Um pequeno contratempo escrita por magalud


Capítulo 8
Capítulo 8




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Na manhã seguinte, no quartel-general da Ordem da Fênix, os Weasleys voltaram para a Toca e os demais também deixaram a sede. Na verdade, os únicos que permaneceram no Largo Grimmauld foram Dumbledore e McGonagall, com Severo. Eles iriam realizar o contra-feitiço para fazer Severo voltar à sua forma original.

Severo estava angustiado.

– Isso vai demorar muito?

– Tenha calma – disse McGonagall – A poção só precisa esfriar. Está quase no ponto.

O Prof. Dumbledore garantiu:

– Na verdade, acho melhor darmos início aos procedimentos imediatamente. Vamos à biblioteca.

Eles se trancaram na biblioteca, McGonagall levando uma muda de roupas e o frasco da poção.

– Severo, beba isso.

– Como funciona?

– A poção vai deixá-lo um pouco anestesiado, assim você não sentirá o efeito total do feitiço, como foi da primeira vez.

– Doeu muito daquela vez – ele lembrou.

– Bom, agora também vai doer, mas a poção deve aliviar isso. É melhor você tirar suas roupas para evitar que elas se rasguem. Eu separei uma muda de roupa de Sirius para você usar temporariamente.

– "timo – disse Severo, azedo – Espero que tenham tirado as pulgas.

Ele engoliu a poção e fez uma careta.

– Que coisa horrível!

– Como eu disse, o paladar de uma criança é diferente de um adulto. Depois que o feitiço for realizado, você vai sentir menos essas coisas.

– É o que eu espero.

– Como se sente?

– Engraçado. Estou um tanto cansado.

– Você vai ficar cansado quando a transformação se completar. É melhor você se preparar para descansar quando voltar a ter sua idade.

– Dormir de novo?

– Vai ser um grande estresse no seu corpo. A redução não é tão estressante quando o alargamento. Agora tire suas roupas e sente-se naquela cadeira.

Ele obedeceu, dobrando cuidadosamente o conjuntinho de short e camiseta dos Powers Rangers, já sentindo saudade de ser uma criança. Depois ele se sentou numa poltrona da biblioteca, bocejando.

Dumbedore se posicionou de pé, em frente a ele, abriu os braços, e apontou a varinha, dizendo:

Reverte Puer Terragenum!

Severo sentiu uma onda poderosa de magia a percorrer-lhe todo o corpo. Um formigamento intenso cobriu-lhe a pele, e ele sentiu a dor começando.

Lancinante, a dor se transformou em formigamento novamente, mas os músculos começaram a se esticar, ossos a se alongar, e sem perceber, Severo começou a gritar sem conseguir se adaptar ao acelerado processo de crescimento, sua cabeça doendo muito, o rosto crispado pelas terríveis sensações que experimentava. Ele se contorceu de dor e foi ao chão, ainda aos gritos.

Tudo pareceu levar horas, embora apenas alguns segundos tivessem se passado. Aos poucos, os gritos foram morrendo e ele foi se assenhorando das sensações de seu corpo.

Ele era, de novo, Severo Snape – dono de um corpo e uma mente de 37 anos.

Ele olhou para os seus braços, agora compridos, cabeludos, suas mãos grandes, e suas pernas também lhe pareceram estranhas. Num gesto inconsciente, levou as mãos ao rosto, e sabia que estava de volta o rosto implacável, torturado, de um homem que raramente tinha conhecido felicidade na vida.

Dumbledore pôs a mão no seu ombro e sorriu:

– Bem-vindo de volta, Severo.

Dando conta de sua nudez, ele pôs-se a vestir a muda de roupa especialmente separada para ele, enquanto McGonagall recatadamente olhava para o lado.

– Obrigado, diretor – disse ele, já vestido.

– O que deseja fazer, agora que está de volta?

– Retomar minha vida. Diga-me, eu poderia contar com a ajuda de um dos dois para chegar até o Beco Diagonal? Preciso providenciar uma nova varinha, passar no banco, e essas providências práticas.

– Há uma... providência prática que você deveria tomar com a maior urgência, Severo, se me permite a opinião.

– Qual, diretor?

– Voldemort.

Uma onda de repulsa passou pelo corpo recém-reconstituído de Severo. Sim, sim, claro. Ele tinha que se reapresentar aos quadros dos Comensais da Morte o quanto antes.

– Certamente. Mas primeiro preciso me reequipar. Tenho que ter pelo menos uma varinha!

McGonagall disse:

– Não sem antes você descansar um pouco, Severo. Você precisa se readaptar.

– Não há tempo!

– Você ainda está se comportando como uma criança de cinco anos. Faça o favor de subir ao seu quarto e tirar uma sonequinha.

A contragosto, ele obedeceu. E notou, ao despertar, que se sentia bem melhor.

McGonagall o levou até o Beco Diagonal. Mas Severo conseguiu pelo menos Aparatar até o Caldeirão Furado. Com seu corpo adulto, sua mágica também estava amadurecida.

Após uma breve passada em Gringotts para reabastecer a carteira, ele foi direto para a Olivaras, onde adquiriu uma nova varinha, idêntica à que Voldemort destruíra: 18 centímetros, coração de dragão, ébano. O Sr. Olivaras explicou que ele não conseguiria ter uma varinha diferente mesmo que quisesse. Afinal de contas, era a varinha que escolhia o bruxo, tivesse ele cinco, onze ou 37 anos.

Só depois de estar totalmente equipado, mais confiante de si mesmo, Severo Aparatou até a Mansão Riddle. Voldemort ficou surpreso ao vê-lo ali.

– Severo, meu servo – disse ele – Devo confessar que estou surpreso.

– Vim apresentar-me depois de cumprida minha missão, milorde.

– Conte-me. Você foi adotado por uma família trouxa?

– Precisamente.

– E como eles eram?

– Bem trouxas. Jamais tinham ouvido falar em magia, e viviam suas vidas sem saber de nosso mundo.

– E como eles te trataram?

– Como uma criança trouxa órfã de quatro anos. Subestimaram minha inteligência.

– Isso me parece fascinante, Severo. E o orfanato? Lúcio me disse que você chorou quando ele o deixou.

– Eu precisei me adaptar ao novo corpo. Milorde tinha razão. Em diversas ocasiões meu controle emocional falhou. Acredito que ainda deva estar abalado até agora.

Usando a Legilimência, Voldemort disse:

– Sim, sim, eu posso ver em sua mente fragmentos do ocorrido. Você tinha um irmão?

– Só depois que fui adotado. No orfanato, a vida era dura.

– Não precisa me dizer isso – disse Voldemort – Eu me lembro como era.

– Espero tê-lo deixado satisfeito com minha missão, milorde.

– Sim, eu estou surpreso com você, Severo. Eu ouvi as notícias de sua morte pelo mundo bruxo. Creio que agora ouviremos a notícia de sua volta. Como explicar sua ausência?

– Direi que tive que resolver alguns problemas no mundo trouxa, assuntos inadiáveis.

– E isso vai convencer as pessoas?

– Convenceu Dumbledore.

– Velho tolo! Ele acredita em tudo, até em Comensais da Morte regenerados. Por isso ele vai perder quando eu conquistar o Ministério da Magia.

– Sim, senhor. Devo acrescentar que reconquistei minha posição junto a Dumbledore. Espero em breve trazer notícias de seus planos.

– Ah, Severo, meu fiel servo. Confesso que eu esperava que você fraquejasse, mas vejo que sua força de vontade o ajudou a sobreviver mais essa prova de lealdade. Sim, sim, eu estou satisfeito. Volte mais tarde, que nós faremos uma comemoração, com tortura de trouxas, muitos Cruciatus, você sabe – diversão.

– Sim, milorde.

Severo Snape deixou a Mansão com um sentimento indefinível, misto de repulsa e ojeriza. Mas aquela era sua vida: um espião, e até Voldemort ser destruído, era aquela vida que ele tinha que viver.

Mas um outro plano começava a se formar na sua mente.

Era meio da tarde quando ele Aparatou para um local determinado em Surrey. Ele ficou parado em frente à casa por alguns segundos, tentando dominar as emoções que o acometiam: havia saudade, nostalgia, uma pontada de dor e de alegria.

Mas ele tinha que ir em frente.

Tocou a campainha.

Jane Campbell abriu a porta, olhou o homem estranho diante de si e indagou:

– Sim?

– Boa tarde. A senhora deve ser a Sra. Campbell.

– Eu o conheço?

– Não, acho que não. Meu nome é Severo Snape.

Ao ouvir o nome, ela arregalou os olhos. Ele apressou-se a dizer:

– Vejo que estou na casa certa. O menino que a senhora adotou há alguns meses é meu sobrinho.

– Sr. Snape... Por favor, entre... – ela deixou que ele entrasse, pálida – Sente-se enquanto eu preparo um chá para nós – ele obedeceu – Eu estou surpresa. Eu não sabia que Severo tinha família.

– Eu moro na Alemanha há muitos anos, fazendo pesquisas científicas. Meu irmão e eu nunca nos demos muito bem, então rapidamente eu perdi contato com a família aqui na Inglaterra. Mas eu sabia que tinha um sobrinho como o mesmo nome que eu, e quando eu soube que meu irmão tinha morrido, eu vim procurar o garoto. A senhora calcula o que eu passei até localizá-la.

– Então o senhor já sabe... Digo, sobre Severo?

– Só o que sei é que ele está desaparecido há mais de seis meses. O que pode me dizer sobre isso?

Ela contou tudo sobre aquele dia no rio, e as lágrimas vieram:

– Ele simplesmente sumiu. O boné dele foi encontrado dentro da água, então é provável que tenha caído no rio e levado pela correnteza mais profunda. Ou então que alguém o tenha levado. A polícia ainda está com o caso aberto, mas nenhum suspeito foi visto no rio naquele dia. Sabe, no caso de ele ter sido raptado. Como não acharam nenhum corpo no rio, eu tive esperança até pouco tempo que ele fosse encontrado, mas agora começo a acreditar que nunca mais verei meu querido Sev...

– Tenho certeza de que a senhora gostava muito dele.

– Ele foi feliz enquanto esteve conosco, eu tenho certeza. Ele chegou aqui tão magrinho, tão carente de amor. Ele não teve nenhuma dificuldade de se adaptar à família – ela se ergueu e apanhou um porta-retrato – Veja aqui: no dia que ele chegou. Ele queria aprender a jogar futebol com David. Olha só as perninhas magrinhas dele! Agora veja essa outra – ela pegou um outro porta-retratos – No aniversário dele. Ah, ele estava tão feliz nesse dia. Ele disse que nunca tinha tido um aniversário. Eu ficava de coração doído ao ver tudo que tinha sido negado a ele. Nós o amávamos muito. Até meu filho mais velho sente a falta dele. Ele deixou uma impressão profunda em nossas vidas. Eu até desisti de procurar um outro menino para adotar.

– A senhora não pretende mais ter filhos?

Ela preparou o chá, respondendo:

– Não posso mais ter filhos. Foi uma complicação depois do parto de David. Mas eu sempre tive o sonho de ter duas crianças. Pensei que com Severo esse sonho tinha se realizado. Mas quando ele sumiu... Oh, desculpe-me. Estou chorando de novo.

– Isso é natural. Desculpe-me por ter vindo e tê-la feito relembrar tudo isso.

A Sra. Campbell serviu o chá, dizendo:

– Ah, mas foram tempos felizes. Eu nunca vou me esquecer deles.

Com um gesto de mão, Snape ocultou dela o que fazia: colocava alguma substância no seu chá. Uma poção especialmente preparada por ele durante meses. Uma poção que realizaria o sonho de Jane Campbell de ter mais filhos.

Ele pigarreou e disse o discurso ensaiado:

– Sra. Campbell, deixe-me dizer uma coisa: eu sou um cientista. Trabalho justamente na área de reprodução humana. Por isso é que posso dizer, mesmo sem conhecer direito o seu caso: não desista de ter filhos.

Ela tomou o chá com a poção e disse:

– Sr. Snape, desculpe eu dizer isso, mas é que foi tão sofrido para nós. Tentamos durante tanto tempo.

– Pois tente mais um pouco. Só um mês, é só o que peço. Se a senhora não engravidar, eu posso cuidar do seu caso pessoalmente. Estamos mexendo com algumas substâncias experimentais que têm dado excelentes resultados impregnando mamíferos. Se a senhora aceitar ser nosso objeto de estudos, posso arranjar para que receba o medicamento que a deixará capaz de engravidar naturalmente.

– Naturalmente? Sem reprodução assistida?

– Nada de bebês de proveta. Um bebê natural, seu e de seu marido.

– Mas por que eu?

– Seu caso parece ser interessante e está dentro dos nossos parâmetros de pesquisa. Além do mais, eu gostaria de agradecer pelo que fez por meu sobrinho. Eu soube o quanto ele sofreu e como foi importante ser adotado por uma família que o amava.

– Eu o amava muito. Aliás, ainda o amo.

– Então tentaria fazer isso? Por mim e por meu sobrinho?

– Esse tratamento tem algum efeito colateral?

– Não em mamíferos. Totalmente inofensivo.

– Eu preciso falar com meu marido, é claro.

– Obviamente. Deixe-me dar-lhe um endereço pelo qual poderá me contatar pelo correio. Sabe, minha instituição de pesquisa fica reclusa, e não há telefones ou outros meios de comunicação. Contate-me em dois meses.

– Sim, eu farei isso.

Ele lhe passou o pedaço de papel com o endereço de Hogwarts, e Jane Campbell sorriu para o homem estranho que lhe trouxera esperança em sua vida. O pequeno Sev se fora e nunca mais voltaria, mas quem sabe, um bebezinho seu traria novamente a alegria de volta àquela casa.

Em Hogwarts, Severo Snape voltou a dar aulas normalmente, e sua volta foi apenas uma nota de rodapé no banquete do início de ano. O odiado e amargo Mestre de Poções estava de volta, o que não era motivo de alegria para os alunos. Mal sabiam eles que aquele não era o Severo Snape que partira, mas sim um que agora tinha memórias de uma infância mais feliz, mais cheia de amor e com um sentimento de família muito melhor do que o anterior.

Dois meses mais tarde, enquanto corrigia redações, ele recebeu uma carta muito especial.

"Caro Professor Snape,

Um milagre aconteceu. Estou grávida. Os médicos estão boquiabertos. Não sei dizer como isso aconteceu, mas aparentemente Deus decidiu me dar chance de ter mais um filho. Por isso, eu quero agradecer sua generosa oferta de um tratamento em sua instituição de pesquisa, mas ela não será mais necessária.

Se Deus nos der um menino, o nome dele será Severo Campbell. O senhor é bem-vindo para nos visitar quando quiser.

Deus o abençoe.

Jane Campbell"

Snape dobrou a carta com cuidado, um sorriso nos lábios. Por um instante, ele deixou as ondas de felicidade e calor banharem seu corpo, relembrando aquela mulher que para ele tinha sido mãe e fonte de calor e amor quando ele tanto precisava.

Esquecendo-se das redações, ele se ergueu da escrivaninha e foi até seu armário de onde tirou uma pequena peça de roupas, uma guardada com todo carinho.

Um conjuntinho de short e camiseta com estampa dos Powers Rangers, tamanho P.

A lembrança de uma infância feliz.

Fim


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