Slasher Story escrita por PW, Felipe Chemim, VinnieCamargo


Capítulo 2
1x02: Cinquenta Tons de Sangue


Notas iniciais do capítulo

Escrito com sangue e vísceras por Felipe Chemim.



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Era uma noite quente, embora as noites de Reaperswood fossem mais frias. Sob a redoma repleta de estrelas, a escola realizava uma pequena e singela cerimônia memorativa à aluna Gabriella King. Fotos em momentos variados da garota estampavam o mural montado em uma das grades da instituição. Cartazes com frases de apoio à família, flores, velas, dedicatória dos amigos e outras pequenas lembranças que representassem sua memória, estavam colocadas ali.

Melissa estava de pé diante do mural, com os cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo. Carregava uma expressão entristecida no rosto. Ela era amiga de Gabriella, tinham aulas juntas, sentavam na mesma mesa nos intervalos e às vezes discutiam sobre séries também. Ambas possuíam uma empatia e a amizade era verdadeira, embora não fosse tão sólida quanto a de Gabriella e Brenda.

Segurando uma vela, disfarçadamente Melissa observou Brenda um pouco afastada de todos, escorada em uma pilastra, segurando o que parecia ser uma fotografia da melhor amiga. A garota estava com os olhos inchados de tanto chorar e por incrível que pareça, nenhuma maquiagem pesada, como costumava usar. Estava de cara limpa, apenas encarando o mural. Bem ao seu lado, surgiu Johnny Siddle, o garoto do clube de cinema. Ela passou o braço pelo ombro da gótica e também encarou o mural.

Melissa olhou para o lado oposto e lá estava Peter e Phillip. O namorado de Gabriella estava trajando uma blusa social preta e calça caqui, enquanto o irmão usava uma blusa também preta e uma calça cinza. Peter deu alguns passos e depositou um buquê de flores junto ao mural. A jovem atriz viu quando ele respirou fundo e voltou ao seu lugar em silêncio.

— Miles?

A garota deu um pequeno salto, colocando a mão no peito. Hannah franziu o cenho e se desculpou.

— Você me assustou.

— Ultimamente você está se assustando até com o barulho do vento, amiga.

Hannah usava um vestido branco e uma sapatilha. Os cabelos loiros tinham uma tiara rosa no topo e estavam bem penteados.

— Não é pra menos, Hannah, nossa amiga foi morta e alguém escreveu sua morte em detalhes, como num tipo de conto de terror. — Miles sussurrou.

— Provavelmente essa pessoa é só um oportunista que tentou se aproveitar da situação pra deixar todos em pânico. — Hannah não conseguia falar tão baixo quanto a morena. — E pelo visto, conseguiu pegar você.

— Eu não sei quem poderia ter feito uma coisa dessas, Gabriella era tão querida.

— Eu conheço alguém que não estava nada satisfeito com as atitudes dela. — A loira balbuciou.

— Quem?

— Peter.

OPENING THEME

SLASHER STORY

1x02: Cinquenta Tons de Sangue

O sol reinando absoluto no céu claro iludia os alunos com uma falsa esperança e alegria. O campo de futebol, esverdeado, era enfeitado por diversas líderes de torcida, que se mexiam para lá e para cá, ensaiando uma coreografia. Estrelinhas, saltos e cambalhotas quase se perdiam nos olhares curiosos de alguns alunos, que assistiam de camarote na arquibancada de madeira.

Peter estava sentado, fitando um ponto fixo qualquer e aleatório. Ele tentava se concentrar no ensaio, mas sempre se perdia em seus pensamentos assombrosos. Phillip, ao contrário do irmão, se mostrava inquieto, andando de um lado para o outro. De vez em quando olhava as acrobacias, outrora via as nuvens passando lentamente. Verificava seu celular a cada cinco minutos, como se esperasse alguma coisa.

– O que você tem? – Peter perguntou inclinando o rosto para encarar o irmão.

– Só quero saber onde aquele verme inútil se meteu com o que pedi. – respondeu, corando levemente.

Peter acabou aceitando a resposta e voltou a observar o ensaio. Lucky e Marley estavam sentados alguns degraus abaixo. Comentavam sobre como tal garota ficava gostosa na roupa de líder de torcida ou compartilhavam alguma piada, rindo histericamente como uma hiena sendo eletrocutada. Mais alguns jogadores estavam espalhados pela arquibancada, acompanhados de alguns outros alunos. Kat estava sentada um degrau acima, segurando um pequeno espelho em uma das mãos, a frente da face, e passando um pouco de pó de arroz no rosto.

– Nossa, quanto custa o quilo desse pó? – Marley perguntou, rindo com Lucky.

– Pergunta para sua mãe. – Kat cortou sem nem desconcentrar seu olhar da maquiagem, cruzando as pernas.

– Você não tinha que estar ali? – Phillip perguntou apontando para o campo.

– Estou esperando a Tory. – Kat respondeu terminando de passar um gloss nos lábios.

Como se esperasse o chamado, a capitã chegou, acompanhada de um andar charmoso. A roupa justa ressaltava as curvas de seu corpo e a maquiagem levemente exagerada concentrava ainda mais atenção para ela. Passou do lado da arquibancada, cumprimentando os rapazes – somente os populares e bonitos, claro – com piscadelas e beijinhos. Chamou Kat e as duas se encaminharam para o campo, se juntando às outras garotas.

A partir deste momento, o ensaio acabou se tornando mais interessante. Algumas dúzias de alunos, sendo a maioria formada por garotos, chegaram à arquibancada para assistir. Tory rodopiava, saltava e exibia suas habilidades, a companhia da amiga e das outras garotas.

– Ela sabe mesmo como levantar a audiência. – Phillip disse, sentando-se ao lado do irmão.

Ao longe, um garoto começou a se aproximar correndo. Sua pele bronzeada brilhava com o suor escorrendo, sendo visível em suas roupas encharcadas, que cobriam seu corpo um tanto quanto gordinho. Os cabelos negros grudavam na testa e segurava em suas mãos uma latinha avermelhada como se fosse um troféu. Ele se aproxima dos gêmeos e suas pernas enfraquecem, quase caindo de joelhos.

– Phillip…

– Senhor, Eddie, senhor. – o gêmeo mais novo corrige.

Senhor Phillip, trouxe o que o senhor pediu. – Eddie disse, esticando as mãos e entregando a latinha.

– Humm… - Phillip disse analisando a lata – Às vezes me pergunto como você chegou ao ensino médio. Você não sabe ler nem escutar direito? Eu pedi uma Coca sabor cereja, não maçã, seu inútil!

A pobre latinha foi arremessada na cabeça do subordinado, que caiu no chão, acariciando o local onde foi atingido.

– Mas… mas… senhor, foi muito difícil de encontrar esta aqui! E eu ainda…

– Entenda, rato de esgoto, a gente não perguntou se foi fácil ou difícil. Você acha que é assim que conseguirá entrar para a elite? Fazendo tudo errado? – Peter disse, levantando-se.

– Peter… Phillip… Me desculpem, eu queria poder fazer tudo certo! – Eddie começou a choramingar, ainda no chão – Mas… Eu juro… Eu prometo que…

– Escuta. – Phillip interrompeu – Você não pode sentar com a gente. Agora caia fora daqui.

Eddie se levantou apressado e saiu correndo do campo, deixando a latinha no chão.

– Quer saber, agora estou com sede. – Phillip disse, abrindo a lata e tomando um gole – Até que não é tão ruim.

Peter soltou um riso fraco e sentou-se novamente. Agora, as líderes de torcida formavam uma pirâmide humana, com, obviamente, Tory no topo. Ela salta para cima, enquanto a formação se desfaz, metade para a direita e a outra metade para a esquerda.A capitã ainda consegue girar o corpo algumas vezes até começar a cair, em direção ao chão.

Lá em baixo, cinco garotas, incluindo Kat, formava uma espécie de rede humana com seus braços, a espera da abelha rainha cair. Tory cai e logo se desfaz das garotas, começando uma linha de estrelinhas pelo campo.

– Ela está sem calcinha? – alguém comenta em voz alta.

Todos olham para Tory, que pouco se importa com os comentários. Muito pelo contrário, começa a se exibir mais. Faz aberturas completas, estica mais as pernas, planta bananeiras. Isso até uma coordenadora do colégio aparecer, dizendo para todos os alunos se encaminharem ao ginásio, pois o diretor tem um comunicado importante a fazer.

– Será que esse velho finalmente vai se aposentar? – Phillip perguntou para o irmão, que permaneceu sério.

– Vamos descobrir.

Aos poucos, os alunos começaram a se dispersar em direção do ginásio. Lucky, ainda vidrado na apresentação da capitã do time, protesta:

– Hey, ondes vocês vão? Vamos olhar mais um pouco!

– Qual é, cara. - Peter responde – Até parece que você nunca viu algum dos milhões de fotos e vídeos vazados.

– E também, - Phillip complementa –Não deve ter mais graça ficar vendo depois que já provou.

Com a última fala do gêmeo, mais da metade dos garotos se levantam da arquibancada e acompanham os outros para o ginásio. Algumas nuvens indicavam que uma chuva viria em breve, já tornando o céu nublado e sombrio.

***

O ginásio já estava quase cheio quando chegaram. No centro da quadra, senhor Cortez, o diretor do colégio, se preparava para começar seu discurso. Enxugou o suor da cabeça careca com um pequeno pano e arrumou a camisa social por dentro da calça, apertando sua barriga saliente. Com um pouco mais de um metro e meio, subiu em cima de um palco improvisado e testou o som.

– Atenção, alunos. - ele chamou a atenção, com sua voz ecoando pelo ambiente - Tenho alguns comunicados muito importantes para fazer!

Pigarreou e continuou.

– Convoquei vocês para tentar acalmá-los. Sei que muitos estão assustados e apavorados com os últimos acontecimentos ao nosso redor. Sei que existe motivos, mas se acalmem. – o diretor disse – Como você sabem, nós lamentamos muito a perda de uma das nossas melhores e mais querida aluna. A polícia já investiga seu assassinato e logo o culpado pagará por isso.

Kat deixa cair seu espelhinho no chão, que se espatifa em vários pequenos cacos. Com a mão tremendo, mostrando nervosismo, se agacha para tentar limpar a bagunça. Suas bochechas estão levemente coradas. Senhor Cortez não liga muito para isso e continua:

– Já ouvi alguns boatos por aí de que o assassino estaria aos arredores da escola. Nós temos seguranças espalhados e garanto que manteremos vocês seguros. – o diretor prometeu, mesmo sem confiar em suas próprias palavras – E sobre as folhas relatando o fatídico momento, não é algo real. Tenho absoluta certeza de que foi apenas uma brincadeira, de muito mal gosto.

– Então por quê o corpo estava exatamente como descrito? – Brenda gritou, se levantando – Largue a hipocrisia, senhor Cortez! Nós estamos correndo perigo, tendo um assassino a solta, e só você não quer enxergar!

A garota pulou por entre as pessoas e saiu do ginásio. Jonnhy logo se levantou e a acompanhou. Peter muda sua posição na arquibancada, olhando para seu irmão. A reação de Brenda plantou uma dúvida em sua mente. Como Brenda saberia que o relato estava exatamente como o corpo encontrado?

– O que foi? – Phillip perguntou, mostrando preocupação.

– Não foi nada, não.

Senhor Cortez acaba ficando vermelho como um pimentão. Discursou por mais alguns minutos, tentando contornar a situação embaraçosa em que havia se colocado. Sua testa brilhava como uma bola de cristal, levando em consideração a grande quantidade de suor que escorria dela. Apesar dele demostrar calor e nervosismo, uma chuva começava a cair levemente do lado de fora.

***

Depois de alguns minutos, os alunos foram dispensados. Os corredores logo já voltavam ao normal, cheia de gente. Como de costume, Marcus andava apressado, se esquivando das outras pessoas, com vários cadernos e livros nas mãos. Estava a procura do professor Moreira, de literatura, para poder mostrar seus poemas. O professor apreciava o modo de escrita do garoto e o aconselhava de vez em quando, sempre motivando-o a continuar.

Virou corredores e mais corredores, se encaminhando para a sala dos professores, na esperança de encontrar Moreira. Enquanto tentava achar o caderno preto, no qual possuia novos poemas, acabou trombando com uma garota. Seus pertences foram ao chão.

– Oh… - ela disse tampando a boca com a mão – Pardon.

Marcus se agachou e começou a juntar tudo. A garota o acompanhou. Vestia uma camiseta de mangas longas e totalmente listrada, alternando entre o preto e o branco. Uma saia por cima da meia calça lhe dava um tom elegante, enquanto sapatilhas bordôs encaixavam-se perfeitamente em seus pés. Uma boina ao estilo francês e uns óculos pretos terminavam de enfeitar a moça, que corava levemente, envergonhada pelo incidente.

Pardon novamente. – ela repetiu. Seu sotaque entregava que ela realmente era francesa– Estou meio perdida, não sei para onde ir. Acabei não te vendo.

– Eu que peço desculpas para você. Andava distraído e acabei não olhando por onde andava. – Marcus disse – Você não é daqui, né?

– Ah, não. – ela disse, terminando de juntar os cadernos do garoto e se levantando – Cheguei da França na semana passada, hoje é meu primeiro dia de aula, sou intercampista.

– Não sei por lá, mas aqui chamamos de “intercambista”. – Marcus disse em tom de brincadeira, pegando os cadernos juntados por ela – Meu nome é Marcus.

Je me chama Jac. – ela correspondeu – Desculpe misturar de vez em quando o francês nas falas, ainda não estou totalmente acostumada.

– Ah, tudo bem. Você disse que estava perdida, quer ajuda?

– Que gentileza. Aceito, sim. – ela voltou a corar e pegou um papel guardado em uma pequena bolsa – Estou a procura do professor… Morreirra. Literatura. Minha primeira aula é com ele, daqui alguns minutos.

– Irônico, estou indo ao encontro do professor Moreira também. – Marcus disse – Se quiser, podemos ir juntos.

A francesa aceitou o convite do simpático jovem, e os dois se encaminharam por entre os corredores, desviando de algumas alunas patricinhas e filhinhos de papai.

***

Peter lavava o rosto pela terceira vez na pia do banheiro. Seu sangue corria rapidamente pelo corpo, esquentando-o como brasa. Ele não sentia-se bem. A morte de sua ex-namorada, a carinhosamente adorável Gabs, havia abalado sua estrutura e seus sentimentos.

O poderoso e glorioso Peter Van Der Hills, uma das maiores influências de seu colégio, estava exposto. Pela primeira vez, estava deixando suas fraquezas transparecerem. Sua áurea imperial se mostrava abalada, consequência de uma terrível perda.

Mas logo tudo isso passará. Tem que passar.

Enxugou seu rosto e olhou para seu reflexo. Ou melhor, para quase dois dele.

– Finalmente te achei. – Phillip comentou, sorrindo – Você sumiu depois da palestra do senhor Cortez, fiquei preocupado.

– Ah, não é nada. – Peter garantiu novamente – Acho que comi algo que não me caiu bem.

Phillip sabia que era mentira. A relação entre ele e Peter era quase que unha e carne, no sentido literal. Apesar de se preocupar, sabia que deveria ceder um espaço para o irmão, porém, se isso continuasse, iria até o fim para ajudar no que fosse possível.

– Vamos, temos educação física agora. – Phillip disse, passando o braço em volta do irmão – Ouvi dizer que a aula vai ser polo aquatico. Piscina sempre faz bem, vai te fazer relaxar.

Os dois saem do banheiro e acabam trombando em uma figura tímida, gordinha e baixinha.

– Hey, rolinho primavera! – Phillip chamou atenção do garoto – Você está ficando cego? Essa já é a segunda vez em poucos dias.

Peter se desvencilha do abraço do irmão e parte para cima do garoto.

– Escuta, Free Willy, vou te acabar na porrada! – ele esbraveja enquanto o gordinho se encolhe, preparado para levar um soco, mas é segurado pelo irmão.Mesmo abalado pela morte repentina, Peter ainda é um tanto quanto arrogante.

– Relaxa, Peter. – Phillip disse com um sorriso malicioso no rosto – Deixa o garoto. Vamos para a aula.

Confuso e sem entender nada, Peter segue o irmão, ainda olhando para o garoto assustado.

***

Brenda estava em pé, encostada em uma árvore, perto do parquinho do colégio. Estava pouco se lixando para a aula de literatura. Franzia a testa a cada cinco segundos, irritada com tudo. A chuva que caía degradativamente não conseguia atingi-la. Frio, chuva e solidão. A melhor combinação para a garota.

Já havia derramado algumas lágrimas, lembrando-se da falecida amiga. Seu rímel preto escorria pelo seu rosto, mas ela não se importada – até achava que lhe dava um certo toque especial. Ouviu alguns passos pela grama molhada atrás dela e virou o rosto.

– Quem está aí? – perguntou em voz alta.

Silêncio.

– Que merda. Quem est…

– Olá. – Jonnhy surgiu do outro lado, com uma flor roxa em mãos, rindo.

– Vai se foder! – Brenda gritou irritada, embora tivesse um pequeno riso no rosto – Você me assustou.

– Me desculpe. – o garoto disse jogando a flor no chão e pisando em cima – Só tava fingindo te agradar.

– Falsiane. – Brenda respondou ríspida – Você não devia estar em aula?

– Deveria. Mas vi ao longe que minha amiga predileta estava se fantasiando de urso panda e vim para ajudar. – Jonnhy confessou, passando os polegares pela face da garota, limpando o rímel borrado.

Brenda respirou profundamente.

– Eu sinto falta dela. De sua voz, do seu jeito, de suas piadas. – ela disse, tentando evitar o choro novamente –Agora ninguém escuta My Chemical Romance comigo…

– Eu posso escutar contigo.

– Ah, qual é. Você só quer saber daquela puta da Alexz. – Brenda respondeu rindo – Fiquei aqui observando a chuva e curtindo a solidão, me lembrando da Gabs. Ela vai fazer muita falta. A gente costumava matar aula e sentarmos aqui nessa árvore, rindo dos idiotas que passavam. Agora estou sendo solitária.

– Bom, vamos ser solitários juntos então.

Os dois permaneceram em silêncio, observando a chuva cair mais, e mais, e mais…

***

Peter e Phillip vestiam sungas. O primeiro, uma alaranjada, e o segundo, uma preta. Ambos se encaminhavam para a piscina, onde o professor já esperava os alunos, sentado em uma cadeira de praia. Os outros rapazes também já estavam preparados. Alguns com sungas, outros com calções.

– Olha, as princesas chegaram. – o professor comentou em tom de brincadeira.

– Vai tirar esse bigode que parece um rato morto. – Phillip respondeu, mergulhando na piscina. Seu irmão logo o seguiu.

– Enfim, donzelas, - o professor disse jogando a bola – Vocês já sabem como jogar polo aquático. Se dividam e comecem.

Phillip agarra a bola no ar e olha em volta, a procura do seu alvo. Avista Willy em um canto do local, vestindo uma roupa normal e longe da borda da piscina.

– Ei, você. – o gêmeo chama – Vem jogar.

– O q-quê? N-não quero, não. – eleguagueja.

Peter se aproxima da borda da piscina e sussurra:

– Escuta aqui: ou você entra nessa piscina e joga, ou te encho de porrada depois.

Poucos minutos depois, o Willy voltava para o local, vestindo uma roupa de banho que cobria quase que totalmente se corpo, com listras em tons claros e escuros de azuis e algumas brancas na horizontal. Estava visivelmente incomodado com todos os olhos curiosos em sua volta. Entrou vagarosamente na piscina, sabendo que qualquer movimento poderia virar uma piadinha para os outros.

– Os times já estão divididos. – Peter informou, passando a bola de uma mão para outra, apertando os olhos e sorrindo maliciosamente – Tecnicamente é você contra nós.

O jogo começou e logo o time dos gêmeos se mostrou em vantagem. Todos que estavam nele eram atletas ou pelo menos bons jogadores. Do outro lado, porém, ficava o time que tinha mais desempenho cerebral do que físico. O professor, que estava sentado na cadeira, se divertindo com um jogo dos Minions, não ligava para as infrações durante a partida.

Em certo ponto, Peter desferiu uma cotovelada na costela de um garoto, que ficou o resto do jogo na borda da piscina, desviando de qualquer um que se aproximasse. Phillip acertava em cheio e com força. Quando não era no gol, era na cara de algum rapaz do time contrário.

Willy permaneceu se esguivando o jogo inteiro. A bola ia para um lado, ele ia para o outro. Sabia que era alvo dos gêmeos e queria impedir que fizessem algo com ele. Fugir não era a melhor opção, poderia piorar as coisas. Peter é atingido no nariz por um garoto, que desviou rapidamente antes que fosse massacrado.

Quase no final, por um mero incidente do destino, a bola foi parar na mão de Willy, que permaneceu estático, a procura do que fazer. Agarrou a bola com as duas mãos e olhou em volta. Todos o observavam, esperando sua jogada.

Peter se apoiava na beirada da piscina, analisando seu nariz. Algumas gotas de sangue escorriam até seus labios e pingaram na piscina. O rapaz então pressionou sua mão no local para impedir que sangrasse mais.

Aproveitando a distração do primeiro gêmeo, Willy levantou seu braço e arremessou a bola com toda a força que tinha. Juntou toda sua ira, sua raiva e seu rancor guardado pelos gêmeos. Os outros rapazes ficaram parados, olhando o trajeto da esfera percorrendo no ar.

Iria acertar Peter em cheio no rosto, mas Phillip impediu, colocando sua mão na frente do rosto do irmão e parando a bola.

– Eu tenho apenas uma pergunta, - Phillip disse, se locomovendo pela piscina na direção de Willy, com um olhar raivoso e fixo no gordinho – quem você pensa que é?

Antes de obter qualquer tipo de resposta, Phillip levantou o braço, concentrando toda sua força no lançamento. Sua mira estava exatamente no rosto de Willy, que estava vermelho e tremendo. Colocou suas mãos na frente do rosto, tentando se proteger.

– Certo, meninas, o show acabou. – o professor disse se levantando da cadeira – Saiam da piscina e se vistam, não fiquem desfilando as curvas de vocês pelo colégio.

Willy saiu apressadamente da piscina, sumindo da vista de Phillip. Os outros rapazes, incluindo os gêmeos, também saíram. Peter havia conseguido parar o sangramento. O professor acionava em um controle remoto para que a piscina se fechasse. Logo, uma placa fina de metal se arrastou, trazendo consigo um tecido de couro para tampar o ambiente aquático.

– Vem, Peter. – Phillip chamou o irmão – Vamos achar um absorvente para você colocar no nariz.

***

O dia havia passado rapidamente para Miles. Após o discurso do diretor no início da manhã, assistiu a aula normalmente. A tarde, passeou por um dos parques da cidade e combinou de se encontrar com Lucky, a noite. Estava sentada em sua cama, lendo um clássico do terror: Frankstein. O céu lá fora mostrava que em breve uma chuva caíria novamente.

Ouviu batidas na porta de sua casa. Largou seu livro e desceu as escadas rapidamente, abrindo a porta. Nada.

– Lucky? – Miles perguntou em voz alta – É você? Se estiver brincando, pare com isso, não tem graça.

Após alguns segundos sem resposta, fechou a porta, com raiva. Se virou e começou a subir a escada, quando ouviu mais batidas na porta. Com passos lentos e com o sangue subindo, andou lentamente até a porta. Tocou a maçaneta e respirou fundo.

Abriu.

– Lucky, é você! – Miles sorriu aliviada – Que brincadeira mais sem gr…

Um beijo e um abraçao do atleta interromperam a fala da garota.

– Que brincadeira o que. Estou aqui para um papo muito sério… - ele respondeu, sorrindo maliciosamente e depositando mais beijos no rosto da garota.

Os dois andaram juntos e Miles empurrou a porta. Subiram rapidamente para o quarto da garota, que estranhou a janela do corredor aberta. Ela jurava que havia fechado.

Ao chegar no quarto, Miles já deitou em sua cama, jogando o livro no chão. Lucky ficou por cima dela, beijando-a ainda mais intensivamente. Logo sua jaqueta do time estava jogada em algum canto, e sua camiseta começava a subir.

– Lucky… - Miles protestou entre os beijos – Meus pais estão em casa.

– É só gemer baixinho. – o atleta respondeu, depositando alguns beijinhos no pescoço da garota.

Os beijos ficaram ainda mais intensos. Miles fechou os olhos, enquanto Lucky beijava seu pescoço e começava a levantar sua camiseta. Até parar do nada.

– Lucky? Por quê parou? Estava tão bom… - ela disse baixinho. – Lucky?

Um jato quente atingiu sua mão. Abriu os olhos e seu corpo paralisou completamente.

Alguns jatos avermelhados espirraram, e mais um pouco escorreu pela sua boca. Seus olhos imóveis ainda a encaravam. O facão atravessado por seu abdomên estava totalmente ensanguentado. A figura negra atrás do corpo, mesmo mascarada, parecia rir e se divertir com a situação.

Miles gritou como nunca havia gritado em sua vida.

A figura assombrosa retirou o facão e o corpo de Lucky caiu em cima de Miles, sujando-a ainda mais de sangue. Mais gritos.

Agindo rapidamente como um gato, Miles jogou o corpo em cima da figura e correu para fora do quarto. Avançou pelo corredor, parando em frente ao quarto dos pais. O casal de senhores também foi assassinado. Sangue espirrado na parede, garganta cortadas, lençóis sujos de sangue.

A figura tenebrosa saiu do quarto de Miles e começou a andar vagarosamente em sua direção, como se não tivesse pressa para matar a sangue frio. Miles continuou a correr, descendo pelas escadas. Quando estava quase chegando até a porta, o assassino arremesou seu facão ensanguentado, e com uma mira perfeita, atingiu a porta, assustando a morena.

Miles olhou para cima e observou a figura mascarada retirar mais duas facas de seu manto negro. Arremesou uma, que atingiu a coxa da garota. Se preparou para jogar a última faca, que voou em um trajeto até o rosto dela.

Miles abriu os olhos e sentou-se na cama, em um susto. Havia sido um pesadelo. Em seu colo, Frankstein estava aberto. A leitura havia lhe dado sono, ótimo. Saiu do quarto e foi até os de seus pais e disse que Lucky chegaria logo, uma desculpa para vê-los. Vivos.

Quando saiu do quarto dos senhores, ouviu batidas animadas na porta. Antes de descer a escada, olhou para a janela do corredor e ela estava trancada.

– Miles, sou eu. – Lucky gritou do outro lado – Me deixa entrar, está começando a chover.

A morena desceu correndo e acolheu o garoto, com um beijo demorado.

***

Peter e Phillip estavam até tarde no colégio, coordenando a galera do teatro. O primeiro, já havia se recuperado do incidente no polo aquático e demostrava seus sentimentos sobre sua perda. O segundo, tentava comandar a turma do teatro.

Wendel o observava vidrado, como se estivesse hipnotizado. Era um garoto legal, não se encaixava em nenhum grupo, mas se dava bem com todos. Certa vez, foi visto com várias fotos de Phillip em seu celular, porém não falou sobre. Miles havia faltado ao encontro, enquanto Mark lia alguns diálogos dramáticos em uma folha. Parecia decorar alguma cena, mesmo que não tivessem planejado nada.

– Mark, para de ler essa merda. – Phillip disse – E logo, antes que você fique pendurado novamente no mastro da bandeira, mas dessa vez sem o pinto para fora.

O garoto rapidamente parou de ler, guardando a folha no bolso. A testa dele estava mais oleosa que o normal. Marcus terminava de organizar seus caderninhos de poesia. Phillip e Peter sentaram em cadeiras, analisando o grupo. Alguns segundos depois, ouviram o barulho da porta batendo. O gêmeo mais velho virou um pouco o rosto, para ver quem havia chegado.

– Miles…? – ele perguntou e então perdeu a esperança de alegria – Ah, não…

Na frente deles, Willy parou, com uma barrinha de cereais nas mãos e uma mochila azul nas costas.

– O que você está fazendo aqui? – Phillip perguntou irritado.

– Calma, fui eu que o convidei. – Mark tentou defender – No último encontro você disse que queriam novas pessoas, então tive essa ideia de…

– Pessima, para variar. – Peter cortou.

– Eu adoro teatro. – Willy começou a falar – Sempre quis ser um galã de Hollywood, rico, lindo e…

– Cai fora daqui. – Phillip cortou dessa vez – Se eu ver a sua cara de bolacha mais uma vez hoje, juro que arremesso essa cadeira em você.

– Mas, Phillip, eu sempre quis… - Willy começou a dizer.

O gêmeo mais novo levantou e jogou sua cadeira em Willy, que correu para desviar. O móvel se espatifou na parede, enquanto o gordinho corria para fora.

– Saia daqui!

Willy correu para fora, adentrando pelos corredores do colégio. Se sentia triste, e quando ficava triste, tinha fome. Pegou seu fone de ouvido e começou a escutar Break Free da Ariana Grande, cantarolando pelos corredores enquanto comia um bolo de morango e chantily.

If you wanna, take it…

***

Willy abriu os olhos. Ainda sentia a pancada na cabeça que havia levado no refrão da música. Tudo ao seu redor parecia estar escuro, apenas com uma fraca iluminação. Ele ouviu um barulho de água ao redor e pensou estar ficando louco. Olhou a sua volta e fitou a piscina.

Se levantou, mas sentiu uma forte tontura, quase caindo. Tentou ser forte e correu para a saída. Porta trancada. As luzes estavam apagadas. A turma do teatro já deve ter ido embora. Pelo menos, é o esperado… Uma risada ecoou pelo local, assustando o gordinho. Ele se virou e tentou avistar alguma outra escapatória, mas já parecia um lance perdido.

Um vulto se moveu pela escuridão. Em suas mãos, algo brilhava. Faca.

Um desespero tomou conta de Willy. Ele tentou correr, mas o vulto apareceu do nada e atingiu um soco em seu rosto. O rosto, escondido por trás de uma máscara cadavérica, esbanjava cinismo e loucura.

– Olá, baleia livre. – a voz modificada disse – Eu quero jogar com você.

Willy começou a se afastar, andando de costas.

– Phillip é você? Peter? – ele resmungou assustado – Eu juro que nunca mais apareço na frente de vocês, me deixem sair.

– Ah, mas nesse jogo só há um vencedor: eu. – o assassino respondeu – E adivinha como o jogo acaba?

Nas mãos da figura, um estilete verde cintilava. O primeiro corte atingiu o braço direito. O segundo, o esquerdo. E assim, mais alguns golpes foram desferidos, mesmo com o garoto tentando escapar.Diversos cortes foram desferidos no corpo de Willy, até ele sentir que estava na beirada da piscina. O gordinho quase se desequilibrou, com sangue escorrendo pelo corpo.

Agradeceu por conseguir se manter em pé, pelo menos por pouco tempo. O assassino, em um movimento simples e sereno, chutou o garoto, que caiu na piscina, espirrando água para todos os lados. Tentou se levantar, na borda, e sair, mas recebeu um chute no rosto, perdendo um pouco da consciência.

A figura cadavérica retirou algo de seu manto. Um controle. Logo, o tecido de couro que tampava a piscina começou a deslizar, fechando a piscina. Willy ficaria ali e morreria afogado se não fosse rápido. O assassino ria, se divertindo. O tecido já ultrapassou o gordinho, prendendo-o. Ele se movimentou, tentando se encaminhar para a saída.

Via o manto preto parado na borda, esperando o gordinho chegar, para concluir seu divertimento. Sangue continuava a escorrer de seu corpo e diluía-se na água. Willy conseguiu chegar até a borda livre da piscina, onde o assassino não estava. Tentou se levantar, mas recebeu um pé na cara, forçando-o a ficar na piscina.

Um toque gélido chegou na nuca do garoto. A placa de metal do tecido pressionava Willy, deixando-o preso. O assassino retirou o pé da sua cara e se encaminhou para a escuridão. Depois de algum tempo, voltou, acompanhado de um som parecido com um rastejo. Uma extensão elétrica ligada a uma tomada.

Willy, mesmo tonto e com o corpo doendo, olhou para cima. Em suas mãos cobertas por luvas, um secador de cabelo.

– Reconhece isso aqui, Free Willy? – o assassino perguntou – É, pois é. O secador dasua mãe. E sim, eu sei onde você.

– Por favor, me deixa ir embora… - o garoto implorou por misericódia.

– Creio que seja tarde demais.

O assassino se agachou, e com delicadeza, jogou o secador de cabelo na piscina, se afastando. O som do curto circuito ecoou pelo local, enquanto o corpo de Willy tremia. O controle remoto nas mãos da figura cruel autorizou que a tampa da piscina se abrisse novamente, deixando que o corpo do garoto, agora já sem vida, boiasse na água.

***

Algum tempo depois, o secador estava fora da piscina e o assassino pressionava a mão de Willy sob ele e o estilete. Por fim, deixa o corpo boiando, enquanto a ferramenta cortante fica jogada na borda da piscina. Antes de sair, jogou novamente o secador na água, causando mais alguns ruídos elétricos.

***

No outro dia, de manhã, o colégio estava parado. Brenda estranhou a movimentação, inclusive as viaturas da polícia. Se aproximou de um dos homens fardados.

– O que aconteceu?

– Hmm… - o policial disse analisando a garota da cabeça aos pés – Um garoto se suicidou na piscina na noite passada.

– Suicídio? – ela perguntou baixinha para si mesma.

Atrás da fita amarela da polícia, avistou dois policiais conversando. Um mostrava uma mochila azul para o outro. De dentro, retirou uma embalagem de estilete e fotografou tudo. Provas do caso.

Brenda sentiu que estava sendo observada, então se virou. De longe, os gêmeos Van Der Hills a encaravam.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Não esqueçam de comentar!



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