Esnobando o Amor escrita por Clara Gomes


Capítulo 12
Capítulo 9 – Cabelo Verde.


Notas iniciais do capítulo

Oi de novo!
Como dito, Capítulo 9 postado hoje, com mais um plano desses pestinhas sendo colocado em ação!
Esse ficou bem grande mesmo, mas espero que gostem haha e temos outro personagem novo, que eu não decidi ainda qual vai ser o ator, mas vou tentar tomar essa decisão o mais rápido possível!
Boa leitura!



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“Já é quinta-feira!” – pensei enquanto me olhava no espelho do banheiro, pensativa. Só faltam dois dias para o casamento do meu pai, e as coisas parecem que não estão indo bem. Eu fiquei sabendo que minha mãe foi a um encontro com o cara do restaurante, e depois ouvi a discussão dela com meu pai quando ela chegou. Sem contar que a ideia de eu tê-los deixado sozinhos no cinema não deu muito certo, porque o clima quando nós saímos do shopping não era dos melhores.

Respirei fundo, peguei minhas coisas e desci para o almoço. Já tinha desistido de tomar café da manhã, então enrolei no quarto até dar a hora do almoço. Logo que cheguei na sala, pude sentir o cheiro de comida vindo da cozinha, e sorri satisfeita, sentindo minha barriga roncar de fome. Fui até a copa, que surpreendentemente se encontrava vazia, e me sentei numa cadeira, esperando alguém aparecer. Decidi então já fazer contato com Caio, informando-o sobre os planos do dia.

Para: Caio Cúmplice

Hey, só avisando, hoje vamos nos reunir na casa da tia Luísa, e depois nós vamos para o salão, então já invente uma desculpa.

Bloqueei o celular e o mantive em minhas mãos, esperando uma resposta dele. Demorou alguns minutos, mas logo o senti vibrando.

De: Caio Cúmplice

Okay, vou falar que vou fazer trabalho na casa daquele meu “amigo” de novo... Que horas devo estar lá?

Para: Caio Cúmplice

A Fátima está marcada às 16:00, segundo minha tia checou. Então esteja lá no máximo estourando 15:00, por favor!

De: Caio Cúmplice

Estarei lá! ;) Estou chegando para o almoço, até daqui a pouco.

Coloquei o celular de lado com uma sensação de que pelo menos um dever havia sido cumprido, enquanto Vera adentrava o cômodo com o almoço.

– Não sabia que estava aqui! – falou colocando uma travessa na mesa, e me inclinei para ver o que era, sentindo um cheiro inconfundível.

– Lasanha! – exclamei animada – E eu estou esperando todo mundo para o almoço! Onde estão todos? – perguntei a olhando curiosa.

– Sua mãe ainda não saiu do quarto, seu pai disse que ia almoçar fora, e o Gerson e o Caio devem estar chegando por aí... – explicou indo até a cozinha e voltando com os pratos e talheres.

Avancei e peguei um prato, mas quando ia me servir da lasanha, Vera o tirou de minhas mãos.

– Espere todos chegarem antes de se servir. – ordenou colocando meu prato em outro lugar na mesa.

Bufei e me joguei na cadeira de novo, apoiando os cotovelos na mesa e encaixando meu queixo em minhas mãos, impaciente.

– Oi Elisa! – ouvi alguém dizer e ergui a cabeça, vendo Caio entrar no local e se sentar ao meu lado, seguido de Gerson, que trazia uma panela, e Vera atrás com mais algumas coisas.

– Oi. – respondi encarando-os colocando as coisas sobre a mesa.

– Sua mãe ainda não desceu Elisa? – perguntou Vera, me olhando confusa.

– Não, acho que você deveria ir chama-la. – afirmei fitando-a.

– Não acha melhor ir você não? – questionou insegura, olhando para cima.

– Vai você mesmo, vocês são amigas e ela não vai se incomodar. – indaguei com indiferença, dando de ombros.

– Então tá, eu vou lá vai... – falou aparentemente amedrontada, saindo da copa.

– E nós vamos ter que esperar? – perguntei indignada, encarando os dois homens.

– Sim Elisa, pelo menos até Vera voltar com notícias de sua mãe. – respondeu Gerson calmamente.

Revirei os olhos e me joguei contra o encosto da cadeira. “É hoje que eu não almoço!” – pensei enquanto bufava.

–-

Depois de demorarmos uma cara esperando minha mãe descer para almoçar, finalmente pude pedir para Gerson me trazer na casa de minha tia. Caio veio conosco, mas pediu para seu pai deixa-lo em frente ao prédio do “amigo dele”, a duas quadras do que eu me encontrava.

Me sentei no sofá de minha tia suspirando, afinal precisava atualizá-la.

– E então, como estão as coisas? – perguntou se sentando ao meu lado.

– Não muito bem tia... Minha mãe e meu pai discutiram ontem à noite. – respondi chateada, fazendo bico.

– Mas por quê? – perguntou Mariana, se sentando do meu outro lado.

– Foi o seguinte – comecei me jogando para trás, fazendo minhas costas se chocarem com o sofá – Ontem, como já estava nos planos, nós fomos ao shopping e eu insisti para irmos no cinema. Quando estava no meio do filme, eu saí dizendo que ia ao banheiro, mas na verdade só queria deixar meus pais sozinhos mesmo... E acho que aconteceu alguma coisa não muito boa lá dentro, porque quando eles saíram pintou um clima estranho entre eles...

– Que péssimo... – falou minha prima, me interrompendo.

– Pois é, mas não foi só isso. Depois que nós chegamos, minha mãe se arrumou e saiu para um encontro com um tal de Max...

– O dono do Cultura Gourmet?! – questionou minha tia, numa mistura de surpresa e incredulidade.

– Pois é, o dono do restaurante. – afirmei assentindo.

– Ai. Meu. Deus. Quando será que ela pretendia me contar isso?! – disse colocando as mãos na boca, demonstrando surpresa.

– Não sei, mas se ela te ligar porque quer falar contigo, a leve para longe daqui e finja muito bem que não sabia de nada. – indaguei olhando-a seriamente – Enfim, depois ela chegou super tarde em casa, e meu pai estava a esperando. Foi quando eles tiveram uma discussão feia sobre isso... – finalizei com um suspiro.

– Parece que as coisas saíram fora do nosso controle, afinal. – falou tia Luísa, com um olhar decepcionado.

Foi quando o som do interfone invadiu a sala, fazendo todas nós olharmos para a porta.

– Deve ser o Caio, tia Luísa... – expliquei olhando para ela, que se levantou.

– Vou manda-lo subir. – afirmou indo até o interfone na cozinha, e deixando Mariana e eu sozinhas.

– E agora prima, o que vamos fazer? – perguntou a garota me olhando.

– Vamos seguir com o plano, e deixar para ver se as coisas se encaixam depois... – respondi pensando nas probabilidades de as coisas darem certo no final. Eram poucas, mas a esperança é a última que morre.

– Ele está subindo. – indagou minha tia se aproximando de nós novamente.

– Okay, então vamos espera-lo... – fui interrompida pela campainha – Nossa, que menino rápido! – ri olhando para a porta.

Minha prima e minha tia riram também, enquanto a mais velha foi abrir a porta.

– Olá Caio, entre! – falou sorrindo, e deu espaço para o mesmo entrar.

– Oi gente. – disse meio tímido. Ele ainda não se soltara completamente, e também aparentemente se sentia apreensivo na casa da minha tia. Mas isso não vem ao caso.

– Então gente, chega de enrolação e vamos ao que interessa. – indaguei já impaciente – Resumindo para você Caio, ontem depois do plano do cinema meus pais começaram a agir estranho um com o outro, e depois minha mãe saiu com o dono daquele restaurante lá e eles discutiram feio quando ela chegou. – expliquei olhando-o, e depois desviei o olhar para as garotas – Agora vamos seguir com os planos, e vemos no que vai dar.

– Okay né... – concordou Mariana, dando de ombros.

– Temos só mais dois dias antes do casamento, então vamos ter que agir logo... Eu ainda estou enrolando com o negócio do vestido, e depois dessa briga dos dois, eu não sei como esse assunto vai ficar, mas isso é de menos, hoje nosso plano é outro... Tia Luísa, você tem certeza que a Fátima está marcada para as 16:00?

– Sim querida, o Otávio me garantiu que sim. – afirmou com certeza.

– Okay, e ele está disposto a nos ajudar assim? E a conduta profissional dele, ou sei lá o que? – questionei meio incrédula.

– Ele é meu melhor amigo e da sua mãe desde sempre, e apesar de nunca ter gostado muito do Rodrigo, ele gosta menos ainda da Fátima e só quer nos ajudar. E sobre isso, ele vai alegar que foi um acidente de trabalho e só. – respondeu Luísa, aparentemente certa do que dizia.

– Okay então. – indaguei olhando no relógio do celular – Já são 15:00, acho melhor irmos logo para aquele salão. – afirmei me levantando do sofá.

– Tudo bem então né. – concordou minha prima, imitando meu gesto.

– Tá, vamos, vou nos levar até lá. – disse minha tia pegando sua bolsa e a chave do carro.

Caio apenas concordou, enquanto nos seguia para o estacionamento em silêncio.

–-

– Luísaaaa! – berrou um homem não muito alto, de cabelos castanhos claramente tingidos e raspado de um lado, deixando só uma franja enorme jogada para o lado. Ele não era o homem mais lindo do mundo, mas também não era feio. Tinha os olhos castanhos claros, e um rosto rechonchudo, sem contar que não era muito malhado, na verdade estava mais puxado para o gordinho do que para o bombado.

– Tavinhoooo! – exclamou minha tia correndo até ele, e os dois se abraçaram fortemente – Que saudades amigo! – falou ainda agarrada nele.

– Ai pois é gata, estivemos longe tanto tempo, e a senhorita só vem me procurar quando precisa também né danada! – disse em uma falsa repreensão, que fez minha tia se separar dele e rir.

– Ai não precisa falar assim de mim também né Otávio. – indagou ainda rindo, dando um tapa em seu braço.

– Sempre delicada né linda. – ironizou rindo, e dirigiu seu olhar para Mariana, Caio e eu, que observávamos a cena estáticos – E aqueles são...?

– Eu sou a Elisa, sobrinha da Luísa, e essa é Mariana, que é a filha dela, e esse é o Caio, o filho da minha empregada com o motorista. Agora pode nos ajudar ou não? – respondi gesticulando para cada um, e terminando a frase com a falta de paciência já clara.

– Direta, gostei de você. – sorriu se aproximando – Você é a filha da Cristina?! – exclamou me olhando melhor.

– Sim... – respondi meio confusa.

– Meu Deus, que arraso! Como você está grande menina, vem cá! – me agarrou num “abraço de urso”, e eu tentei me livrar de seus braços, mas ele era mil vezes mais forte que eu – Que saudades da sua mãe super diva, onde aquela vadia ainda? E a propósito, você é a cara dela, não tem quase nada daquele brutamontes do seu pai. – disse todo animado, mas a última parte soou raivosa.

– Primeiramente, não chame minha mãe de vadia. – retruquei finalmente conseguindo me soltar – Segundo, ela anda trabalhando muito em Los Angeles, terceiro, meu pai não é um brutamontes. – finalizei alisando minha roupa.

– Mas que falta de humor hein gata... – afirmou indignado, e antes que eu lhe desse uma boa resposta, mudou de alvo – E você é filha da diva mais nova da Luísa?! Meu Deus do céu, eu estou ficando velho! – continuou agora agarrando Mariana – E você não se parece nada com sua mãe viu, é a cara daquele cretino...

– Otávio, não lembre dele. – minha tia cortou-o, parecendo se entristecer.

– Ai desculpa minha flor, escapuliu. – disse com um tom de arrependimento, se virando para Luísa.

– Tá, agora será que dá para focarmos no que viemos fazer aqui? – questionei perdendo totalmente a paciência.

– Okay né, vamos ao que interessa... Que cor vocês querem que o cabelo dela fique? – perguntou o homem agora nos olhando seriamente. Ele foi o amigo de infância da minha mãe e da minha tia, aquele típico melhor amigo gay que se assumiu cedo e desde então as ajuda com tudo.

– Alguém sabe a cor que ela mais detesta? – perguntei fitando-os pensativa.

– Minha filha, nesse salão nós ficamos sabendo de tudo da vida do povo. – respondeu voltando a ficar descontraído – Ela me disse que a organizadora do casamento e a empregada de vocês tinham escolhido uma decoração verde, e que ela fez um barraco porque a cor que ela mais odeia no mundo é verde. – continuou com um tom meio debochado. É, acho que estou começando a gostar dele, ele parece bem útil.

– Ótimo! Então verde vai ser a cor que o cabelo loiro lindo dela vai “acidentalmente ficar”... Olha só que maravilha, verde e amarelo, as cores da bandeira. – falei sarcasticamente e ri satisfeita com a imaginação.

Otávio me acompanhou no riso, enquanto os outros apenas riram fraco. Acho que no final das contas, eu e esse homem temos muito em comum.

– Okay, verde então... – disse indo até um armário cheio de tintas de cabelo, e pegando um tubinho verde – Aqui está. – nos mostrou sorrindo maleficamente.

Me aproximei e encarei o a embalagem sorrindo satisfeita.

– É isso ae, agora é contigo! – indaguei subindo meu olhar para seu rosto – Promete que não vai nos decepcionar? – perguntei erguendo uma sobrancelha, ainda meio insegura, afinal não gosto de depender muito dos outros.

– Claro que não vou decepcionar vocês, juro de dedinho. – afirmou se abaixando e estendendo o dedinho para mim.

Não disse nada, apenas enganchei meu dedinho no seu e o olhei. Ele sorriu e afastou seu dedo, se erguendo novamente.

– Vocês não vão querer assistir a cena? – questionou se voltando para o resto do pessoal.

– Ah, eu adoraria! – foi a vez de Mariana finalmente se pronunciar, sorrindo.

– Mas não é perigoso? – perguntou Caio timidamente, aparentemente intimidado pelo melhor amigo de minha tia.

– Perigoso por que moleque? – rebati com desprezo.

– Ela pode nos ver aqui né. – retrucou como se fosse óbvio.

– Vocês podem se esconder na sala de depilação. – afirmou o homem, e olhou no relógio – E acho melhor vocês irem logo, porque ela estará aqui em cinco minutos.

– Okay, vamos então. – concordou minha tia, se aproximando de seu melhor amigo – Ai Otávio, obrigada mais uma vez, você nos salvou de novo. – agradeceu e o abraçou sorrindo.

– Nem precisa agradecer, pra me livrar daquela loira oxigenada que só me dá trabalho com aquele cabelo eu faço qualquer coisa. – riu e a abraçou de volta – E por você e sua irmã linda, faço mais ainda. – continuou ainda abraçado, em um tom afetuoso.

Por um momento senti inveja de ter um amigo assim, afinal todos os meus amigos em LA são um bando de interesseiros e falsos, que só devem estar lembrando de mim para falar mal.

Os dois se soltaram e ele nos levou até a sala de depilação, que não era muito grande, mas era capaz de nos acomodar, e dava uma visão perfeita do salão. Nos ajeitamos lá e ficamos esperando-a chegar, a ansiedade pairando no ar.

–-

Cinco minutos depois de entrarmos na salinha, Fátima chegou. E o Otávio, todo falso, a tratou como uma deusa, sem dar nenhum sinal de que iria aprontar. Tive que me segurar para não rir com vários comentários que ele fazia, e também para não voar na cara dela com algumas coisas que ela falava. Basicamente tudo estava indo bem, apesar de nada ter sido colocado em prática ainda.

De repente o vi indo até o armário e pegando a tinta verde, misturando tudo com alguma máscara de cabelo ou condicionador, e voltando a se aproximar dela. Respirei fundo, sentindo minhas mãos suarem. “É agora!” – pensei encarando a cena com aflição.

Pouco tempo depois, já pudemos ver o resultado, mas ela ainda não tinha notado. Haviam várias mechas verdes no cabelo dela, o que me fez sorrir satisfeita, imaginando o escândalo que ela faria quando percebesse o estrago. E logo depois que Otávio acabou de secar os cabelos, já foi possível ouvir o grito.

– O QUE É ISSO?! – berrou se olhando no espelho, e segurando seus cabelos com as mãos – O que você fez seu incompetente?! – continuou ainda num tom alto, examinando suas mechas verdes.

– Ai minha santa das loiras, o que aconteceu? – perguntou Otávio se fingindo de surpreso. Esse poderia levar o Oscar, porque se eu não soubesse que ele estava só atuando, até eu mesma teria acreditado em sua ceninha – Ai gata desculpa, acho que errei na tinta...

– Acha? Você ACHA que errou na tinta? – questionou rindo ironicamente – Se você não percebeu, eu NUNCA pedi que meu cabelo ficasse verde! Eu queria fazer luzes, e olha o que você me apronta! – continuou virando-se para ele – Como você pretende que eu me case com meu cabelo VERDE? – finalizou segurando firme nos cabelos, como se os mostrasse para ele.

– Ah, é só colocar um véu que dá para disfarçar... – sugeriu o cabeleireiro, com uma pontada de deboche, que teria o entregado se a Fátima fosse mais esperta.

– Véu?! Olha a minha cara de quem vai usar véu! – gritou apontando para seu rosto – Você vai dar um jeito nisso, ou senão eu ligo para meu marido agora e você vai se arrepender de ter nascido, bicha! – falou pegando o celular na bolsa, e o mostrando para ele.

– Pera aí, você me chamou do que? – perguntou Otávio, agora realmente ofendido – Eu cometi um acidente e pintei meu cabelo da cor errada, mas agora você me chamou de... “bicha”. – pronunciou a palavra com nojo – Quem será que está mais ferrado hein queridinha? – questionou fitando-a com uma expressão nem um pouco amigável.

– Olha quer saber, eu vou sair daqui, eu arrumo um cabeleireiro melhor, que pelo menos não pinte meu cabelo de verde ao invés de fazer algumas luzes. – afirmou pegando sua bolsa e se levantando – Espero que nunca mais arrume nenhuma cliente! – continuou num tom ameaçador, aproximando seu rosto do dele e saindo do local como um furacão.

– Meu. Deus. – falei saindo de dentro da salinha, com a mão na boca – Deu certo! – exclamei dando pulinhos de alegria – Ela deve estar querendo morrer agora!

Parei de falar e estudei Otávio com os olhos. Ele estava parado no mesmo lugar, com um semblante triste e irritado ao mesmo tempo.

– Ai Tavinho... – reclamou minha tia, e foi até o bebedouro e lhe trouxe um copo de água – Não fica assim meu amor, ela é uma vaca mesmo, não tem a mínima classe... Não deixe que as palavras daquela “caipiranha” te ofendam... – falou alisando as costas dele e sorrindo amigavelmente.

– Ai Lu, só você mesmo para me fazer rir. – indagou o homem rindo, e depois bebeu a água – É que você sabe né, esse tipo de palavra me lembra daquela época horrenda da minha vida...

– Como assim? – perguntei curiosa, enquanto os outros apenas observavam.

– É que quando tínhamos a idade de vocês mais ou menos, foi quando o Otávio foi realmente descobrindo a sexualidade dele, mas as pessoas, como sempre cheias de preconceito, praticavam bullying com ele... – explicou minha tia tristemente, e com uma pitada de raiva.

– Pois é, pode parecer estúpido, mas aquela época ainda me assombra, e sempre que ouço alguém me chamando desse tipo de coisa, aquelas lembranças voltam com toda força. – disse com um ar magoado e pra baixo, diferente daquele homem de alguns minutos atrás, todo sorridente e brincalhão.

– Ai que horror, acho esse negócio de preconceito por causa de opção sexual ridículo! – indaguei repreensivamente. E eu realmente acho isso muito idiota, para que encanar com uma pessoa só porque ela gosta de alguém do mesmo sexo? Eu hein!

– Também acho isso péssimo! – falou Mariana finalmente, depois de ficar em silêncio tanto tempo.

– Acho que se cada um cuidasse da sua vida, as coisas seriam bem mais fáceis! – exclamei indignada.

– Pois é, e não é só o preconceito por causa da opção sexual que é ridículo, e sim todo tipo, por causa da raça, da classe social, da aparência, das preferências, religião... Se todos nos aceitássemos como somos, metade dos problemas do mundo estariam resolvidos. – desabafou Caio, o que fez todos nós olharmos para ele surpreso. Eu não imaginava que ele diria aquilo! – Sei lá... – continuou timidamente, corando ao ver que nós o encarávamos.

– Ai arrasou garoto, está pra lá de certo... – concordou Otávio, aparentando estar melhor – Agora chega de baixo astral e vamos animar, afinal nosso plano foi realizado com sucesso, não é mesmo? – finalizou sorrindo novamente, voltando a ser o mesmo homem de quando chegamos aqui.

– Pois é, agora eu quero é só ver se alguém vai conseguir dar jeito naquele cabelo. – afirmei sorrindo maleficamente.

– Não cante vitória tão cedo Elisa, nunca se sabe. – retrucou minha tia, de forma meio repreensiva.

– Vai ser bem difícil, mas pode ser que algum mago dos cabelos consiga... – afirmou Otávio.

– Você conseguiria? – perguntei desafiadoramente, erguendo uma sobrancelha.

– Claro né minha querida, eu sou um mago dos cabelos. – respondeu cheio de si.

– Okay né... – falei rindo fraco e dando de ombros.

– Bom, e agora? – questionou Mariana nos entreolhando.

– Poderíamos sair para comemorar...? – sugeri olhando todos.

– Sorvete? – disse Caio nos olhando inseguro.

– Pode ser. – concordamos todos.

– Vamos aproveitar que eu não tenho nada marcado agora, já que esse horário era da Fátima... – indagou Otávio.

– Sim, então vamos. – afirmou minha tia puxando a fila até a porta, quando de repente começou a tocar “Always” do Bon Jovi, e todos procuraram de onde vinha a música – É meu celular, só um minuto. – pegou o aparelho na bolsa e olhou o visor – Ai Senhor, é a Cristina, e agora? – perguntou se desesperando.

– Atende e vê o que ela quer ué. – respondeu Otávio como se fosse óbvio.

– Se ela quiser falar com você, te encontrar em algum lugar, ou sei lá, você marca de ir em algum lugar, enquanto Mariana, Caio e eu vamos para minha casa. – expliquei encarando seus olhos.

– Okay, ta legal. – afirmou e atendeu o celular – Oi Cristina! – alguns segundos se passaram e ela continuou – Ah, claro, por quê? – novamente houve mais uma pausa – Okay, pode ser no Cafezeiros? Ah, e sabe quem eu encontrei hoje? O Otávio! Posso chama-lo também? – mais um momento de silêncio – Pois é, fazia tempo que eu não o via também, ta bom então, tchau! – finalmente se despediu e desligou a chamada – Nós vamos nos encontrar num café, ela quer conversar, inclusive te chamou também Otávio. E vocês, vão para a casa do Rodrigo e finjam que não sabem de nada. – afirmou olhando para o homem, e depois para nós.

– Okay tia Luísa! – concordei.

– Comporte-se Mariana! – ordenou encarando sua filha.

– Claro mãe. – respondeu sorridente.

– Agora como vamos fazer para disfarçar que o Caio estava conosco? – questionei me lembrando desse detalhe.

– Seguinte, eu levo você e a Mariana na sua casa, e o Caio liga para o pai dele busca-lo... E de quebra eu já pego sua mãe e dou carona para o café, ou seja, Otávio vem comigo também.

– Mas como eu vou chegar no prédio do meu “amigo”? – perguntou Caio, aparentemente confuso.

– Eu te deixo no meu prédio, antes de ir pra casa do Rodrigo. – respondeu Luísa.

– Okay, então vamos nessa! – exclamei puxando a fila para fora.

–-

Depois de minha tia deixar o Caio em frente ao prédio dela, nos levar para a casa do meu pai e partir com minha mãe e Otávio, finalmente estávamos nós três na sala da minha casa, sem sabermos o que fazer. Eu mexia no celular, enquanto Mariana cantarolava “Thinking Out Loud” do Ed Sheeran e olhava para suas mãos, e Caio estava em silêncio, apenas olhando para os lados. Foi quando de repente alguém rompeu aquele quase silêncio insuportável.

– Chega! Vamos fazer alguma coisa, pelo amor de Deus! – exclamou uma voz masculina, e eu levantei os olhos e vi Caio de pé nos olhando – Qualquer coisa, por favor! – disse mais baixo.

Troquei olhares com Mariana, que deu de ombros, e voltei a olhar para o garoto.

– Estou aceitando sugestões, querido. – respondi sarcasticamente, me ajeitando no sofá.

– Okay, então que tal... Vermos um filme? – sugeriu apontando para a TV.

– Filme? Não estou a fim. – rebati olhando-o desafiadoramente. Se era só para provocar? Sim, eu assistiria um filme numa boa agora.

– Hmm, jogar algum jogo de tabuleiro? – tentou novamente, meio inseguro.

– Nem sei se ainda tem alguma coisa dessas aqui. – ri debochada.

– Então e se... – Caio foi interrompido por alguém entrando e batendo a porta com toda a força.

– Fátima? – perguntei franzindo o cenho e rindo debochadamente – O que aconteceu com seu cabelo? – perguntei analisando suas mechas verdes, fingindo não saber de nada.

– Aquele inútil do cabelereiro que seu pai me arranjou, fez ISSO com meu cabelo. – respondeu apontando para sua cabeça – “Ele é o melhor amigo da Cristina, e ela sempre foi nele, é um dos melhores de São Paulo, blá blá blá!” – fez uma vozinha ainda mais irritante que a normal, fazendo aspas com os dedos, pelo jeito indicando que meu pai havia dito isso – Já era de se esperar né, pra andar com sua mãe e ainda fazer o cabelo dela, quer dizer que não ia dar certo... Não é à toa que o cabelo de sua mãe sempre foi ridículo né, desde quando era casada com o Rodrigo até quando se mudou para Los Angeles, eu hein. – continuou com desprezo.

– Você conhecia minha mãe antes de nos mudarmos do Brasil? – questionei com a ficha finalmente caindo. Ela só podia ser a amante com a qual meu pai traíra minha mãe! Isso era tão óbvio, e eu nunca notei! Agora a coisa vai ficar feia mesmo!

Me levantei do sofá me aproximando dela com toda a raiva do mundo, e quando abri a boca para gritar com ela, meu pai nos interrompeu abrindo a porta da sala e entrando.

– Estou atrapa... Mas o que aconteceu com seu cabelo Fátima? – disse franzindo a testa e se aproximando de nós, estudando os cabelos de sua noiva incrédulo.

– Ah, eu decidi tentar algo diferente, mais patriota sabe, pintei o cabelo de verde que é a cor do Brasil... – respondeu com uma simpatia irônica – É claro que fizeram uma cagada no meu cabelo né Rodrigo! – gritou encarando meu pai, que parecia lutar contra o riso.

– Bom amor, desculpa, mas nem está tão feio... – indagou deixando escapulir algumas risadinhas.

– NÃO ESTÁ TÃO FEIO?! Está RIDÍCULO! E pra piorar, você sabe que a cor que eu mais detesto é verde! Só pode ser um castigo! – berrou se jogando num dos sofás.

– Calma meu amor, nós vamos conseguir consertar! – afirmou meu pai se sentando ao seu lado e acariciando seu braço, numa tentativa inútil de acalmá-la.

Revirei os olhos e respirei fundo algumas vezes, enquanto ela ainda reclamava e fazia manha para meu pai. Até que perdi a paciência e saí do cômodo rapidamente, me dirigindo para o jardim. Foi depois de me jogar em uma das espreguiçadeiras em volta da piscina que notei que havia sido seguida por Caio e Mariana, que se sentaram ao meu lado.

– O que houve Lisa? – perguntou Mariana com uma voz doce, mas também preocupada.

– Eu não tinha me ligado que aquela vaca era a amante. – respondi tentando não parecer tão chateada, mas sem sucesso.

– Eu sempre achei que fosse ela... – indagou Caio, com um pouco de pena na voz.

– Eu até desconfiei, mas não tinha certeza. – afirmou Mariana, e me abraçou de lado – Não fica assim não, nosso plano vai funcionar, e aquela lacraia vai sumir.

Ri fraco e coloquei uma mecha atrás da orelha, virando meu olhar para eles.

– Obrigada gente. – falei com um sorriso sincero. Pois é, eu, Elisa Pacheco Facchini, estou agradecendo aos meus amigos de verdade. Eu já não sou mais a mesma!

O que aconteceu a seguir foi algo inesperado por mim, porque os dois passaram seus braços em volta de mim, num abraço coletivo. Por alguns segundos deixei acontecesse, até que percebi o quão meloso esse momento estava, e que não fazia meu estilo.

– Okay, agora chega. – disse me afastando dos dois, e logo em seguida ouvindo uma voz bem conhecida de lá da porta que ligava a sala ao jardim.

– Mariana, sua mãe está te esperando no carro. – minha mãe avisou parada na porta, nos olhando atentamente.

– Okay tia, obrigada! – agradeceu e sorriu para minha mãe, se despedindo de nós com um beijo na bochecha de cada um e partindo.

–-

Depois de conversar um pouco com minha mãe sobre a tarde com o Otávio e minha tia, e fazer milhões de comentários maldosos sobre o novo visual da noiva da semana, subi para meu quarto e tomei um banho daqueles meus demorados de sempre, pensando na vida e em como o casamento já estava chegando, e as chances de destruí-lo estavam se acabando. Inventei qualquer desculpa para não jantar, afinal não queria ter que aguentar a Fátima durante uma refeição inteira, já que ela ficou a noite toda grudada no meu pai, para marcar território talvez?

“Mal sabe ela de tudo o que aconteceu, e que ainda vai acontecer...” – pensei já deitada na cama – “Faltam só dois dias, mas amanhã as despedidas de solteiro prometem...” – foi meu último devaneio antes de pegar no sono.


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Notas finais do capítulo

Eae, o que acharam? Fátima de cabelo verde dois dias antes do casamento, tem como não surtar? E o que acharam do Otávio? O Caio dando a maior lição de moral, e a Elisa se tocando que a Fátima é a mulher que o pai dela traiu a Cristina...
Comentem suas opiniões por favor! Até o próximo, beijos! ;*



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