P.O.V Thalia

Lágrimas, é a única coisa que tem em meu rosto, nem mesmo uma única expressão, apenas lágrimas. Qual a razão dessas lágrimas? Clarisse La Rue e mais todo o resto da sala que está presenciando essa cena.

–Olha que pena, Thalia baleia está chorando. Fazendo um oceano para você sair nadando? - disse Clarisse debochando.

Não aguentava mais isso. Apenas pelo fato de eu ser "fora dos padrões de beleza da sociedade" eu mereço ser humilhada na frente de toda a classe que me olha, uns com olhar de deboche, outros com olhar de pena, outros até mesmo com repulsa, mereço?

Vejo um garoto moreno e de alguns centímetros mais alto que eu entrando na sala e rindo ao lado de Clarisse. Olho para ele na esperança que ele retire sua "amiguinha" daqui, mas a única coisa que ele faz é ficar parado ao lado de Clarisse com um olhar debochado.

–Nico, você pode me dizer o que acha dessa... pessoa (?) ? - prosseguiu Clarisse com um sorriso no canto dos lábios se divertindo muito com a situação na qual eu me encontrava.

Ele apenas assentiu sorrindo do mesmo jeito que Clarisse.

–Bem, o apelido na qual você a chama sempre não é por acaso, estou certo? - disse Nicolas di Angelo, o garoto na qual pertencia quase todas as lágrimas que eu derramei em segredo - Além de que parece não ter amor próprio, pelo jeito como se veste e se comporta. Se você não quisesse ser zoada, saberia bem como ser pelo menos um "alguém" nessa escola. - terminou a última frase andando para perto de onde eu estava fixando seu olhar no meu.

Não suportando mais as coisas que eles me diziam, muito menos os murmurinhos sobre o que acabara de acontecer, peguei minha mochila do chão e saí correndo da sala indo para o banheiro ainda com lágrimas nos olhos.

– Qual é Thalia, eles tem razão, você não está nos "padrões de beleza" dessa maldita sociedade, não tem o mínimo senso de como se vestir, nem ao menos consegue se defender daqueles babacas. Parabéns por ser uma completa inútil.- falei olhando-me no espelho do banheiro que ia do chão ao teto.

–Não é nada fácil entrar nesses padrões de beleza. Eu por exemplo, demorei para conseguir entrar, mas entrei. - uma menina ruiva com cabelos até a cintura saiu de uma das cabines dirigindo-se a pia e falando para mim, porém sem ao menos me olhar - Mas quer um conselho? Dois dedos na garganta e tudo acaba. Fazendo isso por um tempo e conseguindo fechar a boca na hora das refeições, você consegue. - finalizou a "conversa" passando um gloss nos lábios me olhando através do espelho e indo para a saída - Pense nisso. - foi a última coisa que eu ouvi.

Continuei me olhando no espelho, ainda com aquelas palavras na cabeça."Dois dedos na garganta e tudo acaba." , ela disse. Talvez, situações desesperadas pedem medidas desesperadas. Certo?

Fui até uma das cabines, me ajoelhei e logo coloquei os dedos em minha garganta. Senti o gosto amargo saindo pela minha boca e só parei quando não saía mais nada, mesmo tentando. Isso foi uma ação, que por enquanto, não tinha mais volta.

–--------------------------

2 Meses Depois

–-------------------------

Nunca mais vi aquela garota ruiva que encontrei no banheiro, mas se encontrasse, eu até que iria agradecer. A partir daquele dia, eu mal comia durante o dia, e quando comia era bem pouco, se caso eu extrapolava, ia correndo ao banheiro. Só com essa "brincadeira" havia perdido em média 10 Kg. Ninguém havia reparado, em nada, nem que eu havia o meu método nem que eu havia emagrecido pois eu ainda andava de moletom muito maior que eu, porém a algumas semanas eu havia extrapolado e fui ao banheiro...

Flashback on

–Eu não devia ter comido tanto assim– pensava enquanto jogava meu almoço para fora.

Escuto a porta se abrindo porém não dou muita importância e volto a fazer o que eu estava fazendo. Quando termino, saio da cabine.

– Ora ora, então é essa a maneira que você encontrou para emagrecer? Que feio néh, antes era tachada gorda, mas agora é doente. - Clarisse disse saindo da cabine ao lado da que eu estava com seu sorriso que eu particularmente acho muito irritante - O que será que as pessoas vão achar se ficarem sabendo disso? - terminou indo para a porta do banheiro dando algumas gargalhadas

Ah ótimo, lá vem novamente a zoação

Flashback off

E eu estava certa, não deu nem o dia seguinte e todos já estavam sabendo. Algumas pessoas falavam para eu procurar um psicólogo, outras falavam que eu não tinha jeito mesmo, já eu? Continuo com aquilo desde o episódio, que novamente foi no banheiro. Esse banheiro sempre me traz soluções misturados com problemas.

O ano escolar havia acabado hoje, graças aos céus.

–PAAI - eu disse gritando entrando em casa e jogando a minha mochila no sofá.

– Seu pai ta no escritório Lia, vai lá - disse minha madrasta Hera, ela é bem legal comigo, uma coisa que minha mãe nunca foi... enfim, longa história.

Fiz o que ela falou e fui até o escritório de meu pai. O encontrei falando ao telefone enquanto digitava algo em seu computador e abria um livro com uma das mãos, afinal, Zeus Grace, um dos donos de uma companhia de transportes, então, é, ele é ocupado. Na hora que me viu abriu um sorriso e desligou o celular e me chamou para ir abraçá-lo.

– Hey minha princesa, como foi o último dia de aula? - perguntou enquanto me soltava

–É, foi bom -menti- sabe pai, eu estava aqui pensando, será que esse ano eu poderia ir a algum acampamento de verão? Não que não seja legal ficar com o senhor e Hera nas férias, mas será que que poderia tentar algo novo?

Ele pareceu pensar. Claro que eu não disse o real motivo de eu querer ir para um acampamento. Imagine só: "Ah pai, eu quero ir para um acampamento porque lá ninguém me conhece e então eu posso tentar fazer amigos porque eu não tenho nenhum na escola. Aliás, eu sofro bullying, e então? Deixa?" . Não seria nada legal falar isso neh?! ... Foi o que eu pensei.

– Bem, eu conheço um acampamento muito legal para você, é do meu irmão Quíron e o diretor é um grande conhecido da família, Dionísio. Tem várias atividades e é dividido por inúmeros chalés, tem um só para os Grace, quase nunca vai ninguém lá. E não tem índice de idade. Você vai amanhã mesmo se é isso que quer. -disse meu pai me olhando com um sorriso no rosto e pegando o celular para ligar pro diretor do acampamento.

Eh, vamos ver o que acontece néh, que tudo dê certo...