Ele tem 18 anos escrita por Hanna Martins


Capítulo 6
Felicidade é como chocolate quente em um dia frio


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado à Tati Conche, que presenteou a fic com uma linda recomendação. Obrigada, Tati!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/640842/chapter/6

O lápis na mão de Peeta parecia ter vida própria, ou melhor, era como uma extensão de seu corpo.

— Ei, garoto artista, desenhando de novo?

Peeta levantou os olhos do papel e se deparou com a bela garota que tinha um sorriso um tanto maroto no canto dos lábios.

— Não vai me dedurar para o chefe! — disse brincalhão.

— Pode deixar — piscou. — Chaff não vai saber, mas acho que ele anda ocupado demais com aquelas garrafas de bebidas para se dar conta de algo, ontem mesmo ele renovou seu estoque — falou em um tom confidente.

— De qualquer modo, é melhor eu limpar isso aqui — pegou um balde e um esfregão.

— Certo, estou indo para a faculdade. Até amanhã. E acorde o Trash antes que você vá embora, se não ele vai se atrasar para a aula — pediu Annie, antes de ir embora.

Peeta assentiu e começou a limpar o chão.

Trash dormia em cima de uma das mesas. Ele era o responsável pela cozinha na lanchonete. Mas naquele horário, não costumava aparecer muitas pessoas, por isso aproveitava o momento para colocar o sono em dia.

Não fazia muitos dias que Peeta havia conseguido aquele trabalho. Ele era uma espécie de faz tudo. Limpava a lanchonete, ajudava Trash na cozinha, e atendia mesas junto com Annie. O trabalho não era lá muito pesado, e ele podia aproveitar os momentos de folga para desenhar.

— Garoto, pode deixar isso aí — falou Chaff, sentando-se em uma das mesas vazias. Como sempre, ele estava em companhia de uma garrafa de bebida. Dessa vez, era um litro de rum. — Trash, acorda!

Trash abriu os olhos um tanto perdido.

— Faz um sanduíche para mim.

Ainda sonâmbulo, Trash foi para a cozinha. Chaff abria a garrafa de rum com a ajuda dos dentes, já que ele não tinha uma das mãos. A perda da mão era um mistério, cada dia ele contava uma versão diferente. Os empregados da lanchonete geralmente apostavam se a história do dia era verdadeira ou não.

— Pode ir — disse Chaff, colocando um pouco de rum em um copo que sinalizava que aquele não era, com certeza, o primeiro trago do dia.

— Obrigado — agradeceu, tirando o avental.

Chaff virou o copo de rum de uma só vez na boca. Ele se despediu de Peeta com um aceno de cabeça.

A lanchonete não era muito longe do apartamento de Katniss. Isso era bom, já que não precisava gastar dinheiro com transporte, poderia ir caminhando até lá. E economizar qualquer trocado já era uma grande ajuda.

Olhou no relógio, Katniss ainda não deveria ter chegado. Talvez, devesse fazer um pudim com calda de laranja de sobremesa, ontem ele havia feito aquela sobremesa e ela quase devorara metade do pudim. Sorriu ao pensar nela. Seu relacionamento havia avançado muito desde aquele sábado.

Quando acordou, estava sozinho no sofá. Ainda sonolento e vestindo a roupa ao acaso, foi a procura de Katniss. Encontrou-a em seu quarto, escrevendo algo no notebook.

— Ah, você acordou... — disse casualmente, sem desviar os olhos do notebook.

— Katniss, eu... — ele não conseguiu terminar a frase. Não sabia bem o que iria falar, depois de tudo o que havia acontecido entre eles.

Ela ficou por alguns segundos imóveis, olhando para a tela do notebook, até que voltou seu olhar para ele.

— Precisamos ter uma conversa — disse por fim. — Sente-se — indicou a cama.

Peeta se sentou. Ela continuou sentada na cadeira, perto da escrivaninha. Após algum momento de reflexão, ela empurrou a cadeira, que era de rodinhas, até perto dele. Claro que ainda havia bastante espaço entre eles, na opinião dele.

— Hum... — ela também parecia não saber como iniciar aquela conversa. — Bem... precisamos definir algumas coisas.

Ele a olhou com uma expressão curiosa no rosto.

— Que coisas?

— A nossa... situação — respondeu o analisando.

Isso fez com que ficasse sobressaltado. Será que Katniss começaria o tratar como um garoto tolo? Um garoto que não sabia o que estava fazendo? Por um momento temeu isso. Sua mãe, seu irmão, todos o tratavam como um menininho. Mas, ele não era nenhum garotinho, sabia muito bem o que queria e o que estava fazendo.

— Vamos esclarecer algumas coisas — ela disse, o encarando.

— Katniss, se você vai falar que...

— Me escute, Peeta — interrompeu. — Você tem 18 anos e eu tenho 27 anos...

— E daí? — foi a vez dele a interromper. — Idade não tem nada a ver com isso, nada. Aliás, isso nem importa — deu ombros.

Katniss suspirou.

— Você é irmão caçula de Gale.

— E o que Gale tem a ver com meus sentimentos ou com suas escolhas? — indagou de um modo inocente.

Katniss o fuzilou com o olhar.

— Me deixa eu terminar primeiro, ok? — falou um tanto exasperada.

Peeta assentiu.

— Como eu ia dizendo, você tem 18 anos — ele fez uma careta que ela ignorou. — E Gale é seu irmão. Eu tenho motivos suficientes para não querer me envolver com você.

— Isso...

— Me deixa eu terminar! — colocou o dedo indicador sobre os lábios dele. — Continuando, eu tenho motivos suficientes para nem me aproximar de você... Mas... existe uma parte de mim, inteiramente não racional que não compreende isso. Uma parte muito idiota — Katniss o encarava. — A verdade é que apesar de todos os “poréns”, eu me sinto atraída por você — confessou.

Peeta sorriu. O mais doce de todos os seus sorrisos.

— Katniss...

— Eu ainda não terminei! — advertiu. — Sim, eu me sinto atraída por você e te vejo como um homem.

O sorriso se alargou em sua face.

— E? — perguntou, pois Katniss parecia estar hesitando.

— Eu devo estar ficando maluca — murmurou.

Ele apanhou as mãos dela e as envolveu carinhosamente. Ela suspirou.

— A verdade é que... eu não sei! — admitiu, mas sem retirar as mãos das dele.

O sorriso na face de Peeta se ampliou ainda mais.

— Me dê uma chance, Katniss — seus olhos estavam nos olhos cinzentos dela, os indagando, os estudando. Em busca do que exatamente? Ele não saberia responder.

— Eu realmente queria que meu lado racional fosse mais forte nessas horas — disse baixinho. — Peeta, eu não sei no que isso vai dar, não sei o que irá acontecer e... isso me assusta — confessou quase timidamente.

Peeta apertou a mão de Katniss.

— Peeta, o que estamos fazendo?

— Isso.

Ele a beijou, sem pressa, delicadamente, saboreando os lábios dela minuciosamente. Queria que seus lábios capturassem cada sensação, não sendo privado de nada.

Seus lábios se separaram. Ela o encarou.

— Queria que você não beijasse tão bem! — exclamou Katniss com uma careta engraçada.

Ele riu.

— E nem que fosse o pecado em forma humana — falou ela em voz baixa.

Peeta deu uma grande gargalhada. Katniss era tão divertida.

— Merda! — praguejou. — Eu não deveria ter dito isso em voz alta.

— Você vai me dar uma chance, isso foi um sim? — perguntou.

— Apresentar argumentos para mim mesma não é muito eficaz, principalmente se eu ficar te atacando por aí, como fiz hoje. Então... espero que eu não me arrependa disso mais tarde...

Ela se aproximou dele e tocou seus lábios com os dela. Peeta a apertou forte em seus braços e a puxou para seu colo. Queria sair correndo com ela nos braços, queria a abraçar para sempre, queria gritar, queria fazer tantas coisas. Uma alegria infantil se apoderou dele.

Ele continuava a sorrir ao pensar nesse dia. E a cada instante ele recordava esse momento.

Quando chegou no apartamento, Katniss ainda não havia chegado do trabalho. Ela era muito dedicada ao trabalho. Até que os dois eram parecidos nesse aspecto amavam o que faziam. Bem, ele não era ainda um desenhista de quadrinhos profissional, mas um dia seria. Enquanto esse dia não chegava, ele iria desenhando por aí. Passava noites em claro desenhando histórias. Tinha certeza que o dia em que poderia se dedicar totalmente ao desenho estava próximo.

Ouviu o ruído da porta sendo aberta e Katniss jogando suas coisas sobre o sofá de qualquer modo. Organização não estava entre as qualidades dela.

— Fiz bife acebolado para o jantar — disse.

— Ótimo — respondeu Katniss da sala. — Vou tomar um banho, estou praticamente morta!

Terminou de preparar o jantar e pôs a mesa. Katniss não demorou a aparecer.

— Como foi o trabalho? — perguntou.

— Bom, hoje tínhamos que fazer uma porção de testes... — falou, enquanto devorava um pedaço generoso do bife. — E você?

— Um cliente reclamou que sua comida estava fria, sorte que Annie conseguiu convencer que aquela comida se comia fria. Foi tão engraçado, você precisava ver, Annie experimentava a comida e dizia que estava perfeita — riu ao lembrar-se da cena.

Após o jantar, Katniss foi terminar de ler algumas coisas para o trabalho, enquanto ele deu um jeito na louça.

Encontrou Katniss debruçada sobre um livro no sofá. Peeta entregou uma caneca de chocolate quente para ela, e colocou os pés dela em seu colo.

— Sabe o que é felicidade, Peeta? — indagou, levantando os olhos do livro. — É chocolate quente em um dia frio — deu um trago na caneca de chocolate quente.

— Chocolate quente e isso — ele a puxou para si e lhe deu um demorado beijo.

— Sabe... acho que posso deixar o estudo para mais tarde — disse ela, enlaçando o pescoço de Peeta.

Em poucos minutos as roupas jaziam espalhadas pela sala.

— Tenho que terminar de estudar... — falou, levantando-se do sofá.

Ele fez uma carinha de pidão.

— Não — ela riu.

— Ok — disse com um tom decepcionado.

Katniss apenas riu, enquanto vestia suas roupas. Mas antes que ela pudesse voltar para seu estudo, ele lhe roubou um demorado beijo.

— Peeta, Peeta! — se afastou dele com os cabelos em desordem, a boca vermelha e um tanto inchada, e quase sem ar. — Preciso estudar, não seja trapaceiro!

— Hum... — ele pôs-se a beijar a delicada pele do pescoço de Katniss.

— Peeta! ­— ela o repreendeu. — Assim fica difícil!

Ela lhe conseguiu escapar para a decepção dele. Katniss pegou o livro e sentou-se em um local bem afastado. Peeta derrotado pegou seu caderno de desenho e começou a desenhar.

— Ei, vamos dormir, Katniss — ele sussurrou em seu ouvido, provocante. — Vamos... — deslizou seus lábios pelo pescoço dela. — Vem... — seus dedos roçavam os braços de Katniss, provocando pequenos arrepios nela.

— Peeta! — sua voz tentava ser firme.

Ele mordiscou o lóbulo de sua orelha, enquanto sua mão tateava o corpo dela.

— Argh!

Katniss praticamente o derrubou no chão.

— Então você quer jogar sujo? Pois vamos jogar sujo.

Ela se colocou em cima dele.

— Você não deveria ter me provocado.

Prendeu as mãos de Peeta no chão.

— Tcs, tcs, você vai se arrepender.

Ela começou a beijar o maxilar dele vagarosamente, o provocando, o instigando. Desceu os lábios até o pescoço e delicadamente o roçou com os dentes, e as vezes, se detinha em algum ponto mais delicado da pele, dando mordidas, algumas suaves, outras mais agressivas.

Não permitiu que ele se movesse um centímetro sequer e o continuou torturando com aquelas provocantes carícias.

— Não disse que você iria se arrepender? — ela sorriu maliciosamente, enquanto começava a subir a camiseta dele.

Oh, sim, ela estava o provocando muito. E logo ela descobriria que não deveria brincar com fogo... sorriu.

Peeta acordou sentindo o calor do corpo de Katniss em seus braços.

Aquele parecia um pequeno paraíso. Nunca se sentira tão bem assim. Katniss estava com ele. Estava perseguindo seu sonho de ser desenhista. Poderia parar o tempo, naquele exato momento. A felicidade invadia todo o seu ser. Parecia até um bobo, ele sabia, mas não conseguia parar de sorrir.

Depositou um beijo na bochecha de Katniss.

— Bom dia — sussurrou em seu ouvido.

Katniss se mexeu preguiçosamente em seus braços.

— Bom dia — respondeu sem abrir os olhos.

— Acorda, dorminhoca, você vai se atrasar.

— Só mais cinco minutinhos — choramingou.

Ele levantou-se da cama e tratou de encontrar suas roupas. Tomou um demorado banho, enquanto Katniss continuava dormindo.

Peeta preparou o café da manhã. Katniss praticamente se arrastou até a cozinha.

— Preciso de um café bem forte — disse, enchendo a xícara de café. — E estou quase atrasada — olhou para o relógio.

— Eu avisei que você iria se atrasar.

Ela deu os ombros.

Os dois terminaram o café da manhã. Katniss praticamente engoliu seu café da manhã sem mastigar, já que não queria se atrasar para o trabalho.

— Já vou indo! — Katniss pegou suas coisas, apressadamente.

— Hum... você não está esquecendo de nada? — indagou, enquanto ela abria a porta.

Katniss voltou-se para ele sorrindo.

— Bobo.

Ela lhe deu um demorado beijo.

— Agora preciso ir — disse se afastando dele.

Peeta tentou retê-la por mais alguns segundos.

— Quando eu digo que você é a tentação em forma humana... — ela resmungou, enquanto tentava fugir de seus braços.

A campainha tocou e ela aproveitou para se esquivar dele. Katniss abriu a porta.

O sorriso que ela tinha na face, rapidamente se apagou e Peeta imediatamente compreendeu o motivo.

— Bom dia! — disse Gale com um imenso sorriso na face.

As vezes a felicidade pode se acabar tão rápido quanto uma xícara de chocolate quente em um dia frio.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Odiaram? Gostaram? E agora? Katniss finalmente deu uma chance para o Peeta, mas o Gale apareceu...