Chasing a Starlight escrita por ladywriterx


Capítulo 10
Não mais secreto




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Capítulo 10 -

Não mais secreto

 

Loki tinha acabado de chegar de Midgard. Queria apenas deitar-se em sua cama, fechar os olhos e fingir que não tinha retornado, que ainda estava nos braços de Helena, sentindo o cheiro dela. Sabia que ficava patético quando o assunto era sua namorada, mas não podia evitar. Ela era o sonho no meio de tudo aquilo que acontecia em Asgard. Seu pai estava cada vez mais distante e exigente. Parecia que todas aquelas paredes do castelo tinham olhos e ouvidos para tudo o que ele fazia – justamente com ele, que conseguia se esconder até mesmo de Heimdall.

—Loki! — Ouviu a voz de Thor bradar atrás de si. Respirou fundo e parou, dando tempo para que ele o alcançasse. — Onde esteve hoje o dia inteiro?

—Sozinho, Thor. Aproveitando para ficar sozinho. — Olhou de canto de olho para o seu irmão, que tinha os braços cruzados, desconfiado.

—Não foi isso que ouvi você conversar com mamãe hoje de manhã. — Loki parou imediatamente, sentindo seu corpo inteiro gelar. Fechou as mãos em punho e abriu, tentando encontrar uma resposta coerente para aquilo.

—Do que está falando, Thor?

—Você e mamãe, conversando sobre uma moça. Em Midgard. — Respirou fundo, soltando o ar perigosamente. Sentia que podia voar no pescoço de Thor em poucos minutos. — Sigyn?

—Você estava ouvindo atrás da porta? — Falou cada sílaba como se fossem facas. Um bolo estava preso na sua garganta.

—Não responda as minhas perguntas com mais perguntas, irmão! —Contou mentalmente até dez e voltou a andar, ignorando Thor e seus passos pesados ao seu lado, como se aquilo fosse possível. Thor sabia de Sigyn. Ela não seria mais um segredo. Seu coração acelerou e sentiu que podia vomitar a qualquer minuto. Sif já devia saber. Os Três Grandes. Odin. — Não me ignore, Loki! — Sua respiração ficou pesada. Heimdall já devia ter achado Sigyn. Sua respiração descompassou. Quando sentiu a mão de Thor em seu braço, já estava suando frio.

—Me solta, Thor. — Sibilou entre as respirações pesadas.

—Qual é o grande problema de eu saber de sua namorada? Acho bom que tenha encontrado alguém que consegue te aturar.— A risada de Thor ecoou de um jeito que Loki não sabia se conseguiria tirar de sua cabeça. Seu quarto nunca pareceu tão longe, se esquivou do toque do seu irmão e apressou o passo até a porta no fim do corredor. — Quando vamos poder encontrá-la? — Ouviu o último deboche dele, abriu e fechou a porta com força e velocidade. Agora era só esperar até Odin vir e acabar com tudo.

Era tarde da noite. Helena levantou, chutando as cobertas para o lado. O único dia que ela não tinha turno na residência dela, alguém vinha acordá-la às... Três da manhã. Estava tão cansada que demorou algum tempo para perceber que a campainha era na sua casa, e mais algum tempo para ter alguma reação. Não se importou que estava usando um shorts curto e apertado, ou que a camiseta cobria o shorts de tão grande que era – tinha roubado de Loki uma vez que ele passara a noite ali. Gostava daquela camiseta branca. Ele reclamou ao ter que voltar para Asgard só com a armadura desconfortável, mas ficou quieto ao vê-la pela primeira vez naquela camiseta – e só aquela camiseta. Riu e mordeu o lábio inferior com aquela lembrança. Quem quer que fosse tocou a campainha mais duas vezes, impaciente. Correu até a porta, destrancou e, quando abriu, encontrou Loki pálido do lado de fora.

—Loki, eu não sabia que você vinha hoje. — O deus respirou fundo, parecendo cansado demais, como se procurasse força para respondê-la. O coração de Helena deu um pulo de preocupação no peito.

—Eu não vinha. — Deu espaço para ele entrar. Ele cambaleou para dentro do apartamento.

—O que aconteceu? — Percebeu que ele se jogou no sofá, soltando um gemido de dor. — Loki.

—Eu só precisava sair daquele lugar. — Dessa vez a passos rápidos, Helena se aproximou dele e ajoelhou-se a sua frente. Percebia a raiz dos cabelos dele molhada de suor, que escorria pelo rosto apesar do frio em Londres. Ele parecia desconfortável com o sobretudo preto de couro que ele normalmente usava. Passou a mão por seu cabelo, colocando-o para trás. Loki fechou os olhos.

—Hey, o que aconteceu? — Segurou as mãos dele e sorriu, apesar da preocupação. Nesse ano, tinha aprendido que para fazer Loki falar algo, tinha que insistir e ser calma. Apertou a mão dele, retribuindo o aperto dele.

—E eu preciso da sua ajuda.

—Claro. Mas o que aconteceu? — Loki soltou as mãos dela e tirou o sobretudo, além da armadura preta que sempre usava por cima da camiseta. Helena engoliu um seco.

A camiseta branca – igual a que ela usava – estava encharcada de sangue. Levantou o rosto para olhá-lo antes de levantar e ir até o banheiro, onde o kit de primeiro socorros ficava. Já não era a primeira vez que ele aparecia daquele jeito em casa. Ele nunca contava o porquê. Só sabia que daquela vez era muito pior. Muito pior. Vasculhou o armário do banheiro, engolindo mais um seco e parando as lágrimas nos olhos. Quando voltou para a sala, ele já tinha tirado a camiseta e pode ver os finos – porém profundos – cortes por todo o seu peito e suas costas. Loki respirava pausado e curto, provavelmente doía quando ele inspirava mais profundamente. Mordeu o lábio inferior. Nem perguntou o que tinha acontecido de novo. Enrolou o cabelo num coque mal feito, foi até a cozinha, onde pegou uma bacia com água e uma toalha.

Se ele fechasse os olhos, podia ouvir e sentir. Podia ouvir o barulho do chicote cortando o ar, podia sentir o quanto queimava em contato com a pele. Por isso, não fez isso, focou em Helena que, apesar da preocupação em seu rosto, andava graciosamente pela casa juntando tudo o que precisava. E, quando voltou, seus olhos castanhos já estavam marejados de água quando sentou ao seu lado, torceu a toalha que estava no balde e, com cuidado, começou a passar pelos seus ferimentos. A dor e ardência do toque dela não era nada comparado a dor que sentira nas mãos de seu pai.

Ela trabalhou em silêncio enquanto Loki a encarava. Observava cada ruga de preocupação que surgia no rosto dela. Entre as sobrancelhas, na testa. O lábio inferior que ela mordia com força, tentando segurar as tantas perguntas e o choro. Na terceira vez que ela foi molhar o pano – a água da bacia já vermelha de sangue – ele levou a mão até seu rosto e a fez olhá-lo. Sorriu fraco.

—Parece feio, mas eu estou bem, ok? — Ela não esboçou nenhuma reação. Loki passou o polegar pela sua bochecha e sorriu um pouco mais. — Não se preocupe.

—É claro que estou preocupada, Loki. Você me aparece na minha porta às três da manhã parecendo que foi retalhado e quer que eu fique tranquila?

—Eu não sabia mais para onde ir.

—Eu sei. — Com a mão livre, apertou a que dele que estava em seu rosto e fechou os olhos, sentindo o toque dele. — Vai me contar o que aconteceu? —Loki sussurrou um “não” que a fez abrir os olhos e levantar. Precisava trocar aquela água. Precisava pensar e sair um pouco de perto de Loki para impedir as lágrimas de caírem. Um dia morreria de preocupação por causa dele.

—Lena. — A voz dele era baixa e arrastada. Não olhou para trás, continuou seguindo até o banheiro. Loki, com um suspiro, levantou-se também, seguindo-a. — Lena. — Ela ainda não respondeu. Não queria apelar, mas soltou o ar. — Sigyn, por favor. — Conseguiu o efeito esperado, porque agora ela o encarava, ainda quieta, porém. Esperava que ela fosse gritar com ele para parar com aquilo, mas ela só negou com a cabeça.

—Pode voltar, eu só vou trocar a água. — Murmurou, virou a bacia, vendo a água que saia vermelha. Abriu a torneira, dessa vez ocupada em encarar a água corrente. Loki encostou-se no batente da porta, torcendo o nariz de dor. Odiava essa mania de Helena parar de olhá-lo e respondê-lo tão fria quando era contrariada. Odiava. Mas ao mesmo tempo, sabia que sem aquilo, ela não seria Helena por quem tinha se apaixonado, então deixou mais um sorriso brotar no seu rosto.

—Só não quero preocupá-la ainda mais, Helena. — Ela virou-se para ele.

—Eu me preocupo com você todos os dias, Loki. Todos os dias. Não acho que dê pra superar o nível de preocupação. — O silêncio que caiu depois daquela declaração a fez suspirar, voltando a encarar a bacia que começava a quase transbordar. Fechou a torneira. Loki virou-se, voltando ao sofá. Helena sabia que Loki se recuperava rápido e que provavelmente pela manhã ele já não teria nenhum ferimento ou cicatriz, mas vê-lo daquele jeito ainda fazia seu coração ficar apertado. Encarou-o quando passou a tolha com água em seu peito, percebendo a expressão de dor que surgiu no seu rosto.

Ela terminou em silêncio e Loki segurou o grito de dor quando ela passou algo que ele não fazia ideia do que era, mas ardia. Sussurrou que ia colocar sua camiseta para lavar e sumiu pelo apartamento. Voltou com outra camiseta de Loki, dessa vez uma preta, que ele colocou ainda gemendo de dor. Percebeu que ela ficaria calada a noite inteira caso ele não contasse então, antes que ela se virasse para ir para qualquer lugar, segurou a mão, com um aperto forte e apontou para o lugar ao lado dele.

—Meu pai tem meios ortodoxos de se aplicar um castigo. — Os olhos de Helena vasculharam o rosto de Loki, tentando perceber qualquer mudança de expressão, mas ele ainda continuava calmo. — Ele descobriu que pelo último ano eu tenho vindo para Midgard pelo menos uma vez para semana.

—Loki... — Ele entrelaçou os dedos nos dela, sorrindo fraco.

—Não pense que é sua culpa, tudo bem? Porque não é.

—Precisa de mais alguma coisa? — Assentiu com a cabeça, antes de, com a mão livre, colocar as duas pernas dela em cima do seu colo e deitar-se sobre ela.

—Que você fique aqui comigo, sem pensar no que aconteceu, sem se culpar. Consegue fazer isso? — Sussurrou, os lábios perto dos dela, os olhos a encarando. Helena não conseguiu desfazer o contato visual, além de sentir o corpo inteiro arrepiando com o toque dele me sua coxa. Apertou ainda mais a mão dele, ainda entrelaçadas, e assentiu com a cabeça, sorrindo. Ele sorriu de lado. — Ótimo.

Sua mão livre foi até a nuca dele, brincando com os cabelos cada vez mais compridos que ela tinha aprendido a amar. Um selinho delicado, dois, três. No terceiro, ele se demorou, deixando o corpo relaxar em cima do dela, sentindo os lábios quentes sob os deles, o coração frágil dela que acelerava com o mínimo toque de Loki, os dedos delicados e mágicos – tão mágicos que confiava nela mais do que em todos os curandeiros de Asgard – passando pela sua nuca, enrolando em seus cabelos, o fazendo ficar tão perto. Soltou a mão dela e segurou seu rosto, tão frágil na palma de sua mão, enquanto aprofundava o beijo. A dela pousou em seu peito, delicadamente, dedilhando um dos ferimentos dele. A sensação de queimação era estranhamente boa, até reconfortante. Apertou a sua coxa, trazendo-a para cima, encaixando-se nela da forma que parecia perfeita. O corpo todo dela parecia ter sido feito para ele. Para ele apenas.

Era fácil para ele falar para Helena esquecer, mas a cada vez que tentava achar um lugar no peito dele para por a mão sem remorso, sentia aqueles cortes que ainda estavam quentes e latejavam em sua mão. Mas ainda assim, deixou que ele a beijasse e tirasse a mente dele de Asgard.

—Loki. Eu te amo, você sabe disso, mas acordo sete da manhã para trabalhar amanhã. — Sussurrou quando se separaram.

—Falta amanhã. — Negou com a cabeça, rindo.

—Não posso, vamos para cama. Você também precisa descansar. — Ele sabia disso, estava exausto. Tinha passado a noite inteira do dia anterior ali com Helena, voltou antes de amanhecer e não pode dormir. Tinha tanta coisa para resolver para o seu pai e, antes que pudesse se dirigir ao seu quarto, tudo aquilo tinha acontecido. Estava muito mais do que um dia acordado, mas não sabia se conseguiria dormir. Ainda assim, suspirou, aceitando a sugestão, e se colocou de pé, puxando-a junto.

Ao chegarem no quarto, ela engatinhou até o lado onde preferia dormir, enquanto Loki terminava de desabotoar a calça e deixava jogado em qualquer lugar, entrando debaixo das cobertas com Helena depois. Ele já sentia alguns ferimentos mais superficiais fecharem, mas sabia que demoraria para os outros seguirem o mesmo caminho. Não precisaria comentar para Helena que, dessa vez, provavelmente ficaria com cicatrizes. Ela não precisava saber.

Sentia-se tão culpado de algumas vezes. Tinha virado a vida dela de cabeça para baixo quando apareceu. Nunca a obrigou a nada, mas já tinha a visto recusar tantas oportunidades por ele. Ela já tinha chorado tanto, já tinha se preocupado tanto. Mas ele talvez fosse tudo o que seu pai costumava a gritar em seu ouvido. Talvez ele fosse egoísta e pensasse apenas no que era melhor para ele – não sabia se suportaria simplesmente largá-la -, fizesse apenas o que lhe agradasse e, claro, mentia para todo mundo. Mentira para Helena que estava tudo bem, mentira para Helena quando colocou uma máscara de indiferença no rosto, mesmo que aqueles machucados estivessem ardendo. Não percebeu que estava com a mandíbula tensa até sentir um beijo delicado ali, depois vários outros, que o fez relaxar um pouco e abraçá-la.

—Desculpa. — Ele negou com a cabeça.

—Já disse que não é sua culpa. Se continuar assim, nós vamos brigar. — Ouvi-a bufar e riu. Riu porque ela sabia que era verdade. Os dois eram teimosos demais para chegar a um acordo em muitas coisas.

—De algumas vezes, morro de vontade de te matar.

—Bem, eu adoraria ver você tentar. — Helena mostrou a língua para ele, outra mania nela que ele amava.

—Boa noite, Loki. Vai estar aqui quando eu acordar? — Ela sempre fazia aquela pergunta porque ele era muito bom em se esgueirar da cama e ir embora enquanto ela dormia para evitar as despedidas. Odiava se despedir dela, porque nem toda semana ele conseguia escapar do castelo e vê-la, preferia apenas ir. Mas daquela vez, ele não estava preocupado em esconder de todos onde estava. Seu pai já tinha descoberto, ele já estava ferrado. Não que ele sempre respondesse honestamente, falava que estaria, mas, quando acordava, ela encontrava o apartamento vazio.

—Se você quiser.

—Eu quero.

—Então, sim, estarei aqui.

O despertador tocou e Helena acordou se espreguiçando. Olhou no relógio e se surpreendeu que tinha acordado apenas o primeiro, o que significava que daria tempo dela tomar um banho e um café da manhã decente. Então lembrou-se de Loki e virou-se para encontrar a cama vazia. Ainda não sabia por que acreditava nele. Amava-o, mas sabia muito bem que ele sabia mentir muito bem para ela. Soltou o corpo inteiro na cama, deixando-se cair no travesseiro, suspirou. Sabia que se não levantasse logo, não poderia tomar o banho que tanto queria. Estava acostumada com aquela atitude de Loki, infelizmente, então precisaria apenas se levantar da cama e seguir em frente com seu dia. Uma tarefa fácil se ela ignorasse o fato que ele tinha chego no meio madrugada em seu apartamento todo ensaguentado. Cheios de ferimentos que seu próprio pai tinha feito. Não conhecia Odin, mas já odiava o cara.

—Bom dia. — Levantou a sobrancelha quando percebeu Loki esparramado no sofá da sala.

—Eu achei que você já tinha ido.

—Quanta confiança em mim, Lena. Só fiquei com fome. E depois preguiça de volta pra cama. — Rodou os olhos, passando por ele, indo direto para a cozinha. Precisava de café. — Dormiu bem?

—Sim. Você? — Não. Ele não tinha pregado o olho a noite inteira, mas só sorriu e assentiu com a cabeça, mordendo a maçã que tinha em sua mão. — Está melhor?

—Melhorando. — Mentira. Os cortes ainda ardiam igual o inferno e ele tinha a impressão que não melhoraria tão rápido. — Você realmente precisa ir trabalhar? — Colocou a cápsula de café na cafeteira, a xícara embaixo e apertou o botão. Suspirou. Não queria ir, mas precisava. Foi até a máquina de lavar onde tinha deixado a camiseta de Loki lavando e a tirou, já seca e ainda quentinha da secadora.

—Mais uma pra minha coleção. — Passou, rindo, abraçada na camiseta.

—Sério, Lena? Eu já estou em falta lá em Asgard.

—Aham, como se você não tivesse uma equipe de costureiros esperando só você mandar para eles fazerem mais um estoque infinito dessas. Só estou me poupando o trabalho de sair para comprar roupas de dormir.

—Helena... — Ela parou, estendeu a camiseta.

—Gosto de ter algo seu perto de mim, caso ainda não percebeu, mas pode levar. — Golpe baixo. Ele estreitou os olhos e suspirou, fazendo um movimento com a mão como se não se importasse.

—Não sei o que vou fazer com você... — Ela riu do quarto, enquanto dobrava cuidadosamente a camiseta e a colocava no armário. Fechou com o quadril a porta e, quando se virou, Loki estava perigosamente perto. Outra coisa que tinha se acostumado, ele aparecia nos lugares quando ela menos esperava.

—Não escovei nem os dentes, Loki. — Ele deu de ombro, inclinando-se para ela, capturando seus lábios. E só aquilo já a fez derreter. — E preciso ir trabalhar. — Sussurrou, ainda com a boca grudada na dele.

—Odeio isso. Que mania irritante das pessoas de Midgard ter sua vida resumida ao trabalho.

—Bem, ao contrário de você, eu não nasci princesa.

—Ouch. — Ela riu. Passou a mão pelo peito dele, ficando nas pontas dos pés e entrelaçando as mãos no pescoço dele. Loki fez o máximo para manter o rosto impassível enquanto os cortes reclamavam. — Mas tudo bem, eu provavelmente tenho que voltar e achar um jeito de convencer todo mundo que eu estava o tempo todo dentro do meu quarto. O que vai ser difícil.

—Não se meta em confusão por minha causa, ok?

—Sempre me meto em confusão, Lena, agora você é um motivo a mais que eu amo ter em minha vida. — Escondeu o rosto em seu ombro enquanto Loki gargalhava. Adorava pegá-la desprevenida e vê-la corar enquanto tentava esconder a vergonha. — Vou deixar você se arrumar, e já vou.

—Tudo bem, Loki. A gente se vê quando?

—Bem, agora que já tá tudo fodido lá mesmo, quando eu puder eu apareço.

—Ok. — Voltou a olhá-lo. Ele sorriu.

—Ok. — Mais um selinho demorado. E então Loki tinha sumido.

Mágica. Uma coisa que ela nunca entenderia.

Olhou para janela que dava para o parque a tempo de ver as nuvens se formando, e, logo depois, tinha certeza que Loki não estava mais ali.

—Bom dia! — Encarou Hannah com as sobrancelhas erguidas. Não estava no ânimo para gente gritando às oito e meia da manhã em seu ouvido. Tinha visto Loki ir embora naquela manhã, sem ter certeza se ele estava realmente bem. — Uau, quanto ânimo. Namorado terminou com você?

—Não, Hannah, eu só não entendo como você consegue ser minimamente feliz a essa hora da manhã.

—Aliás, falar em namoros, John e eu hoje fazemos quatro anos de namoro. Ele vai me levar pra sair e vamos jantar num lugar super chique. — Assentiu com a cabeça enquanto assinava o papel confirmando que tinha chego e pego o plantão enquanto a morena continuava a falar. — E aliás, não falou se ele vai para o jantar no fim de semana. Precisamos saber. Eu preciso saber, para me preparar psicologicamente para ver aquele pedaço de mal caminho.

—Ele não fica muito na cidade, Hannah. E é meio antissocial também.

—Por favor. Dê um jeito dele ir, porque nós vimos ele só uma vez na nossa formatura e isso já faz mais de seis meses Helena!

—A gente só gosta de deixar nosso relacionamento baixo, sem ninguém ficar metendo o dedo, ok? E ele é ocupado demais para simples mortais como vocês. — Levantou as sobrancelhas, sorrindo, tentando esquecer que seu namorado imortal estava ferido, bem ferido.

—Ai, rude. — Ela colocou o jaleco por cima do conjunto elegante. Tirou o rabo de cavalo que ficou preso na gola, arrumando-a logo em seguida.

Tinha passado o dia inteiro inquieta, como se algo fosse acontecer. Como se Loki fosse aparecer em sua porta, pior do que na noite interior, sem conseguir falar. Ele cambalearia para dentro, se deixaria cair no sofá, respirando com dificuldade, e ela sentiria o coração falhar do mesmo jeito que falhou na noite anterior. Como amava aquele deus idiota. Amava de um jeito que não sabia ser possível, amava de sentir seu corpo inteiro doer de pensar na possibilidade de ficar sem ele. Chegou em casa cansada, jogou sua bolsa de qualquer jeito no hall, deixou seus livros caírem com força na mesa. Arrumou o cabelo num coque e, se arrastando, foi até o banheiro tomar um banho para ir para cama. Estava tão morta.

Colocou a camiseta branca de Loki e uma calça quentinha. Queria ainda comer alguma coisa enquanto assistia um pouco de televisão. Quando se viu, estava jogada no sofá, enrolada numa coberta, com um prato de macarrão com queijo no colo, a televisão ligada em qualquer canal que tivesse algo para se distrair do que aconteceu na madrugada passada. Sabia que seria inútil, já que logo estava encarando a porta como se a qualquer momento ele fosse chegar todo ensaguentado de novo. Suspirou, passou a mão no rosto e tentou esquecer, mas sabia que só conseguiria ficar em paz quando ele aparecesse de novo e estivesse tudo bem.

Loki tinha passado a ser ainda mais furtivo ao sair e entrar no quarto. Se escondia pelos corredores para ir aos seus afazeres e teria que ser ainda mais cuidadoso ao sair para vê-la. Tinha certeza que Odin colocara guardas para segui-lo e descobrir onde era a passagem secreta. Travou a mandíbula enquanto, a passos largos, ia até a sala de jantar, onde sua mãe esperava. Frigga não tinha nada a ver com os métodos de Odin. Quando o via depois daquelas sessões de tortura, abraçava-o com força, pedia desculpas e perguntava se tinha alguma coisa – qualquer coisa – que ela podia fazer para deixá-lo confortável. Na noite anterior não tinha dado tempo para que ela fizesse aquilo, já que ele correu para a passagem secreta, querendo o abraço de Sigyn, a voz reconfortante, o toque, o beijo. Suspirou.

Sua mãe também sabia desde o começo sobre ela. Tinha ficado tão feliz e tinha passado alguns muitos minutos segurando seu rosto e distribuindo beijos, feliz, soltando gritinhos de “como meu filho cresceu”. Ele então rodara os olhos, enquanto deixava sua mãe fazer os seus caprichos. E não ligou de ser bombardeado de perguntas sobre ela. Gostava de falar da moça de cabelos loiros e olhos que o deixavam hipnotizado. Falar dela o fazia lembrar de como era a sensação de ter os dedos dela enrolados em seu cabelo, do rosto perto enquanto sussurrava o quanto o amava. Sabia que não era mentira, que tudo o que ela falava era a pura verdade. E também odiava deixá-la preocupada. Sabia que, para que ela dormisse em paz naquela noite, ele teria que aparecer e mostrar que estava tudo bem, que ele estava bem, e vivo. Perdido em pensamentos, só percebeu que estava na frente da sala de jantar de sua mãe quando os guardas abriram as portas pra ele. Frigga estava sentada na ponta, as mãos torcidas, olhando preocupada para porta. Quando o filho entrou, levantou-se.

—Filho. — Correu para abraçá-lo. — Eu estava tão preocupada. — Deixou que ela passasse as mãos pelo corpo dele e se abaixou para retribuir.

—Estou bem, mãe. — Ela negou com a cabeça enquanto se afastava.

—Eu já conversei com ele sobre isso, eu não concordo. — Loki assentiu, enquanto caminhava com ela ao seu lado para se sentar.

—Você o conhece e sabe que ele nunca... — Calou-se. Sabia que sua mãe não concordava com a teoria do favoritismo de Thor. Talvez para ela. Já para Odin era outra história. — Mas eu estou bem.

—Para onde foi ontem a noite, filho? — Levantou as sobrancelhas como se a resposta fosse óbvia, e era. — Fiquei te esperando a noite inteira, já pensando no pior.

—Desculpa, devia ter passado aqui antes. Eu não pensei. Eu só fui. — A mulher assentiu e sorriu. Sabia que Sigyn era o melhor remédio para o seu filho, de qualquer jeito.

—Já jantou? — Negou com a cabeça. — Ótimo, porque eu também não.

A intenção de Frigga era tentar acalmar o coração de Loki, pelo menos um pouco. Tentar acalmar o ódio que sentia de Odin naquele momento, tentar fazê-lo apenas relaxar, mesmo que aquilo fosse uma missão impossível. Conhecia seu filho e seu marido, e sabia que o que Loki sentia aquela hora não seria saudável para nenhum dos dois. Aquela expressão no rosto dele era de quem estava preocupado demais, com pensamentos demais, guardando muita coisa para si. Suspirou. Se pelo menos Sigyn estivesse ali.

Helena olhou para a porta, intrigada. Aquelas batidas não eram de Loki, eram muito mais fortes. Levantou, indo até lá nas pontas dos pés, observando pelo olho mágico antes de abrir a porta. Dois homens com uma postura perfeita, a expressão fechada e… Armaduras. Douradas, com o cabo de uma espada aparecendo no cinto. Helena engoliu um seco. Asgard. Guardas de Asgard estavam em sua casa. Apertou o colar que Loki havia lhe dado, pressentindo que boa coisa não era, e abriu a porta receosa, apenas uma fresta o suficiente para que conseguisse olhar para os dois parados a sua porta e para que eles entendessem que não eram bem-vindos.

—Falem. — Sua voz saiu mais ríspida do que queria, já no modo de defesa. Sabia que nada tinha acontecido com Loki, porque se fosse o caso, Frigga estaria em sua porta, não dois desconhecidos. Aquilo era coisa de Odin e, para o rei de Asgard, sua paciência beirava a negativa.

—Vossa Majestade quer você em Asgard agora. — Helena semicerrou os olhos, sentindo a frieza no “você”. Queria poder dizer não, queria fechar a porta na cara deles e mandá-los para lugares bem feios, mas Loki. Loki foi a razão de ter aberto a porta um pouco mais, cruzado os braços e ter dado o benefício da dúvida. E se suas ações tivessem consequências nele? E se Odin, magicamente – ou por Frigga -, tivesse mudado de opinião do dia para a noite? Nunca saberia se não tentasse.

—Um minuto. — Virou-se para dentro da casa antes que eles pudessem responder e antes que ela pudesse mudar de ideia, pegou a primeira sapatilha que viu pela frente jogada na sala e, de pijama mesmo, se pôs na frente dos dois, fechando a porta de casa com uma força desnecessária. — Antes que eu mude de ideia.

Se a mitologia estivesse certa – como já estava algumas vezes – ela deveria ser uma deusa. Talvez por isso sentiu que os dois se entreolharam, sem saber como reagir diante de sua rispidez.

Seguiu-os até a familiar praça em frente ao seu prédio e parou com os braços cruzados, esperando que alguma coisa acontecesse. Menos de um minuto depois, sentiu seu corpo inteiro ser puxado numa explosão de cores e estrelas. Bifrost. Exatamente como Loki havia descrito – inclusive o nó no estômago e a leve ânsia na hora da aterrissagem. Caiu meio sem jeito, o impacto indo direto para os seus joelhos, fazendo-a gemer com a dor inesperada. Endireitou-se imediatamente ao ver o imponente homem a olhando. A pele negra contrastava com os olhos mais dourados que já havia visto.

—Sigyn, você esteve fora de meu alcance por tempo demais. — Heimdall. Ele devia ser Heimdall, o guardião da ponte, aquele que tudo vê em todos os reinos. Engoliu um seco. — Devia ter desconfiado que tinha dedo de Loki. — Os guardas pararam ao seu lado, esperando alguma ação dela e de Heimdall.

—O que Odin quer comigo? — Percebeu o tique em um músculo do rosto como reação àquela frase.

—Pai de Todos não me contou. Vossa Majestade não me deve explicações de seus planos, meu trabalho é apenas obedecer. Mas você, Sigyn, cometeu traição de alta ordem. — Helena não resistiu ao riso que escapou da sua garganta. Queria responder, mas não sabia o que aquilo podia resultar para ela ou para Odin, então apenas acenou com a cabeça, com um sorriso irônico, tentando absorver a maior quantidade de detalhes de Asgard possível. — Levem-na até a sala do trono. E fique atenta com o que fala, Sigyn.


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