Instituição JGMB - Interativa escrita por AceMe


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Fichas no final do capítulo. Novamente, não é necessário, mas para não ficar muito por fora, sugiro que leia do 34º parágrafo do capítulo 17 de minha outra fic "Anti Sociedade", até o 60º. Não é tanta coisa, mas conta o que está ocorrendo no mundo no ano de 2020 até 2891 (Ano de começo da fic). Parece muito, mas é porque tem diálogo no meio e descrição.Enfim, boa leitura:



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Já devia ser a décima segunda vez desde o trajeto do aeroporto até o ponto de encontro que Harold Laudrup ajeitava a gravata. O avião atrasou e chegou mais tarde, sem ter tempo de passar no hotel. A bagagem foi perdida, a turbulência desarrumou-o todo e o frio de Nuuk quase o congelava vivo, apesar de seus casacos. E tudo tinha que estar perfeito. Seus poucos cabelos castanho claro nas laterais da cabeça tinham que ser acompanhados pelo chapéu para esconder a careca do topo, seus olhos verde azulados - sendo a única coisa que se caracterizava como bonito nele - deviam estar a mostra, as mãos grandes e desajeitadas normalmente ásperas deveriam estar hidratadas para o caso de um aperto de mão, os cantos da barba deveriam estar limpos. A única coisa que não conseguiu dar jeito foi no longo nariz. Depois de respirar fundo mais uma vez, na ausência de campainha, Harold finalmente resolve bater na porta.

Passaram-se exatos 1 minuto e 27 segundos – Sim, ele contou. – para atenderem a porta. Harold tentou ao máximo esconder seu nervosismo, afinal esse com certeza era o maior ponto de sua carreira e não queria causar má impressão a ilustre integrante desse encontro. O homem que abriu a porta tinha a pele um pouco mais escura que a de Harold, o cabelo preto estava completamente para baixo, como que uma tentativa bem sucedida de acabar com a rebeldia capilar. Os olhos castanhos escuro encararam Harold atentamente, até ele perceber que o homem se tratava de Klaus Jorgensen, o primeiro ministro da Groelândia. Não é o anfitrião do qual estava tão ansioso para conhecer, mas também era uma honra falar com alguém de tão alto nível.

—Bom dia, senhor Jorgensen. Ou boa tarde, ou boa noite. Não sei bem que horas são e a localização da Groelândia não ajuda muito. – Tentativa de fingir calma bem sucedida.

Harold estende a mão para que Klaus a aperte. O homem apenas desvia o olho para a mão por um segundo e volta ao seu alvo original.

—Senha, por favor. – Ele pede algo que não estava nos planos de Harold.

Ele pisca duas vezes antes de responder, seu disfarce estava se perdendo.

—Senha? Que senha? Não me reconhece? Sou eu, Harold Laudrup. Ganhei o prêmio Educador Inovador desse ano.

—Sim, eu sei quem é. Mas, quem garante que não seja alguém de máscara que descobriu onde estávamos, sequestrou o verdadeiro Laudrup e está se passando por ele para revelar nossos planos para outro Estado por um preço relativamente alto? – O jeito desconfiado que Klaus falava era tão sério e convincente que Harold imaginou se isso já foi feito antes. De qualquer forma, precisava rebuscar mais o vocabulário para interagir com os convidados. – Melhor não arriscar. Sendo ele ou não, deve saber quem se encontra neste acabado recinto.

—Mas ninguém comentou nada de senha comigo quando me chamou. – Suor começou a descer pela testa dele, apesar da temperatura negativa. Klaus notou isso.

—Tem razão. Então lhe darei um enigma, cuja resposta é a senha. Se for mesmo o melhor educador de todo o Reino da Dinamarca, saberá a solução. – Harold abre um botão de seu casaco e retira um bloquinho com caneta. Não podia se dar ao luxo de errar em momento algum. - A senha são os números 1, 2, 3, 4 e 5, mas não necessariamente nessa ordem. O primeiro número somado com o segundo número, obtém-se o terceiro número. O quarto número é o dobro do segundo. O quinto número é a soma do primeiro e do quarto.

Harold levanta os olhos do bloquinho, do qual não havia necessidade de pegar, e se questiona sobre a qualidade de governo do reino e de sua ansiedade por conhecer o primeiro ministro da Groelândia. Se fosse o de suas Ilhas Feroe, lhe daria um enigma bem menos bobo.

—A senha é 1-2-3-4-5. – Ele disse enquanto afastava a parte esquerda de seu casaco para pôr seus pertences de volta no bolso interno. Klaus piscou surpreso.

—É mesmo extremamente inteligente, desvendou o mistério muito rápido! – Harold revira os olhos enquanto Klaus abre completamente a porta. – Me acompanhe, senhor Laudrup.

Harold entra naquele casebre longe do resto de Nuuk com a aparência acabada. Por fora, parecia que a construção de dois andares estava prestes a desabar, mas por dentro, incrivelmente, parecia estar estável. No recinto em que entrou o que mais o chamara a atenção foi o lustre de velas no teto, algo tão antigo quanto aquela casinha deveria ser – e também a tanto tempo sem ser limpo quanto aquela casinha deveria ter. Poeira cobria visivelmente as cortinas e a mobília. Era uma decoração bem simples: um sofá de estofamento verde e uma velha cadeira de balanço, com uma mesinha com tapete no centro. Na frente deles, o que restou de uma lareira destruída, o que é uma pena, com o frio que fazia. Além disso, tinha uma cabeça de alce pendurada na parede, uma porta no canto direito e uma escada no esquerdo.

—Queira perdoar a bagunça, o lugar deveria ser o menos suspeito possível. Essa cabana abandonada parecia ser o lugar perfeito. – Disse Klaus enquanto fechava a porta.

—Concordo plenamente. Provavelmente faria o mesmo que o senhor.

—Bem. – Klaus esfrega as duas mãos e uma nuvem sai de sua boca por causa do frio. – Sem mais delongas, o debate é no andar de cima. Venha.

Os dois subiram as escadas, da qual cada passo que deram, fazia rangia impiedosamente, como se fosse desabar com o peso deles a qualquer momento. Depois do que pareciam séculos, chegaram ao andar de cima, onde se encontrava duas portas bem separadas. Klaus colocou a mão na maçaneta da porta da esquerda e a girou para abri-la.

O novo cômodo era tão pequeno quanto a sala. Uma cama de casal arrumada, porém empoeirada, ficava encostada na parede mais distante, bem abaixo de um quadro camponês. Além disso, um baú se encontrava na cabeceira da cama e uma mesa redonda com vários papéis e mapas espalhados e três cadeiras – uma para cada participante – localizava-se no centro da sala. Uma mulher olhava distraidamente a paisagem pela janela, com a mão afastando a cortina. Harold tinha uma leve suspeita de quem ela era, nunca a havia visto por trás em suas pinturas, na televisão, ou qualquer outro lugar, mas a silhueta lhe era familiar.

—É o senhor Laudrup quem chegou, Vossa Majestade. – A mulher calmamente virou o rosto para eles.

Sim, era ela mesma. Rainha Margareth VI, ou Margarida VI, a dama mais importante de todo o Reino da Dinamarca. Claro, por ser uma monarquia parlamentarista, ela não deveria ter muito poder, mas os ministros deram-lhe permissão de participar das votações e dar sugestões. Ela não é muito mais velha que Harold, enquanto tenho 37 anos, ela tem 40, mas na opinião dele, tudo o que ela propôs desde que assumiu o trono foi sábio e ele a admira muito. E, como sempre, sua aparência estava formidável. Os cabelos loiros muito claros estavam amarrados em um coque, onde dava-se para ver alguns fios brancos. Seus olhos de cor castanho claro estavam escondidos por trás de seus óculos, por onde conseguia-se ver tudo refletido. Usava maquiagem, brincos, um colar e uma pulseira, mas nada nem um pouco extravagante, muito pelo contrário. O vestido real é comprido e vermelho claro, com alguns detalhes pequenos em branco, as cores da bandeira. Era impressionante como ela estava pálida e com olheiras.

—Rainha, já falei-te que olhar pela janela é perigoso. Alguém pode vê-la.

Margarida solta a cortina e se aproxima.

—Jorgensen, nós estamos a cerca de dez a quinze quilômetros da estrada principal. Tenho certeza de que somente nós estamos atormentados o suficiente para vir até aqui com essa neve toda. – Ela responde com ironia sutil, da qual Klaus não poderia responder. – Laudrup, é um prazer conhece-lo.

—O prazer é todo meu, senhora! É uma grande honra conhece-la. – O disfarce de calma de Harold se desfaz e inconscientemente levanta a mão para que a Rainha aperte. Depois de ter feito isso, torce para que não seja considerado um ato insolente.

Para a sorte dele, a Rainha olha de bom grado e dá um pequeno sorriso quando retribui, apertando-lhe a mão. Porém, para o azar dele, ela estava de luvas, não adiantou nada tentar tirar a aspereza das mãos.

—Bem, agora que todos estão presentes, acho melhor sentarmos. – Klaus sugere enquanto senta. Os outros dois obedecem a sugestão e puxam uma cadeira.

—Deve saber o porque que o chamamos aqui, senhor Laudrup. – Antes que a Rainha continuasse Harold a interrompeu sem querer.

—Na verdade, não sei, majestade. Apenas fui aconselhado a pegar o primeiro voo para Nuuk e encontrar os dois neste endereço.

Margareth desviou o olhar entrecortado para Klaus.

—Não contou para ele pelo telefone?

—Claro que não, Rainha. Ele podia ser outra pessoa fingindo ser o Laudrup, ou a ligação poderia estar sendo grampeada. Com todo o respeito, acho que deveria me agradecer. Se contasse na hora, todo o nosso esforço para deixar tudo em segredo seria em vão.

Klaus parecia realmente orgulhoso de si mesmo, mas a Rainha não pensava igual. Porém, achou mais prático esquecer esse lado da personalidade dele e contar de uma vez para Harold.

—Muito bem. O senhor deve estar ciente de que em pleno ano 2891, os governos da maioria dos países estão em guerra, tanto civil, tanto exterior, com algumas exceções.

—Como a gente. – Harold a interrompeu, apesar de Klaus sinalizar para que não fizesse isso. Margarida não se importou.

—Sim, como a gente. Em pleno século 29 e ainda não perceberam que se usar o que planejam usar, o planeta vai se desmantelar. – A Rainha olhou para o lado e percebeu que Harold estava confuso sobre essa última parte. – Perdoe-me, Laudrup, mas essa última parte é muito mais secreta e o senhor não ter permissão para saber, apesar de tudo. Para recapitular a situação, a China e o Japão sumiram do mapa, ninguém mais entra ou sai do Oriente Médio, os EUA e a Rússia começaram a quarta guerra mundial, e o povo do planeta Terra está a ponto de dar golpes de Estado.

—A questão é que, todos nós que fazemos parte do governo do Reino da Dinamarca, concordamos que a melhor solução para acalmar a população mundial é fazer o contrário da guerra. Dar a eles o que querem: uma resposta diplomática. – Klaus deu continuação.

—A temática do prêmio de inovação desse ano foi exatamente essa por causa disso. Queríamos encontrar a melhor ideia para utilizar. E a sua, Harold Laudrup, foi a vencedora. Todos nós concordamos que o projeto “Armas de Paz” foi o mais criativo entre todos os enviados.

Harold havia se surpreendido quando recebeu a notícia de que ganhou o prêmio, pois havia se inspirado em um comercial de desodorante. Mas, se até mesmo a Rainha gostou, então era realmente algo muito bom.

—Porém, ao aplicarmos na prática, não funcionou como esperávamos. Faltou muito pouco para a Rússia seguir, mas não foi dessa vez.

—Tivemos que criar o plano B, dessa vez criado em uma conversa entre Vossa Majestade e eu. – Klaus pegou um dos papéis e mostrou para Harold. Ele pegou seus óculos de leitura do lado direito do casaco para entender o que estava escrito. – Vamos fazer um centro de pesquisa, uma instituição aqui na Groelândia, onde os participantes poderão pesquisar e trabalhar em uma solução. E, obviamente, escolheremos perfis específicos para entrar.

—É nessa parte que o senhor entra, Laudrup. – Harold para de ler o papel e vira-se para Margarida. – Como foi o que chegou mais perto de encontrar a solução perfeita, gostaríamos que fosse o reitor.

Harold deixa o papel cair sobre a mesa e esbugalha os olhos de surpresa. Ele não podia acreditar. Pelo jeito que falavam da magnitude do projeto, ser o reitor seria realmente o ápice de sua carreira.

—Estão falando sério? Me querem como diretor? – Quase que ele engasgava enquanto falava.

—Nunca brincaríamos com o destino. Se pedimos para que viesse até aqui para te fazer esse pedido, é porque temos certeza do que estamos falando.

—E, então, senhor Laudrup? Aceita o pedido ou não?

—Mas é claro que aceito, Majestade! É uma oportunidade única! – Harold guarda os óculos de leitura no casaco e questiona ainda sorrindo. – Quem serão esses tais alunos especiais?

—Nós descobrimos nos arquivos que a maioria das pessoas importantes do passado continuou com as ideias de seus ancestrais. Por exemplo, um dos descendentes diretos de Darwin trabalha como biólogo marinho. Eles realizaram grandes feitos no passado, e acreditamos que o legado passado para suas famílias é o essencial para o projeto. Deixaram para eles a capacidade de ser como eles. E serão perfeitos para as pesquisas.

—Sim. Darwin, Cleópatra, Confúcio – Se seus descendentes ainda estiverem vivos. -, Van Gogh, Vinícius de Moraes... Ou até mesmo aqueles que não são considerados tão diplomáticos, como Napoleão.

—Até ele, Jorgensen?

—Há aqueles que o consideram gênio apesar de tudo. Se seus descendentes estiverem em condições mentais boas, não vejo porque não chama-los.

—Então só falta o nome da Instituição. Alguma ideia? – A Rainha perguntou.

Depois de pensar um pouco, Harold sugere:

—Que tal Instituição Jovens Gênios de Mentes Brilhantes?

Klaus o olhou meio estranho.

—O senhor não acha que é comprido e esquisito demais?

—Eu gostei. Faz sentido se chamar assim. – Margareth deu sua opinião.

—É; eu também gostei. Não é uma má ideia. Ouvi dizer que nomes compridos e esquisitos estão na moda. – Klaus desfaz o que disse antes.

—Todos de acordo?

Os três fazem que sim.

—Então que comece a busca!


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Notas finais do capítulo

Sem mais fichas.