O medo estampado no rosto de Sora deveria me fazer me odiar, mas penso exatamente o contrário. E aquela Youmu mereceu uma morte bem pior. Nunca pensei que matar fosse tão viciante e consumidor, mas é lindo, amo o vermelho, amo matar.

–Aika, por que você a matou? – pergunta Sora sem ousar se aproximar – O que Gekkou fez com você?

–Ele me mostrou tudo, Sora – digo lembrando a cena repugnante dos dois se beijando – Mas agora não haverá nada nos impedindo de ser feliz.

–Como assim? O que Gekkou te mostrou? – indaga ele confuso.

–O beijo, vocês dois se agarrando – meu ódio aumenta, se eu pudesse, matava Youmu milhões de vezes – Mas não se preocupe, não estou com raiva de você, se que foi ela quem o seduziu. Uma armadilha suja que merecia punição.

–Você está louca?! Acreditou nas palavras daquele maníaco?! – exclama Sora incrédulo – Foi ele quem nos forçou e tivemos que nos beijar. Ele queria matar Youmu, mas eu não gostava dela da mesma forma que gosto de você.

–Então por que não a deixou morrer?! – questiono desconfiada.

–Porque... eu tenho um coração – responde ele sombrio.

O comentário acerta as profundezas de meus sentimentos, dói como se ele tivesse me apunhalado pelas costas. Mesmo que eu seja um monstro, ainda tinha esperanças de que ele não desistiria de mim. Como ele pôde dizer isso? Eu quero... eu quero...vermelho...

–Retire o que disse – ordeno friamente.

–Ou o quê? Você vai me matar?! Achei que meu amor importasse alguma coisa – fala ele.

–Como você disse... – meus olhos brilham enquanto me preparo -... eu não tenho coração.

Flutuo velozmente até ele pronta para feri-lo gravemente. Você deve estar se perguntando: “Por quê? Você não gostava dele?”. Gosto, e esse é o problema. Amor, muitas vezes é uma arma letal, e fere demais.

Atiro Sora longe e soco seu rosto, depois o derrubo no chão com um chute. Ele foge de um golpe com minha lâmina, corre e pega uma espada de Youmu.

–Eu não quero ter que lutar com você, Aika – fala – Você não sente mais nada por mim?

–Se você tentar ferir meu coração, vou destruí-lo – recito minha estranha e egoísta filosofia – Você tentou Sora, você conseguiu me deixar assim! Agora me traga de volta se conseguir!

O ataco novamente, brilhando em vermelho como antes, ele se defende e tenta fugir de novo. Tento feri-lo, cada ver mais rápido, completamente descontrolada. Sora repele meus golpes desengonçado, tentando acompanhar meu ritmo veloz demais. Acerto ele várias vezes, até finalmente fazê-lo perder a lâmina. Chuto seu rosto e o derrubo no chão.

–Isso é fácil demais – comento friamente.

Fico em cima dele para matá-lo, apesar de chorar, Sora não tenta se libertar.

–Aika, o que aconteceu com você? Será que aquele Gekkou fez uma lavagem cerebral em você? – pergunta ele choroso.

–Isso é culpa sua! – choramingo com as lágrimas caindo em seu rosto – Você me deixou sozinha por tanto tempo! Eu não pude suportar! Não pude recusar o ódio que senti, porque eu estava sozinha! Vazia!

–Mas agora...eu estou aqui! – diz ele – Me matar só vai piorar tudo!

–E deixá-lo vivo também! Você vai me machucar! Assim como fez agora a pouco! E será ainda pior!

–Eu só quero vê-la feliz novamente! Só beijei Youmu porque me importo com as pessoas! Gekkou quer que você me mate! Vai obedecê-lo?! Vai ser sozinha de novo, convivendo com a culpa em si?! – indaga Sora.

Ele tem razão. Eu ainda o amo. Mas será mentira? Eu quero seu amor, quero que ele diga que está tudo bem, quero voltar a meu antigo paraíso infantil. O que eu faço? Eu não quero que ele morra.

Atiro-me em seu peito me rompendo em lágrimas, esses desejos egoístas que meu coração quebrado possui me enlouqueceram. Sora é minha única luz. O céu no Inferno que eu mesmo fiz cegamente. Se ele morresse, e por minha culpa, eu entraria em colapso.

–Me desculpe Sora, eu estava fora de mim! – falo – Eu não queria ter sido tão impulsiva.

–Tudo bem, tudo bem. A culpa é de Gekkou – Sora acaricia minha cabeça.

–É mesmo – concordo – Gekkou... Temos de matá-lo!

Levanto-me determinada a exterminar o louco.

–Espere Aika – Sora se levanta e me puxa pra perto de si – Aquilo que eu disse sobre você não ter coração foi no calor da emoção, sei que a Aika que eu conheço está aí em algum lugar e vou fazê-la voltar.

Ele sorri docemente, o encaro boquiaberta por um segundo, depois puxo a gola de sua camisa e dou-lhe um beijo repentino. Ele retribui e fico num estranho torpor até me soltar, sentir isso novamente me faz chorar. Isso sempre aconteceu quando alguém consegue tocar meu coração, ele é tão frágil que um simples toque me faz chorar.

–Você não me odeia, não é? – questiono.

–Mesmo que você tivesse me matado, eu nunca a odiaria – responde Sora – Se eu puder ver o seu sorriso.

Sorrio da melhor forma que consigo, é estranho, estou feliz de fato.

–Acho que eu tinha dito que você não iria escapar de mim.

Gekkou se aproxima lentamente com pequenas facas entre os dedos, sua expressão não é das mais felizes.

–Gekkou, deixe a Aika em paz! – ordena Sora me protegendo, mas não preciso de proteção.

–Você quer lutar? – me preparo – Então vamos lutar.

–Se você ganhar pode fazer o que quiser comigo, se eu ganhar farei o que quiser com você – propõe Gekkou sorrindo.

–Então prepare-se para morrer! – meus olhos brilham.

Gekkou atira as facas, empurro Sora pra longe das lâminas e tento desviá-las, não sou tão rápida, mas isso não é nada.

–Se inspirou na Youmu? – debocho – Não se preocupe, logo estará como ela.

O ataco, ele se defende sem muito esforço e diz:

–Logo você estará bem pior do que ela.

Tento acertá-lo de novo, e de novo, e de novo. Sem nenhum sucesso. Maldito, ele nem está se esforçando!

–Aika! – grita Sora.

Uma lâmina perfura minhas costas, outras me acertam logo em seguida.

–Golpe baixo! – cerro os dentes, cheia de ódio.

Sora se atravessa em minha frente tentando ferir Gekkou. Ele quase finca a lâmina no pescoço de Gekkou, mas é acertado no estômago e rola para trás.

–Sora! – grito.

Gekkou finca uma lâmina em meu peito, tento chutar seu rosto, mas ele segura minha perna e me atira na parede.

–Ah, isso está realmente muito chato – suspira decepcionado.

Levanto-me e vôo velozmente até ele, Gekkou desvia para o lado, pega meu braço e o torce rapidamente. Grito com o barulho assustador vindo de meus ossos. Então ele me joga no chão.

–Você é fraca – comente – Não tem a mínima chance.

–Ah! – Sora o ataca.

–Ora, se não é o bonequinho da Aika? – zomba Gekkou repelindo seu ataque – Quer morrer “Bonequinho”?

–Não sou nenhum bonequinho! – Sora o empurra para trás incrivelmente.

–Até que você é forte – Gekkou se impressiona.

Levanto-me.

–Deixa isso comigo Aika – decide Sora.

–Se você morrer pode jurar que eu encontrarei sua alma, só pra te matar de novo – ameaço.

–Não vou morrer – ele sorri.

Seu sorriso nostálgico me faz sorri também. Ele é adorável, até demais. Porém odiaria se fosse diferente. Preocupo-me com esse confronto, mas estarei pronta pra qualquer situação de perigo. Basta um desejo e ele volta à vida se morrer, não é mesmo? O preço é algo que não importa, a vida dele vale mais que qualquer coisa.

Gekkou o golpeia, Sora desvia e nem tem tempo de pensar quando Gekkou o atira longe.

–Sora! – ataco Gekkou, mas ele repele o golpe.

–Que isso? Dois contra um é covardia, não? – comenta ele.

–Idio... – um vulto golpeia ele e é derrubado do outro lado da sala, o vulto de repente me puxa e vôo pra longe.

Levada pela pessoa desconhecida num piscar de olhos. Ouço Sora gritar meu nome e Gekkou berrando de raiva. Sinto raiva das mãos grandes e fortes em volta da minha cintura, me debato e ouço a voz do meu sequestrador:

–Você não pode escapar de mim – o sorriso arrogante me faz odiá-lo – Afinal...eu sou Kami.