Ele tem 18 anos escrita por Hanna Martins


Capítulo 4
Se for ao parque de diversão, divirta-se


Notas iniciais do capítulo

Uau, surtando aqui com a primeira recomendação da fic! Capítulo dedicado a linda da Thay A, que presenteou a fic com sua primeira recomendação. Obrigada!!!!



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Rue lhe entregou outro papel para assinar.

— Planos para a noite? — indagou Rue.

— Apenas uma boa cama — respondeu Katniss.

Rue riu.

— Eu tenho vários planos para essa noite... — disse com uma expressão risonha e sonhadora.

Parecia que Rue andava apaixonada.

— Certo... — sorriu. — Bom final de semana para você! E estude, Rue, sei que suas provas estão chegando...

Rue soltou uma risadinha travessa, indicando que estudar claramente não era o foco de seu final de semana. Seu sorriso lhe remeteu a Prim. Ela teria exatamente a mesma idade de Rue, vinte e três anos. Talvez, assim como Rue estaria namorando, terminando a faculdade.

Prim... pensar em sua irmã era doloroso, mesmo depois de tantos anos. Ela jamais conseguiria esquecer Prim. Assim como não poderia esquecer seu pai. Aquelas duas perdas marcaram sua vida para sempre. Primeiro, o pai morrera em um acidente de trabalho, quando ela tinha 11 anos e depois a irmã, quando esta tinha apenas 14 anos. Prim tinha tanto para viver...

Sorriu para Rue.

— O que foi? — indagou Rue.

— Nada. Divirta-se, Rue!

Rue assentiu e saiu com os papéis. Ela lhe lembrava tanto Prim. As duas eram fisicamente muito distintas. No entanto, suas personalidades eram muito semelhantes. Eram tagarelas, alegres e sempre estavam com um sorriso no rosto.

Olhou para o celular, talvez devesse ligar para a sua mãe. No entanto, logo descartou a ideia. A mãe deveria estar trabalhando no hospital até tarde da noite. Após a morte de Prim, a senhora Everdeen dedicava cada segundo que possuía ao trabalho. E quando não estava trabalhando como enfermeira no hospital, estava envolvida em trabalhos voluntários.

As duas pouco se falavam. Katniss também estava envolvida em seu trabalho, em seu estudo. Ambas tinham, talvez, isso em comum, dedicavam-se ao máximo ao trabalho.

Katniss retirou seu jaleco, ficara o dia todo no laboratório. Precisava de um descanso, não queria encontrar outro frasco pela frente tão cedo. Se encontrava cansada e um tanto triste. Pensar em Prim e em seu pai lhe trouxe uma sensação amarga na boca. Era sempre assim, não podia pensar na irmã e no pai sem ser invadida pela sensação de melancolia e de dor.

— Katniss! Ei, Katniss — Rue chamou.

— O que foi?

— Já passou e muito de sua hora de ir embora! — advertiu Rue.

— Ah... certo, estou saindo, Rue.

Pegou suas coisas e saiu do laboratório.

Ligou o som do carro. Uma música calma e triste tocava. Embora estivesse um pouco frio, não se importou em deixar as janelas abertas. Tratou de se livrar daqueles pensamentos tristes. Prim e seu pai certamente não gostariam de vê-la triste. Trocou de estação, até encontrar uma música daquelas vibrantes que davam vontade de cantar junto.

Assim que chegou ao apartamento foi recebida por um agradável aroma de cebola, alho e óleo. E da cozinha vinha barulhos de panelas. De certa forma, poderia até dizer que já havia se acostumado com isso. Fazia apenas três dias que Peeta morava em seu apartamento. No entanto, comer sua comida, encontrar o apartamento organizado e limpo já não lhe estranhava.

— A comida está quase pronta! — disse Peeta.

— Certo — foi tomar um banho.

Quando foi para a cozinha, encontrou uma bela refeição em cima da mesa. Peeta era ótimo em preparar comidas gostosas e simples. Ela não era uma boa cozinheira. Nem ao menos poderia ser considerada uma cozinheira regular. Era péssima na cozinha.

— Katniss, já faz três dias que estou aqui e ainda não vi muita coisa... — começou a falar, enquanto Katniss se servia com uma apetitosa macarronada.

— Você deve estar um tanto entediado... Ficar aqui o dia inteiro...

Peeta sorriu.

— Hum... poderíamos sair... — sugeriu ele.

— Sair? — indagou, arqueando a sobrancelha.

— É, você poderia me levar para conhecer a cidade... Hoje é sexta-feira.

Katniss não era exatamente uma pessoa muito social. Era daquelas que preferiam ficar em casa nas sextas à noite, assistindo a algum filme ou série, ou lendo um livro.

— Vamos, Katniss! — insistiu Peeta, com um sorriso absurdamente persuasivo no rosto.

— Estou cansada — desviou seus olhos daquele sorriso.

— Vamos! Já faz três dias que estou aqui e ainda não explorei a cidade! — ele era muito persistente.

Katniss suspirou e voltou a olhar para Peeta, que fazia a expressão de um cachorrinho pidão. Ela não deveria ter um fraco por cachorrinhos pidões.

— Ok — concordou a contragosto.

Peeta sorriu.

— Aonde você quer ir? — perguntou, já no carro.

— Não sei... me mostre a cidade.

— Mostrar a cidade?

— Sim, seus lugares prediletos. Eu gostaria de conhecer seus lugares prediletos — falou com um sorriso que faria qualquer garota suspirar.

Esse era um grande problema de Peeta. Ele não tinha medo de declarar abertamente suas intenções. Era muito sincero.

— Eu não sou a melhor guia que existe — tratou de desviar o assunto. — Mas aonde vamos?

— Existe um lugar que Gale me mostrou... poderíamos ir lá — sugeriu.

— Que lugar?

— Posso dirigir até lá, se você deixar.

— Tudo bem — entregou as chaves para ele.

Peeta começou a conduzir a levando para um lugar que ela nunca havia ido antes.

Era um parque. Um parque de diversões. Fazia séculos que ela não ia a um lugar como aquele.

— Eu nunca vim aqui antes! — admitiu Katniss, enquanto dava uma boa olhada no local.

— Então, vamos dar uma volta!

O parque estava repleto de pessoas, o que dificultava um pouco o passeio pelo local. Katniss não costumava frequentar lugares assim. Aliás, ela não gostava da ideia de andar por lugares tumultuosos, com pessoas a cada centímetro quadrado, sempre tinha a sensação de que seria atropelada ou que se perderia em meio a multidão.

Estava difícil dar um passo, sem que não tocasse em alguém ou algo. Definitivamente, lugares como aquele não eram feitos para ela.

Sentiu a mão de Peeta tocar a sua. Ele entrelaçou seus dedos nos dela. Katniss olhou para ele, que lhe lançou um olhar inocente.

— Seria complicado se nos perdêssemos aqui... — se justificou.

Iria protestar, porém, Peeta tinha certa razão. Era fácil se perder naquele local e encontrar alguém lá seria muito pior. Achar uma agulha no meio do palheiro era muito mais fácil. Por isso, deixou que a mão dele segurasse a sua. Mas aquilo apenas se tratava de uma questão de conveniência, que ficasse bem registrado.

— Quer andar em algum brinquedo? — indagou Peeta, olhando para ela.

— Não... eu não...

— Ah, nada de desculpas! É um crime vir em um parque de diversões e não andar em nenhum brinquedo! Se você vai a um parque de diversões, divirta-se! — ele a interrompeu, antes que ela pudesse inventar uma desculpa qualquer para não andar em nenhum brinquedo.

Katniss não costumava andar em brinquedos de parques de diversão, nem mesmo quando era criança vinha a esses lugares.

— Vamos na montanha-russa! — anunciou Peeta, como um garotinho muito empolgado.

— Naquilo? — apontou para a enorme gerigonça que fazia seu coração dar saltos de só olhar para aquilo.

Será que aquele amontoado de metal era seguro? Francamente, tinha várias dúvidas, principalmente, depois de ver um garoto saindo do local com a cara muito verde.

Peeta riu de sua expressão assustada.

— É, naquilo!

— Mas essa coisa... não deve ser nenhum um pouco segura! — protestou.

— Ah, é segura sim... é claro que acidentes podem acontecer, né? Uma vez eu li no jornal que várias pessoas ficaram presas na montanha-russa... e também houve um acidente nesse parque... acho que tinha algo a ver com a montanha-russa... — disse com um ar sério, porém, havia um pequeno esboço de um sorriso no canto de seus lábios que indicava que era mais uma de suas brincadeiras.

Katniss lhe lançou um olhar ameaçador. Peeta adorava a provocar.

— Vamos lá, Katniss! — ele a puxou até a fila da montanha-russa. Uma fila enorme, por sinal.

Tentou protestar, mas ele estava obstinado em fazê-la andar no brinquedo. Se bem que chamar aquela coisa de brinquedo não era exatamente a melhor das ideias. Quem teve a maldita ideia de inventar um troço como aquele e chamar de brinquedo? Essa pessoa deveria ser alguém bastante sádico.

— Peeta, eu realmente acredito que não deveríamos andar nessa coisa! — argumentava, enquanto via as pessoas subirem no brinquedo. — Olha só a estrutura disso!

Peeta a fitava com um sorriso divertido.

— Já estamos na fila! — falou.

— Mas podemos sair agora! — tentava o persuadir.

— Já está chegando a nossa vez! Ficamos quase meia hora na fila, seria um desperdício não andar na montanha-russa depois de tanto tempo — argumentou calmamente, sinalizando que aquela batalha estava definitivamente perdida.

Peeta era alguém muito insistente.

— Viu, já chegou a nossa vez!

E sem que desse tempo para ela fazer qualquer coisa, como sair correndo, ele passou a mão por seus ombros e a conduziu até um dos carrinhos.

— Não há nada a temer, Katniss! — disse, colocando o cinto de segurança em volta dela. — Eu estou aqui!

Peeta sentou-se perto dela.

— Pode segurar em meu braço, se você sentir medo — deu um tapinha em seu braço. — Pode apertar com bastante força, eu aguento!

Nesse instante, o carrinho começou a se mover. Um frio na barriga a assaltou. Ela não tinha nenhuma intenção de segurar no braço de Peeta... após, alguns segundos, tratou de o segurar com ambas as mãos e o mais forte que conseguia.

Gritos e mais gritos saiam da montanha-russa. Uma parte desses gritos vinha claramente de Katniss.

O frio na barriga aumentava a cada nova curva que o carrinho fazia. Ela não largava o braço de Peeta nem por um mero segundo, ao contrário, aumentava ainda mais a pressão de suas mãos sobre o braço dele. Seu coração batia tão forte, que tinha absoluta certeza que estava prestes a morrer.

— Katniss, já acabou! — sussurro Peeta em seu ouvido. — Acho que você pode parar de gritar... e também abrir os olhos... — disse ele, divertido.

— O quê?

Abriu os olhos e se deu conta de que o carrinho havia parado de andar e que ainda mantinha as mãos apertando o braço de Peeta com bastante força. Tratou de soltar o braço dele.

— Não pensei que você possuía tanta força assim! — massageou o braço.

— Foi você quem me ofereceu seu braço, e eu não disse que andar de montanha russa não era uma boa ideia? — levantou-se do carrinho com um ar indignado.

Peeta riu e foi atrás dela.

— Mas foi divertido, não?

Tirando a parte que ela acreditava piamente que estava próxima a ver a luz no final do túnel... poderia dizer que fora um tanto... divertido.

— O que você quer? — perguntou Peeta repentinamente, apontando para uma daquelas barracas de tiro ao alvo, ou algo do gênero, que dava prêmios a quem acertasse no alvo.

Katniss olhou para a barraca.

— Hum... que tal aquele urso? É o maior prêmio da barraca! Tenho certeza que consigo — disse confiante.

Antes que ela pudesse o impedir de ir até a barraca, já que não estava lá muito interessada em ursos de pelúcias, ou em qualquer outro prêmio, Peeta já estava na barraca, posicionado com um arco e flecha na mão. Ele era muito energético, concluiu.

Peeta colocou a flecha no arco, o esticou. Teve a impressão de que ele parecia um arqueiro, ou melhor, uma espécie de deus arqueiro, um Apolo. Belo, confiante, uma postura de quem sabia que a flecha iria atingir exatamente no centro do alvo. Ele mirou no alvo com toda a determinação e certeza da flecha atingir o alvo. Soltou a flecha e... ela caiu distante do alvo. Muito distante.

Katniss riu da expressão dele. Uma mistura de decepção com descrença.

— O vento me atrapalhou! — se justificou.

Katniss assentiu, mal conseguindo reprimir a risada que teimava em sair de seus lábios.

— Agora, eu acerto!

Colocou outra flecha no arco, voltou aquela posição de deus arqueiro saído do monte Olimpo que impressionava as pessoas que passavam por perto e fazia as garotas precisarem de lenços para limpar a baba com urgência. Disparou a flecha. Novamente, ela não atingiu o alvo.

— O vento não está querendo me ajudar!

Pegou outra flecha. Repetiu o gesto por mais umas dez vezes. Sempre a flecha caia bem distante do alvo.

— Temos esse brinde para as pessoas que participam — disse o atendente da barraca, entregando um pequeno chaveiro a Peeta.

Ele bufou, decepcionado.

— Você realmente queria aquele urso? — indagou, olhando para a expressão decepcionada de Peeta.

— Eu queria... apenas te dar o urso...

Katniss olhou para o alvo.

— Me dê uma flecha — pediu para o atendente.

Ela pegou o arco que Peeta ainda segurava na mão. Mirou no alvo e a flecha atingiu exatamente no centro do alvo.

— Parabéns! — exclamou o atendente. — Você é a primeira pessoa que atinge o alvo de primeira!

— Uau! — Peeta estava completamente impressionado.

Katniss pegou o prêmio. O urso de pelúcia.

— Como você...

— Não sei... acho que sou boa na mira... — deu os ombros.

Estendeu o urso para Peeta.

— Para você!

— O quê?

— Não era exatamente eu que queria o urso, era você, Peeta — sorriu para ele. — Fico com o chaveiro!

E sem que ele tivesse tempo de contestar, ela apanhou o chaveiro de suas mãos e entregou o urso a ele. Era um pequeno chaveiro que tinha o desenho de um dente-de-leão.

Os dois ainda andaram em outros brinquedos. Peeta praticamente arrastava Katniss para todos os brinquedos mais perigosos do parque.

— Chega, Peeta! Vamos andar na roda gigante! — apontou para o brinquedo mais tranquilo que via naquele momento.

Estava cansada. Precisava de uma pausa. Claro que Peeta ainda tinha energia suficiente para andar naqueles brinquedos mais um milhão de vezes.

A fila da roda gigante era pequena. Não demorou muito para os dois se instalarem em uma das cabines. Aquele brinquedo era tranquilo, sem nada de frios na barriga, além disso, podia apreciar a vista. Um brinquedo perfeito. Roda gigante estava definitivamente no topo de seus brinquedos prediletos em um parque de diversões.

— Devemos andar mais vezes nisso! — disse.

Peeta riu.

— As coisas perigosas são mais interessantes!

— Não há de errado em querer um pouco de tranquilidade — rebateu, enquanto apreciava a vista.

Os dois estavam sentados muito próximos. Seus corpos se tocavam levemente. Katniss tentava ignorar esse fato para seu próprio bem.

Peeta olhou para ela.

— Você deve experimentar coisas perigosas de vez enquanto — falou em um tom divertido.

— Por que eu deveria?

— Porque é bom experimentar coisas novas.

Katniss riu. Talvez, ele tivesse lá sua porção de razão.

Estavam no ponto mais alto da roda gigante. Olhou para baixo, não dava para ver as pessoas direito devido a escuridão, somente vários pontos de luzes. Também não havia muito barulho.

— Katniss — Peeta a chamou em um murmúrio.

Virou-se para ele. Se surpreendeu com a distância que havia entre seus rostos, ou melhor, a falta de distância.

Quando deu por si, os lábios de Peeta já estavam nos seus. Os lábios dele eram suaves e possuíam uma delicadeza que nunca havia provado em nenhum outro lábio.

Deixou que sua boca fosse sugada e acariciada pelos lábios dele. Mas sabia que quando, a roda gigante parasse, o encanto se quebraria, porque sua sanidade voltaria.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Odiaram? Gostaram? Parece que Katniss está cedendo aos encantos de certo Mellark, né?