Efeito Dominó escrita por Kriss Chan Dattebayo


Capítulo 2
Capítulo 2: Efeito


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que comentaram! Espero que gostem deste capítulo. Boa leitura!



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Meus dedos tamborilavam sobre a extensão de minhas coxas por cima do tecido jeans. Nem ao menos o som que escapavam pelos fones podiam me fazer relaxar. Desde aquele dia eu percebi que as pessoas começaram a me encaravam com olhares diferentes do habitual. Eu podia perceber, tão claro quanto a água, que elas cochichavam pelos corredores sobre mim e sobre a magnífica virada de Sasuke Uchiha.

Agora eu, simplesmente, me odiava. Odiava-me por ter sentido remorso quando não era necessário. Odiava-me por não ter simplesmente ficado calada. Agora eu era vista por vários estudantes de vários cursos desta enorme faculdade como uma aproveitadora. Encarei a porta entreaberta a frente de onde eu estava. Foi então que o vi novamente. Os cabelos negros levemente assanhados. Os olhos negros encarando as páginas de um livro cujo título permanecia desconhecido por mim. Ao seu lado, uma garota de cabelos negros e olhos perolados conversava consigo. Dele, a pobre garota apenas recebia resmungos, mas esta parecia não se importar.

Fora então que nossos olhares se cruzaram. Vi-o sorrir desdenhoso e voltar sua atenção a morena, cessando suas passadas ainda a minha frente. Ele ergueu a mão e tocou de leve uma mecha do cabelo negro que escapava pela testa da menina. Ela sorriu agradecendo e continuara falando sobre algo que eu não pude ouvir direito.

― Sakura! ― exclamou um velho amigo meu tocando de leve meu ombro e assustando-me de início. Ele sorriu deixando que seus dentes exageradamente alinhados ficassem expostos. Os cabelos loiros presos por um boné verde e seus olhos tão azuis quanto o céu pela manhã sem as nuvens. Naruto Uzumaki era dois anos mais velho que eu e cursava o terceiro semestre do curso de Relações Internacionais. ― Como vai a minha caloura preferida?

― Bem melhor que você, com toda a certeza. ― resmunguei virando-me de frente para ele e, de canto, observei o Uchiha, desta vez, apenas nos encarando. Perguntei-me mentalmente o porquê de seu olhar parecer tão irritadiço, mas a ideia apenas ficou em segundo plano. Concentrei-me no loiro a minha frente, agora adquirindo toda a certeza de que eu estava ficando maluca. ― Mas conte-me novidades, Naruto... Preciso urgentemente de um entretenimento.

Naruto era, de fato, meu melhor amigo homem, se duvidar, talvez ele acabasse sendo o único. O conheci durante o ensino na escola primária. Nossos pais eram conhecidos e meio que nos tornamos amigos por conveniência. Lembro-me como se fosse hoje que ele, dois anos mais velho, vivia metendo-me em confusões. Mas mesmo que a nossa infância e adolescência tivessem sido regradas de infortúnios de um para o outro, ele sempre fora aquela figura de irmão mais velho que eu não tive a oportunidade de ter.

― Não caí no truque de suas garras, agora elas estão indo em direção à outro... ― ouvi o Uchiha ao meu lado resmungar. Suas mãos estavam presas dentro dos bolsos da calça jeans que usava. Os antebraços parcialmente vistos pelo suéter vermelho cujas mangas permaneciam dobradas a altura do cotovelo deixava claro que ele era um adepto regular da academia. Fechei meus olhos esforçando-me ao máximo para não cair em tal provocação. ― Mas também... Pelo preço estar tão alto, provavelmente é por ser bastante procurada... Afinal vivemos em um país capitalista, no qual a lei da oferta e demanda...

Sua frase não chegara a ser completamente declamada e, quando abri os olhos entendi o porquê disto. Sasuke estava cambaleante para trás. As costas levemente curvadas para frente como se assim pudesse manter o pouco equilíbrio que ainda teimava em deixa-lo em pé. As costas da mão esquerda limpando o único resquício de sangue que escapava por seus lábios. Seus olhos negros estavam escuros de raiva e ódio e quando segui a direção na qual eles observavam, deparei-me com o autor do soco.

Naruto estava com as mãos cerradas em punho. Seus olhos azuis brilhavam de raiva e ali, novamente, estava o irmão mais velho que sempre me protegia dos rapazes que teimavam em atormentar meu juízo na adolescência. Eu estava atônita quanto aquilo que estava acontecendo, tanto que minha boca fora entreaberta milhares de vezes, mas em nenhuma delas as palavras conseguiam escapar por meus lábios, permanecendo então seladas em minha garganta. Eu tinha plena certeza de ter aberto a boca umas duas ou três vezes em vão naquela tentativa falha.

― Você deveria ter vergonha do que acabou de falar. ― disse Naruto. A raiva tão visível quanto o suor que escorria de sua testa. A multidão começava a se formar a nosso redor no aguarde por uma provável briga. ― Deveria pedir desculpas por ser tão idiota a ponto de dizer essas coisas.

― Naruto... ― sussurrei praticamente implorando que ele parasse. Eu realmente gostava de Naruto e por isso não queria que ele se metesse em uma confusão. Ele era bolsista e, algo desta proporção podia facilmente encerrar seu vínculo com a faculdade e, consequentemente, seu sonho de trabalhar em embaixadas estrangeiras. ― Por favor...

― Isso mesmo, ouça a meretriz... ― sussurrou o Uchiha fazendo com que meus olhos arregalassem minimamente. Meretriz poderia ser uma palavra mais sutil, mas ainda significava o mesmo que prostituta. Pessoas ao nosso redor cochichavam e, mais uma vez, vi-me como o centro de atenções, como um ratinho de laboratório. Provavelmente acabaria sendo a manchete principal do diário da fofoca que corria sempre pelos corredores da faculdade. ― Você estará bem melhor...

Desta vez os rostos de todos adquiriram uma expressão surpresa, assim como o de Sasuke. Minha mão ainda ardia e eu sabia que havia exagerado, mas eu não poderia simplesmente deixa-lo falar tais coisas comigo, poderia? Isso feria minha dignidade e apenas piorava minha vida acadêmica. As pessoas se afastavam, comentavam, e até mesmo riam de mim desde o ocorrido dias atrás, passei os dias vendo e sentindo isso claramente. Suspirei de forma lenta tentando ao máximo prender a vontade de desabar e chorar. Eu não era fraca, disso eu tinha certeza. Eu não chorava por grandes coisas, quem dirá por causa de pequenos boatos. Mas algo me dizia, bem no fundo do meu peito, que eu simplesmente choraria quando encontrasse o tão aconchegante travesseiro de meu quarto.

― Sasuke! ― exclamou a morena que estava com ele. Os olhos arregalados. A mão fina e pequena prontamente seguira rumo ao rosto do Uchiha. Os cabelos negros pareciam ganhar um brilho azulado quando tocados pela luz. Ela virou o rosto do moreno entre seus dedos e o encarou seriamente. ― Meu Deus, Sasuke... Por que foi fazer isso?

― Eu não vou deixar que fale assim comigo. ― falei. Deveria deixar claro de uma vez por todas que não queria aquele tipo de joguinho mesmo que para alcançar esse objetivo eu devesse me rebaixar e falar coisas que provavelmente não fossem necessárias. Eu não permitiria que ele brincasse com a minha vida social e gerasse histórias absurdas por todo o prédio. ― Eu não quero uma vida estragada por sua causa. Se não me quiser como inimiga, sugiro que permaneça com essas palavras presas dentro de sua própria boca. ― as frases escapavam como fortes ventanias sem que eu pudesse ou quisesse impedi-las. Os olhares de todos permaneciam vidrados em minha declaração e eu meio que me sentia mais mal ainda. Não queria aquilo... Não queria ser um centro de atenções, mas para isso eu teria que deixar claro a todos que tudo não passava de um mal-entendido. ― Não quero mentiras a meu respeito escapando por sua boca. Eu errei, confesso... Mas por tentar ser no mínimo, um pouco mais educada e falar com você depois, minha vida tornou-se um inferno.

Os cochichos recomeçaram e eu simplesmente dei as costas para o moreno, seguindo pelos corredores. Apressei meus passos. Queria sair o mais rápido possível daquela multidão. Queria minha vida de volta. Queria que aquilo nunca tivesse acontecido e que eu ainda fosse uma simples caloura de Psicologia. Mas eu tinha que começar uma discussão. Eu tinha que começar uma confusão. Amaldiçoava-me por ter ido parar naquela biblioteca depois da aula. Eu deveria ter ido embora. Deveria ter deixado a vontade de ler aquele livro para depois, mas não... Eu tinha que aparecer na biblioteca. Eu tinha que vê-lo perguntar se a maldita cadeira estava vaga e eu, ao invés de responder um simples “sim” ou “não”, gritei aquilo.

Quando meus pés finalmente cederam ao cansaço eu cessei meus passos. A parede a minha frente, de cor gelo, serviu de apoio para meu corpo. Eu encostei minha testa à parede daquele corredor deserto que levava as alas de mecânica da faculdade. Eu queria gritar, berrar, mas não era a hora nem o lugar para tal ato. Contentei-me em fechar os olhos e rezar para que tudo não passasse de um pesadelo e que eu acordasse entre os fofos edredons. Mas ali, logo depois, percebi que era a única realidade. Uma realidade fria e cruel. Senti mãos tocarem minhas costas e não assustei-me ao ver o rosto preocupado de Naruto. Ele puxou-me para um abraço e eu depositei meu rosto entre os panos de seu moletom preferido, o mesmo moletom que eu o dera de presente de aniversário no ano anterior. Minha respiração tornava-se cada vez mais descompassada e eu sabia que em breve, desmoronaria.

― Desculpe ter te envolvido nisso... ― falei referindo-me ao soco que ele dera em Sasuke. Como duas pessoas que mal se conheciam podiam se odiar tanto?, perguntei a mim mesma, mas não encontrei a resposta. Me contentei com isso e deixei, sem querer, um soluço escapar por minha garganta. ― E... Obrigada por me defender.

― Não precisa agradecer, Sakura. Quem dirá pedir desculpas... ― disse rapidamente enquanto seus dedos alisavam lentamente meus cabelos. Fechei os olhos novamente com tal carinho. ― Não se preocupe... Vai ficar tudo bem.

Tentei me agarrar a tais palavras, mas estava realmente difícil. Conformei-me a apenas acenar, confirmando sua afirmação. Queria acreditar nas palavras de Naruto e ter a certeza que tudo ficaria bem. Mas então por que no ínfimo de meu peito eu não conseguia aceita-las?

[...]

Uma semana depois

Encarei o corredor repleto de pessoas. Algumas me encaravam, outras apenas cochichavam e outras pouco se importavam com minha presença. De todos os tipos, eu preferia que eles seguissem o último. Eu realmente gostaria que eles voltassem a me tratar como apenas mais uma estudante. Remexi meus dedos refazendo as pontas dos cachos que escorriam por meus ombros. Precisava encontrar algo em que descontar tamanha frustação. Estava prestes a acelerar os passos e entrar na minha sala de aula, mas algo fez com que eu simplesmente travasse.

Ele me encarava. Eu não sabia dizer ao certo qual expressão seu rosto formava, mas tinha certa dúvida que ela beirasse um perigoso limite entre a curiosidade e a descrença. Porém, ainda não tinha certeza de qual destes estava em uma maior proporção. Respirei profundamente passando por ele e, antes de entrar na sala, sentindo o aroma de ciprestes que pertencia, provavelmente, a sua colônia. Fechei a porta atrás de mim atraindo a atenção de meus colegas. Sem dizer uma única palavra, andei por entre as carteiras e sentei-me na última cadeira da fileira do canto direito. Minha testa tocara os livros assim que sentei-me. Virei meu rosto de lado, deixando que meus olhos observassem um grupo de garotas.

Eu as conhecia de vista. Não eram exatamente calouras, mas sim repetentes da matéria. Uma delas tinha cabelos medianos em um tom vermelho vivo, assim como seus olhos. Os óculos finos escorregavam por seu nariz. Uma bata roxa e um simples short jeans esbranquiçado eram suas roupas e nos pés, um par de sapatilhas pretas descansava de forma singela. Ao seu lado, uma garota de longos cabelos loiros, presos a um rabo de cavalo sorria animada enquanto observava a tela do celular. Os olhos azul-turquesa brilhando em uma empolgação desconhecida por mim. Esta trajava um vestido roxo acompanhado de uma sandália rasteirinha. Por fim, a terceira garota parecia não muito interessada na sala em si. Mulata de olhos castanhos e cabelos ruivos, a garota terminava de lixar as unhas. Não as conhecia por nome e, depois de uma singela vistoria, tenho certeza que não me interessaria em sabe-los. De algum modo, elas pareciam o tipo de garota inversa a mim.

Ao contrário delas, eu era completamente despojada. Talvez por ter sido criada entre os homens de minha família desde que perdi minha mãe aos cinco anos de idade, essa “vaidade feminina” havia ficado em segundo plano, um passo atrás de meus estudos e minha futura carreira profissional.

― Bom dia... ― sussurrou o professor ao entrar na sala. Ele era indescritivelmente alto e bonito. Os cabelos esbranquiçados e levemente arrepiados faziam com que ele se tornasse mais pálido que o comum. O rosto, ainda jovial para um senhor de 40 anos, tinha apenas como defeito a cicatriz sobre seu olho esquerdo. ― Abram as apostilas na página 59. Hoje resolveremos alguns exercícios...

[...]

Quando livrei-me da última aula desta segunda-feira, eu finalmente suspirei aliviada. Havia sido um dia longo e cansativo. Longo até demais, se assim eu pudesse conceitua-lo. O sol de meio dia estampava-se no céu e fazia com que a sensação térmica simplesmente subisse mais um pouco. Caminhei pelo pátio da faculdade em busca do meu último trabalho do dia antes que finalmente pudesse pegar um dos três ônibus para voltar à minha casa. Encarei a porta de vidro a minha frente com os dizeres: Centro Acadêmico de Psicologia. Por pedido de Asuma Sarotobi, meu último professor daquele dia, eu deveria entregar as fichas de exercícios na sala de Madara, um dos dois coordenadores do curso.

Abri minimamente a porta encarando o silêncio logo em seguida. Meus pés trilharam o caminho da porta de vidro até a outra, desta vez de madeira, mais a frente e pensei sobre o porquê de Shizune, a secretária, não estar na recepção. Sem pressa, bati duas vezes sobre a superfície amarronzada e ouvi um “entre” calmo e sem ânimo vindo de dentro. Ao abri-la, eu primeiramente assustei-me. Para dizer a verdade, eu nunca havia chegado a ver Madara pessoalmente. Sempre que eu estava responsável por estas tarefas que eram incumbidas ao professor de realizar, apenas entregava as folhas para Shizune na entrada e ela entregaria a ele, mas como eu havia dito, Shizune não estava na recepção.

Agora, vendo-o de perto, eu percebi o óbvio. Para um velho, Madara era realmente conservado. Encarei a plaquinha dourada sobre a mesa e o ar faltou-me aos pulmões. Os dizeres Madara Uchiha gravados sobre a superfície fizeram com que meus pensamentos retornassem a certo moreno cuja sala era em frente a minha e cuja presença havia se tornado insuportável apenas de olhar. Ele ergueu o rosto que encarava os papéis sobre a mesa e me observou por longos segundos antes que eu finalmente voltasse ao mundo.

― Vim entregar os papéis do professor Asuma. ― murmurei ainda estupefata com a imagem do rosto do moreno a minha frente. Mesmo que, a primeira vista, o rosto de Madara fosse rude, ao nota-lo melhor, eu podia ver o quão bonito ele era. ― Iria entrega-los a Shizune, mas não tem ninguém na recepção.

― Claro, obrigado. ― disse o Uchiha trilhando seus olhos entre mim e os papéis em suas próprias mãos. Aparentemente, ele tinha muito trabalho antes do final de seu expediente. ― Pode deixa-los aqui na mesa.

Caminhei vagarosamente e coloquei os papéis sobre a mesa. Afastei-me e antes que eu pudesse despedir-me de Madara, a porta é aberta atrás de mim. Como eu estava prestes a sair acabo esbarrando contra o peitoral de alguém.

― Descul... ― a palavra iria sair por meus lábios, mas meus olhos rapidamente arregalam-se ao deparar-me com o dono de tal peitoral. Olhos e cabelos negros contrastando de forma inimaginável com uma pele alva. Ele sorriu minimamente e senti meus dedos sendo presos pelos seus. A sensação era, deveras, perturbante. Afastei-me dele o mais rápido que eu pude. ― Obrigada, professor Madara. Até mais. ― encarei novamente o Uchiha mais novo e este sorria de canto para mim. ― Com licença... ― o pedido escapara em um sussurro quase mudo e apenas vi-o sair da minha frente.

― Cuidado por onde anda, Haruno... ― resmungou o moreno logo que eu sai da sala.

Encarei-o confusa. Certo que ele poderia ter perguntado meu nome a qualquer pessoa da minha sala, mas eu não via motivos para que ele se lembrasse. Antes que ele fechasse a porta ainda pude ver um sorriso despontar em seus lábios finos. Ele estava brincando comigo, dei-me conta mentalmente. Ele estava apenas testando-me e vendo até onde era capaz de divertir-se comigo. E eu odiava isso. Eu poderia ter sido incrivelmente calma quando ele me envergonhara na semana passada, mas paciência tinha limite e a minha estava prestes a transbordar pelo gargalo da garrafa. Eu não deixaria barato, disso ele podia ter certeza.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Nos vemos no próximo! Beijos e abraços!