O Clã de Descendentes - A Ascensão da Magia escrita por Isaque Arêas


Capítulo 6
Um chá com a Fada Azul




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A Fada Azul vivia em um palácio no meio da floresta. Não era como os outros castelos que se acham na Terra. Ele ficava próximo a um lago, era menor, parecia uma casa de bonecas. Dele escorriam várias fontes que jorravam no lago. Era coberto por musgos. Tinha uma beleza incomparável e era muito iluminado. Amanda e Bernardo podiam não aparentar, mas em seu interior se perguntavam como entrariam ali naquele palácio tão apertado.

— Queridos, aqui é onde vocês precisam ficar parados. Preciso encantá-los para que fiquem pequenos e como não voam preciso que fiquem onde meus olhos alcancem. — disse Flora atenciosa.

Um jato de magia saiu da varinha da fada e em um piscar de olhos Amanda e Bernardo estavam do tamanho de um grão de feijão. Era bastante estranho, pois não haviam sentido nada, apenas viram em um segundo o mundo em proporções normais e em outro estavam vendo os olhos de Flora do tamanho de um prédio.

As fadas então diminuíram seu próprio tamanho. Para que Amanda e Bernardo pudessem ir mais rápido elas os levitavam com as varinhas. Voaram até o portão do Palácio Azul. Era um portão dourado, as maçanetas eram dois diamantes e tinha um pequeno sinete de prata no topo do portão. As fadas puxaram a corda ligada ao sinete que fez um som majestoso e logo o criado principal da Fada Azul veio atender.

Era uma formiga que agora era do tamanho de Amanda e Bernardo. Os dois se assustaram bastante. Amanda o achou asqueroso e tentava não olhar diretamente para o inseto. Entraram numa grande sala igualmente dourada. Um tapete azul real cobria o chão e no meio da sala havia uma grande estátua da Fada Azul. Atrás da estátua duas grandes escadas acabavam em um enorme corredor que dava a volta na sala e revelava diversas portas no andar acima.

— Fada Azul, estamos com os dois humanos, desejamos falar com Vossa Alteza — disse Madrinha em um tom respeitoso.

— Um minuto! — gritou uma voz ao fundo — Venham para a minha sala de chá!

As fadas subiram a escada, Bernardo e Amanda as seguiram. Entraram por uma porta, a segunda à direita. Ao chegar à sala de chá viram a Fada Azul olhando um enorme globo com os continentes terrestres. O globo ia do chão ao teto, possuía um design antiquado e a fada voava incessante olhando diversos pontos dele. Ninguém, porém, quis interrompê-la.

— Estou procurando — disse a Fada Azul.

— Posso perguntar o que Alteza? — disse Madrinha.

— Claro que pode! Uma prova, desde que eles chegaram ontem e disseram não saber do que se tratava a conversa estou incansável procurando uma prova de magia.

— Alteza, a senhora sabe que a Terra não tem magia... Bom, não naturalmente... — disse Fauna.

— Sei que não, mas havia... Haviam bruxas! Haviam trolls! Havia qualquer coisa! A única prova que encontrei foi um homem com magia gelada. Lembram-se da Rainha Elsa? Talvez seja um descendente dela que tenha despertado depois que a barreira mágica caiu, mas são apenas especulações e de qualquer forma ele desapareceu do meu globo. Eu não encontro prova alguma!

— Sinto muito Alteza, mas se puder nos dar a honra de sua presença... Amanda tem tido sonhos que não soubemos interpretar, mas que Vossa Alteza poderia compreender. Além disso, explicamos em detalhes suas histórias, acredito que agora estão preparados para uma conversa com Vossa Alteza. — disse Flora.

A Fada Azul fez uma expressão muito curiosa quando ouviu falar sobre os sonhos de Amanda, como disse anteriormente, seres místicos adoram interpretar sonhos e visões, é como um grande jogo para eles. A Fada Azul desceu de seu voo e se sentou à mesa de chá. Pediu que os outros se sentassem também e Amanda contou o sonho que havia tendo, sobre os lobos, tigres e sobre a espada. No que a Fada Azul fez uma expressão bastante séria.

— Essas feras quase sempre representam perigos, inimigos, perseguidores. Já a espada pode ser um ato de valentia. Você não alcança a espada por que ainda é muito medrosa para enfrentar as feras e quando alcança acorda, pois não crê que venceu seu medo. Talvez seja essa a interpretação certa. Raios! Estou enferrujada! Há anos não decifro sonhos humanos.

— O que achei estranho foi ter esse mesmo sonho há cem dias exatos atrás, todos os dias e hoje dormi na casa das fadas e não o tive.

— Detalhes! Detalhes! — disse a Fada Azul muito animada se levantando da mesa — A barreira foi erguida há cem anos e foi quebrada ontem quando o jovem congelou uma igreja... Talvez o seu sonho seja o mapa que complete o que eu venho procurando!

Voou até o globo. De um lado para o outro olhava para os países. Amanda, Bernardo e as fadas tentavam acompanhar seu trajeto com o olhar, mas não conseguiam.

— Eu preciso de mais informações, de fato, mas talvez seu sonho seja parte desse quebra-cabeças. E você Bernardo? Algum sonho? Alguma peça? — A fada ficava cada vez mais empolgada.

— Acredito que não... Na verdade ainda não sei se acredito no que disseram. Desculpem meu ceticismo, mas vejam bem, para mim sou apenas um homem de negócios; terno e gravata, nada que me torne um ser mágico ou diferente.

— E é aí que está outra dúvida! Vocês conseguiram enxergar isso? — disse a Fada Azul falando com as fadas. Primavera colocava mais chá em sua xícara e quando percebeu que a Fada Azul falava com elas acabou derrubando um pouco na mesa.

— Enxergar o que? — perguntaram todas.

— Ele esqueceu totalmente quem ele é! Ora vamos, cem anos não é tempo suficiente para que alguém esqueça totalmente suas origens, histórias passadas de família em família. Bernardo, será que nunca se perguntou de onde vem sua fortuna? Qual é sua história?

— Meu avô montou a empresa e meu pai continuou com os negócios da família. — disse Bernardo balançando freneticamente a perna.

— E de onde vem o dinheiro de seu avô?

— Ele herdou de seu pai e seu pai...

Bernardo fez um longo silêncio. Sabia que devia se lembrar, pois seu pai fazia questão de contar a história da família desde que era garoto. Sempre fora rico e por isso era costume de sua família contar sobre antigas tradições e sobre seus antepassados, mas não conseguia de maneira alguma lembrar como conseguiram o dinheiro. Chegou à conclusão em seu interior que sempre fora rico e não sabia o porquê.

— Você não sabe, não é?

— São muitas gerações, você não quer que eu saiba exatamente como meu tataravô conseguiu o dinheiro não é mesmo? — respondeu Bernardo atacando.

— Apenas estou tentando dizer que você não acredita, mas também não tem provas contra, nem mesmo argumentos sólidos... Até porque, como explica a Fada Madrinha estar conectada a você? A magia, uma força que você não compreende, se engana? — a Fada arqueou uma sobrancelha. Xeque-Mate. Ainda que estivesse certo Bernardo não tinha como ir contra a proposição da Fada Azul. Todas as fadas e Amanda olharam para Bernardo que parecia cada vez mais encurralado.

— Continuem a conversa — disse o jovem olhando para o lado dando de ombros.

— Senhoras, acredito que estamos andando em círculos. Essa é a verdade! — disse Primavera direta — Estamos supondo que acontecerá uma maldição e estamos pensando sempre no futuro até que um dia ele chega e “Boom”! Explode na nossa cara!

— Primavera tem razão... Precisamos de ações práticas — disse Fauna.

— Que tal se começássemos procurando outros descendentes como nós? — disse Amanda querendo se inteirar da conversa.

— Uma ótima ideia, mas grande parte das fadas cuidadoras infelizmente estava na Terra quando o bloqueio ocorreu. Não sabemos mais nada sobre elas... — disse a Fada Madrinha.

— Teríamos que descobrir o que aconteceu às fadas, aos seres mágicos primeiramente para depois encontrarmos os descendentes. — concluiu a Fada Azul — como faremos isso? — disse ela virando-se mais uma vez para o globo na esperança de que ele indicasse a localização de um dos seres místicos.

— Vamos pensar em um deles, talvez focados em apenas um consigamos reunir informações... — disse Flora.

— Que tal os Trolls de Pedra? Poderíamos aproveitar que o possível descendente de Elsa apareceu e consultá-los... — sugeriu Fauna.

— Poderíamos tentar, mas será difícil encontrá-los... Se disfarçam muito bem os danados — respondeu Primavera.

— Merlin! Podemos procurar por ele! — sugeriu Flora.

— Acho que Merlin nos ajudaria bastante, mas não temos notícias dele há tanto tempo... Como saberíamos? — rebateu Fauna.

— Imaginem, acharíamos o descendente do Rei Arthur! — suspirou Primavera — Amava as histórias de Arthur!

— O Rei Arthur também existiu? — perguntou Amanda.

— Querida, provavelmente todos os contos que você conhece existiram, mas por algum motivo seu povo não se lembra. — respondeu a Fada Madrinha.

Bernardo se levantou da mesa e saiu da sala. Todos se entreolharam e então olharam para a Fada Azul na esperança de que ela fizesse algo. A Fada respirou fundo e desceu de seu voo indo em direção à porta, quando Amanda se levantou também.

— Vossa Alteza, deixe que eu fale com ele... Talvez ele precise conversar com alguém que o entenda e... Bem, sou humana.

A rainha das fadas estranhou a atitude da menina, mas concordou que ela fosse falar com ele, afinal, seus esforços já tinha se esgotado.

Amanda saiu da sala e percebeu que Bernardo acabara de sair por uma porta no andar de baixo. Desceu as escadas e o seguiu correndo tentando alcançá-lo. A porta dava para um jardim belíssimo e muito vivo. Bernardo chegara ao jardim e havia parado próximo a um chafariz, andava de um lado para o outro. Amanda se aproximou ouvindo o que ele dizia:

— Não pode ser real, não pode. — dirigiu-se à Amanda — Será que só eu tenho bom senso pra perceber que de alguma forma isso tudo não pode estar acontecendo? Ou será que sou o único infiel aqui?! O único descrente em toda a “floresta encantada” ou seja lá que droga é esse lugar?!

— Calma...

— Calma o caramba! Nós fomos sequestrados. Eu fui sequestrado! Eu devo estar dopado em algum canto de New York nesse momento! Você nem deve ser real! Eu to alucinando falando com a minha mente!

— O que? É claro que eu sou real!

— Assim como essa droga de mundo encantado também é? Eu não consigo levar isso a sério! Tem que ser um sonho.

— Bernardo, você acha que eu acredito em tudo tanto quanto essas fadas? Eu sei tanto quanto você! Eu só estou me deixando levar, você precisa ver que elas também possuem bastantes argumentos para dizer que somos parentes de personagens de contos, mas enquanto não sabemos se deixe levar...

— Eu não consigo aceitar isso! Eu... Eu só quero voltar pra droga da minha casa e viver a droga da minha vida. — sentou-se no chafariz — Eu tinha uma viagem marcada para o Rio, iriam ser as minhas primeiras férias em anos... Em sete anos...

— Eu tinha um show marcado em Florença... — disse Amanda se sentando ao lado dele — Eu tava terminando a minha turnê em Londres na verdade, mas de alguma forma, por mais que eu queira não acreditar no que elas falam é como se me preenchesse... Sabe, como se fosse a informação que faltava na minha vida. Não sei explicar.

— Isso não aconteceu comigo, desculpa.

— Talvez você esteja negando para si mesmo... Olha em volta, isso não é lindo? Você consegue sentir o chafariz onde você está... Isso é real. E eu sou real porque você não me conhece, se fosse fruto da sua imaginação você saberia minha história.

— Isso é o que me deixa mais confuso.

— Aceita e segue em frente. Até porque, se isso não for real... O que vai mudar na sua vida? Se for só um sonho bobo, uma fantasia, pelo menos você a viveu ao máximo.

As palavras de Amanda fizeram sentido para ele por mais confuso que estivesse. Olhava para ela agora e ela lhe parecia uma tola. Uma tola que tinha dito coisas sábias. Amanda sorriu ao perceber que acalmara o novo amigo e Bernardo esboçou um sorriso em retribuição ao conforto que ela lhe proporcionara.

— Você quer voltar agora? — perguntou Amanda.

— Não. Se eu vir mais uma fada eu vou surtar. — riu.

— Eu estava pensando enquanto vínhamos pra cá... Imagina que louco deve ser...

— Podemos falar de alguma coisa do nosso mundo? Por favor?

— Ah, tudo bem — riu Amanda — você me conhece? Tipo, conhece minhas músicas? Não posso perder a oportunidade de vender meus CDs.

— Amanda Alexandra?

— Não, AA, tipo alcoólicos anônimos, mas estiloso. Amanda Alexandra não ia pegar.

— Ah sim, ouvi tocar uma vez, gostei do som.

— Resposta errada. A resposta certa seria “nossa! AA?! É você?! Como não percebi esse tempo todo?!”.

— Quantos CDs você tem?

— Estou gravando o primeiro.

— A França ainda não ouviu falar de você.

— Meu nome não anda em línguas cheias de frufru.

— Golpe baixo ofender minha língua.

— Golpe... Espera, você é francês?!

— Oui.

— E quer pagar de “Nossa! Não acredito que sou filho da Cinderela e da Bela”? Todo mundo sabe que a história delas se passou na França.

— Ah, de novo...

— Vai ficar nervosinho Fera? Vai sair da sala de novo? Aqui não tem pra onde correr.

Bernardo se levantou.

— Puxou o papai. — provocou Amanda.

— A Fera não é meu pai, seria tipo um antepassado distante.

— Já ta assumindo. Gosto assim!

— O que? Eu não... Argh. Se você queria ajudar, não está conseguindo.

— Ah se anima! Vamos voltar pra sala da Fada Azul, ela deve estar esperando.

— Não, eu... Eu só não to pronto, pode ir.

— Ah não, eu só volto pra lá com você. Elas estavam me deixando louca! Falam muito rápido e aquelas asas ficam balançando involuntariamente, é esquisito...

Bernardo então se sentou e voltou a conversar com Amanda.

Alguns minutos depois ouve-se um grande barulho vindo de dentro do castelo. Amanda e Bernardo se assustaram e correram para dentro para ver o que havia acontecido. Gritos desesperadores vieram da sala de chá fazendo com que Bernardo e Amanda subissem as escadas bem depressa.

Quando abriram a porta da sala de chá viram Fauna caída no chão, a Fada Azul sendo erguida por um raio luminoso vindo do globo e Flora, Fauna e Primavera tentando combater o raio que saltava através do globo.

— O que vamos fazer? — exclamou Amanda.

— Flora, Madrinha, o que a gente faz? — perguntou Bernardo.

— Peguem a varinha de Fauna e apontem para cá, façam qualquer coisa! Estão tentando levar a Fada Azul para a Terra! — respondeu Flora.

Mas antes que Bernardo ou Amanda pudessem fazer alguma coisa o raio arrasta a Fada Azul e o globo mágico a consome.

— Santo Zeus! Precisamos fazer alguma coisa! Se preparem, vamos atrás dela! — exclamou Madrinha.

— Espera, o que houve? — perguntou Amanda.

— Não há tempo para explicações, estamos voltando para a Terra. Peguem Fauna! — disse Flora.

Bernardo então segurou a fada desmaiada em seus braços. Posicionaram-se próximos à Flora que lançou um feitiço que fez com que desaparecessem de onde estavam deixando a fina camada de pó mágico no ar.


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