Love me Harder escrita por Grind


Capítulo 1
Capítulo 1 - Piloto




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Love me Harder / Capítulo 1 – Piloto

- Eu já disse que não preciso de médico – Esbravejei talvez pela milésima vez naquele dia. Eu estava gripada a pelo menos uma semana, e Sthella insistia de que eu precisava ir ao médico. “Porque você é formada em gastronomia e não medicina pra se alto medicar” ela dizia.

- Não importa mais – Ela deu de ombros, jogando a bolsa Pink sobre o meu colo enquanto se sentava ao meu lado, um copo de suco de laranja nas mãos. – Você vai ser chamada a qualquer momento.

Eu não tinha nada contra hospitais, não me sentia desconfortável ou sei lá o que perto de gente doente, minha mãe até dizia que eu deveria ter me tornado enfermeira, mas eu nunca lhe dei total ouvidos, o meu problema não era com os hospitais, era com os médicos.

Algo no meu subconsciente parecia possuir uma necessidade louca de repeli-los, eu nem conseguia bolar um motivo especifico.

- Manuela Boaventura? – Uma voz masculina perguntou por mim atrás de nós e nos viramos ao mesmo tempo. Ok, talvez eu não fosse contra todos os médicos.

Ele franziu o cenho quando nós duas ficamos de pé.

- As duas são Manuela?

O sorriso de Sthella foi largo.

- É ela, eu sou a amiga.

Ele pareceu aliviado e entreabriu a porta do consultório.

- Que bom, a nova recepcionista tem trocado tantas fichas que acho difícil que ela dure até o final da semana. – Ele fechou a porta atrás dele, e nós nos sentamos de frente a mesa. Tinha um computador, algumas pastas, e um bloco de atestado. Eu encarei a cama de hospital mais ao fundo, suspirei.

- Então o que você anda sentindo? – Ele se sentou, algo me disse que ele estava cansado de dizer aquilo naquele dia.

- Sintomas de resfriado, que já duram a uma semana – Sthella respondeu antes de mim, como se fosse minha mãe.

- Vai dar uma semana – Eu a corrigi ainda emburrada – E eu certamente estou melhor do que no segundo dia, o que significa que está passando e o senhor não tem com que se preocupar.

- Manu! – Ela chiou e ele riu.

- Bom, se você está melhorando porque estamos aqui?

- Ela ainda está doente – Sthella ralhou entre dentes.

- Bom – Ele tirou o estetoscópio do pescoço e voltou a se erguer – É melhor prevenir do que remediar. Pode se sentar ali, por favor.

Eu me levantei a contra gosto, ciente de toda a baboseira que eu sabia que teria que passar de qualquer maneira. Ele me pediu para tirar a camisa, escutou meu pulmão nas costas e meus batimentos cardíacos sobre o peito. Pediu pra que eu inspirasse e depois soltasse o ar lentamente, pediu para que eu tossisse. Olhou minha garganta, meus ouvidos e quando tudo finalmente terminou eu me sentei feliz do outro lado da mesa.

- Bom, ela realmente parece estar bem – Ele puxou o bloco de atestado começando a rabiscar com uma caneta que brotou de algum lugar – Eu vou recomendar um xarope caseiro que vende há duas quadras daqui, e pode ter certeza que amanhã de manhã estará novinha em folha – Ele destacou a folha, carimbando e assinando e logo deslizando sobre a mesa em nossa direção. Sthella a pegou antes de mim e me vi suspirando outra vez., se ela ia fazer o que eu achava que ia fazer, eu queria sair daquela sala imediatamente.

- Roberto... – Ela disse o nome dele em um quase sussurro e do nada seus olhos se arregalaram e ela ficou de pé – Roberto!

Ele revezou olhares entre nó duas.

- Eu? – Ele parecia perdido.

Sthella jogou o olhar brilhante sobre mim, os braços apontados diante dele.

- Roberto! Betinho!

Eu permaneci sentada, a enxurrada de lembranças jogadas na minha cara como um balde de água fria, eu senti o meu rosto esquentar e me amaldiçoei mentalmente por isso. Quando eu voltei a olhar para ele e não me sentia capaz de falar.

Sthella gargalhou, mas logo levando a mão a boca se contendo, como se lembrasse que estávamos em um ambiente hospitalar. Eu fechei os olhos, não dava pra passar por aquilo de novo.

- Nós nos conhecemos? – Logo estávamos todos em pé, ele permanecia com a expressão confusa, aquela expressão confusa, ajeitou o óculos no rosto. Eu senti minhas pernas bambearem, Sthella sorria abobadamente.

- Estudou com a gente durante o ensino médio – Ela se explicou – Só o ensino médio – Completou com um disfarçado suspiro de desapontamento enquanto praticamente o devorava com os olhos.

Ele coçou a barba rala, abrindo a porta do consultório. Tantas pessoas pra eu me consultar, tantas pessoas pra eu arrancar a camisa e exibir o melhor sutiã que eu tinha na gaveta, tantos hospitais. Eu quis bater o pé no chão de forma mimada. E agora não sabia se ficava triste ou feliz por ele se lembrar de nós, especificamente, de mim.

Ele olhou para o chão, a mão ainda na maçaneta e nós duas já do lado de fora, e como se uma lâmpada se acendesse a cima de sua cabeça. Ele abriu um semi sorriso quando voltou a nos encarar.

- Mas é claro! Manu e Steh não é?

Sthella concordou contente. Ele suspirou.

- E onde está Duda?

- Aquela preguiçosa? Reatando com o namorado pela milésima vez nessa semana com certeza.

O sorriso dele se expandiu, e não tinha mudado nada, minhas pernas ameaçaram fraquejar outra vez.

- Bom foi muito bom rever as duas – Ele tirou a prancheta com nova papelada pendurada a porta – A gente se vê.

- O prazer foi todo nosso.

Então finalmente saímos. Eu respirei mas aliviada quando a friagem passou por nós e minhas pernas congelaram com o frio.

- Ah meu Deus.. – Sthella pareceu em choque – Isso só pode ser ironia do destino...

- Ou uma pegadinha de muito mau gosto. Você tem alguma coisa a ver com isso?

Ela se mostrou ofendida.

- EU? Como eu poderia fazer uma coisa dessas? Você acha que eu adivinhei quem ele era?

- Você não tirou os olhos dele nem por um milésimo de segundo! – Eu esbravejei, agradecida pelo vento levar nossas vozes embora pela rua deserta. Ainda bem que era noite. – E ficou toda interessada no nome dele no atestado-

- Porque eu achei ele gostoso! Eu não sabia quem ele era, fui ver o nome pra-

- Porque você é uma pervertida! Você precisa aprender a ser no mínimo discreta Ste-

- Licença!

Ok, talvez fosse tudo coisa da minha cabeça, mas Roberto, ou Beto para os amigos, ou ‘Betinho’ em nossa rodinha interna tinha mudado pra caramba de lá pra cá. De nerd quase popular, conhecido por não saber qual é o som de sua voz e zoado pela barba por fazer, ele já era mais alto que eu, eu cresci – finalmente- quando entrei na faculdade, mas aparentemente ele também.

O corte de cabelo permanecia o mesmo, tinha aderido ao óculos – enquanto eu felizmente fizera a tão desejada cirurgia – e diminuirá a quantidade de pelos no rosto. Mas a forma como o verde de seus olhos parecia ficar mais vibrantes por trás das lentes me provocava arrepios.

Ele não estava ‘musculoso’, mas também não era como se tivesse abandonado totalmente os autos cuidados, ele era médico, médicos provavelmente tomam poções para estar sempre em forma. Porém ele ainda era maior do que eu – qualquer um poderia ser maior do que eu – tanto na largura dos ombros como em todo corpo.

Quando ele arfou ao nos alcançar eu me senti uma bonequinha de porcelana.

- Quem é a dona da bolsa Pink? – Ele ergueu o braço ocupado pela tal. Sthella abriu um sorriso sem graça.

- Culpada.

Ele sorriu e lhe estendeu a bolsa, metade de um desenho escapando a vista por debaixo da manga do jaleco branco. Ele tinha tatuagens?

- Obrigada – Minha voz saiu seca e eu quis dar com minha cara na parede, ainda estava tensa pela discussão com Sthella e toda essa súbita aproximação pareceu fazer o vento gelado parecer faísca perto do calor que eu estava sentindo.

O que raios ele estava fazendo? Poderia ter mandado qualquer pessoa entregar a bolsa, não era da conta dele se algum paciente esqueceu.

- Não há de quer. As moças vão pra casa?

Sthella olhou brevemente na minha direção, tínhamos estudado com ‘Betinho’ durante três anos, e em três anos só houve um trabalho que fomos obrigados a fazer juntos, e foi com Duda com que ele trocou duas palavras e voltou ao seu mundinho de Bob. Vê-lo se interessar por qualquer coisa que se referisse a nós era uma surpresa de natal adiantada.

- O objetivo é esse, a menos que o médico tenha restringido isso. – Sthella não sabia ser sutil e tive que me controlar para não revirar os olhos. Roberto era algo como ser popular por ser nerd, nada realmente compreensível.

- Não, vocês estão liberadas, repouso é a melhor maneira de se acabar com um resfriado forte.

- Um resfriado forte que está no fim – A vontade de corrigi-lo foi maior do que a de ser educada. Sthella nem precisou olhar para mim para eu saber que ela não tinha gostado.

Ele voltou a sorrir em concordância.

- Sim, um resfriado forte que está no fim, e o que pretende fazer depois que melhorar?

A pergunta me atingiu como um tapa, um tapa na cara, bem dado, daqueles de garotas de 16 anos brigando por namorado. Foi comigo que ele falou?

- Voltar a trabalhar – Aquela fora minha resposta final, Sthella não desistiu.

- Ela tem um restaurante.

Eu fechei os olhos, tínhamos entrado na fase da divulgação, na qual ser dona de um restaurante era status.

- Um restaurante? – Ele pareceu curioso, e me perguntei se ainda tinha amizade com o pessoal do colegial, esperava que não.

- Ela fez gastronomia, virou chefe de cozinha, e logo, o restaurante se tornou todinho dela, deveria passar lá qualquer dia. Podíamos todos colocar o papo em dia, não é mesmo? – Ela se virou para mim com um sorriso cheio de esperanças nos lábios.

Eu fiz o que pude para sorrir de volta.

- É claro, porquê não.

- E onde fica esse lugar tão maravilhoso?


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