No dia seguinte, Hermione, Harry e Rony foram para a aula de Encantamentos. Hermione estava ansiosa, pois iniciariam as aulas opcionais, e após o almoço teria sua primeira aula de Aritmância com Sonserina. Tentou esconder ao máximo a ansiedade dos garotos. Não sabia exatamente porque estava sentindo aquilo. Não sabia se queria ver Draco, ou se estava com medo de interagir com o garoto. Parecia seu terceiro ano, quando teria sua primeira aula, também com o Loiro. Claro que nesse caso estavam mais velhos e mais maduros.

                Hermione foi para sua aula de Runas Antigas, enquanto os garotos iam para aula de Adivinhação. Hermione fez suas devidas anotações, apesar de estar um pouco desconcentrada, inclusive foi a primeira aula em que o professor da matéria teve de chamar a atenção de Hermione, inclusive estranhou a atitude da garota.

                No almoço, não se alimentou direito, deixou os garotos preocupados, mas a única na mesa que sabia realmente o motivo do nervosismo era Gina. Hermione olhou para a mesa da Sonserina e para sua surpresa Draco não estava lá sorridente como quando receberam a carta da professora Vector. Novamente o Loiro não se encontrava com seus amigos. Por um momento, Hermione teve vontade de perguntar sobre o garoto para Blásio, que era o único que parecia se importar com o Loiro. Mas não queria levantar suspeitas, sem saber que Blásio já sabia toda a história.

                O sinal bateu e Hermione travou. Gina teve de puxá-la para levantar, e a confortou na saída do Grande Salão. Finalmente, Hermione criou coragem e foi para a aula, afinal não queria chegar atrasada. Chegou na sala finalmente, seguida de alguns alunos de sua casa, e logo o pessoal da Sonserina chegou. Ficou ansiosa novamente, mas para sua surpresa (e no fundo, decepção), Draco não apareceu. A garota se viu preocupada com a ausência do garoto, pois não era a primeira vez, nem a única aula que ele havia faltado.

                Nesse momento, Hermione ficou receosa pelo que o garoto estaria fazendo. Não queria que Harry tivesse razão, não queria que Draco de fato tivesse se tornado o que ela temia que ele se tornasse. No fundo ela ainda gostava muito do garoto, mas dava a desculpa para si mesma, de que era apenas pena de ver um colega desperdiçar seu futuro.

                Pela primeira vez Draco não estava em uma tarefa maluca, apenas num dilema de ir ou não para a aula, por não querer pôr a vida de sua amada em risco. Decidiu de última hora que iria para a aula, mas se demorou no caminho para pensar de que forma abordaria a situação.

                A professora Vector deu a introdução, e determinou a tarefa que a turma deveria fazer, mas dessa vez cada aluno deveria fazer individualmente. No segundo período, determinou um trabalho de sala, que desta vez seria em duplas. Todos se juntaram, e aquela foi uma das únicas vezes que Hermione viu Sonserinos e Grifinórios trabalhando juntos, inclusive, estavam se tratando bem, até porque não era a primeira aula deles, já se conheciam e até eram amigos.

                -Onde está seu companheiro, senhorita Granger? – A Professora perguntou de pé ao lado da garota.

                -Eu não sei professora. – Respondeu normalmente. – Mas eu dou conta do recado.

                -Será mesmo Sabe-Tudo? – O coração de Hermione deu um salto de alegria ao ouvir aquela voz. Hermione se virou e viu Draco ofegante, como se tivesse corrido uma maratona, e com um sorriso maléfico no rosto. – Não lembra quando tentou trabalhar sozinha? – Hermione apenas ficou em silêncio e ficou incomodada. Mal sabia que o coração do garoto também estava sorrindo e batendo forte, por estar ao lado da garota, e doía ser rude com ela.

                -Acho que agora a melhor dupla desta sala já está de volta ao trabalho, mas terei que dar uma advertência ao senhor, senhor Malfoy. – Draco apenas assentiu sorrindo. Era a única professora a qual não respondia de maneira rude, pois esta tinha se tornado a aula que mais gostava por estar próximo a morena. Se virou para Mione e estes ficaram se olhando por um bom tempo. Hermione decidiu focar no trabalho, para alegria de Draco, pois não queria que ela fizesse perguntas. Seu plano era ser o velho Malfoy de sempre para afastá-la, mas não tinha certeza se iria conseguir.

                Adiantaram muito o trabalho, apesar de não terem falado muito um com o outro. Trocaram contatos acidentalmente quando precisavam de alguma coisa. A terceira aula era dedicada a estudos ou realização de trabalhos com consulta na biblioteca.

                -A próxima aula é livre para estudos.

                -Estou ciente dos horários. – Draco respondeu rudemente.

                -Só estou dizendo que temos uma aula livre para terminar o trabalho. Quanto antes ficarmos livres um do outro melhor, não? – Hermione não sabia o motivo da amargura de Draco, mas entrou no jogo e retribuiu com mesma ironia.

                -E onde você pretende realizar o trabalho? Na nossa salinha particular? – Draco permaneceu com o semblante sério.

                -Podemos ir na biblioteca como todos os outros alunos normais. Oh! Me desculpe, senhor Malfoy, você não é normal, você é superior e não se mistura com pessoas normais. – Hermione ironizou, e as posições trocaram, pois era sempre o Loiro quem feria os outros com palavras, e doeu ouvir algo como aquilo vindo de sua amada. Sentia muita vontade de falar: “É tudo para seu bem, não se ofenda, por favor! ”

                -Ou podemos dividir o que cada um precisa fazer, e nos separar. Já que você também se acha superior por ser a “Sabe-Tudo” da escola, pode ficar com a parte maior. – Draco abriu um sorrisinho, tentando sinalizar que estava brincando, mas o estrago já havia sido feito.

                -Tudo bem! – Hermione pegou um pergaminho em que havia anotado os tópicos, e utilizou Diffindo para cortar em duas metades, cada uma contendo o que cada um deveria fazer.

                Hermione bufava de raiva, e empurrou uma metade no peito de Draco com força.

                -Então até a próxima aula, espero que dê conta de fazer sua parte! Peça ajuda para seus “amigos” – fez aspas com os dedos.

                -Eu dou conta de fazer sozinho, e tenho amigos com mínimo de inteligência, capazes de me ajudar, já você não tem o mesmo privilégio. – Draco agora também bufava. Os dois pareciam a Hermione e Draco de três anos atrás.

                -Pelo menos meus amigos, são realmente meus amigos, diferente dos seus. – Atraíram atenção de alguns alunos no corredor.

                -Ótimo, então boa sorte com a sua parte!

                -Para você também! – E se viraram de narizes empinados, pisando com força em direções opostas. Em alguns instantes retornaram.

                -Minha casa fica para o outro lado! – Falaram simultaneamente, e seguiram para suas casas.

                Hermione chegou ao Salão Comunal da Grifinória, e Gina estava lá sentada.

                -Ué! Não é horário de estudos? – A ruiva falou a se deparar com uma Hermione descabelada e com raiva.

                -Resolvi estudar aqui.

                -Que milagre, você sempre fica na biblioteca, ou nesse caso, na salinha. – Sorriu maliciosamente.

                -Me recuso a ficar no mesmo local que aquela doninha.

                -Poxa, estava prestes a perguntar como foi, mas pelo visto já tenho a resposta.

                -Aquele garoto é um bipolar, isso que ele é. Eu acho que eu danifiquei aquela cabeça quando o azarei.

                -Mas o que houve?

                -Ele nasceu, isso que houve. Ele é uma calamidade para esse planeta! Como uma pessoa pode ser desse jeito?!

                -Todos sabemos que o Malfoy não iria trazer nada de bom para o mundo, mas tinha esperanças de que você mudasse ele.

                -Ele nunca irá mudar, ele sempre vai ser o mesmo arrogante, estúpido, rude de sempre. Acredita de depois de tudo o que fez, me tratou como se tivéssemos treze anos?

                -Mas por que ele fez isso?

                -Porque queria brincar comigo Gina! É isso que ele faz para se entreter! Brincar com as pessoas.

                -Hermione, porque ele faria isso? Ele deve ter um bom motivo para ter te tratado mal.

                -Garanto que no jantar ele vai estar rindo com os amigos enquanto olham para mim, aí você vai ver o real motivo.

                -Então só há um jeito de descobrir. Vá descansar amiga, quando chegar a hora eu te chamo.

                Hermione subiu as escadas e se deitou na cama, e socou o travesseiro com força. Pensou nas coisas que ouviu a instantes atrás e também nas que falou para o Loiro, mas não se arrependeu de falar certas verdades para o garoto. Dessa vez estava decidida a transformar sua mágoa do Loiro, na raiva de sempre. Não iria mais chorar por Draco ou qualquer outro garoto.

                Levantou-se e desceu novamente, levando os materiais da aula de Aritmância. Gina ficou surpresa ao ver a amiga retornar.

                -O que houve? Que papel é esse?

                -Não estou cansada, eu vou para a biblioteca. E quanto a isso: – Disse erguendo o papel que Gina havia apontado. – É minha lista de coisas do que devo fazer para Aritmância.

                -Uau! – Disse Gina surpresa e suspirou. – Você deve ter muita paciência.

                -Talvez. No momento, não muito. Mas vamos ver quem vai terminar primeiro.

                Ela se retirou rapidamente e foi até a biblioteca, procurou desesperadamente um livro da matéria. Quando estava quase desistindo, avistou um garoto com a cabeça atolada no livro que queria, e sentou-se no lugar livre à sua frente:

                -Será que poderia emprestar esse livro quando terminar? – Disse ofegante e sorriu simpaticamente.

                -Eu vou demorar. – O garoto revelou o rosto. Era Draco. O sorriso no rosto de Hermione se desfez imediatamente. – Eu acho... – Draco também se surpreendeu em ver a garota ali.

                -Era só o que faltava! Achei que ia estudar no seu Salão Comunal.

                -Aqui é melhor.

                -Eu volto outra hora.

                -Espera. – Hermione parou. – Sente-se do meu lado. Prometo não encher seu saco nem nada, e já que você me levou a sério, quando eu disse que deveria ficar com a parte maior, seria burrice minha lhe atrasar. – Hermione estava prestes a falar, mas Draco disse exatamente o que ela ia dizer: – Seria egoísmo também.

                -Eu consigo dar conta. – E estava saindo. Parou e pensou: “Se ele realmente não me quisesse por perto, não teria feito essa proposta. Gina tem razão: Ele teve algum motivo para me tratar de forma estranha mais cedo, e eu ainda vou descobrir o que é. Por enquanto vou jogar o jogo dele”. – Tudo bem, eu fico. – Disse, esperando uma provocação, mas Draco apenas indicou a cadeira a sua direita com a cabeça, sinalizando para ela sentar ao seu lado. Deitou o livro na mesa e o deixou entre os dois.

                -Fique à vontade. – E começou a fazer anotações.

                -Obrigada. – Hermione respondeu normalmente, e procurou o que precisava pesquisar. Ambos ficaram quietos durante todo o período livre. Falavam quando precisavam revezar o livro, ou quando um pedia instrumentos de estudo para o outro.

                -Bom, preciso ir para minha aula. Se você quiser me encontrar outro dia, sabe onde podemos estudar em paz. – Draco disse calmo. – Tchau.

                -Boa aula. – Ela disse em resposta, sem tirar os olhos do livro. Sem olhar para o garoto.

                -Igualmente. – Ele respondeu já de costas. Hermione em seguida devolveu o livro em seu devido lugar. Estava aparentemente séria, mas a parte dentro de si que lhe dizia que era tudo um jogo do loiro, lhe fazia sorrir por dentro. "Esse tolo poderia ter escolhido uma desculpa melhor.Não temos aula agora. Ele está claramente fugindo de mim. E tem algum motivo. Vou descobrir ou não me chamo Sabe-tudo."