Para Shindou Shuichi.

Geralmente, julgam-me bom com palavras. Dizem-me que podem sentir a paixão dos meus personagens na própria pele ao lerem meus trabalhos, e assombram-se quando digo-lhes que não, não estava apaixonado.

Mas faltam-me palavras para explicar como seus olhos ametistas são a única coisa que posso ver quando fecho os olhos, como se fosse meu cinema particular. Seria isso o amor?

Logo eu, com meus personagens tão apaixonados, que dizem coisas tão doces e fazem as maiores loucuras pelos seus amantes, diante dessa serie de novas emoções da qual não consigo emergir para respirar, encontro-me perdido. Serei sincero com você: jamais alguém me fez sentir desta maneira.

Talvez eu tenha chegado a amar a Ele. É até possível. Plausível. Porem, a maneira terrível como ele me marcou, me fez proibir meu próprio coração de sentir alguma coisa assim por alguém. Eu, ingênuo como você é agora, depositei toda a minha confiança Nele. E ele me traiu. Eu não aceitaria ser traído daquela maneira, ou de maneira alguma. A única solução para isso seria nunca mais confiar em ninguém: se você não tem esperanças, não se frustra.

Por muito tempo, julguei que meu coração estivesse selado, eternamente. “Eu te amo” parecia a frase mais hipócrita que se poderia dizer. Amor era nada mais que uma ilusão. Mais que isso: era uma fraqueza. Mas tive que rever meus conceitos depois que seus olhos ametistas pousaram sobre mim, inocentes e infantis.

Não foi amor a primeira vista, nem tente se iludir. Isso seria ridículo. Foi mais como se todas as forças da natureza conspirassem para que nos encontrássemos, dia após dia. Uns chamariam isso de destino. Eu chamo gravidade.

Inconscientemente, nos atraiamos um pelo outro, mesmo que não fosse de uma maneira romântica. Não estávamos exatamente um em função do outro: éramos existências distintas. Mas havia a forte tendência a ficarmos o mais próximos possível. O que a principio era um leve estorvo, quase irrelevante, tomou, então, proporções catastróficas para meu coração mal cicatrizado.

Estou aqui, então. Queria não amá-lo, mas não consigo. Queria poder amá-lo de verdade, mas não consigo. Sinto muito, mas não sou o tipo da pessoa que realmente poderia corresponder seus sentimentos a altura, e te fazer feliz. Não que você acredite nisso. Você não passa de um pirralho.

Você foi a única pessoa que conseguiu chegar tão longe. Não sei o que você tem, não compreendo o que difere você das outras pessoas que tentaram, em vão, se aproximar de mim, mas não importa: não tenho mais escolha, se não ficar ao seu lado.

Odeio ter que dizer isso,

Mas eu te amo.

Eiri Yuki.