Para a minha tristeza, a Dona Renê não demorou nada. E acabou interrompendo um devaneio lindo que eu estava tendo.

- Bella, vai descansar um pouco, eu tomo conta dele por um tempo.

- Ok eu não demoro.

Tomei um banho quente, preparei o jantar de Dona Renê, mas eu não estava com fome. Tudo o que eu queria era voltar para o quarto do homem que eu havia encontrado, então peguei uma maçã e subi.

- Dona Renê, o jantar está pronto!

- Certo. Me ajude aqui! – falou enquanto se apoiava em mim, afinal, ela ainda estava com o gesso.

Quando ela saiu do quarto e eu sentei em uma poltrona que fica de frente para a cama. Tentei fazer o mínimo possível de barulho, dei uma mordida silenciosa na maçã e fiquei vigiando o homem a minha frente. Dona Renê terminou de jantar e logo foi dormir. Mas eu fiquei.

No decorrer da noite, ele ficou meio agitado, sentei ao seu lado na cama e ele se acalmou. Seus lábios estavam ressecados, o que deve ter sido causado pela água salgada. Molhei a ponta dos dedos em um copo de água que estava ao seu lado na cabeceira, e com o indicador, deslizei o líquido sobre os seus lábios. Ele não se moveu, e percebi que eu havia parado de respirar.

Me afastei tentando manter a sanidade. Ele era um completo estranho, eu não sabia nada sobre ele. E se tivesse mulher, filhos? Como eu ficaria depois que ele partisse? Ter um amor platônico a essa altura do campeonato era completamente inviável. Mas ele dormia tão profundamente, tão alheio a mim, a tudo. Me aproximei novamente, que diferença faz? Um devaneio a mais, um a menos. Esse eu poderia tornar real! Foi inevitável, eu estava em transe, parecia uma força maior me conduzindo. Naquele momento eu não pensei em nada, encostei os meus lábios nos dele e por uma fração de segundo o mundo havia parado completamente.

Mas ele se mexeu, e eu me afastei em um pulo, voltei a minha poltrona onde o meu coração finalmente voltou a bater. O meu rosto queimava, me encolhi e fiquei olhando para o meu objeto de cobiça, que nem uma criança que acabou de aprontar uma travessura.

Eu dormi super bem naquela poltrona horroroza, levantei cedo, dei uma olhada no meu paciente, então fui preparar o café. Coloquei em uma bandeja, suco, pão e algumas frutas. Levei com todo cuidado, e sobre a cabeceira substitui o copo pela bandeja. Afastei as cortinas e abri a janela para que pudesse entrar um pouco de ar. Quando me virei ele estava acordado, me olhando com aqueles olhos incríveis.

- Guten tag (Bom dia)! – ele falou e eu fiz que sim com a cabeça. – Sie sprechen meine sprache (você fala a minha língua?)? – eu não entendi nada, então dei um sorriso bobo e coloquei a bandeja em cima da cama.

Ele não pareceu se importar então eu fiquei o observando enquanto comia. O silêncio estava começando a me incomodar, me levantei mas ele segurou o meu braço.

- Bitte bleiben sie (fique por favor)! – ele falou então eu me sentei, mesmo ciente que não falaríamos nada e que ainda que falássemos não nos compreenderíamos.

Depois de um minuto interminável eu falei, mesmo correndo o risco de parecer idiota.

- Bella. – falei colocando a mão no peito, em seguida coloquei a mão em seu peito nu e perguntei. - você é?

- Edward. – ele respondeu, dando um lindo sorriso no canto da boca, que mataria qualquer garota a quilômetros de distância. Mas felizmente ele não me matou, só me fez enrubescer. É claro que eu fiquei me sentindo uma idiota por ter agido que nem “índio” mas tudo bem, até por que valeu a pena.