Adeus, Viajante escrita por MogeBear


Capítulo 12
Capítulo Onze


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Denver, Colorado, 2015 – Lottie

Prefiro não me lembrar da visita que eu, Jonny e Ruby (que insistira em nos acompanhar, com a desculpa de que Jonny era perigoso e poderia me meter em encrenca a qualquer segundo) fizemos à casa de Patrick. O lugar era muito sinistro.

De fora, parecia uma casa normal. Quando você tocava a campainha que começava a esquisitice. Ela fazia um barulho tenebroso, um tipo de música de ninar infantil. Ela era toda instrumental, e Patrick só abriu a porta quando ela terminou. De propósito.

Parecia que ele não limpava a casa: todos os móveis estavam cobertos de pó, bem, pelo menos os da sala de estar estavam. Descemos as escadas até o porão, onde a coisa ficou ainda mais sinistra.

Patrick tinha armas medievais penduradas nas paredes, alguns desenhos assustadores e revistas pornô. Uma estranha combinação de perversão e terror.

Saímos da casa o mais rápido possível, querendo fugir daquele maníaco.

— Eu disse que você conhece gente suspeita. — Jonny disse perto de meu ouvido enquanto voltávamos para a cafeteria, com Ruby nos seguindo.

— Dessa vez eu tenho que concordar com você. — Eu disse. — Aquilo foi sinistro.

— Eu já disse que vocês do passado são estranhos e assustadores?

— Estranhos, sim. Assustadores, não. — Respondi.

Abrindo a porta da cafeteria, fomos recebidos por Clarie.

— Aqui de novo? Vocês não se cansam? — Ela brincou. Eu e Ruby mostramos a ela um sorriso amarelo, enquanto Jonny parecia não saber como reagir à piada.

Nos sentamos e nos entreolhamos.

— Então, precisam que eu diga o quê? — Ruby perguntou, quebrando o silêncio.

— Que vamos viajar juntas. — Respondi.

— Para onde? — Ela perguntou.

— Diga que vamos acampar perto de San Isabel National Forest. — Eu disse.

— E para onde vocês realmente vão? — Ela perguntou de novo, dando ênfase no “realmente”.

Olhei de relance para Jonny, que parecia ligeiramente interessado em minha resposta.

— Se eu disser — Comecei. —, vou estar abrindo mão da única herança que tenho. Levarei essa resposta para o túmulo.

— Você é muito exagerada. — Disse Jonny depois de alguns segundos.

— Tenho que concordar que isso foi muito dramático, Lottie. — Disse Ruby.

Bufei. Eles nunca me levavam a sério.

— De qualquer maneira, se você me levar até lá, vai estar cedendo a resposta a mim. — Jonny disse, dando de ombros. — Eu vou descobrir a resposta mais cedo ou mais tarde.

— Na verdade, não vai não. — Eu disse.

— O que você vai fazer para impedir? — Jonny perguntou.

— Segredo. — Eu dei de ombros. — De qualquer forma, você vai descobrir.

Ruby e Jonny olharam para mim, aparentemente curiosos com o meu plano.

Eu já decidi que não vou ceder a resposta, pensei. E se eu decidi isso, ninguém nem nada vai me convencer do contrário!

Demos continuidade ao nosso plano: Jonny fez uma identidade e ninguém suspeitou de nada, o que foi um alívio; alugamos um carro (com o meu dinheiro, diga-se de passagem) e Ruby ligou para os pais dela, falando que ia viajar com uns amigos.

Já estava escurecendo quando nós decidimos voltar para casa.

— Eu quero ir. — Ruby se virou para nós dois, de repente.

— Não. — Jonny disse.

— Lottie, por favor! — Ela se virou para mim, implorando. Parecia uma criancinha.

— Não sou eu quem decido, Ruby. Sinto muito, mas quem vai dirigir é o Jonny, quem precisa ir até lá é o Jonny. — Eu disse. — Sou somente a garota que indica o caminho.

— Mas... — Ela começou, porém Jonny a cortou:

— Mas nada, Ruby. Você a ouviu, e minha resposta é não.

Ruby suspirou, derrotada.

— Ok. — Ela disse

— Eu te conto depois como ele é. — Eu fiz uma tentativa de consolo.

— Tudo bem. — Ela deu de ombros, numa falha tentativa de indiferença. — Mas se acontecer qualquer coisa, me avise. Ok?

— Ok. — Respondi.

— Vamos logo para casa, Lottie. — Jonny reclamou.

— Você quis dizer: vamos logo para sua casa, Lottie. Por favor! — Ruby disse.

— Eu quis dizer o que eu disse, e pare de se intrometer! — Ele retrucou.

— Ah, não! — Eu disse, atraindo a atenção dos dois. — Parem com essas discussões bobas!

Os dois se calaram, e eu agradeci aos céus por isso.

— Ruby, realmente temos que ir e arrumar nossas mochilas. — Eu disse. — E Jonny, pare de provoca-la.

— Mas eu não fiz nada! — Ele reclamou.

— Ah, não fez... — Disse Ruby.

— Calem a boca! — Eu gritei. — Tchau, Ruby.

Me virei e puxei Jonny pelo braço, tentando evitar outra discussão.

— Vocês são difíceis, viu? — Eu disse, com raiva.

— E você é uma estraga-prazer. — Jonny respondeu. — Discutir com ela é engraçado. Ela mal sabe argumentar.

— Jonny! — Eu disse. — Cala a boca, eu já mandei!

— Como se você mandasse em mim... — Ele resmungou, mas se calou.

Entramos no carro alugado e Jonny pediu que eu indicasse o caminho até minha casa. Eu não esperava, mas ele era um bom motorista, até. Provavelmente os carros não mudarão muito, no futuro.

Ele dirigiu silenciosamente até minha casa. As luzes estavam acesas, então, minha família estava, finalmente, em casa.

— Parece que eles chegaram. — Disse Jonny.

— É. Isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. — Eu disse.

Eu e Jonny ficamos alguns minutos dentro do carro, observando as luzes da casa. Comecei a me preocupar com as pessoas que passavam ali perto e olhavam o carro.

— Jonny. — O chamei. — Provavelmente as pessoas que estão passando por aqui pensam que somos ladrões ou algo do tipo. Vamos embora.

— Como vou entrar na sua casa? — Ele perguntou.

Olhei para ele, enquanto pensava num plano.

Eu ainda não os avisei da viagem, pensei. Então dizer que Jonny vai dormir lá para me levar amanhã cedo não vai dar certo. Amanhã é sábado, então dizer que vamos estudar também não vai colar. Podemos...

— Faça o que eu fizer, ok? — Eu disse, colocando um anel. Jonny me olhou um pouco desconfiado, mas assentiu.

Saímos do carro e fomos em direção à minha casa. Jonny tocou a campainha e, um segundo antes da porta ser aberta, segurei sua mão.

— Jane! — Eu disse, sorridente. — Eu acabei de ganhar um anel de compromisso!

Ela olhou para mim e para Jonny com a boca aberta, meio surpresa. Ela gaguejava enquanto tentava formar uma frase lógica.

— Mas... você não disse... eu não sabia... — Ela dizia.

— Quem é, querida? — Ouvi a voz de Kile. Ele chegou perto da porta e viu sua tutelada de mãos dadas com um cara que ele nunca vira na vida, e sua mulher meio desnorteada. — Ahn... o que aconteceu?

— Podemos entrar? — Perguntou Jonny.

Kile e Jane assentiram, dando espaço para passarmos.

— Que ideia foi essa? — Jonny sussurrou em meu ouvido, baixo o suficiente para que ninguém mais escutasse.

— A única que eu tive. — Respondi.


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