Chasing a Starlight escrita por ladywriterx


Capítulo 4
Eternidade




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Ei, Helena! Terminou de colocar o casaco e fechou seu armário. Virou-se para a pessoa que se aproximava e sorriu. Robert era um dos colegas de trabalho e sempre a acompanhava até a estação de metrô. Pronta para ir?

Claro. Tirou o cabelo de dentro da gola e pegou sua bolsa e seus livros. Tinha vindo direto da faculdade para o trabalho e estava exausta. Precisava de sua cama, o mais rápido possível. Como foi hoje?

Segunda feira sempre é parado. Assentiu com a cabeça. Encolheu-se no casaco quando ele empurrou a porta e o vento gelado da rua a atingiu. Hm, Helena...

Sim? Levantou as sobrancelhas para ele, ainda sorrindo. Arrumou melhor a bolsa nos ombros.

Sábado a gente não trabalha e eu pensei que pudéssemos, sei lá, ir no cinema, jantar? Ele gaguejou um pouco nas últimas palavras. A moça parou bruscamente, surpresa com o pedido. Ele parou junto. Encarou-o, com as sobrancelhas franzidas.

Robert. Olha... - O rapaz soltou uma risada pelo nariz. Me escuta. De verdade, se fosse semana passado esse pedido, eu teria aceitado. É que as coisas estão meio... enroladas. Ele colocou as mãos no bolso e se inclinou para mais perto. Helena deu um passo para trás. Estavam em uma rua escura, sem movimento àquela hora da noite. Engoliu um seco. Robert, por favor.

Tudo bem, é claro que deve ser algum idiota qualquer que deve te tratar como um lixo.

Para, ok? Estou cansada, estudei o dia inteiro e trabalhei, eu só quero ir pra casa. Por favor. Sua voz saiu calma, lenta e pausada, apesar do medo que começa a crescer dentro dela. Já tinha ouvido muitas histórias de mulheres naquela mesma situação e que não tinham terminado tão bem, principalmente quanto estagiava no centro psicológico e psiquiátrico do hospital. Sentiu o corpo inteiro gelar quando sentiu o primeiro aperto no pulso, fazendo-a derrubar todos os livros que segurava. Robert, por favor. Repetiu.

Relaxa Helena, eu sei que você quer. Respirou fundo e tentou se soltar, mas a única coisa que sentiu foi o aperto ficar ainda mais forte. Olhou para a direção do restaurante, as luzes ainda acessas. Talvez se gritasse, alguém ouviria. Antes de conseguir fazê-lo, a outra mão dele encontrou seu rosto, fechando a sua boca e quase impedindo-a de respirar. Começou a empurrá-lo com a única mão livre. Sabe, eu te trato tão bem, te levo na estação todos os dias, sou um cara legal, e é assim que você retribui. Igual todas as outras. Um pouquinho mais atraente, mas igual todas as outras. Seu coração agora batia tão rápido que conseguia ouvi-lo. Precisava escapar.

Tentou olhar em volta para achar uma saída e, assim que virou a cabeça, sentiu que ele começou a beijar seu pescoço com força. Se Loki estivesse ali naquele momento. Fechou os olhos com força e fez a primeira coisa que conseguiu pensar: levantou os joelhos com força para que o atingisse bem na parte mais delicada. Ouviu-o gritar e gemer de dor, largando-a por alguns instantes. Tempo o suficiente para poder raciocinar o próximo passo. Alcançou o bolso de trás da calça, onde suas chaves sempre ficavam para casos exatamente como aqueles. Tinha aprendido isso logo depois que se mudou para Londres, com Hannah. Habilmente, depois de muito treino por andar sozinha a noite, colocou a chave entre os dedos.

Quem você pensa que é? Gritou, a voz mais aguda do que o necessário. Ainda estava assustada, afinal. É difícil entender um não? Até um cachorro entende um não! Ouviu passos em sua direção e respirou aliviada. Continuou apontando as chaves para ele.

Helena? Robert?

Senhor Watson. O dono do restaurante se aproximou ainda mais.

Está tudo bem, Helena? Robert já tinha se colocado de pé de novo, encarando-a com ódio nos olhos.

Agora sim, depois que ele parou de me agarrar a força.

Depois de descer na estação de metrô mais próxima de sua casa, ainda tinha mais dois quilômetros até chegar em seu prédio. Seu coração ainda estava acelerado. Não conseguia acreditar que tinha sido despedida como se a culpa de tudo aquilo fosse dela. Como se fosse obrigada a aguentar investidas contra ela. Pelo menos receberia indenização por ter sido demitida sem justa causa. Daria para aguentar por um tempo até encontrar outro emprego.

Ou talvez Hannah tinha razão. Pelo menos naquele último semestre pediria um empréstimo. Pararia de trabalhar para se dedicar apenas a estudar e passar nas provas da pós-graduação e residência. Era melhor do que ficar se matando por um trabalho de salário-mínimo que lhe rendia muitas dores de cabeça. Chutou uma pedra no meio do caminho e abraçou com força seus livros. Podia ser muito pior, pensou, pelo menos apenas seu pescoço e seu pulso estavam com aquelas marcas horríveis e nada de pior tinha acontecido. Estava inteira, viva. Estava bem.

Seu coração acelerou pela segunda vez naquela noite quando percebeu um vulto encostado no muro de seu prédio. Diminuiu os passos, desconfiada. Dois numa noite só era pedir demais. Revirou os olhos. Talvez não fosse nada, talvez fosse um daqueles viciados que saiam a noite para comprar drogas e nem fosse notá-la. Talvez. Com uma mão, grudou a bolsa no corpo quando estava cada vez mais perto, percebendo como o vulto era alto. Apertou os olhos e sentiu vontade de rir e gritar ao mesmo tempo.

Loki! Que susto. Ele virou-se para Helena, que relaxou o corpo. O que está fazendo aqui?

Não sei, para falar a verdade. Você está bem? Assentiu com a cabeça, mais tranquila.

Vamos subir, não gosto de ficar aqui fora tão tarde. Aquela rua lhe dava calafrios tão tarde. A iluminação era precária e, bem, não era o bairro mais seguro do mundo. Abriu o portão, com Loki ao seu encalço. A portaria era pequena, apenas com os armários das correspondências e um balcão e, assim que fechou a porta do hall, Loki a segurou pelo pulso, exatamente igual Robert, o que a fez respirar fundo, e a virou.

O que aconteceu? Ele abriu a mão, mostrando o braço vermelho de Helena. Ela abaixou os olhos e suspirou. Aquilo formaria um hematoma bem grande. E como contaria para Loki? Não o conhecia bem o suficiente para saber como ele reagiria. Tinha medo que ele a culpasse, assim como Watson, mas sabia que não teria problema dele não acreditar no que estava falando. Naquele fim de semana que passaram juntos, já descobriu que não conseguiria mentir. Sentiu os olhos encherem de lágrimas com a constatação do que tinha acontecido.

Quase fora estuprada, tinha perdido seu emprego porque, como sempre, a culpa era sempre da mulher, e ali estava ela na frente de Loki sem saber como reagir com medo que algo fosse dar errado. Queria que aquele dia acabasse logo, queria poder se enfiar debaixo da cama e chorar. Talvez ligar para Hannah para que ela a acalmasse. Não percebeu o tempo que ficou naquele dilema até que sentiu o toque delicado de Loki em seu queixo, fazendo-a olhar para ele. Tão diferente do que tinha sentido mais cedo. Não tinha pressão, nem a forçava a nada. Uma lágrima escorreu e, antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, abraçou-o com força. Talvez ele pudesse consolá-la, ao invés de Hannah.

Loki fechou os olhos e passou os braços em volta dela. Não sabia o que tinha acontecido, só sentiu que precisava vê-la. Simples assim. Então, depois que sua mãe se despediu desejando boa noite, correu para a passagem. Ela não parecia estar em casa, todas as luzes desligadas, decidiu esperá-la, apenas para vê-la chegar toda apreensiva. Foi a confirmação que algo tinha acontecido. E ela parecia ter sido feita para ficar ali, da altura perfeita para que seu queixo encontrasse o topo da sua cabeça. Deixou que ela ficasse daquele jeito até a respiração voltar ao normal, até que Helena desse o primeiro passo para separar-se do abraço. E, assim que ela o fez, passou a mão por seu rosto, limpando as lágrimas que ainda caiam.

Está machucada? Negou com a cabeça rapidamente, sentindo a pele formigar onde ele tinha tocado-a. Preciso matar alguém? Helena esboçou um sorriso.

Não. Nem pense. Um idiota do meu emprego. Quer dizer, ex-emprego. — Rolou os olhos. Eu preciso de um chá quente, me acalmar.

Sua casa nunca pareceu tão aconchegante quanto naquele dia. Enquanto subia as escadas, Loki ainda insistia em perguntar o que tinha acontecido, e Helena sentia que seu braço estava perto de sua cintura, como se ele fosse precisar segurá-la a qualquer momento. E não duvidou que podia desmaiar. Estava tão cansada depois que a adrenalina tinha saído de seu sistema. Estava desde a hora do almoço sem comer nada, já que, apesar do restaurante não estar lotado, não tinha tido horário para a janta. Estava fraca, cansada e traumatizada. Podia muito bem cair desmaiada ali mesmo. Jogou as chaves no aparador do hall e Loki fechou a porta atrás de si com um baque seco.

Vou fazer um chá e depois eu conto tudo. Bem, sinta-se em casa. Helena tirou o casaco pesado e as botas, deixou os livros caírem na mesa de centro e a bolsa ficou pendurada na cadeira.

Loki seguiu-a até a cozinha, observando-a atentamente. O jeito como ela parecia mais distante, distraída. Percebeu alguns vermelhos em seu pescoço e franziu o cenho. Enquanto ela colocava a chaleira no fogão, percebeu o modo incomodo que ela passou a mão no pescoço e suspirou. Virou-se para Loki, os olhos cansados, encarando-o como se estivesse tomando coragem. Ele cruzou os braços e se encostou na bancada, esperando que ela contasse, mas sem pressionar.

Estava saindo do emprego, como todas as noites, e tem um cara no serviço que me levava até a estação de metrô sempre. Ele me chamou para sair e, depois de eu recusar, ele... Deu uma pausa, olhou para cima para impedir que seus olhos voltassem a encherem de lágrimas. Me agarrou a força. A expressão de Loki mudou de impassividade para uma raiva que ela nunca tinha visto. Encolheu-se, acreditando que ele jogaria a raiva em cima dela. Todos a culpariam. Não devia ter contado.

Ele conseguiu...? Helena negou com a cabeça.

Consegui empurrá-lo antes. Foi a vez de Loki respirar fundo e soltar o ar devagar.

Já tinha um sentimento de possessão enorme em relação a Helena. Afinal, ela era a sua Sigyn, e de mais ninguém. Além disso, nenhum homem devia tentar algo contra a vontade de ninguém, e ali estava o resultado daquilo. Lena ainda tremia de vez em quando, assustada demais para continuar a falar alguma coisa. Queria poder encontrá-lo e socá-lo. Queria fazê-lo sentir o medo que tinha feito Helena sentir. Queria ter estado lá naquele lugar para poder salvá-la, mas não estava.

O dono do restaurante apareceu depois que eu estava gritando com ele. Disse que a culpa era minha, que eu não devia ter dado chance para ele fazer aquilo e, se eu aceitava a companhia até o metrô todos os dias, então era óbvio que um dia aquilo ia acontecer. — Sentia uma bola presa em sua garganta depois de contar aquilo. Esperava qualquer reação de Loki além do rosto contorcido naquela careta que ela já não conseguia distinguir o sentimento. Não conseguiria falar mais nada.

Tem certeza que está bem? Sussurrou um “aham” rápido. Tem certeza que eu não tenho que matar ninguém? Soltou uma risada pelo nariz, um pouco mais segura depois de Loki não a ter culpado. Helena. O tom de voz que usou com ela foi o suficiente para fazê-la voltar a chorar. Loki se aproximou e segurou seu rosto. Não sabia como ela reagiria se tentasse beijá-la, então apenas depositou suavemente um beijo em sua testa enquanto sentia as mãos dela apertarem a sua roupa. Seu chefe e esse idiota são dois covardes.

Obrigada. - Sussurrou. Por estar aqui. Ficaram daquele jeito até a chaleira começar a apitar, avisando que a água estava quente o suficiente. Separaram-se e Helena desligou o fogão, indo até a prateleira pegar as xícaras.

Sentaram-se na poltrona que dava de frente para o sofá. Ajeitaram-se de um jeito que o encaixe fosse perfeito. Ela conseguia uma visão perfeita do perfil – maravilhoso – dele. A xícara quente em sua mão dava um conforto que ela precisava, enquanto o calor do corpo dele a ajudava a relaxar.

Você tinha comentado que seus pais chegariam de viagem ontem. Como foi?

Normal. Respondeu, monótono. A rotina em casa ficou ainda pior com meu pai para mandar, Thor está ainda mais insuportável porque adora puxar o saco de Odin. Helena riu. E, bem, minha mãe continua sendo minha mãe. Ele deu de ombros.

Por que diz isso?

Sempre fui mais ligado a minha mãe que a Odin. O problema é que assim ela me conhece bem até demais. É a única que eu não consigo mentir. — Lena tentou não se mostrar abalada por aquilo. O que queria, também? Loki convivia há mais de um milênio com Frigga, enquanto eles se conheciam há apenas uma semana. Então fica difícil esconder qualquer coisa dela.

Ela sabe que está aqui? Ele negou com a cabeça, divertido.

Consegui sair, hoje. Mas, se a pergunta for se ela sabe que venho para cá, sim, sabe. Helena sentiu o rosto corar e tomou um gole do chá para esconder isso. Frigga, a rainha de Asgard, sabia de sua existência. Lena?

Hm? Levantou os olhos da xícara.

O que exatamente temos? Ele precisava daquela confirmação para saber como lidar com tudo aquilo, o que pensar sobre Helena e sobre toda aquela loucura que sua vida se tornaria. Helena tinha perdido algumas horas de sono aquela semana pensando em Loki, em como tudo aquilo era tão estranho e tão emocionante ao mesmo tempo. Pensava em tanta coisa, em como levaria aquilo para frente, isso se tivessem alguma coisa. Ajeitou-se melhor na poltrona.

Não sei, Loki. Respondeu, sinceramente. Eu não sei. Admitiu mais uma vez, mais para si mesmo que para ele. Passei a semana inteira pensando nisso e é tão estranho. Loki deixou sua xícara na mesa de centro, enquanto Helena tomava mais um gole. O silêncio que caiu era até desconfortável. - Você acha que tudo aquilo é verdade? Loki a encarou. Sabia que ela se referia aos mitos e o que ele podia falar? Que sim, que sua vida inteira era um mito por si só, que passara toda a sua adolescência procurando por ela e que finalmente acreditava fielmente que tinha encontrado a verdadeira Sigyn? Não podia.

Sim, acredito, Lena. Ela acenou com a cabeça.

Eu só tenho uma condição. Não minta para mim. Nunca. Sua voz falhou e pode sentir a garganta fechar. Robert tinha mentido para ela, sempre dizia que era só um cara fazendo um favor para uma amiga, e tinha tentado abusar dela. Os dois namoros mais sérios dela, todos acabaram por causa de mentira. E ali estava ela, começando a se apaixonar pelo deus das mentiras.

Helena. A voz de Loki saiu numa súplica.

Por favor, Loki. Promete. O deus encarou os olhos castanhos de Helena. Ele não precisava prometer porque sabia que não conseguiria mentir para ela. Podia tentar, mas provavelmente se sentiria tão culpado que acabaria revelando a verdade. Mas não tinha como dizer aquilo sem assustá-la. Soltou os ombros, cedendo às vontades dela. Tirou o chá da mão dela, também colocando na mesa de centro, percebeu que ela o seguiu com o olhar o tempo todo. Depois voltou e segurou suas duas mãos.

Eu prometo, Helena.

Foi ela que soltou as mãos e segurou o seu rosto com delicadeza, puxando-o para mais perto e grudando os lábios nos dele. Os dois sorriram antes de aprofundar o beijo. O deus levou uma mão até as pernas dela, colocando-as em cima do seu colo enquanto se inclinava ainda mais sobre ela. Ela ainda o segurava contra o seu rosto quando o beijo foi perdendo intensidade. E não se soltou. Abriu os olhos para encontrá-lo já a encarando, o brilho azul-esverdeado tão perto que a deixava sem fôlego. Loki grudou sua testa na dela para perceber que Helena fechou os olhos, aproveitando o gesto de carinho. Sentia-se tão segura que podia esquecer da vida daquele jeito.

Está ficando tarde demais, preciso voltar antes que percebam que sai. - Helena abriu os olhos de repente.

Tudo bem. Não queria se separar dele, mas entendia. Soltou seu rosto devagar, deixando-o levantar e, logo em seguida, também se levantou. Agora não tenho nada para fazer a noite.

Sempre que der eu apareço.

Vou sempre esperar, então. Sentiu mais uma vez a pressão dos lábios dele nos seus, por alguns segundos, antes que ele desaparecesse da sala num estalar de dedos. Abriu os olhos para se encontrar sozinha em casa.

A rotina de Loki se tornou muito mais agradável com as escapadas quase diárias para Midgard. Acordava sempre no mesmo horário, tinha sempre o mesmo café da manhã, tinha que aguentar seu pai falando as mesmas coisas todos os dias, aquele olhar que ele tanto odiava, de ser julgado a cada movimento. As obrigações reais acabavam no meio da tarde e, logo após, era obrigado por ser pai a ir até a arena treinar como todos os outros “honrados guerreiros”. Não queria ser um honrado guerreiro. Queria aperfeiçoar sua mágica para não precisar entrar num combate corpo a corpo, ou, se precisasse, que fosse o mínimo possível – e não via problema nenhum naquilo, ao contrário de todo o resto de Asgard. Quando Thor normalmente saia para beber, festejar e cortejar com os guerreiros, Loki aproveitava para se esgueirar pelos corredores do castelo até seu quarto, onde tomava um banho o mais rápido possível e, antes que pudesse notar, estava em frente ao prédio de Helena.

Ela tinha pego o costume de deixar a luz da cozinha acessa para indicar quando estava em casa quando Loki chegava de noite, mas naquele dia ele tinha chego depois do almoço num fim de semana. Uma neve fina caía e Helena já o esperava na praça, sorrindo, toda encolhida em alguns casacos para se proteger do frio. Era difícil Loki sentir frio, e ela já tinha percebido isso – como ele sempre parecia estar mais quentinho que a temperatura ambiente. A primeira coisa que fez foi depositar um selinho delicado e depois passar as mãos por baixo do seu sobretudo, tremendo de frio. Loki riu.

Muito tempo esperando? Perguntou.

Não. Não estou com frio, só gosto de ficar assim.

Helena estava de olhos fechados, deitada perto dele, sentindo o calor do corpo dele, em contraste com a neve, que ainda caía, delicadamente. Loki, por outro lado, tinha os olhos focados nela, ainda sem entender muito como tudo aquilo tinha acontecido. Mais uma semana tinha se passado, ainda meio perdido em relação a tudo aquilo que estava acontecendo, cada vez mais apegado à humana ao seu lado. Percebeu que ela suspirou e abriu os olhos.

Vou viajar amanhã. Colocou-se apoiada nos cotovelos para encontrá-lo já a olhando. Ele levantou as sobrancelhas. Não esperava algo tão repentino assim. Vou para Islândia e vou ficar duas semanas por lá.

Duas semanas? — Assentiu com a cabeça, devagar, também triste por ter que ficar duas semanas longe dele. Duas longas semanas. Tentou sorrir um pouco. Para onde eu vou nessas duas semanas? Helena soltou uma risada, deixou que ele a puxasse pela cintura e deitou em seu peito, sentindo-o tão perto, conseguindo ouvir as batidas do coração. Você tem que ir mesmo?

Não vejo meus avós já faz três anos. Preciso ir. Sussurrou e soltou todo ar dos pulmões. A mão dele já tinha começado a entrar pela sua camiseta e fazia um carinho gostoso em suas costas, perto da sua cintura, fazendo-a arrepiar com o toque.

Eu posso ir te visitar lá.

Loki, eu adoro te ver, de verdade, mas é melhor não. Não sei como eles vão reagir se você chegar de repente. Ele soltou uma gargalhada gostosa.

Tem razão, eles devem achar que eu sou uma má influência.

Não seja idiota. A voz saiu abafada, se preocupando mais em ouvir o coração dele bater embaixo do seu ouvido, tentando decorar o ritmo. Sentia-se tão conectada a ele em tão pouco tempo, como se... Suspirou. Como se tivessem sido feitos um pro outro, só a espera de o destino fazer a sua parte.  Por acaso, não tem nenhum jeito de nos falarmos nesse tempo? De verdade, tá na hora de vocês construírem uma rede de celular em Asgard.

Não comece, Helena. A tecnologia de vocês que parece engatinhar. Rolou os olhos, levantou a cabeça para conseguir encará-lo e o encontrou com um sorriso divertido. Vou pelo menos um dia.

Se insiste tanto. Agora, senhor todo poderoso, como você vai me achar? Desafiou-o, com as sobrancelhas erguidas.

Que horas você parte amanhã? Mordeu o lábio inferior e apertou os olhos, tentando se lembrar. As passagens estavam no aparador do hall, não se lembrava muito bem dos horários, mas tinha certeza que o avião saia apenas de tarde.

De manhã ainda estou aqui.

Ótimo. Venho me despedir, então.

Helena deu uma volta no próprio eixo, tentando identificar se havia esquecido alguma coisa. Passaporte, chave, as malas, o celular. Tudo certo. A carteira. Estava esquecendo a carteira. Voltou correndo para o quarto, fuçou na sua cômoda e jogou a carteira com seus cartões de crédito de qualquer jeito na bolsa. Precisava sair logo, não queria pegar trânsito até o aeroporto, não queria se atrasar. E Loki ainda não tinha aparecido. Suspirou. Quando passou pela sala, abriu um pouco a cortina para ver o lado de fora, calmo, sem ninguém. Loki prometeu que viria.

Procurando alguém? Helena pulou de susto com a voz que apareceu nas suas costas. Loki. Sentiu o coração acelerar antes de reconhecer a voz dele. Odiava quando ele fazia isso. E odiava ainda mais a risada que se seguia. Lena, ainda não se acostumou?

Nunca irei. Pare de fazer isso. Estava te esperando. Loki sorriu com a resposta e Helena também. Da próxima vez, bata na porta.

Pode deixar. - Ela segurou delicadamente o rosto do deus em suas mãos e o beijou. Sabia que o veria ainda na Islândia, mas não sabia quando. Se demorasse demais? Suspirou quando se soltaram. Eu tenho algo para você. Franziu o cenho. Do bolso de dentro do sobretudo, Loki tirou uma caixinha e entregou para Helena.

Encarou-o mais alguns segundos em dúvidas antes de abrir a caixinha preta. Era um colar simples, dourado – para combinar com os brincos que sempre usava, concluiu, já que Loki era observador ao extremo – com um pingente de pedra verde e âmbar, que se mesclavam quase perfeitamente. Voltou a olhar Loki, que sorria para ela, esperando alguma resposta.

Não precisava, Loki. Ele negou com a cabeça.

Não é nada caro, se é isso que você está pensando. Tirou o colar da caixinha, soltando um riso pelo nariz. Abriu o fecho e Helena virou-se para que Loki pudesse colocá-lo. Essa pedra é chamada Ewigkeit¹, é muito encontrada em Asgard, e é uma das melhores para se fazer feitiços nela. Como o feitiço localizador que coloquei. Explicou, terminando de fechar. Helena soltou os cabelos e se virou.

Obrigada. É lindo.

É assim que vou te achar na Islândia. Não se preocupe, é um feitiço temporário. Funciona uma vez, e depois tenho que refazer para que volte a funcionar, então, privacidade e funcionalidade. Eu sou um gênio.

Você está muito engraçadinho hoje, Loki.

Obrigado. Ele sorriu e se inclinou para mais um beijo.  Você tem mesmo que ir? Sussurrou, com os lábios colados ao dela. Sentiu Helena sorrir.

Sim, eu quero ir, Loki. Não os vejo há muito tempo. E não é como se fôssemos ficar cinco anos sem nos ver, por favor.

Tudo bem. Nos vemos quando der, então. Passei apenas para isso, escapei do castelo, devia estar indo para o almoço. Se eu me atrasar...

Vai lá, Loki. Sentiu aquela pressão nos lábios mais uma vez, os arrepios no corpo, a necessidade de estar cada vez mais perto dele. Respirou fundo quando se separaram.  Obrigada pelo presente, mais uma vez.

Era raro que ele falasse qualquer coisa nas despedidas e precisava começar a se acostumar com aquele pequeno aceno de cabeça antes dele desaparecer da sua frente para se materializar na praça perto da passagem da Bifrost. Mordeu o lábio inferior, vendo -o sumir pela Bifrost antes de fechar a cortina. Não tinha ideia como os vizinhos ainda não tinham notado nada estranho e, se tinham, não sabia como o bairro ainda não estava nos noticiários. Sorriu com aquele pensamento.

Precisava sair. Tinha um avião para pegar.


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Notas finais do capítulo

¹Ewigkeit: Eternidade em alemão.



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