Back To Greece escrita por sophilerman


Capítulo 1
Capítulo 1




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Eu estava dormindo na última aula de matemática antes do verão.

Não me entenda mal. Eu tenho dislexia e sofro do TDAH. O que você esperava, que eu caísse de amores pelos maus professores?

O fato é que eu não fazia idéia do que se passava. Estava num mundo inteiramente meu, sonhando com o Acampamento, com meus amigos, com Annabeth...

Ah, Annabeth. Eu nem podia acreditar que a veria amanhã, era quase... Surreal. Tornava minha volta ao meu lar de verdade ainda mais esperada. Poderíamos passar muito tempo juntos, agora que eu não tinha mais um titã do mal na minha cola.

- Sr.Jackson – disse alguém, uma voz adulta.

Quis abrir os olhos, sabia que tinha que erguer a cabeça, mas não consegui.

- Sr.Jackson – chamou de novo a voz.

Abri os olhos. Professor Keith, de álgebra I, me mirava por cima de seus óculos de aro redondo. Ele parecia um Harry Potter muito enfezado e mais certinho, com o cabelo escuro partido no meio.

- O que senhor? – perguntei, reprimindo com dificuldade um bocejo.

- Responda à minha pergunta – olhei para o quadro negro e me deparei com uma equação enorme.

Meus deuses, era a última aula no ano e depois, férias! O que aquele cara tinha na cabeça, titica de harpia?

Os números faziam manobras radicais de skate a meu ver. Impossível. Era bem mais fácil ler Grego Antigo. Literalmente.

- Eu não consigo – respondi simplesmente.

Alguns risinhos idiotas irromperam na sala. Se isso tivesse acontecido há algum tempo atrás, eu teria me sentido mal, irado e envergonhado. Mas hoje não, já que eu sabia o motivo dessas doenças de comportamento.

Era por causa de meu parentesco. Minha família era no mínimo bem diferente. Eles são deuses gregos. Então, somando dois mais dois, eu sou um herói. Ou quase.

- Ótimo, isso vai contar na sua nota final, não se esqueça disso!

Assenti, divertido. Com sorte e com alguma ajuda de Paul, eu largaria a escola o ano que vem para fazer um curso técnico ou sei lá. Minha praia não era estudar, mas minha mãe batia sempre na mesma tecla.

- Estudar nunca é pouco – ela me dizia sempre.

O Sr.Keith estava prestes a dizer algo, mas a contagem regressiva para o último sinal começou. Contei junto, feliz da vida.

- Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um! – gritamos em uníssono, agarramos nossos materiais e zarpamos dali, tão rápido como monstros ao verem o brilho do bronze celestial.

Desci correndo as escadas da Goode.

Paul passou por mim e disse:

- Adeus, Percy. Bom verão!

Voltei e apertei sua mão, sorrindo.

- Obrigada Paul. Cuide bem de mamãe e de Cornélia.

Cornélia seria minha nova irmãzinha. Apesar de minha mãe só estar grávida de um mês, já havíamos concluído que seria uma menina. Se não fosse... Bem, ia ser uma grande confusão, por que o quarto do bebê era cor-de-rosa.

Algumas meninas e outros garotos me cumprimentaram ao sair da escola. Eu não sabia o por que, mas ultimamente e justamente quando eu tinha namorada, choviam garotas em cima de mim.

Quase tive um enfarte ao ver quem me espera nas ruas de New York, bem em frente a minha “amada” Goode.

- Annabeth! – eu a abracei e nossos lábios se juntaram.

Mesmo após tantos beijos, era ótimo sentir seus lábios nos meus. Preenchia-me com uma sensação bem melhor do que qualquer Ambrósia ou Néctar.

Quando separamo-nos, ambos exibíamos olhares de felicidade e satisfação. Beija-a novamente, mas uma voz grossa e um pigarro tímido me interromperam.

- Quanto grude! – sentenciou alguém. Me virei e levei um susto ao ver Clarisse, Filha de Ares. Tínhamos uma estranha amizade. Odiávamos-nos boa parte do tempo, mas ela era minha amiga e eu podia contar com ela, por mais que ela não quisesse admitir. 

- Clarisse!

- Não, seu idiota, Afrodite.

Sorri jovialmente e peguei a mão de Annabeth.

Ela chegou mais perto e murmurou em meu ouvido:

- Senti sua falta, Cabeça de Alga.

- Eu também, Espertinha.

Estava prestes a coroá-la com um mais um beijo apaixonado quando vi Nico, o filho de Hades. Ele usava seu casaco de aviador negro de sempre. 

- Nico, que bom te ver por aqui! – apertei sua mão e ele sorriu.

- Bom te ver também, Percy.

Foi ai que me lembrei de algo muito importante.

- O que vocês estão fazendo aqui?

- Viemos dar uma voltinha, colher morangos no Central Park. – respondeu Clarisse.

Fiz um gesto obsceno, já que eu não possuía lábia o bastante para responder à ela.

- Na verdade – interveio Annabeth – Eu vim ver o Olimpo, inspecionar como as obras estão indo. 

Seus olhos cinza brilharam a menção da reforma no Olimpo, que ela mesma estava comandando. Annabeth queria ser arquiteta e para mim, aquilo era um ótimo começo de carreira. Sabe, reformar a morada dos deuses e tudo o mais.

- Eu estudo por aqui, na mesma escola que o Bafo de Cadáver. Topamos com a sabidinha por um acaso, e ela disse que poderíamos ir para o Acampamento Meio-Sangue juntos, mas ela teve de buscar o namoradinho antes. Então estamos todos indo para casa juntos. Economiza transporte e dracmas de ouro.

Annabeth corou e eu resignei-me a esboçar um sorriso.

- Então estamos esperando o que? – falei.

- Vou chamar o táxi.

Nico pegou uma moeda de ouro maciço do bolso e a jogou na rua, pronunciando algumas palavras estranhas. Foi ai que uma lembrança meio antiga me ocorreu.

- Vamos com aquelas velhas malucas do olho?

- Tem alguma outra idéia, Cabeça de Alga? Nem você nem o di Angelo se dão com aviões. Vamos sim com as velhas, quer queira quer não.

- Ok Clarisse, não se estresse.

O chão começou a borbulhar e um táxi cinza foi brotando do nada. Em menos de um segundo, ele estava completamente para fora do solo, mas ainda parecia feito de fumaça.

Abrimos as portas traseiras e sentamo-nos. Nos bancos da frente, magicamente alargados, estavam três mulheres. Uma tinha só um olho, outra só um dente e a última não tinha nada, apenas um rosto vazio.

- Queremos ir para o Acampamento Meio-Sangue, por favor – pediu Annabeth polidamente.

- É pra já! – disse a velha do olho, pisando fundo no acelerador.

Contornamos os transito de Manhattan com facilidade, mas o perigo morava ao lado. As velhas não paravam de discutir, pois todas queriam a posse dos preciosos olho e dente.

O carro quase batia muitas vezes, em todos os lugares, mas desviava por um triz, logo antes de estragar a lataria.

Demoramos um certo tempo até chegar ao Acampamento. Nico ficou de olhos fechado o percurso todo e sua pele assumiu um tom verde horrendo. Clarisse xingou Zeus e o mundo como forma de agradável distração para não se enjoar e não vomitar em mim. Apesar de alguns de seus xingamentos conterem o meu nome, agradeci que ela tivesse um passatempo. Minha calça estava feliz assim: limpinha e sem vômito.

Conversei com Annabeth sobre tudo. Ela passou a maior parte do tempo, é claro, falando sobre a reforma olimpiana e os novos chalé do Acampamento.

Eu lhe falei sobre a escola e minha mãe. Ela sorriu ao saber de Cornélia e disse que eu seria um ótimo irmão para ela, assim como eu era para Tyson.

O carro deu um último solavanco brusco e estacionou, mesmo que a um modo bem barbeiro, em frente a Colina Meio-Sangue. Peleu, o dragãozinho de estimação que guardava o Velocino de Ouro, dormia tranquilamente sob o Sol de fim de tarde.

- Obrigado – eu disse para as senhoras. Eles nem sequer me viram, preocupadas demais com o dente que tinha caído no chão. A que detinha o olho se recusava a encontrá-lo e travou-se uma Guerra Civil Espanhola lá dentro.

Sai de perto, alcançando meus amigos na subida.

- Sabe o que eu acho estranho?

- O que Nico?

- Nenhum monstro me atacou durante esse tempo. Nenhumzinho.

- Nem a mim. Isso é estranho mesmo.

- Talvez Cronos tenha usado todos os monstros do mundo e do Tártaro em sua luta e agora eles estão em época de recomposição – opinou Annabeth. Por mais mirabolantes que fossem suas hipóteses, elas soavam sempre certas. Mal de filhos de Atena, pensei.

Continuamos subindo. Agora que tinha comentado, me dei conta de que minha vida estava calma demais. Eu podia tomar isso como um presságio, mas eu sabia que meu tempo de Profecias tinha terminado. E eu estava sendo ganancioso. Afinal, muito outros heróis residiam no Acampamento e também tinham o direito de ter missões.

Passamos pela velha árvore de Thalia, minha amiga imortal, servidora de Ártemis e adentramos no meu lugar favorito de todo o mundo: o Acampamento Meio-Sangue, morada dos heróis. Ou melhor, de meus amigos e conhecidos.

Eu podia ver a Casa Grande, com suas inúmeras janelas e a varanda vantajosa. O Sr.D deveria estar lá, jogando cartas com Quíron e tomando Diet Coke.

- Eu vou para o meu chalé – anunciou Annabeth – Tenho muita coisa para arrumar – ela salpicou-me um beijo – Já volto Cabeça de Alga.

Clarisse bufou, mas também foi correndo em direção aos chalés. Ela queria ver seu namorado, Cris Rodriguez, que se mostrou ser filho de Hebe, a deusa da juventude. Abafei uma risadinha de uma piada que não contei a ninguém. Tinha que ter muito fôlego e paciência para agüentar Clarisse [i]mesmo[/i].

Nico caminhou ao meu lado até chegar no Chalé de Hades. Era bem legal, mas um pouco sinistro, com a caveira dependurada na entrada.

- Bem, a gente se vê no jantar, Percy.

- Até mais, Nico!

Entrei no Chalé de Poseidon, uma construção baixa e alongada, com cheiro de brisa marinha.

Eu esperava ver meu meio-irmão, Tyson, mas com a dor de uma pancada na barriga, lembrei que agora ele era Capitão dos Ciclopes e morava nas forjas submarinas de meu pai, construindo armas de bronze celestial e coisas assim.

Meu quarto estava uma bagunça, como sempre. Cheio de coisas jogadas por aí e roupas sujas esparramadas no beliche de lençóis de seda azul.

Mas estava tudo ok, por que a inspeção não era hoje, só daqui a alguns dias, quando todos os campistas chegassem.

Vesti minha camiseta laranja berrante do Acampamento Meio-Sangue e peguei minha caneta letal, Contracorrente, colocando-a no bolso da calça.

Fui visitar uma velha amiga.

Sra.O’Lary descansava na arena de treinamento, mordendo um boneco com armadura grega em tamanho real.

Cocei suas orelhas enormes de cão infernal e ela mudou de atividade, me lambendo e depositando em mim uma grande quantidade de baba gosmenta.

- Boa menina! Que saudades de você, garota!

- Esse cachorro realmente gosta de você Percy – disse uma voz ancestral atrás de mim.

Virei-me bruscamente e vi Quíron, meu centauro favorito. Ele já estava em plena forma de homem-cavalo, com sua pata curada.

- Quíron! – exclamei.

- Percy, é bom te ver por aqui. – apertamos nossas mãos.

- Como está indo a reforma no Acampamento?

- Muito bem, muito bem. Já temos chalés para todos os olimpianos: Morfeus, Hécate, Hebe, Jano, Nyx, etc. o chalé de Hermes está praticamente abrigando só seus filhos. Mas Annabeth não vai se contentar com isso, ela quer um templo e mais arenas de treinos.

- Bem, eu acho que ela está certa. Sabe, somos filhos dos deuses e nem temos um templo!

Quíron riu.

- Se você não concordasse com ela, aí sim eu acharia estranho.

Corei um pouco.

- Chegou mais algum filho dos Três Grandes? – perguntei.

- Ainda não – Quíron me observou com interesse, como se soubesse o verdadeiro motivo da minha pergunta.

A verdade é que eu não estava realmente interessado em campistas novos. Eu estava interessado em novos irmãos meio-sangue. Se algum deles fosse reconhecido agora, significaria que eu não era o único desvio de meu pai antes do tratado deixar de existir.

E eu meio que queria ser o único filho de Poseidon por um tempo. Egoísmo, eu sei. Mas se você estivesse no meu lugar, entenderia perfeitamente.

- Percy, você ainda é o único filho de Poseidon aqui, não se preocupe.

Eu ia responder alguma coisa, mas o chamado para o jantar soou ao longe. 

- Aceita uma carona? – perguntou Quíron.

Subi em seu dorso de cavalo. Fomos correndo em direção ao refeitório.

- Quíron – perguntei – Rachel já chegou?

- Ainda não. Nosso oráculo só chega daqui a uma semana, quando a maioria dos campistas chega.

Assenti, meio sem saber o que pensar. Meus sentimentos em relação eram estranhos. Agora ela não podia mais namorar, mas eu não tinha deixado de pensar nela... Se Annabeth lê-se mentes, eu estaria frito.

- Chegamos.

- Obrigada Quíron – agradeci enquanto saia de suas costas e me dirigia a mesa de Poseidon.

Sentei-me lá sozinho. Enquanto passava, vários campistas me cumprimentaram, acenando a cabeça ou sorrindo um pouco. As meninas de Afrodite fizeram uma algazarra, e se eu não estivesse enganado, Annabeth as mirou com ódio mortal.

Será que eu tinha ficado mais bonito desde o banho no rio Styx? Por que agora várias meninas me alardeavam como nunca.

A comida foi servida pelas ninfas. Perguntei por Grover a uma delas e ela limitou-se a dizer que ele estava ocupado. Mais tarde eu o visitaria.

Joguei parte de minha comida no braseiro, agradecendo silenciosamente a meu pai. O cheiro de comida queimada que subiu no ar era delicioso, eu podia ficar ali minha vida toda, vivendo daquilo.

Terminei vagarosamente o jantar. Aguardei pacientemente Annabeth acabar de comer. Fomos juntos até a floresta, procurar nosso antigo companheiro, o sátiro Grover.

O encontramos onde costumava ficar o Senado dos Sátiros. Ele estava sentado num toco de árvore com Juníper ao seu lado, rindo feliz da vida.

- Percy! – ele disse ao ver-me, apertando minha mão. Deu um abraço apertado em Annabeth e eu fiz o mesmo com Juníper.

Conversamos um bom tempo naquele canto esquecido da Floresta.

Rimos, contamos as novidades uns aos outros e comentamos um pouco sobre a situação no Olimpo, etc.

- Bem – disse Juníper quando já era tarde da noite e as harpias nos comeriam vivos se nos vissem fora da cama – Eu estou morta de sono, vou embora. Você vem, Grover?

- Sim – ele disse bocejando – Adeus gente, até amanhã.

- Até, Grover – respondemos eu e Annabeth em uníssono.

Eles se embromaram mais na floresta, ao contrário de nós, que rumamos para sua orla.

- Você está com sono? – indaguei à Annabeth.

- Não, e você?

- Não – ficamos alguns minutos em silêncio – Eu tive uma idéia.

Ela me olhou desconfiada. Minhas idéias não eram das melhores, normalmente.

- O que, Cabeça de Alga?

- Bem, eu estou com saudades do mar. Por que não vamos lá um pouco?

Ela sorriu.

- Vou buscar um maiô – com isso, ela partiu como uma doida em direção ao Chalé de Atena.

Peguei uma toalha em meu quarto e algumas latas de Coca-Cola, a melhor coisa que eu tinha para oferecer.

Fui até a praia do Acampamento. O mar me deixava calmo, uma sensação morna e aconchegante se instalava em meu coração. Nessas horas, eu tinha certeza que meu pai cuidava mais de mim do que eu imaginava.

Annabeth chegou algum tempo depois, vestindo um maiô azul e um belo sorriso.

Estendi a toalha na areia e ficamos um tempo lá, falando sobre tudo e nada.

Ela encostou-se no meu ombro, observando o horizonte a frente.

- Eu te amo, Cabeça de Alga.

- Eu também, Espertinha.

Então nos beijamos a beira mar.

Pulei na água e a puxei junto, ignorando seus protestos.

Ficamos lá até muito tarde e quando voltamos para os chalés, eu tinha mais certeza de que amava Annabeth acima de tudo. 

 


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Notas finais do capítulo

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