Chasing a Starlight escrita por ladywriterx


Capítulo 7
Who are we?




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Fechou a porta atrás de si com cuidado, fazendo o mínimo de barulho possível, e depois desceu as escadas até Loki nas pontas dos pés, já o encontrando com a mão estendida para ela chegasse mais perto. Entrelaçou os dedos nos dele, o mais próxima que podia ficar na noite gelada, procurando um pouquinho mais de calor humano.

Obrigada. Olhou para cima e o encontrou encarando-a com um sorriso no rosto.

Não foi nada, Sigyn. — Rolou os olhou, acotovelando-o. Queria poder te levar para Asgard comigo. Helena olhou para o chão coberto de neve e limpou a garganta. Já tinha conversado sobre aquilo, entre sussurros depois do jantar enquanto tiravam os pratos. Ela tinha ficado brava. Não podia. Ponto final. Precisava ficar batendo na mesma tecla todas as vezes? Desculpa.

Tudo bem... É só difícil ainda. Ficaram por silêncio durante algum tempo enquanto caminhavam. Helena estava cada vez mais apegada à presença dele, só estar ao lado dele já fazia fogos de artifício explodirem na sua circulação. Você realmente precisa ir?

Preciso. Loki resmungou. Também não estava feliz com a ideia de voltar ao castelo, mas já tinha perdido o jantar e logo perceberiam que ele não estava em seu quarto, como tudo indicava. Provavelmente Frigga inventaria alguma desculpa para ajudá-lo, mas não podia demorar muito. Precisaria se preparar psicologicamente para voltar lá, conseguir olhar seu pai nos olhos de novo sem ter vontade de gritar com ele e exigir uma explicação.

Não faça nada estúpido. Sorriu. Ah sim, Helena já o conhecia bem o suficiente para saber o que ele estava pensando. Ok?

Você que manda. O beijo dela ainda tinha o gosto da calda de chocolate da sobremesa. Sentiu as mãos delicadas em seu pescoço e apertou-a com força pela cintura, trazendo-a mais para perto e para cima. Helena já estava nas pontas dos pés e sentia que poderia sair do chão a qualquer momento.

Loki queria poder levá-la para Asgard e não se separar mais dela. Não queria soltá-la, muito menos que ela o soltasse. Então, quando o beijo foi perdendo a intensidade, terminando em vários selinhos, o deus não abriu os olhos. Fingiu que não percebeu. E ela teve a mesma ideia, porque sentiu quando Sigyn colocou a cabeça deitada em seu ombro, a respiração quente batendo em seu pescoço, lembrando-o que ela estava ali, que ela existia e que ela também não queria que ele fosse embora. Molhou os lábios rapidamente, sentindo o gosto do protetor labial que Helena usava no frio e sorriu. Enterrou o rosto nos cabelos loiros e desejou que o tempo parasse naquele momento.

Você vem me ver algum dia desses? A voz dela saiu tão baixa que Loki demorou para entender que era Helena falando com ele.

Venho assim que der, sabe disso. A loira assentiu, ainda agarrada a ele. Estava cada vez mais frio e tão gostoso ficar daquele jeito com seu namorado.

Não sei quando irei ver meus outros avós.

Ah sim. Loki soltou-se de Helena e, habilidosamente, suas mãos foram até o fecho do colar. Helena jogou o cabelo de lado para ajudá-lo. O toque das pontas dos dedos dele a fez sentir um arrepio, da cabeça aos pés, um choque gostoso que queria poder sentir todos os dias. Fechou os olhos, querendo que aquele momento durasse para sempre.

Loki. Ouviu o barulho de salto ecoando no corredor do seu quarto e a voz suave de sua mãe o chamar. Virou-se e esperou que ela chegasse até seu lado para então voltar ao caminho que estava fazendo, sua mão agora ao seu lado, as mãos em frente do corpo, apertando-as nervosamente. Você precisa me avisar quando você vai ficar fora tanto tempo.

Não era minha intenção, mãe, me desculpe. Só... Respirou fundo. Não sabia se conseguiria falar sobre aquilo com sua mãe naquelas circunstâncias.

O que aconteceu? Vocês brigaram?

Não. Helena está na casa dos avós e descobriu algo, mas não é sensato falarmos no corredor e sem proteção. Não queria Heimdall ouvindo suas conversas com sua mãe. Em seu quarto, o feitiço para que Heimdall não conseguisse vê-lo nem ouvi-lo era permanente. Frigga assentiu com a cabeça e caminhou em silêncio ao lado do filho. Loki podia perceber a curiosidade da mulher ao seu lado e não pode deixar de evitar que um sorriso malandro escapasse. Conhecia sua mãe muito bem e sabia que ela não descansaria até que ele contasse o que tinha acontecido.

Empurrou as portas pesadas e deu espaço para Frigga passar e, depois, fechou-as após olhar no corredor para se certificar que ninguém tinha ouvido o que tinham conversado no corredor. Sua mãe sentou-se na cama enquanto Loki tirava o sobretudo e as armaduras pesadas antes de começar a falar alguma coisa. Podia sentir a curiosidade dela emanar – começava a se divertir com aquilo. Quando estava somente com uma camiseta verde de manga comprida e a calça, deu-se por satisfeito.

Filho, eu estou esperando. O deus suspirou e cruzou os braços.

Foi a senhora que fez a profecia de Sigyn, não?

Sim. Uma das únicas que não se concretizaram.

Na verdade... Como contaria aquilo para sua mãe, que acreditava que Odin, apesar de seus defeitos, colocava a felicidade dos filhos em primeiro lugar? Os pais de Helena foram banidos de Asgard, centenas de anos atrás. Preferiu ser rápido. Odin não queria Sigyn, mãe. Odin...

Espera, Loki. Do que você está falando? Ela já tinha se colocado de pé.

E então, com uma paciência que só ele sabia ter de algumas vezes, explicou toda a história. A mesma história que tinha ouvido de Helena, e depois de Magnus enquanto estavam na biblioteca. A história de como Odin tinha sido um idiota por não permitir duas pessoas que se amavam de se casarem, só porque ele tinha medo que talvez a filha deles fosse casar com seu filho. Frigga tentou manter a expressão impassível, mas o deus pode perceber os movimentos das sobrancelhas, as mãos contorcidas. Ela estava irritada e preocupada.

Vai fazer algo sobre isso, filho?

Estou sem saída. Não posso simplesmente chegar para Odin e acusá-lo de tudo isso sem jogar na cara dele que eu estou indo para Midgard todos os dias e que o plano dele falhou. Não sei o que pode acontecer com Helena ou com a família dela. Apesar que a minha vontade é de... Travou a mandíbula. Ainda estava falando com a sua mãe. Fechou as mãos em punho e depois abriu, tentando controlar a raiva. Era por isso que Midgard era proibido. Nem Jotunheim era.

Filho, por favor.

Estava magoado. Estava ferido e com raiva. Era como se seu pai tivesse negado sua felicidade desde que era criança. Como teria sido sua vida se Sigyn tivesse nascido em Asgard? Como a teria conhecido? Eles estariam juntos há quanto tempo? Estariam casados, afinal, ela já teria atingido a maioridade há um tempo. Odin sempre o acusava de ser egoísta, mas não era ao ponto de mexer na vida inteira de alguém. De negar o direito de vida.

Frigga encarava o rosto de seu filho, percebendo todas as emoções conflitantes que passavam por ali. E sabia que ele tinha total razão de se sentir daquele jeito. Odin tinha ido longe demais com os planos para Loki – nunca imaginava que ele fosse capaz daquilo. Tinha apenas concluído que Sigyn era, definitivamente, uma lenda, e que a profecia não se cumpriria, já que, por anos, ela olhava todos os dias os registros de casamento procurando pelos nomes que trariam a felicidade para seu filho, que tanto precisava. Deu alguns passos para frente e passou a mão por seu cabelo. Depositou um beijo delicado em sua testa. Percebeu quando ele torceu um pouco o nariz, não muito feliz com aquela demonstração de afeto.

Descanse, Loki. Não fique pensando nisso, agora. Encontraremos um jeito. O importante é que vocês se acharam. O deus engoliu um seco e assentiu com a cabeça. Ótimo. Vou falar para seu pai que o motivo de você não estar no jantar era porque não estava se sentindo muito bem.

Obrigado, mãe.

Só me avise caso isso for acontecer de novo. Frigga o puxou para um abraço, mesmo que ele odiasse aquela demonstração de carinho vindo dela. Eu não entendo tudo o que Odin faz, Loki. Não concordo com isso. Espero que saiba disso.

Frigga não gostava de vê-lo daquele jeito, tão vulnerável. Fazia-a lembrar do dia que Odin chegou da batalha, carregando-o no colo, pequeno e assustado. Não tinha mais que um mês de vida. Seu coração de mãe tinha se partido em milhões de pedaços, ignorando até mesmo os mais profundos ferimentos do marido. Não queria ouvir sobre os planos de como o filho de Laufey podia ser uma arma eficaz na dominação dos gigantes de gelo, em como podiam manipulá-lo para crescer e se tornar aliado de Asgard, queria apenas proteger aquele bebê – tão inocente – de tudo o que estava acontecendo a sua volta. Quantas vezes não tinha tentado tirar aquele pensamento idiota e louco da cabeça de Odin? Loki não sabia nem de sua verdadeira natureza, e tinha tanto medo.

Loki era seu filho. Do momento que o tinha pego no colo para sempre. E nada mais importava.

Já sabia que não podia deixar aquilo continuar. Não podia esconder por muito mais tempo de Loki sua verdadeira ascendência – mesmo que aquilo a custasse caro. Tinha medo de perdê-lo para sempre. Separou-se dele, sorrindo fraco. Queria que seus filhos fossem felizes, completos, únicos e sabia que Odin não deixava que Loki seguisse seu próprio caminho. Estava preocupada, não podia evitar ser um pouco mais maternal que o normal. Ouviu-o resmungar.

Descanse. Conversamos outro dia.

Boa noite, mãe.

Boa noite, filho. Tenha bons sonhos.

Loki observou-a sair do quarto ainda parado no mesmo lugar. Estava com vontade de gritar, quebrar cada pedaço de vidro que tinha no quarto, jogar todos os livros no chão. Apertou as mãos em punho e respirou fundo, tentando se controlar, tentando pensar em Helena, “não faça nenhuma besteira”. A voz dela se repetia em sua mente. E se não fosse por sua mãe naquele castelo, provavelmente já teria enlouquecido muito antes. Fechou os olhos e soltou as mãos. Não conseguiria dormir. Queria poder enfrentar Odin e gritar, extravasar tudo o que sentia desde criança, crescendo na sombra de Thor.

E, naquele dia, que descobrira que ele tentara tirar Sigyn propositalmente de sua vida, sentia que podia matá-lo.

Não gostava daqueles pensamentos, mas estavam se tornando mais frequentes. Helena conseguia fazê-los desaparecerem naquelas horas que passavam juntos, apenas. E então, toda aquela raiva acumulada por um milênio do seu pai voltava. Não podia se sentir assim, afinal, era seu pai. Mas quando se cresce na sombra do filho de ouro, reprimido, como se não fosse aceito, como se não se encaixasse naquele lugar, era fácil sentir raiva da primeira pessoa que parecia ser a culpada.

Onde estava Loki? Odin perguntou. Frigga fechou a porta do quarto com delicadeza atrás de si, respirou fundo. Agora seu filho provavelmente estava no quarto, sem sono, sentado na janela, como ele sempre fazia quando algo o afligia.

Não estava se sentindo bem, disse que deve ter comido algo a tarde que não o fez bem. Odin, eu queria conversar com você sobre ele.

O que foi, Frigga? Está tarde, amanhã tenho uma reunião cedo.

Eu sei, mas é... Não acha melhor contarmos para ele tudo?

Já conversamos sobre isso, não? A mulher respirou fundo e começou a desfazer a trança que prendia cuidadosamente seu cabelo.

As circunstâncias agora são diferentes, Odin. Loki está mais velho, está cada vez mais distante da gente. Ele sente que algo é diferente com ele. Não podemos mais esconder por muito tempo. E sabe que nunca fui a favor de deixá-lo no escuro. Por mim, tínhamos criado já sabendo de tudo o que aconteceu.

Não, Frigga. Ainda é cedo. A deusa revirou os olhos.

Pense melhor, ele pode não querer colaborar com seus planos...

A conversa está encerrada. Odiava aquele jeito de Odin, de achar que podia encerrar o assunto quando queria simplesmente por ele ser o rei de Asgard. Desceu do salto, deixando os sapatos na antessala ricamente decorada do quarto e o seguiu até o cômodo circular dourados.

Odin, por favor. Eu não suporto ter que ficar guardando isso de Loki.

Thor está começando a notar que ele é o seu protegido. Revirou os olhos azuis mais uma vez.

Igual Loki notou aos cinco anos que Thor era o seu? - Levantou as sobrancelhas, o desafiando. Não tenho protegido. Só dou a atenção que você não dá a Loki. Que aliás anda muito isolado de todos, ele podia arranjar uma namorada. Suspirou e começou a desfazer os laços do vestido. Encarou o deus de canto de olho, o rosto impassível enquanto tirava a armadura do peito. Um mistério, não?

Que mistério, mulher? Perguntou, cansado.

Sigyn. A expressão de Odin não mudou. Também, fazia tanto tempo, mais de um milênio, ele com certeza não estava mais afetado por tudo aquilo. — A única profecia que não se realizou.

É uma lenda, Frigga, tire ela da sua cabeça. Pelo seu bem e de Loki. Não dê falsas esperanças a ele. Sabe que ela só atrapalharia. Ao dizer isso, ele sumiu pelo quarto, entrou no banheiro e fechou a porta, deixando-a sozinha. Suspirou.

Seu marido sabia ser cabeça dura.

Vó, eles estão dormindo! Amanhã de manhã a gente liga. Estou com sono, por favor.

Sigyn, por favor. Estendeu mais uma vez o telefone para ela. Olhou para o seu vô, que parecia uma criança na manhã do natal. Gemeu.

Tudo bem, tudo bem. Vou ligar. Rodou os olhos, pegando o telefone da mão da mais velha. Tinha se despedido de Loki há alguns minutos, lavado a louça e agora seus avôs a obrigavam a ligar para seus pais, na Inglaterra, para contar o que havia acontecido, já que queriam fofocar, e para seus outros avôs, já que também queria fofocar, que moravam no interior da Islândia. Discou o número dos seus avôs primeiro. — Hey, vó, tudo bom?

—Sigyn! Não estava esperando você ligar. Aconteceu alguma coisa?

Sim! E a senhora Lif tá do meu lado enchendo o saco para eu contar as novidades para ela poder fofocar a vontade com a senhora e com o vovô. Então eu vou contar, mas sem detalhes, tá? Ela vai te contar tudo. Eu ainda preciso ligar pra mamãe e papai. Sem surtos.

—Está me deixando nervosa, menina.

Loki veio jantar hoje.

—O quê? O Loki? Loki? Deus? Loki? Príncipe? Loki? Seu namorado? Loki?— Helena gargalhou. Provavelmente era o dia que ela mais tinha ouvido o nome dele em sua vida.

Sim, esse mesmo, vovó. Eu disse sem surtos! Vou deixar vocês duas conversarem. E ligar pra mamãe e papai. Beijos, vó, te amo. Vou ver se passo ai algum dia desses antes de voltar pra Londres.

—Também te amo. E também quero um jantar com a nobreza de Asgard. — Rodou os olhos. Deu boa noite e passou o telefone para sua avó.

Vou ligar pra mãe do celular e depois você liga para ela, ok? A senhora assentiu com a cabeça e deu pulinhos, colocando o telefone na orelha. Disparou a falar em islandês, rápido demais. Pegou o celular da escrivaninha e sentou-se no sofá ao lado do seu avô. Qual é a sensação, vô?

De ter jantado com Loki? Soltou um “aham”, enquanto procurava o telefone da casa dos pais na agenda. Foi... diferente. É estranho ter realeza tão perto da gente agora. Quando fomos banidos ele era uma criança.

Quantos anos Loki tem?

Nunca te disse?

Não. Sempre disse aproximado, mas nunca o número real. Bem, não que isso importe muito.

Ele deve ser alguns anos mais novo que seus pais.

Ew. Agora isso é estranho. Deu risada, arrancando uma gargalhada de seu avô também. Falando neles, vou acordar as feras. Vamos ver como vão reagir. Apertou o botão e colocou o celular na orelha. O telefone chamou mais do que quando ligou para seus avôs e seu pai atendeu com uma voz sonolenta. Em minha defesa, seus sogros estão me enchendo o saco pra dar essa novidade hoje pra eles poderem fofocar a vontade sobre, então não me culpem, tá?

—Oi filha, tudo bem com você? Viagem tá boa? Vovó já te explicou tudo? A gente tá bem também. Que bom que você tá aproveitando.

Haha, engraçado você. Então. Seguinte. Senta. Sua mãe quase teve um ataque cardíaco quando ficou sabendo. Deu um tempo e ouviu um “pronto”. Bem, Loki jantou com a gente hoje.

—Espera um segundo. Estamos falando do mesmo Loki que estamos pensando? Assim. Só pra gente deixar claro.

Sim, papai. Esse Loki.

—Eu não acredito. Você apresentou seu namorado pros seus avôs antes de apresentar ele pra gente?

Pai, por favor. Não...

—Quero conversar com seus avôs já.

Também te amo, pai. Até mais. Boa noite. Ouviu ele sussurrar um “tanto faz” e dar risada. A sua relação com seu pai era bem melhor do que sua relação com sua mãe. Os dois eram ótimos, mas era bem mais apegada a ele. Por isso, apenas deu risada junto com ele e passou o celular ao seu avô, que também começou a falar com seu pai num islandês tão embolado que decidiu sair dali. Vou dormi, vô. Boa noite.

Boa noite, Si. Se precisar de alguma coisa. Assentiu com a cabeça e sorriu. Abaixou-se para beijar a sua bochecha enquanto ele ainda falava com seu pai, depois foi até sua vó, que ofereceu o rosto para que ela beijasse e sussurrou um boa noite. Subiu as escadas devagar e logo se jogou na cama em seu quarto.

Abriu os braços e fechou os olhos. Tudo parecia tão perfeito. Nem parecia que seu namorado morava, literalmente, em outro mundo, e que era imortal. Do jeito que se sentia, o mundo podia acabar naquele momento que não sentiria. Apertou o pingente do colar de novo e sorriu. Era tão sortuda por ter a melhor família do mundo e o melhor namorado do mundo.

Helena olhou intrigada para a porta. Não estava esperando nenhuma visita. O dono do apartamento tinha passado no começo da semana receber o aluguel e perguntar se estava tudo em ordem. Hannah não estava na cidade e John não saía de casa em véspera de provas. Loki tinha dito que estaria ocupado demais durante a semana para aparecer na Terra. Ouviu mais uma vez as batidas suaves na porta e levantou da cadeira, fechando de qualquer jeito os livros jogados na mesa. Olhou-se no espelho ao lado da porta para saber se estava apresentável antes de virar a chave e abri-la.

Espero não incomodar. Helena franziu o cenho quando encontrou uma mulher uns cinco centímetros mais alta que ela parada em sua porta, com um vestido verde azulado que caíam em delicadas pregas pelo corpo e parecia ser feito da mais suave seda que podia ser encontrado em todo o mundo. Seu cabelo estava preso numa trança que vinha pela lateral do corpo e encontrava quase a sua cintura, enquanto as raízes do cabelo loiro, meio enrolado, estavam cuidadosamente arrumadas para que algumas mechas caíssem em seu rosto imperial e dessem destaque aos olhos cinzas. Era tão bonita, com um sorriso tão delicado. Frigga.

Hm, não, claro que não. Por favor. Deu espaço para que a mulher passasse e, enquanto isso, fechou os olhos e respirou bem fundo. A mãe de seu namorado. Ali. Sem nem avisar. E estava uma bagunça por ter ficado estudando a tarde inteira. Estava com sua roupa mais desleixada de ficar em casa. E a realeza de Asgard em sua sala. Percebeu o interesse dela pelos seus livros jogados na sala. Mordeu o lábio inferior. Desculpa pela bagunça, eu tenho provas essa semana, estava estudando.

Não se preocupe, querida, eu que cheguei sem avisar. Helena sentia o coração bater tão forte no peito que jurava que ele explodiria. Sempre imaginou como era Frigga, como era Odin, mas nunca imaginou que ela apareceria de repente em seu apartamento. Podemos conversar?

Sente-se. Apontou para o sofá. Quer algo para beber? Água, café, chá?

Não, querida, estou bem. Acenou com a cabeça e sentou-se na poltrona em frente da rainha. O mais ereta possível, com o rosto mais impassível possível, tentando não transparecer que parecia que teria um ataque cardíaco a qualquer momento, e que sua mão estava suando mesmo que lá fora a temperatura não passava dos 5ºC. Bem, acho que já sabe o porquê estou aqui. Assentiu com a cabeça e percebeu o sorriso suave que ainda não tinha sumido do rosto da rainha.

Acho que sim. Tentou quebrar um pouco daquela tensão que só ela sentia.

Loki me contou a história. Dos seus pais, digo. Frigga tomou fôlego e torceu as mãos que estava em seu colo. Eu nunca entendi muito do que meu marido faz, Sigyn, e eu quero pessoalmente pedir desculpa por tudo isso.

Não precisa. Sussurrou.

Ah sim. Helena sorriu fraco. Ainda não entendo por que deixar nosso filho longe de você. Suas bochechas provavelmente explodiram em vermelhidão. Vim para isso, e também porque estava curiosíssima para conhecê-la pessoalmente.

Posso dizer o mesmo. Frigga riu

Também quero agradecer. Você tem feito bem ao meu filho. Oh, estou te envergonhando, não? Helena deixou uma risada nervosa escapar. Sempre digo a Loki, imagine se ele estivesse aqui, seria muito mais embaraçante. A moça conseguiu genuinamente rir do comentário da mulher a sua frente, e ela a acompanhou.

Desculpa, é que não sei muito bem como agir com a senhora. Eu estou acostumada com Loki, mas é...

Não precisa de tanta formalidade, estamos fora de Asgard, e vim como família. Vou falar a mesma coisa que falei para Loki, tudo bem? Assentiu com a cabeça e se arrumou na poltrona. Frigga inclinou-se um pouco para ela e sorriu. Devagar com tudo isso. Sei que parece novo, emocionante e a melhor coisa que pode ter acontecido na sua vida, mas não quero nenhum dos dois machucados com isso. Infelizmente, a realidade de vocês são muito diferentes. Enquanto você não pode voltar para Asgard sem permissão de Odin, Loki não pode simplesmente abandonar tudo. E temos um pequeno empecilho que acredito que você, mais do Loki, tenha perdido horas pensando sobre. Respirou bem fundo e desviou o olhar de Frigga, encarando os livros em cima da mesa.

Sim. Ainda penso muito nisso.

Não estou falando que vocês não deveriam se ver, mas só para tomar cuidado. Não vejo problema em tudo isso, Loki vir aqui sempre que puder e vocês dois ficarem juntos. Pelo contrário, está fazendo bem para ele. Mas Odin não tem a mesma opinião que eu.

Eu sei. - Sussurrou. Muito bem, aliás. Olhe, Frigga, me permite chamá-la assim? Assentiu, ainda com um sorriso no rosto. Eu penso nisso todos os dias que ele chega e sempre que ele vai embora. Se eu me machucar com isso, tenho mais cinquenta, sessenta anos de vida talvez. Sou mortal, estou acostumada com a transitoriedade das coisas. Tive dois namoros que terminaram, fiquei péssima durante algumas semanas, e então percebi que a minha vida é muito curta. Se Loki se machucar com tudo isso... Respirou fundo. Sabe, mesmo com pouco tempo, eu já percebi como ele. Como tudo para ele parece ser maximizado. E eu não quero que isso aconteça, pode ter certeza. Me preocupo com Loki, e me preocupava antes de saber que tudo isso era verdade, que eu estava predestinada a ficar com ele, porque... Parou de falar, percebendo que estava falando rápido demais, deixando coisa demais sair. E nem conhecia Frigga direito. Ela a mãe de seu namorado. Não deveria estar falando essas coisas com ela. Então por que se sentia tão segura com ela? Sentia que seus olhos já estavam ardendo.

Vocês dois são bem diferentes, e tão parecidos ao mesmo tempo. Voltou a encará-la, com os olhos marejados. Você se preocupa com ele, pensa em tudo e mais um pouco para ter certeza que nenhum dos dois saíam machucado disso. Loki se acha racional demais, mas, no fundo, ele é muito impulsivo. Ele se preocupa mais com você do que com ele mesmo, e isso me preocupa um pouco.

Entendo.

Vou tentar interceder por vocês, Sigyn. Vou tentar colocar na cabeça do meu marido que o que ele fez foi errado. Helena soltou uma risada com o tom de voz dela. Eu sei que ele parece ruim, e você não deve ser a maior fã dele dada as circunstâncias... Levantou as sobrancelhas com um sorriso divertido para ela. Mas ele me ouve, quando quer.

Obrigada.

Tem mais uma coisa. A deusa ficou mais séria. O estômago de Helena deu uma volta e sentiu que não gostaria do que viria a seguir. Piscou devagar, tentando entender a súbita mudança de ares da sala. Eu conheço meu filho melhor do que ninguém e sei o que passa na cabeça dele, mesmo que ele não admita. Loki não é uma má pessoa, Sigyn. Nunca foi. Mas não podemos negar que algo nele é mais... Vingativa, negra. Entende? Assentiu lentamente com a cabeça e engoliu um seco que parecia ser difícil. Como já disse, você tem feito bem a ele, eu só preciso que você esteja ciente que Loki não é o Loki dos mitos, mas também não é a melhor das pessoas.

Eu entendo. Mas todos temos defeitos, não? Sorriu, tentando quebrar aquele clima pesado.

Helena sabia. Sabia porque Loki tinha chego um dia depois de ter contado a história de seus pais, ele estava diferente, distante, seco. Quase não retribuiu o abraço apertado que ela tinha dado – sabendo que ele precisava tanto. Sentados em um parque, nos balanços inabitados por causa do frio e da neve, ela perguntara qual era o problema e ele tinha cuspido tudo em cima dela. Todos aqueles sentimentos de ódio que estavam borbulhando dentro dele. Ela ouviu, pacientemente, encarando-o tentando entender tudo aquilo que estava passando dentro dele. Depois, estendeu a mão o suficiente para que conseguisse tocar seu rosto e mostrar que, tudo bem, estava ali, entendia, seus sentimentos eram válidos, e estava tão feliz que ele tinha confiado nela o suficiente para contar tudo aquilo e não mentir.

Todos temos defeitos, Sigyn. O sorriso da rainha era maternal e quase aliviado.

Tem certeza que não quer nada para beber? Apontou para a cozinha.

Se você insiste tanto, um chá seria ótimo.


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Notas finais do capítulo

Música do título: Lost Stars - Adam Levine



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