça doía levemente. Não estava em seu quarto, muito menos em sua cama, podia reconhecer. Levantou-se do pequeno sofá avermelhado pertencente ao seu irmão e espreguiçou-se. Peter repousava em sua cama, encostando sua cabeça no confortável travesseiro feito com penas de aves egípcias. Seu tórax e braços atléticos estavam desnudos, enquanto o resto do corpo era coberto por um lençol branco de algodão. Embora parecesse confortável, o semblante em seu rosto demostrava certo incômodo – talvez estivesse tendo um pesadelo.

O gêmeo mais novo buscou seu irmão após uma noite um tanto quanto confusa. Havia deixado Tessa em sua casa após um confortável jantar, junto da companhia não da tão querida e amada irmã Penny – que devia estar dormindo em meio a lençóis no corpo e pepinos no rosto na cama mega plus king size dos pais. Após isso, recebera um chamado para comparecer à delegacia, pois Peter se meteu em problemas. Após algum tempo de conversa e de alguma grana liberada como suborno, Phillip conseguiu levar o irmão para casa, após o mesmo dar um breve depoimento.

Agora, banhado pelo luar que penetrava pela janela, Phillip tentava colocar em ordem seus pensamentos. Seu irmão tinha afirmado com toda a certeza do mundo que o assassino atacaria na festa, e isto realmente aconteceu. Não começaria a suspeitar do mais velho, mas todo esse massacre estava interligado com ele – ou talvez, até com os dois. Não, não poderia ser o que ele pensava…

Phillip ouviu um barulho do lado de fora da mansão, perto da janela do quarto. Teve a leve impressão de ter visto um vulto correndo. Lá em baixo, perto do gramado, uma caixa lacrada com uma fita vermelha estava posicionada. Um leve riso sarcástico e satisfatório surgiu no rosto do adolescente, que se encaminhou para seu quarto, ainda rindo.

OPENING THEME

SLASHER STORY

1x06: O Fogo Encontra A Gasolina

Lucky e Newton corriam pelos corredores do escritório da fábrica Microlins, com o Reaperface fantasmagórico logo atrás. A clássica faca de caça havia sido substituída por um machado, que reluzia nas mãos do assassino.

– Ele ficou para trás! – Newton disse em um tom desesperado.

– Apenas continue correndo! – Lucky aconselhou, acelerando seus passos.

As maçãs de Newton e as esperanças de Lucky já haviam sido deixadas ao longe. Nenhum funcionário estava presente no local, pois já se passava das seis horas da tarde – e de acordo com o toque de recolher, eles nem deveriam estar presentes ali. Começaram a descer a escada em direção ao térreo, mas Newton tropeçou no último degrau, rolando pelo chão. Lucky acabou seguindo pelo corredor à direita, sem perceber a queda do outro.

O garoto das maçãs virou seu corpo, encarando o topo da escada, vendo o assassino cadavérico descendo lentamente degrau por degrau, alisando o machado com prazer. Era o fim do adolescente. Newton tentou se levantar para correr, mas recebeu um golpe da parte de madeira do machado em sua nuca, que o fez cair novamente. Juntando a força nos dois braços, o vulto negro ergueu sua arma, pronto para o golpe final. Lucky reapareceu no começo do corredor, ficando abismado com a cena que viu.

Reaperface desferiu o golpe e Lucky gritou em desespero.

19 Horas antes…

O galã do time do colégio nunca tinha sido levado a uma delegacia antes por ser acusado de alguma coisa. O Xerife Browning levou Peter, Tory, Jonnhy e o atleta para a delegacia, para colher seus depoimentos. As outras garotas e Wendel haviam contado suas versões da perturbadora noite no próprio local em que tudo acontecera, e depois foram dispensados. Por algum motivo, os outros quatro adolescentes causavam cócegas no cérebro do xerife, que preferiu levá-los para salas especiais para interrogatórios.

Lucky sentou-se na cadeira de metal na sala mal iluminada. Na sua frente, estavam uma pequena mesa de vidro e uma segunda cadeira do outro lado, enquanto o Xerife Browning e algum outro investigador novato estavam parados de pé. Um vidro escuro estava na parede perpendicular e alguma coisa dizia que ele estava sendo filmado. Sentia-se em um reality show.

– Pois bem, você sabe que existe um toque de recolher, certo? – Xerife Browning perguntou, recebendo uma afirmação positiva do jovem – Se você sabe, por que estava na rua, aos arredores de onde um novo assassinato aconteceu?

– Eu estava atrás da minha… - Lucky começou, engasgando a palavra “namorada” na garganta – De uma pessoa.

– Pode nos dizer o nome dessa pessoa? Epor que a procurava?– o investigador disse.

– Eu estava atrás da minha… Da minha namorada Miles. – Lucky confessou – Ela estava na festa da Victorya. Nós havíamos brigado um pouco antes e eu queria tentar consertar tudo.

– De um a dez, o quanto ela ficou chateada com a situação?

– Ahn… muito.

– E qual foi o motivo da briga? – Xerife Browning perguntou, sentando-se na outra cadeira.

– Isso é… pessoal. – Lucky respondeu, desviando o olhar e se mostrando desconfortável com a pergunta.

– Faz sentido, - o outro investigador disse – Miles pode ter tido algum acesso de raiva e cometido mais algum crime. Ela já mostrou ser uma pessoa violenta alguma vez?

– Não tem nada a ver com isso. – Lucky falou, balançando a cabeça em negação – Ela é uma boa garota, e eu sou um babaca.

– Nós só estamos juntando as peças deste complicado quebra-cabeças antes de resolver todo o problema. – Xerife Browning respondeu – Na situação em que nos encontramos nada nem ninguém pode ser descartado. Qualquer um pode ser o assassino.

“Inclusive vocês?”, Lucky pensou, mas guardou para si.

Mais alguns minutos de perguntas se passaram, até que o atleta foi dispensado. Sua mente estava em um turbilhão de confusões. Saiu da sala do interrogatório e se dirigiu a um bebedouro. Sua garganta ficou completamente seca durante muito tempo. Se o xerife for atrás de Miles, pensando que ela tenha alguma culpa envolvida em toda a confusão, a garota teria mais motivos para querer Lucky longe.

Após se distanciar do bebedouro, avistou Peter esfregando disfarçadamente o seu pé no tapete da delegacia, longe de qualquer pessoa e com uma expressão agitada em seu rosto. Lucky se aproximou, e o gêmeo finalmente percebeu sua presença e voltou a ter a postura ereta de sempre.

– Você viu meu irmão? – ele perguntou sério – Ele já foi interrogado?

– Ah, é você, Phillip… - Lucky disse, querendo se estapear. Estava tão transtornado que confundira os irmãos – Eu não vi, não. Provavelmente está sendo interrogado.

– O que você disse a eles? – Phillip interrogou. Parecia estar preocupado com alguma coisa.

– Apenas a verdade. – Lucky respondeu – Eu fui atrás de Miles, precisava conversar com ela.

Phillip encarou o atleta por mais alguns segundos, analisando sua face.

– Ótimo. Espero que delete da sua mente a invasão que fez na casa da gótica fã de My Chemical Romance. Nenhum policial precisa saber disso. – Phillip disse – Vou atrás de Peter, espero que ele esteja melhor do que você nessa situação.

Phillip saiu de perto do atleta, perambulando pelos corredores em busca de qualquer informação sobre seu irmão. Lucky respirou fundo e abaixou a cabeça, relaxando um pouco os músculos do pescoço. No tapete, onde o gêmeo mais novo estava esfregando seu pé, havia pegadas de cores rubras.

***

– A Noite das Vadias. Apenas isso. – Tory respondeu ao ser perguntada sobre a fatídica noite. Sua maquiagem estava borrada e a cara um pouco abatida – Acho que o nome já é autoexplicativo…

– Você e a garota falecida eram bastante unidas, certo? – Xerife Browning perguntou. Agora somente ele estava na sala de interrogatório, pois o outro investigador tinha saído.

– Como unha e cutícula. – a garota respondeu, limpando a sujeira de rímel borrado no canto de um dos olhos.

– Alguma vez vocês já haviam discutido?

– Não, nunca, jamais. Nós sempre nos damos muito bem. Dividíamos maquiagens, homens, calcinhas… - Tory disse, passando seu dedo indicador nos cílios de um dos olhos, impedindo a queda de uma lágrima – Aquela puta fará falta…

– Eu imagino… - o xerife disse, olhando para baixo. Através da transparência da mesa, começou a observar as pernas da garota.

– Se interessou em alguma coisa, xerife? – Victorya perguntou pretenciosa.

– O quê? Não, não. – ele respondeu, começando a corar.

– Bom, se não tenho mais nada a fazer aqui, - Tory descruzou as pernas, deixando-as abertas – já posso ir embora…?

Depois de ser dispensada, Tory se dirigiu ao banheiro, que estava vazio. Uma das lâmpadas estava queimada e outra piscava constantemente, ameaçando se juntar à primeira. A jovem retirou toda a maquiagem borrada e começou a passar um batom vermelho e rímel.

– Vadia… Estragou toda minha festa. – ela resmungava consigo mesma – Mas pelo menos causou audiência. Até em morte me ajudou, ó pobre Katzinha… - ironizou.

Um toque em seu celular anunciou que uma nova mensagem havia sido recebida. Ela visualizou e, assustada, deixou o batom cair na pia, sujando a porcelana branca com riscos avermelhados. A mensagem tinha sido mandada pelo celular de Kat, e dizia: “Cuidado, vadia, alguns mortos ainda podem escutar…”.

Victorya olhou ao redor e não viu nada. Então, a lâmpada no teto parou de piscar e apagou de vez.

***

– Eu já falei. – Peter repetiu – Eu não matei ninguém.

– Todos dizem isso. Mas não se exalte meu jovem. – um investigador careca disse – Só estamos esclarecendo as coisas.

– Conte-nos mais uma vez o porquê de estar perto da casa, por favor. – o Xerife Browning pediu.

Peter respirou fundo e contou novamente.

– Eu estava em casa, jantando com meus irmãos e com uma convidada especial, filha de grandes empresários. Então esse maldito assassino, que vem se comunicando comigo cada vez mais por um número restrito, me mandou uma mensagem. Ele disse que um próximo ataque aconteceria na festa. Então, fui até lá. – respirou fundo novamente – Mas cheguei tarde demais.

Os dois homens em sua frente continuavam parados, encarando-o.

– Olha, se vocês não acreditam, eu posso mostrar. – ele disse, pegando o celular do seu bolso. Após algumas tecladas, sua expressão se mostrou surpresa e suas bochechas coraram levemente – A mensagem sumiu…

– Escuta garoto. – o investigador disse – Assim fica difícil acreditar em você. Cada vez mais você se torna um suspeito. E atitudes como essas não ajudam muito.

Algumas batidas na porta. Salvo pelo gongo.

– Já podem liberar o garoto. – outro investigador, muito mais intimidador, disse abrindo a porta e apontando para Peter.

– Mas nós ainda não…

– Ordens expressas. Liberar. O. Garoto.

Peter se levantou, ainda encarando o xerife e o investigador, analisando se os dois impediriam sua saída, mas não fizeram nada. O gêmeo sabia muito bem que ordens expressas eram essas: Phillip. Ao sair da sala, encontrou o mais novo, que o aguardava de braços cruzados. Ao vê-lo, sorriu.

– Finalmente, Peter. – Phillip disse, satisfeito – Espero que não esteja tão ferrado quanto eu pensei.

– Só mais uma investigação, já está virando clichê. – Peter disse.

– Eu te avisei para tomar cuidado. – Phillip disse em tom protetor – Quem iria dividir o trono comigo se eu te perdesse?

– Eu só fui pego pela polícia, não era…

– Não é disso que estou falando. – Phillip cortou – Eu consegui mexer alguns palitinhos e descobri que a polícia não te pegou por causa do seu azar. Alguém denunciou você.

– Denúncia?! – Peter disse surpreso – Mas quem… Ah, que truque básico. O assassino consegue me tirar de casa e depois me faz ser detido para ser suspeito.

– Vamos para casa. – Phillip disse, passando o braço em volta do irmão – Você precisa descansar, depois cuidamos dos nossos problemas.

Peter não discutiu. Sabia que o irmão tinha razão. Antes de ir embora, olhou para trás uma última vez. Xerife Browning e o investigador o encaravam, enquanto falavam algo entre eles. O gêmeo mais velho conseguiu ler os lábios do xerife, que disse: “ele é o assassino.”.

***

Jonnhy andava pelas ruas quase escuras, a caminho de casa. Seu relógio marcava duas e meia da manhã e apenas seus passos eram ouvidos durante o trajeto. Foi liberado após dar um breve e simples depoimento ao xerife. Um investigador havia aconselhado para que ele esperasse algum responsável ir buscá-lo, mas preferiu seguir solitário. O gótico ouviu dizer que algumas câmeras estavam sendo instaladas pela cidade, com o intuito de melhorar a vigilância. Agora, percebeu que era realmente verdade, pois algumas delas podiam ser vistas grudadas em postes e outros pontos estratégicos. Suas lentes o observavam, mas não provocavam nervosismo.

"Pelo menos assim talvez consigam proteger algum idiota...", pensou.

O jovem passou por um poste, que teve a luz piscada antes de apagar completamente, atiçando sua curiosidade e fazendo-o parar. Passos atrás dele podiam ser ouvidos, estalando pela rua. Jonnhy inclinou a cabeça para o lado, mas não avistou ninguém. Recomeçou a andar. Mais passos atrás dele. Um barulho de metal riscando algo arranha os ouvidos do gótico, que apressa seus passos.

Não demorou muito para avistar Reaperface logo atrás. Na escuridão da rua, sua máscara cadavérica e seu manto negro pareciam muito mais assustadores. Em mãos, uma faca de caça refletia a pouca luminosidade ao seu redor. Jonnhy não deixava seus sentimentos transparecerem no cotidiano, mas dessa vez seu semblante era de receio.

O pouco que ouviu sobre o assassino não lhe deixava manter a cabeça límpida. Reaperface não era um ser humano, era um monstro. E Jonnhy tinha sido escolhido como próxima vítima. A perseguição durou por mais alguns segundos, até os passos do vulto negro sumirem.

Ainda correndo, Jonnhy cometeu o seu maior erro: olhou para trás. Não avistou nada, porém tropeçou em algo, que lhe fez perder o equilíbrio. Caído no chão, olhou ao redor, a procura de qualquer sinal de Reaperface, nem que fosse um pequeno filete de luz da sua faca. Mas não avistou nada.

Levantou-se e voltou a correr, até que o assassino apareceu em sua frente, disparando um golpe que acertaria sua jugular, se não fosse por um movimento rápido de desvio. Jonnhy segurou o braço de Reaperface e empurrou, tentando fazê-lo perder o equilíbrio. A tentativa foi frustrante e não deu certo, mas pelo menos serviu para dar tempo ao gótico, que disparou no caminho.

A casa de Jonnhy ficava a algumas quadras dali, mas Reaperface estava quase o pegando. Sirenes de polícia soavam a alguns metros, sinal que o ataque foi visto pelas câmeras de segurança. O garoto só precisava sobreviver por mais alguns segundos e estaria a salvo.

Acabou por não avistar outra escolha, a não ser entrar no primeiro estabelecimento que viu com as portas abertas: uma Igreja. A “Casa do Senhor” estava vazia, a princípio. Jonnhy entrou aos tropeços, e avançou pelo corredor central e principal. Bancos aos lados acomodavam o vazio e imagens de santos estavam ao redor.

Jonnhy chegou ao fundo da Igreja e se virou, procurando a figura cadavérica. As sirenes estavam mais próximas. Passos por perto, mas ele não identificava a direção de que vinham. Sirenes mais próximas. Mais passos. Sirenes. Passos.

Uma sombra surgiu ao lado do gótico, que lançou a primeira coisa que viu contra a figura, perdendo equilíbrio e caindo novamente. A pequena tigela de metal voou pelos ares, esparramando água benta para os lados. Quando Jonnhy abriu os olhos, avistou a pequena tigela aos pés de um padre, que o olhava com compaixão.

– Precisa de ajuda, meu filho? – o velhinho sorriu caridoso, mostrando sua boca banguela.

Nesse momento, um policial, armado com uma pistola, entrou cuidadosamente na Igreja. Ao avistar os dois, guardou a arma e se aproximou. Contou que haviam sido chamados, então, acabou levando Jonnhy embora. Antes de ir, o jovem pediu desculpas para o padre, que apenas sorriu e desejou que Deus o abençoasse.

Jonnhy agradeceu e saiu acompanhado pelo policial. As luzes vermelhas e azuis do carro policial adentravam na Igreja e davam cor as paredes. Em uma última olhada para trás, a luz vermelha era refletida em algumas gotas de água benta que foram derramadas em uma estátua de Jesus Cristo, fazendo parecer que ele chorava sangue.

***

Xerife Browning e alguns investigadores estavam em volta de uma grande mesa, analisando fotos e diversos papéis. Alguns apresentavam narrativas de alguns eventos e assassinatos, enquanto outros mostravam depoimentos colhidos.

– O que aquele garoto gótico disse? – o xerife perguntou a um investigador.

– Um clichê básico. – o investigador disse – Foi salvar a namoradinha, que estava presente na bendita festa.

– Enquanto isso, todo o cerco se fecha em torno de Peter Van der Hills. A maioria dos defuntos tem conexão com ele. – um segundo investigador disse – E a única prova que confirmava seu álibi, que seria a mensagem do assassino, sumiu.

– Eu quero o celular desse garoto grampeado. E o do irmão também. – Xerife Browning ordenou – Hackeiem os e-mails e verifiquem as localizações nas últimas horas.

Neste momento, um policial entrou correndo na sala, parecendo ofegante.

– Xerife Browning, - ele chamou, respirando fortemente – recebemos um chamado.

– Diga.

– A casa de Gabriella King foi invadida novamente.

***

A Mansão Van Der Hills tinha claramente um aspecto imperial do lado de fora. As luzes estavam apagadas, mas mesmo assim parecia expirar vida e riqueza. Phillip havia saído há alguns minutos, provavelmente para buscar o irmão mais velho na delegacia. Mark sorriu satisfeito. Seu plano de deixar a mansão praticamente vazia foi feito com sucesso.

Ainda olhava satisfeito para o celular, o qual utilizou para fazer a denúncia. Parece que a sorte estava ao seu favor. E seria óbvio que o segundo irmão sairia o mais rápido possível para ajudar o mais velho. Por algum motivo desconhecido e que não importava, Peter saiu da casa no exato momento em que Mark chegou ao local, para realizar seu plano. Um rápido estalo apareceu em sua mente. Algo que manteria os gêmeos longe por um tempo.

Se passando por um dos vizinhos, Mark rapidamente colocou Peter na mira dos policiais. Agora em frente a casa, se prepara para invadir. Lembrava-se de quando o gêmeo mais velho, junto com Lucky, arrombaram seu armário por causa da chave que escondia.

“Você é uma anta, Mark! Esconder a chave no armário do colégio!”, xingou a si mesmo.

Depois, começou a formular um plano para recuperar o objeto. No momento do roubo, não poderia fazer nada, afinal, o que um garoto magrelo e perdedor poderia fazer contra dois populares do colégio? Preferia agir por trás dos bastidores.

Aliás, por que Peter desejaria tanto essa chave? E o que ela esconderia? Talvez o gêmeo soubesse, por isso a tomou para si. Mark precisava recuperá-la e talvez desmascarar toda a sujeira que o outro escondia. Chega de manter esses poderosos no topo. Quanto maior a altura, maior a queda.

Mark se aproximou lentamente de uma janela baixa da mansão. Preparado para invadir. Assim que encostou sua mão no vidro, um dos quartos do andar de cima ficou iluminado, sendo acompanhado por uma voz feminina que cantava docemente.

– Mas que diabos…?

Uma garota parecida com Elizabeth Olsen apareceu perto do andar de cima, mas não avistou o jovem embaixo, apenas fechou a cortina. “Droga! A casa não está vazia!”. Mark começou a pensar em um segundo plano. Ele jamais havia suposto que mais alguém estaria na mansão.

Um carro começou a se aproximar da casa, então Mark se escondeu entre alguns arbustos que enfeitavam o jardim. Avistou Phillip no volante e se surpreendeu com a rapidez em que ele havia voltado. Peter saiu do carro e entrou. Sua aparência parecia péssima e cansada.

Antes de entrar em casa, Phillip parece ter avistado Mark escondido, que se encolheu para parecer o mais invisível possível. O gêmeo mais novo encarou o ponto em que ele se encontrava por mais alguns segundos, então também adentrou na moradia.

Mark acabou por desistir do seu plano devido à falta de recursos e de oportunidades a seu favor. Mas prometeu a si mesmo: ele voltaria àquela mansão.

***

Quando Peter desceu até a cozinha da mansão, Phillip estava entrando, vindo do jardim. Em suas mãos estavam uma caixa lacrada e algumas cartas. O irmão mais novo vestia uma bermuda xadrez em tons de cinza e uma camiseta preta. O mais velho estava com uma calça jeans e uma camiseta branca, que possuía uma estampa de caveira com coloração vermelha.

– Bom dia, princesa. – Phillip cumprimentou colocando a caixa em cima de um balcão – Você está legal? Parecia estar tendo um tipo de pesadelo no meio do sono.

– Não foi uma das melhores noites da minha vida. – Peter respondeu – O assassino realmente atacou. E eu não impedi.

– Você não podia impedir. As coisas simplesmente acontecem, Peter. – Phillip disse - E além do mais, duvido que pudesse fazer algo pela Kat.

– Phillip, segue minha linha de raciocínio. Não é só pelos outros, é pela gente também! – Peter argumentou – Vai chegar uma hora em que esse assassino vai cansar de pegar pequenas iscas. Ele vai querer matar um peixe grande. Desde as regras do xadrez, os peões vão primeiro.

– É. Só que nessa nossa história, a primeira peça foi uma das rainhas. – Phillip comentou, abrindo uma das cartas, enquanto o irmão se aproximava da caixa lacrada com um estilete – Nossa, que estranho...

– O que foi?

– É uma carta de conta do cartão de crédito da Penny. Tem várias hospedagens em um hotel da cidade. – Phillip disse olhando para o irmão, que começava a abrir a caixa – Até aí, tudo normal. Só que ela disse que chegou à cidade há dois dias, mas aqui consta quartos há quase um mês.

– O que ela faria escondida na cidade? – Peter se perguntou, rasgando parte da caixa com o estilete.

– Não faço a mínima ideia. – Phillip disse.

O gêmeo mais velho terminou de abrir a caixa e abriu-a. Então, sua cara foi de tranquilidade para nojo e horror ao mesmo tempo. Ele largou o estilete longe e correu para a pia, onde vomitou um pouco. Phillip correu até ao lado da caixa para ver o motivo. Sua reação não foi muito diferente, tirando apenas a parte do vômito. Dentro da caixa, com seus pelos sedosos sujos de sangue e terra, jazia o corpo de Gerard, o gato de Gabriella King. Os olhos arregalados ainda mantinham um charme felino, enquanto um rasgo grande e profundo estava em sua barriga, assim como fora feito em sua dona. Alguns órgãos podiam ser vistos pelo ferimento. Ao lado, um papel dobrado. O irmão mais novo pegou e desdobrou, onde encontrou uma mensagem feita com letras encontradas em revistas e jornais. Começou a ler:

– “Peter, espero que goste do meu presente. Gabriella adorava muito seu gato, então o mandei para ela. Logo, seu namoradinho também lhe fará companhia.” – Phillip leu – “Mas até lá, quem será o próximo?”.

Os gêmeos se olharam e uma brisa gélida entrou no recinto, fazendo-os arrepiar.

***

Newton deu uma mordida em sua maçã, enquanto Maycon colocava seus óculos de sol com aro fino. Estavam em uma praça bastante frequentada da cidade, procurando algo para fazer. Com as aulas em recesso, não tinham muitos passatempos. Reconheciam alguns colegas de colégio, que andavam por aí, provavelmente procurando alguns amigos ou paqueras. Um deles era Lucky, que andava freneticamente, possivelmente a procura de alguém.

– Sabe de uma coisa? - Maycon puxou assunto – Eu sempre te vi comendo maçãs toda hora, mas nunca te perguntei por que você come tanto essa fruta?

– Ah, é que maçãs têm fibras que desintoxicam o aparelho digestivo. – Newton respondeu – Isso ajuda no meu problema de prisão de ventre.

– Entendi. Tem alguma fruta que faça uma “auto lavagem” no nariz? – Maycon perguntou – Tipo, que ajudasse a limpar.

– Não sei.

Então, a dupla começava a ouvir a discussão de um casal que estava por perto. Prestando mais atenção, perceberam que eram Lucky e Miles. Ele tinha uma expressão no rosto, que misturava arrependimento com piedade. Já a garota estava visivelmente furiosa.

– Lucky, eu não quero mais saber! – Miles gritou – Some da minha vida de vez por todas!

– Miles, presta atenção no que eu digo! Acredita em mim! – ele suplicou desesperado.

Apontava para seu celular, como se quisesse mostrar algo, mas ela não tinha nem um pouco de interesse.

– Chega, eu cansei! Cansei das suas mentiras, dos seus segredos… - ela disse, com os olhos marejados – Cansei de você!

Virando o rosto, Miles saiu apressada. As pessoas que estavam em volta e assistiam a cena, começaram a se dispersar.

– O que foi? Perderam alguma coisa? – Lucky gritou, sentando-se num banco perto de Newton e Maycon, colocando o celular ao lado da coxa.

– Eu aposto dez reais que ele traiu ela. – o garoto das maçãs comentou.

– Isso está bem óbvio, Newton. - Maycon respondeu – Lucky é um desses caras que passa o rodo em geral.

– Eu queria ser assim.

– Eu também.

Lucky saiu do parque apressado, sumindo logo da vista da dupla de garotos, que após alguns minutos, também decidiram ir embora. Ao passarem pelo banco em que o atleta estava, perceberam que ele esqueceu o seu celular. Maycon decidiu pegar, então começou a analisar.

– Maycon! Vamos atrás dele.

– Ué, por quê?

– Porque de acordo com as Leis de Newton, temos que devolver o que não é nosso. – o moreno respondeu, mordiscando mais um pedaço da sua maçã.

– Que lei é essa?

– A minha, que acabei de inventar. – Newton respondeu – Mas tô falando sério, vamos devolver. Se ficarmos com isso, sabe lá Deus onde o Lucky vai enfiar a gente.

– Tá, tem razão.

Os dois garotos seguiram para fora da praça, desviando de alguns pombos que queriam roubar as frutas de Newton. Andavam tão distraídos que não perceberam uma pessoa encapuzada seguindo-os.

***

Enquanto Peter terminava de tomar um copo d’água, sentado em uma cadeira na cozinha, Tessa mandou mais uma mensagem para Phillip: “Podemos nos ver hoje à noite?”. A resposta do gêmeo mais novo foi imediata: “Claro. Passo na sua casa às nove.”.

– Eu vou achar esse filho de uma puta e arrancarei os olhos dele com uma faca. – Peter disparou ainda nervoso.

– Calma Peter. – Phillip tentou ajudar – Ouvi dizer que a casa da Gabriella foi invadida novamente de madrugada. Agora sabemos o porquê.

– Eu vou enterrá-lo no jardim antes que Penny veja essa bagunça. – Peter disse, pegando a caixa e se encaminhando aos fundos da mansão.

Após alguns minutos, uma pequena cova já acomodava o bichano. Gerard sempre foi um bom animal de estimação, e agora também era uma vítima. Antes de fechar completamente o buraco, notou que um brilho metálico se destacava perto do corte no gato. Peter esticou o braço e puxou, retirando com facilidade uma pequena corrente de metal. Não, um colar. O pingente era um cavalo negro com asas, que enfeitava a peça.

– Um Pégasus? – Peter perguntou em voz alta – Reconheço de algum lugar…

– Hey, irmão, por que está parado aí? – Phillip disse, aparecendo na porta dos fundos.

– Ah, por nada, não. – Peter respondeu, escondendo o colar no bolso de sua calça – Só estou me despedindo de Gerard.

O gêmeo mais novo balançou a cabeça em compreensão e voltou para dentro da mansão. As últimas pás de terra levaram o defunto felino para o mundo dos mortos, mas muitos fantasmas ainda atormentavam a vida de Peter. Após alguns minutos parado lá fora, Phillip apareceu ao seu lado.

– Sabe, preciso confessar algo. – Phillip disse – Talvez eu esteja errado ou equivocado, mas acho que vi aquele garoto… Como é o nome… Ahn, Mark. Acho que o vi no nosso jardim, quando voltamos da delegacia.

– O que ele estaria fazendo aqui? – Peter perguntou.

– Eu não sei. Ele que pode ter feito isso com Gerard e deixado aqui. – Phillip respondeu – Dizer que ele é o assassino é uma acusação forte, mas quando você dormiu, tinha alguém no jardim. Talvez ainda fosse ele. Eu até achei engraçado, um loser como ele se intrometendo nas nossas vidas.

Peter comentou que não fazia a menor ideia da conexão que poderia haver entre os Van Der Hills e Mark, mas no fundo de sua mente, ele sabia o que o outro garoto queria: a chave.

***

Phillip terminava de abotoar sua camisa vermelha. Os cabelos estavam arrumados em um topete normal e vestia uma calça jeans preta. O sol começava a se despedir e a lua aparecia ainda tímida. Se encontraria com Tessa em meia hora. Ela realmente era uma garota de ouro, em todos os sentidos e quase que literalmente.

O jantar do dia anterior havia sido excepcionalmente agradável, e embora tivessem Penny de vela impedindo que a relação avançasse, Phillip se encantou com o tempo em que passou ao lado de Tessa.

Desceu as escadas rapidamente, se encontrando com Peter deitado no sofá, fitando o teto. Conhecendo seu irmão, Phillip sabia que um turbilhão de pensamentos rodeava sua mente. Resolveu não incomodá-lo, apenas avisou que iria à casa de Tessa e pediu para que ele se cuidasse.

Phillip entrou no carro e partiu em direção a casa da garota, enquanto a noite chegava e o céu se tornava tão escuro quanto o manto de Reaperface.

***

Newton e Maycon chegaram ao escritório da Microlins quando o Sol já começara a se pôr. Era um prédio de três andares, com algumas paredes feitas de vidro. O edíficio era pintado de branco. A dupla de garotos havia chamado Lucky no Facebook e explicado a situação. O atleta marcou de encontrá-los naquele local.

– Vamos entrar lá dentro? – Newton perguntou.

– Não, vamos entrar lá fora, bobão. – Maycon ironizou batendo levemente na cabeça do amigo – Claro que vamos entrar.

– Não acho que seja uma boa ideia. – Newton comentou, tirando um pequeno pacote de maçãs verdes da sua mochila e devorando uma delas.

Mesmo com negação, os dois entraram. Não havia mais recepcionista nesse horário, então seguiram por livre espontânea vontade. Acharam um elevador e subiram até o terceiro andar, onde Lucky disse que estaria. Mais alguns corredores foram ultrapassados, passando por diversos extintores e machados para emergências, até chegarem à sala que sinalizava em uma placa de prata: “Sala de Segurança”. Entraram.

A sala de segurança nada mais era do que uma pequena sala repleta de televisores que mostravam imagens ao vivo das câmeras espalhadas pelo escritório. Lucky estava sentado no centro, em uma cadeira giratória, e vestia o mesmo traje de sempre: uma calça jeans, uma camiseta qualquer e o casaco do time.

– Mark, Nicolly, olá! – Lucky cumprimentou.

– Somos Maycon e Newton. – o loiro corrigiu.

– Claro, claro… - o atleta não deu importância – Agradeço muito por terem pego meu celular. Não sei o que seria sem ele.

– Ah, fizemos o que devíamos. – Newton disse arrancando mais um pedaço da maçã – Ele só está descarregado.

– Isso não é problema. – Lucky disse, conectando o celular em um carregador e ligando-o – Esperem aí, vocês merecem um agradecimento.

O atleta se levantou e começou a procurar dinheiro em sua carteira. Após achar o suficiente, entregou aos garotos, que agradeceram. No momento em que iriam embora, o celular de Lucky, que já havia ligado, recebeu uma mensagem. Maycon e Newton, que estavam por perto, conseguiram ler a mensagem.

– “A Sala de Segurança fica no terceiro andar, certo?” – Lucky leu – “E espero que eu esteja um pouco assustador no televisor.”

Os três garotos viraram o rosto de imediato na direção dos televisores. Em um deles, uma figura macabra aparecia. Sua máscara de caveira parecia sorrir com satisfação. Reaperface caminhou até o canto da parede, onde se encontrava um machado para situações emergênciais. Quebrou o vidro protetor e sacou a arma, analisando com as mãos. Olhou novamente para a câmera, acenou e começou a caminhar, ficando fora do campo de visão.

– O-Onde é essa câmera? – Newton perguntou a Lucky, gaguejando.

O atleta se virou para a porta, com terror em seu rosto.

– É a câmera deste corredor.

Os três correram. Lucky tentou trancar a porta, enquanto a dupla arrastou uma pequena mesa, impedindo a passagem. O trio permaneceu fazendo força, não poupando esforços para salvar suas vidas. Logo o primeiro golpe do machado arrebateu-se sobre a porta, implodindo pedaços de madeira para dentro da sala. Newton não conteu um grito agudo.

Mais um golpe. Agora por uma fresta razoável, Reaperface colocou seu “rosto” nela, encarando os três jovens. Uma risada baixa, modificada e abafada saiu do maníaco que se afastou e recomeçou com os golpes.

– A gente não vai aguentar por muito tempo. – Maycon disse – Precisamos de um plano.

– A única chance que temos é sair. – Lucky sugeriu – Não existe outra maneira.

– Vamos jogar a mesa nele. – Newton completou.

Apesar de um plano não muito bem formulado, logo não teria mais porta para impedir a passagem do assassino. Se olharam e Maycon contou até três. No final da contagem, se afastaram da porta, que foi arrombada pelo Reaperface. Lucky, o mais forte dos três, empurrou a mesa, prensando rapidamente o assassino na parede.

Os três aproveitaram o momento e saíram correndo pelo corredor. Maycon, que estava na frente, virou-se para a esquerda.

– Maycon, é por aqui! – Lucky gritou, seguindo pela direita, mas o loiro não ouviu.

Newton seguiu o atleta. Em uma última olhada para trás, viu que o assassino já se livrara do empecilho e corria atrás dos garotos. Lucky continua guiando-se pelos corredores. Sabia que usar o elevador seria uma péssima ideia, então corria a procura das escadas.

– Ele está atrás da gente! – Newton gritou.

– Precisamos nos apressar. – Lucky respondeu.

– Precisamos achar o Maycon! – o descendente indígena corrigiu.

– Vamos nos salvar primeiro. – Lucky disse.

– Ele ficou para trás! – Newton disse em um tom desesperado.

– Apenas continue correndo! – Lucky aconselhou, acelerando seus passos.

Começaram a descer a escada. Lucky passou para outro corredor, enquanto Newton pisou em falso no último degrau, caindo ao chão. Reaperface surgiu no topo da escada, com machado em mãos. Se aproximava cada vez mais de Newton, que tentou levantar e fugir, mas foi golpeado e levado ao chão novamente.

Reaperface levantou os braços no momento em que Lucky voltou. O golpe foi executado e o atleta gritou.

Neste momento, um capacete de engenheiro disparou na direção de Reaperface. A mira foi um tanto quanto errada, mas pelo menos atingiu o objetivo de parar o ataque e distrair o assassino.

– Ei, cara de cadáver. – Maycon gritou no topo da escada – Vem me pegar!

Reaperface se virou, encarando o loiro. Newton se aproveitou do momento e levantou-se, junto a Lucky. O vulto negro começou a subir lentamente a escada, em busca de sua nova presa.

– Mash, não! – Newton gritou.

– Amigo, se salva. – Maycon respondeu – Te encontro no final!

– Vamos lá… - Lucky puxou o moreno.

Maycon começou a correr, com Reaperface em seu escalço. Lucky puxou novamente Newton e os dois foram pelo corredor, descendo mais uma escada e se encaminhando para a saída. O loiro começou a caminhar novamente. Ao contrário do atleta, não conhecia nada dali e estava completamente perdido.

Avançou por mais alguns corredores e pareceu ter despistado o assassino. Encontrou um elevador e sentiu uma onda de sorte a seu favor. Começou a apertar o botão freneticamente, como se isso acelerasse o processo.

O elevador, que estava no primeiro andar, começou a subir. Maycon se salvaria. Segundo andar. O loiro estava feliz.

Até olhar para o lado e ver Reaperface surgir no começo do corredor. Se divertindo com a situação, dava passos lentos, com o machado em mãos. Chegava cada vez mais perto de Maycon. O elevador estava chegando no terceiro andar, mas não daria tempo de ele entrar, pedir para descer e as portas se fecharem antes de levar um golpe do assassino.

Correu fora do alcance do maníaco e virou o corredor, entrando na primeira porta a direita. Colocou uma pequena poltrona na entrada, apenas para ganhar tempo. Se virou e viu que ainda tinha chances. A parede de vidro parecia ser fácil de quebrar, então Maycon agarrou um extintor de incêndio e começou a bater no vidro. Algumas rachaduras apareceram.

– Maycon! – Newton gritou lá em baixo, vendo o esforço do amigo.

O loiro desferiu mais dois golpes, quase quebrando uma parte do vidro. Carregou força em seu braço para mais um ataque, mas aconteceu o inesperado. Uma dor inexplicável nasceu em seu ombro, e ele largou o extintor de incêndio. Se virou e deu de cara com o rosto assustador de caveira.

Em seu ombro, o machado do assassino estava cravado. A arma foi puxada fazendo-o desequilibrar um pouco. Com a mão livre, Reaperface agarrou nos cabelos do Maycon e o empurrou para frente, batendo no vidro rachado. Bateu mais uma, duas, três vezes, até que o vidro se quebrou, restando apenas poucos pedaços. A testa e o nariz do loiro estavam feridos, e escorriam sangue.

Maycon tentou se afastar do assassino, mas recebeu uma machadada na coxa esquerda, perdendo totalmente o equilibro e caindo no chão. Reaperface lhe deu um chute no estômago, que se retorceu de dor. Pisou em sua cara e distribuiu mais dois chutes, até arrastá-lo para perto da borda da nova abertura.

Puxando-o novamente pelos cabelos, levantou sua cabeça e posicionou em cima de um resto afiado de vidro que havia sobrado da quebra. Maycon percebeu aquilo e usou o resto de suas forças para impedir, tentando empurrar seu corpo para cima com os braços. Não conseguia levantar devido aos ferimentos na perna. Reaperface largou o machado no chão e usava as duas mãos para pressionar a cabeça do loiro, pronto para finalizar o ato. Newton, desesperado lá em baixo, tentou entrar novamente no edifício, mas a porta estava trancada. Lucky ligou para a polícia.

Maycon tomou impulso e levantou mais sua cabeça, desafiando o assassino. Porém, o maníaco provou-se mais experiente. Chutou um dos braços do garoto, fazendo-o perder as forças. A cabeça e o pescoço do loiro não resistiram a força usada, descendo em um movimento rápido. O barulho de pele sendo rasgada foi rápido. O vidro cortou a garganta de Maycon e sangue espirrou em todas as direções possíveis, escorrendo mais um pouco logo após. O corpo teve mais alguns espasmos, antes de ficar totalmente sem vida.

No horizonte, o dia dava totalmente liberdade para a noite, que chegava mansamente. Os últimos raios de sol se foram, dando espaço a escuridão e ao luar.

***

Phillip estacionou seu carro e de longe já avistara Tessa no terraço, observando a noite que chegou. Saiu de seu carro e foi convidado a fazer companhia a garota. Ao chegar lá, lhe deu um abraço carinhoso e um beijo na bochecha.

– Você não me contou que gostava de ver as estrelas. – Phillip comentou, risonho.

– Não lhe contei muita coisa, badboy. – Tessa respondeu em tom de brincadeira – E suspeito que você tenha feito o mesmo.

– É, tem razão. – Phillip cedeu – Todos temos alguns segredos para deixar guardados, não?

Phillip aproximou seu rosto e os lábios se tocaram. Um beijo delicado e que demorou alguns segundos. Após o beijo terminar, Tessa comentou, rindo:

– Eu estou me metendo em uma encrenca, não é?

– Depende. – Phillip disse – Se você não gostar de um cara que pega fogo, está.

– É. – Tessa concordou – Esqueci que estou com um dos gêmeos mais poderosos de Reaperswood.

– Sou uma verdadeira chama ardente. – Phillip brincou.

– Ah, mas se você for pensar, todos somos chamas. – Tessa começou a filosofar – E somos movidos pelos nossos vícios e objetivos.

– Como assim?

– Você e seu irmão são as duas chamas mais imponentes do colégio. – ela respondeu – A gasolina que aumenta vocês é o poder. Quanto mais poder, maiores vocês ficam.

– É um pensamento interessante. – Phillip disse, depositando alguns beijinhos pelo rosto da garota.

– E isso se aplica a qualquer pessoa. – Tessa continuou – Por exemplo. Sabe esse assassino que está fazendo maluquice por aí? A gasolina dele é matar. Quando for preso, o que eu acredito que virá logo, ele não vai conseguir sustentar esse vício. Sendo assim, ele vai ser uma chama que não vai receber mais sua gasolina, e logo se apagará.

– Se você está se metendo em uma encrenca, eu estou me metendo na melhor coisa da minha vida. – Phillip riu, beijando-a novamente – Mas a gasolina que eu quero para meu fogo não é o poder. É você.

O gêmeo mais novo puxou levemente a garota pela mão, e os dois desceram em direção ao quarto dela. Os beijos começavam a ficar mais ardentes e excitantes. Os botões da camisa de Phillip começaram a serem abertos e alguns segundos depois a peça estava no chão. Tessa deitou calmamente em sua cama, recebendo a companhia do garoto logo em seguida.

***

O dia já havia amanhecido há horas, e Phillip não havia voltado para casa. De certa forma, isso preocupava seu irmão, que tentava manter-se calmo. Mandou mensagens e ligou para o mais novo, que não deu sinal de vida. Peter subiu até a suíte de seus pais, onde Penny se instalou por conta própria.

– Ei, Penny, você… - ele entrou no quarto, que estava com a porta aberta. Peter ouviu o barulho de chuveiro ligado dentro do banheiro e parou de falar.

Iria sair do cômodo, quando acabou despertando interesse em um pequeno caderno vermelho e com capa aveludada que estava aberto em cima da grande cama. Se aproximou, analisando o que estava escrito. Como de praxe, eram letras de músicas, compostas pela própria Penny. Peter folheou o caderninho, vendo várias melodias sobre amor, festas e diversão. Porém, uma despertou interesse no gêmeo, pois dizia sobre uma pessoa ambígua, dividida em dois, pela metade. Falava em como certo problema corria em seu sangue ruim.

O barulho do chuveiro sendo desligado despertou a atenção de Peter, que saiu do quarto. No corredor, avistou Phillip indo em direção a seu quarto. Sua camisa estava abotoada totalmente errada e seu cabelo despenteado.

– Hey, irmão. – Phillip cumprimentou ao ver seu gêmeo.

– Eu estava preocupado. – Peter sorriu – Você sumiu, não respondeu minhas mensagens nem atendeu minhas ligações.

– Foi mal. – Phillip se desculpou – Meu celular ficou sem bateria. Mas relaxa, passei a noite na casa de Tessa. E a propósito, combinei de jantar com ela hoje a noite aqui de novo, pode ser?

– Por mim. – Peter deu de ombros – Eu estava pensando em dar uma saída mesmo. Espairecer.

– Fechado. – Phillip finalizou sorrindo – Só tome cuidado com a polícia dessa vez.

– Pode deixar. – Peter riu.

Ambos se encaminharam para seus respectivos quartos. Peter se jogou em sua cama e pegou o pequeno colar com um pingente de pégasus em uma gaveta na escrivaninha ao lado. Analisou bem o objeto. Algo em sua mente lhe dizia que este objeto já era conhecido. Mas de onde?

No bolso de sua calça jeans, pegou a chave tanto cobiçada. Por quê Mark teria tanta obsessão com esse delicado objeto? Será que o garoto já havia descoberto algo e queria esconder para si? Peter ainda se sentia culpado por não contar ao irmão, mas não queria envolvê-lo em problemas. Guardou a chave e o colar dentro do bolso novamente.

Decidiu que a noite iria procurar Mark.

***

As cortinas do quarto de Jonnhy estavam fechadas, deixando o ambiente mais escuro, mesmo que a claridade do início da tarde dominasse o lado de fora. Em baixo da cama, uma caixa com pizza de alguns dias e umas meias perdidas. Nas paredes verdes, alguns posters da Alexz Johnson. A cama estava desarrumada, mas o gótico não ligava. Estava em frente a seu computador, escrevendo alguns roteiros para o clube de cinema, que mesmo com a escola desativada, precisava continuar vivo – no pensamento dele.

Algumas batidas na porta.

– Posso entrar? – a voz de Brenda ecoou do outro lado.

– Brenda! – Jonnhy disse, acionando o desligamento de seu computador – É claro, entra.

A garota entrou. Vestia uma calça jeans escura com alguns rasgos na altura da coxa. A camiseta com uma estampa de caveira com uma rosa na boca dava um ar charmoso e sombrio ao mesmo tempo. A maquiagem pesada fortalecia a personalidade dela.

– Fiquei preocupada com você. – Brenda disse – Soube do que aconteceu há dois dias. Tentei vir aqui ontem, mas surgiu alguns problemas.

– Ah, relaxa. – Jonnhy respondeu – Aquele maldito não vai me pegar tão facilmente assim.

– Mas quase pegou. – Brenda disse ríspidamente – Com quem eu vou invocar Lorde Lúcifer se eu te perder?

Jonnhy não conseguiu conter uma risada. Ele gostava do senso de humor da amiga.

– Seu tio ficou puto contigo? – ela perguntou.

– Não. Vendo que eu estava bem, ele não implicou com isso. – Jonnhy disse – Embora eu quase tenha ido encontrar meus pais.

– Não fala isso, bode. – Brenda respondeu – Perder os pais ainda criança é algo dificil, não é? Mas você ainda tem muito pela frente. Ainda vai ser diretor de um sucesso de bilheteria!

– Às vezes eu penso se seria diferente caso eles não falecessem. – Jonnhy disse pensativo.

– Eu entendo… - Brenda falou desaminada – Quando tinha uns sete anos, eu perdi uma prima. Éramos quase como irmãs gêmeas, muito unidas. O nome dela era Helena. Fazia balé… Ficava linda fazendo todos aqueles passos frescos enquanto se enfiava em um daqueles vestidinhos pretos e estúpidos para dançar aquela merda. Sinto falta dela…

Jonnhy não conseguiu achar resposta para a fala da amiga. Apenas balançou a cabeça, sem objetivo de positivo ou negativo. Os dois góticos ficaram ali parados por um tempo, apenas fitando algum ponto aleatório ou sentindo a presença um do outro. Não tinha interesse amoroso um pelo outro e quase cem por cento de chances disso nunca acontecer, mas a amizade era forte.

Muitos fantasmas rondavam a vida da dupla de amigos, mas algo lhes dizia que não demoraria muito para novas covas assombrarem suas mentes.

***

A jaqueta de couro estava jogada no chão. Vince acabara de deitar, fitando uma parte descascada na parede. Ontem, mais uma vítima foi levada por Reaperface e a notícia estampava os noticiários. O mais asqueroso era o fato de toda a ação ser documentada em um novo capítulo, narrando cada ação no assassinato de Maycon. A "obra" foi divulgada pela internet e a última frase daria luz a teorias mais terroristas do ano, pois o maníaco indicou que vai destruir um patrimônio público.

Vince não se preocupava - morava longe de qualquer coisa considerada como patrimônio. Guardas especializados protegiam o palácio da prefeitura, parques, museus e prédios do governo.

Seu pai entrou em seu quarto, após algumas batidas na porta.

– Você viu os boatos sobre hoje à noite? - Vince perguntou.

– Vi. Ainda acho que é uma besteira. - o mais velho respondeu, sentando-se em uma cadeira.

– Eu acho que é um boato para servir como distração. - Vince sugeriu - Sabe, a polícia distraída com esses pontos de merda. Mais alguém deve morrer hoje.

– Tanto que não seja eu. Mas vim conversar sobre outra coisa. - o pai disse - A chave ainda está com aquele garoto?

– Com o Mark? Não, aquele lá faz juz ao apelido de perdedor. - Vince respondeu - Está com Peter.

– Interessante. Você não contou nada à Brenda, certo?

– Não. Ela não sabe de nada.

– Será melhor assim. - o pai respondeu, se levantando e bagunçando o cabelo do filho e saindo do quarto - Se cuida, moleque.

Vince permaneceu em sua cama, perguntando para si mesmo se tudo isso estaria sendo certo.

***

Penny desceu das escadas sensualmente, usando um vestido vermelho colado e decotado. Em seu pescoço, um colar de rubi enfeitava o busto da moça, enquanto algumas pulseiras de ouro puro estavam enroscadas em seus braços.

– Onde você vai tão arrumada assim? – Phillip perguntou quando viu a irmã vestida daquele jeito.

– Uma importante revista me convidou para uma entrevista, em um restaurante chiquérrimo no centro da cidade. – Penny respondeu – Prometo que volto antes do sol nascer.

E assim saiu. Peter deixara a casa também alguns minutos antes, sobrando apenas o gêmeo mais novo. Ele sabia que Tessa apareceria logo, já havia até dispensado os serviçais. Mas antes de tudo, precisava resolver um assunto pendente. E era necessário ser pessoalmente. A pessoa já estava no local marcado, então Phillip foi a caminho.

***

O carro de Phillip já estava parado disfarçadamente em um estacionamento de um supermercado. Tessa havia mandado mais uma mensagem, dizendo que já estava quase chegando na casa dele.

– Droga, cadê esta garota?

O gêmeo caçula precisava se apressar. Seria desrespeitoso deixá-la esperando para o lado de fora. Para disfarçar, respondeu a mensagem dizendo que havia saído para comprar um vinho, e que se ela chegasse antes dele, poderia entrar na casa com uma chave escondida de baixo de um vaso de plantas.

Duas delicadas batidas no vidro do carro chamaram a atenção de Phillip, então a porta se abriu e Jac se acomodou-se no banco de couro do carro.

– Até que enfim! – Phillip desabafou.

– A culpa não é minha. Você que escolheu esse local ruim. – Jac cuspiu – Mas vamos ao que interessa, o que tem a me dizer?

– Eu preciso saber se você continua mantendo contato com Vince. – Phillip pediu.

– Eu não consegui. – Jac se lamentou – Ele começou a desconfiar de mim. Estou tomando um tempo para me reaproximar.

– Pois então acelere seu relógio. – Phillip cortou – Aquele lá é um verdadeiro garoto problema. Tenha ele em suas mãos, sem que ele perceba. Nós dois sabemos que você é capaz disso.

– Certo, Phillip. – Jac disse se despedindo e saindo do carro.

Phillip permaneceu no carro, observando a garota indo embora. Seu celular começou a tocar. No visor, um número restrito. Atendeu e com uma inconfundível e assombrosa voz distorcida, Reaperface falou:

– Espero que não tenha achado que seu irmão ficaria com toda a diversão.

***

Foi fácil para Peter achar a casa de Mark. Era uma pequena casa, com a tintura descascada e vidro da janela quebrado, substituído por um pedaço de papelão. O garoto estava em uma rede do lado de fora da casa, parecendo relaxar. Era agora que o gêmeo descobriria o por quê da chave ser tão cobiçada e se foi realmente ele que assassinou o gato de Gabriella.

Peter desceu do carro e começou a caminhar disfarçadamente, evitando entrar no campo de visão de Mark. Estava a alguns metros da casa, e sua ira começava a subir a cabeça, com o sangue esquentando. Mas ele precisava manter o controle.

Notificação de mensagem recebida de um número restrito. Peter olhou e então chegou mais uma. E uma terceira. Quarta. Diversas mensagens. O gêmeo abriu todas e viu que eram várias fotos. A maioria era de Peter e Phillip, esse segundo com o rosto manchado. Também havia várias do mais velho com Gabriella, em momentos sorridentes e felizes.

Peter respondeu em diversas mensagens, pedindo que ele parasse. Mas continuava, mandando mais fotos. Até que parou. Peter parou na calçada e analisou a última foto. Havia um trio: Peter, Gabriella e Phillip, com a garota no meio. Essa era o único registro em que o irmão não estava com o rosto borrado e que Gabriella não sorria totalmente. O que o assassino queria dizer com aquilo?

Peter deu um zoom na fotografia e seu coração acelerou. Botando a mão no bolso, tirou o colar que achara dentro de Gerard e comparou com o que estava vendo na foto. Obteve sua confirmação.

O colar achado dentro do gato era de Phillip.

Deixando Mark de lado, Peter voltou para seu carro e acelerou o mais rápido que pôde em direção à mansão.

***

Phillip estacionou seu carro e logo saiu. Tessa havia mandado uma mensagem que o esperava no quarto dele. Parece que o jantar havia sido pulado direto para a sobremesa. Todas as luzes estavam apagadas. Phillip entrou e tentou ligar a lâmpada da sala de entrada. Clicou algumas vezes no interruptor, mas foi em vão. Seu corpo começou a ficar tenso e ele sentiu um clima sombrio.

– Tessa? – ele perguntou, começando a subir as escadas.

Não recebeu nenhuma resposta. Chegou ao topo da escada, com os músculos de seu corpo tensionados. Caminhou vagarosamente, e seus passos ecoavam pela mansão vazia. Durante o percurso, teve mais algumas tentativas falhas de ligar a luminosidade.

Chegou ao corredor de seu quarto, andando mais devagar ainda. Um medo crescia em seu peito e o clima ao redor começava a ficar denso e desconfortável, literalmente falando. Phillip tossiu algumas vezes até chegar na frente da porta do seu quarto. Respirou fundo, segurou a maçaneta de um jeito fraco. Respirou novamente e abriu.

O golpe acertou em cheio seu coração, mais rápido do que ele esperava.

***

Peter sentia que algo estava errado. Não queria desconfiar de seu irmão, mas já era tarde demais. Será que Gabriella e ele tiveram algum tipo de relação? Balançou a cabeça, afastando a ideia absurda de sua mente. Não podia ser verdade. Não deveria ser verdade.

O carro acelerou mais um pouco. O gêmeo mais velho tinha sorte, pois o movimento nas ruas não estava muito agitado, permitindo-lhe uma boa mobilidade. Planejou chegar a mansão e, na presença ou ausencia de Tessa, esclareceria toda a história com Phillip.

Acelerou mais um pouco o carro e se viu em uma roda de azar. Acabou passando na frente de uma viatura policial. Por dois motivos, começou a ser perseguido: primeiro pelo toque de recolher e segundo, por estar acima da velocidade permitida.

Não se daria o luxo de ser detido novamente. Então, fez o mais necessário: pisou fundo no acelerador, em direção à sua casa.

***

Phillip sentiu um buraco preencher o lugar de seu coração. Os olhos ficaram marejados e seu sangue começou a se aquecer. Seu lençol, que já fora branco como nuvens, agora estava manchado em diversas partes com sangue rúbro. Amarrada em sua cama, sem nenhum sinal de vida, estava Tessa. Os olhos, ainda abertos, encaravam o garoto em uma escuridão tenebrosa.

Os braços mostravam diversos cortes profundos. Sangue, que escorreu desses ferimentos, havia deslizado pelo corpo. Em suas pernas, podia-se avistar vários hematomas e sinais de violência bruta. Phillip se perguntou como isso poderia ter sido feito, mas foi só dar alguns passos a frente para descobrir. Ao lado da cama, uma marreta estava repousando.

O gêmeo mais novo conseguiu analisar melhor o corpo ao se aproximar. A expressão no rosto de Tessa era puramente de dor e provavelmente ela implorou por misericórdia antes de ser assassinada. Em suas costas, mais cortes profundos feitos por uma faca.

Phillip conseguia imaginar a cena. Tessa entrou na mansão, e se deparou com Reaperface. Ele havia planejado uma armadilha. A garota provavelmente tentou correr, mas foi pega. Recebeu vários golpes de facadas, mas não para morrer, apenas para torturar.

Analisando o rosto de Tessa, Phillip via a crueldade do assassino. A mandíbula da garota estava deslocada, provavelmente recebendo um golpe da marreta. Vários dentes de seu belo sorriso lhe faltavam. Reaperface amarrou a garota na cama do gêmeo e a torturou mais ainda.

De baixo do travesseiro, Phillip avistou um alicate, sujo de sangue. O maníaco usou aquilo para arrancar diversos dentes da garota, provocando-lhe grande dor. Um pedaço de sua língua também fora arrancado. Por fim, para acabar de vez com tudo, Reaperface acertou um golpe de marreta em sua face, quebrando sua mandíbula, seu pescoço e rompendo seu fio da vida.

Algumas lágrimas ameaçaram escorrer pelo rosto de Phillip, que recebeu uma mensagem. Abriu-a, era do assassino, dizendo: “Está na hora de se despedir de sua garota, Phillip. Nós passamos bons momentos juntos. A Mansão Van Der Hills já pode ser iluminada novamente.” Com uma lágrima escorrendo pela sua bochecha, o jovem respondeu: “Entendido”.

– Me desculpa, Tessa. – Phillip disse com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Em um momento fúnebre e silencioso, o gêmeo olhou pela última vez para Tessa, com grande aperto no coração. Desceu as escadas. O cheio de gás estava cada vez mais forte. Dessa vez, percebeu alguns fios soltos no teto. Phillip tossiu mais algumas vezes e saiu da mansão, fechando a porta.

Se encaminhou para a pequena caixa em frente a casa, onde mantinham o gerador de luz. Abriu a tampa e encontrou o pedaço da língua de Tessa perto do interruptor que ligava a luz. Obviamente, este estava desligado. Phillip encostou o dedo indicador e respirou fundo, se preparando para o que faria. Contou silenciosamente até três, se lembrando do por quê estava fazendo isso.

Um. Começou a pressionar o interruptor.

Dois. Respirou fundo.

Três. Ligou o interruptor.

A luz dentro da mansão voltou rapidamente e em contato com o gás e todos os fios elétricos desprotegidos, começou a explosão. O fogo cresceu rapidamente. A porta da casa foi lançada a metros de distância, junto com vidraçarias das janelas e partes da parede.

A nuvem de fogo cresceu e aumentou de tamanho, atingindo seu ponto máximo. Phillip se jogou no chão, procurando proteção dos escombros. Fogo foi lançado para todos os lados e mais algumas pequenas explosões aconteceram. Toda a mansão entrou em combustão e explodiu, caindo às ruínas.

Phillip ajoelhou-se após a grande explosão, observando o resultado do que fizera. A mansão, que era um grande império de dois andares, foi reduzida a apenas alguns restos de materiais, que ainda queimavam em pequenos focos de incêndio. O gêmeo não conteu as lágrimas.

– O que foi que você fez? – era a voz de Peter atrás dele, saindo de seu carro, indignado. Uma viatura parou logo atrás – Você é um monstro!

Phillip olhou para seu irmão e pensou em dizer que estava fazendo o necessário, mas não iria adiantar nada. Ele abaixou a cabeça e chorou mais ainda, enquanto a Mansão Van Der Hills era reduzida às cinzas.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Não se esqueçam de comentar. Dêem seus palpites sobre o assassino!



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