Olhos Errantes escrita por Beatriz Delfino


Capítulo 2
A árvore com frutos




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Jaziam dias que a vila passava por um completo pânico. Sem suprimentos e passando por uma seca imensa, as pessoas passaram a roubar suprimentos alheios. Zago, órfão criado nas ruas, decidiu comparecer a reunião que o sacerdote da vila organizava para aquela tarde, na tentativa de se alistar ao grupo de buscas de que tanto ouvira falar.

Um homem de meia-idade subiu em um palco improvisado que se encontrava no meio da praça. Era o sacerdote.

–Caros irmãos e irmãs, venho por meio desta confusão vós dar um recado; nossa vila passa por apuros e tudo isto é de origem divina. Nossos ancestrais se zangaram conosco, ao que tudo indica, por que quebramos uma de suas regras...

A multidão permanecia atenta às palavras do missionário.

–Nosso ritual de sacrifico foi quebrado.

Um murmurinho começou a se propagar em meio à multidão.

–Silêncio meus irmãos... Nosso último ritual, que deveria ter sido realizado há 17 anos, foi uma farsa. A garota que deveria ser sacrificada, na verdade, conseguiu escapar com vida e agora vagueia pelo deserto. Não faço ideia de como a menina conseguiu sobreviver em tais terras que não podem garantir sustento algum, mas o que nos interessa é que devemos matar a menina antes que ela realize a maldição e liberte Dormin de seu sono. Quero saber, quem irá comigo até as terras proibidas para iniciar nossa busca pela aclamada "flor do deserto"?

No começo a multidão silenciou-se. Ninguém arriscaria seguir viagem para a terra proibida de que tanto ouviram falar. Eram terras perigosas onde grandes Colossos de pedras vagavam sob ordens do senhor dos mortos, Dormin.

Aos poucos, alguns homens seguiram em direção ao palco do sacerdote com a intenção de se alistarem ao exercito que seguiria bravamente pelas terras proibidas, Zago era um deles.

O jovem se aproximou do sacerdote que o olhou fixamente antes de lançar-lhe um sorriso.

–Tem certeza que vai se alistar meu jovem? Não te julga muito jovem para tal feito? E tua família?

Zago tentou esconder o incomodo que a última pergunta lhe causara. Ele nunca se importara com Lorde Haung, o sacerdote, mas no fundo julgava-o corrupto e imoral, um homem que alienava seus súditos por meio da religiosidade.

Falsamente, o garoto devolveu-lhe o sorriso.

–Não precisam de mim aqui... Quando iniciaremos a viagem?

–Partiremos da vila esta noite.

O menino tentou esconder a surpresa.

–Esta noite? O senhor não acha um tanto quanto apressado, Lorde Haung?

–Se quisermos chegar a tempo de impedir algo, precisamos iniciar nossa aventura hoje mesmo... É uma viagem árdua.

O lorde se afastou calmamente guiando os outros homens até uma hospedaria ao lado da praça.

–Fiquem hospedados aqui por enquanto, preparem-se para começar a viagem!

Zago ignorou o conselho de Lorde Haung e, em vez de seguir para a estalagem, sentou-se embaixo de uma das árvores da praça, admirando a quietude ele fechou os olhos e mergulhou em seus pensamentos.

–x-

Depois de vagarem por todos os tipos de ambientes, a patrulha do sacerdote finalmente chegou até seu destino. O garoto estava exausto quando seguiu o grupo até o interior de um templo e, ao passar pela grande porta que supostamente se abria sozinha, ficou admirando seu interior.

O templo começava com uma imensa rampa em espiral que parecia não ter fim. Ao final do espiral se encontrava um pequeno poço de origem desconhecida para o garoto que ficava de frente para uma porta, a qual ligava ao salão do templo.

No salão, além de se encontrarem 16 estátuas dos colossos, sendo oito de cada lado, havia também uma escadaria e um pedestal logo à frente.

–Que lugar é esse?- Sussurrou o garoto.

–O templo de Dormin, o templo que dá início a Terra Proibida.

O sacerdote, descendo do seu cavalo apontou para a abertura no teto, da onde surgia a luz que iluminava o pedestal.

–Vamos repousar aqui hoje garotos, parece que Dormin não acordará tão logo.

Todos os recém soldados desceram de seus cavalos e começaram a montar suas camas improvisadas, Zago observou cada um deles, alguns soldados já eram militares a muito tempo, enquanto outros eram homens iguais a ele, a única diferença é que todos possuíam alguém para quem voltar uma família esperando por eles.

Solitário, o menino ajeitou sua cama aos pés de uma estátua, a primeira estátua na verdade, e ficou admirando-a se perguntando quem seria aquele colosso.

Seus pensamentos foram cortados quando Lorde Haung voltou a ordenar.

–Quero grupos que se dividam para buscar alimentos e madeira, estas terras são escassas, mas se procurar bem serás capaz de encontrar algo. Tu aí meu jovem - Lorde Haung apontava para Zago- junte-se a equipe de Otto para encontrar madeira.

Enquanto o sacerdote terminava de organizar as outras equipes, o garoto começou a procurar por quem seria Otto, até que encontrou um senhor já de idade, porém em boas condições físicas.

–Venha aqui rapaz! Meu nome é Otto e você deve ser o...

–Zago... Chamo-me Zago.

Zago estendeu a mão para cumprimentar Otto, o qual devolveu o aperto e ainda lhe deu um abraço.

Recompondo-se, o garoto seguiu caminho junto com o líder do grupo e seus seguidores.

Deixando o templo, eles se depararam com um deserto um tanto quanto diferente, pois em certos pontos, a areia dava espaço para uma grama verde.

–Que lugar estranho. -Concluiu o menino.

–Não é atoa que é proibido. - Respondeu o idoso.

Ambos começaram a caminhar em busca de madeira até que Otto localizou um pequeno Oasis logo à frente e, se apressando logo para recolher a madeira, começou a cortar algumas arvores e entregar os troncos para Zago.

Conforme o rapaz ia segurando a madeira, ele olhava ao redor tentando memorizar cada detalhe. Ao longe, os homens seguiam desesperadamente as ordens de Lorde Haung, que afirmava que o trabalho deveria acabar depressa antes que anoitecesse, já que a noite era um mistério.

O sacerdote temia que os colossos aparecessem durante a noite, mas Zago achava aquela ideia um equivoco.

"Eles nem sequer surgiram ainda, talvez nem sejam reais." pensava o garoto.

Enquanto seus olhos passeavam pelo ambiente e Otto cortava a madeira, ele localizou no alto de uma montanha logo à frente, uma árvore carregada de frutos.

–Veja Otto, logo ali acima há uma arvore que parece estar carregada de frutos.

O senhor encarou a arvore ao longe, levando às mãos a testa par cobrir os olhos do sol.

–Esqueça rapaz, esta alto de mais. - Disse o senhor voltando sua atenção à madeira que deveria cortar.

–Não se preocupe, eu alcançarei.

O garoto ignorou novamente todos os avisos do ancião e continuou correndo em direção a árvore.

Chegando à entrada da montanha, iniciou uma escalada, a qual não foi tão difícil posto que lá se encontravam restos de colunas que facilitavam sua escalada. Mesmo assim, seu trabalho era árduo e a cada minuto que se passava, Zago rezava para que os frutos fossem comestíveis.

Ao chegar ao fim da escalada, o menino nem se deu ao luxo de admirar a arvore e já começou a colher os frutos e guardá-los em sua mochila.

Quando pensou ter colhido todos os frutos, o rapaz se aprontava para ir embora quando, olhando na cúpula da arvore, ele viu um ultimo fruto esperando para ser colhido.

Escalando a arvore para conseguir apanhá-lo, Zago se assustou quando um tremor o fez cair da arvore e até mesmo arrancar o fruto de seu galho.

Olhando para o lado, ele viu de repente um imenso casco, similar a de uma vaca, pousar ao seu lado.

Observando melhor, o rapaz percebeu que se tratavam na verdade de dois cascos e, olhando para cima assustado, percebeu que se tratava de um dos colossos que estranhamente, embora possuísse dois cascos, andava como um humano.

Zago correu para trás de uma pedra e agachou-se esperando que o animal-monstro passasse.

O animal seguiu mais adiante sem nem notar a presença do rapaz atrás das pedras, o qual notou que, o colosso em questão era o mesmo da estatua aonde repousara sua cama.

Aquele era o primeiro colosso.

Um colosso extremamente grande e forte, que possuía um grande pedaço de coluna como espada e tinha o corpo coberto por pelos e, em sua face se encontrava uma máscara esculpida em pedra. A máscara era similar a um rosto de urso.

Tentando se afastar do local, o menino resolveu olhar mais uma vez antes de ir embora e, foi neste momento que notou a presença de uma pessoa sentada na cabeça do enorme colosso. O monstro parou na frente de um templo que só possuía uma porta no terceiro andar e, abaixando um pouco a cabeça, permitiu que a pessoa, no caso uma garota, descesse e se direcionasse para o templo.

Ao invés de correr ou se esconder como uma pessoa faria, a menina virou-se para o Colosso e acariciou-lhe a grande mascara de pedra.

A menina também usava uma máscara, mas a dela era diferente, além de ser feita de madeira, não continha o desenho de um animal e sim de uma face similar a humana, mas com alguns traços diferentes. A impressão que passou era de que a menina tentara esculpir um rosto humano que lembrasse na verdade a face de um colosso.

Ao parar de acariciar o colosso, ela virou-se e adentrou o templo enquanto seu grande amigo seguia na direção contrária passando novamente por Zago sem sequer notá-lo.

O garoto desceu a montanha e correu em direção ao templo para se encontrar com Otto e os outros.

Ele tinha certeza de que acabara de encontrar a "flor do deserto", mas não vira nada de diferente nela, não a tinha visto como uma ameaça como Lorde Haung pregara muitas vezes, ela parecia ser só...

Uma menina como qualquer outra.


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