Black Hole - Interativa escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 16
De Cabeça Para Baixo


Notas iniciais do capítulo

Mais um! Apesar de que o último não teve comentários, mas vou continuar postando. Aproveitem a leitura!



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– Ai – Alex usou o que havia restado de suas forças para se levantar. A descida maluca o tinha deixado mais cansado que ferido. Seu maior ferimento era no ombro, mas ele tinha pequenos ferimentos onde as rochas haviam rasgado o tecido da roupa e machucado sua pele. Graças ao capacete de vidro meio rachado, sua cabeça estava intacta. Ele estava coberto por poeira e pequenas lasquinhas de rocha que se prendiam na roupa. Sua arma havia se perdido no meio da bagunça de terra.

Ele se virou para trás, para avaliar a condição dos amigos. Eles estavam dispostos pela terra escorrida quase na mesma ordem em que estavam na fila. Atrás da colina de terra, uma parede de rocha havia se formado, como se fosse parte das paredes da cordilheira. Mas Alex tinha certeza de que ela não estava ali antes, onde estivera a escada. À sua esquerda, Alex encontrou a verdadeira parede que continuava pela circunferência interna da cordilheira. À esquerda, árvores altas e densas, que o fizeram lembrar da linha de rocha em espiral. Ele não demorou muito para encontrar a parede rochosa entre as árvores.

Alex voltou a olhar para o grupo, e percebeu que as condições pioravam conforme se olhava para trás. Os primeiros da fila, assim como ele, estavam razoavelmente bem. Já sentados, porém meio tontos, tentando se restabelecer. Mais para trás, estavam com partes do corpo soterradas. Dava para ver que respiravam e faziam pequenos movimentos, embora não desse para ver bem se seus olhos estavam abertos. No final, no topo da colina, Alex achou a situação mais grave. A pequena Mabel estava deitada, com a metade direita do corpo enterrada, e mesmo assim, dava para ver que ela tinha um enorme ferimento na barriga. Alex fez menção de ir até ela, mas quando deu o primeiro passo, algo agarrou sua perna.

Ele olhou assustado, mas deu de cara com Lin. Ela estava sentada, meio deitada na terra aos seus pés, um pouco à frente. Ela não olhava para o rosto de Alex. Olhava para algo que estava atrás dele, na direção contrária à escada, na diração do único caminho que poderiam seguir. Pela expressão, ela parecia apavorada.

Alex se virou para trás e deu de cara com um grupo de criaturas estranhas. Devia haver cinco ou seis. Eles pareciam perfeitamente humanos, mas a pele tinha um tom azul escuro, com nuances de um tom forte de rosa, que também aparecia nos olhos. As vestimentas primitivas e os cabelos longos e trançados eram adornador por penas. A expressão deles dizia que não estavam muito contentes. O cara que estava na frente parecia ser o chefe, pois segurava uma lança estranha, que não parecia ser muito afiada, apesar de intimidadora. Ele encarou Alex por muito tempo, e Alex se manteve firme. Sua arma estava desaparecida, e ele sabia que qualquer movimento era perigoso. Seriam aquelas criaturas a razão dos desaparecimentos? Estariam eles matando todos os agentes da Aurum e da NASA? Alex não queria descobrir. Mas o chefe deslizou os olhos lentamente para cima. Alex não precisou se virar para saber que ele estava olhando para Mabel. O chefe murmurou alguma coisa em uma língua muito estranha, e outro cara também, aparentemente o estava respondendo. O chefe então deu um passo, andando pela direita de Alex sem desviar os olhos da caçula.

Alex sabia que precisava fazer alguma coisa. Ou aquele cara chegaria até Mabel. Poderia matá-la. Feri-la. Levá-la. E Alex não poderia permitir isso. Então, ele deu um grito e desferiu um soco no rosto do chefe, e logo em seguida chutou a sua lança. A lança foi como uma alavanca e voou para o meio da floresta. O chefe ficou desconsertado por meio segundo após o soco, e então, olhou para Alex aparentando mais raiva do que anteriormente.

O chefe estendeu a mão e tocou Alex no peito, na altura do coração. E, emitindo uma forte luz que fez todo o grupo fechar os olhos, Alex desfaleceu.

E todos apagaram.

~

– … não entendo como ele teve uma ideia dessas. Não foi muita idiotice? Não era óbvio que só iria piorar as coisas se fizesse aquilo?

– Não seja tão dura com ele, Ally. Ele só queria proteger Mabel.

– É, HaNa, queria. E agora, estamos nesse inferno e Mabel...

– Gente, acho que ele acordou.

– Após ouvir a vós de Kai, Alex sentiu algumas gotas de água pingarem em sua boca. Ele bebeu, aliviado, apesar de estar com dor, cansado, e preocupado com Mabel. O que Ally teria dito se Kai não a tivesse interrompido? Alex sentia que estava deitado em algo duro e desconfortável, que apesar de muito estreito, parecia equilibrá-lo bem. Tinha quase certeza de que estava sobre um galho ou um tronco, e que poderia cair caso se mexesse muito. Aos poucos, ele abriu os olhos, e piscou algumas vezes. Pensou estar enxergando as folhas na copa da árvore ao longe, mas elas não pareciam ser folhas de árvore. Eram finas como gramíneas, e não pareciam estar ligadas a nenhum galho, apenas arrumadas no céu. Não estavam claras como se o sol estivesse passando por elas, mas como se o sol viesse de baixo para iluminá-las. Alex franziu o cenho.

– Calma – disse Kai. - É estranho no começo, mas você vai se acostumar. Só tome cuidado para não cair.

– Onde estamos?

– No Black Hole. Em cima de uma árvore. Quer dizer, eu diria que estamos embaixo de uma.

– Sem entender muito, Alex decidiu tentar se sentar. Ele percebeu que tinha um tronco atrás dele, onde podia se escorar. Mas, enquanto se ajeitava, entedeu o que Kai queria dizer. Abaixo deles, estavam os galhos da árvore, as folhas contornadas pelos raios de sol e pelo céu azul. E acima, as folhas da grama e a terra. Tudo estava de cabeça para baixo, e era tão estranho que Alex quase se desequilibrou.

– Isso é...

– Surreal, não? - Perguntou Annika, que estava logo atrás de Kai, admirando tudo. - Essa é a palavra certa para descrever o que está acontecendo. Parece que, ao menos em parte, eu estava certa. Estamos numa obra do surrealismo.

– Alex olhou para os amigos dispostos nos galhos aos redor, na mesma árvore ou em árvores próximas. Nenhum deles estava usando capacete, e os tubos de oxigênio também tinha sumido. Mas o restante das coisas estava lá, inclusive as armas.

– É, parece – disse Kai. - Embora eu ainda não tenha entendido como isso é possível.

– Não é possível – explicou Annika, dando de ombros. - Por isso é surreal.

– Eu não entendo como você, que gosta tanto de ciência, pode ficar tranquila sem compreender o que está acontecendo – disse Stux.

– Pra mim, - sugeriu Annika - só existe uma forma do surreal acontecer. Magia.

– Magia? - Perguntou Esfinge. - Eu preferiria dizer Tecnologia. Talvez haja um simulador de gravidade aqui ou...

– Não tem como – explicou Annika. - Primeiro, um simulador de gravidade como o da Aurum precisa estar abaixo de nossos pés, onde está o céu. E mesmo que houvesse um simulador de gravidade nele, não acredito que esse pessoal azul tenha tecnologia pra criar tal coisa. Pra mim está muito claro que foram eles que nos meteram nes...

– Onde está Mabel? - Perguntou Alex, de repente. Ele estava esperando que parassem de falar, mas suspeitava que isso não aconteceria tão cedo. No entando, ao ouvir a pergunta, todos se calaram e se entreolharam, como se tentassem decidir quem daria a notícia ruim.

– Alex... - Começou HaNa, com uma voz doce. Esse era um de seus dons. - A Mabel não está aqui. Nós... Não sabemos onde ela está, ou o que aconteceu com ela. Mas suspeitamos que os homens azuis a tenham levado.

– O silêncio tomou conta da árvore de cabeça para baixo enquanto Alex se desesperava. Finalmente, Ally tentou se pronunciar.

– Detesto ser sincera numa hora dessas, mas...

– Querida, agora não...

– Ela está certa, Gabbe – o próprio Alex falou, enquanto a raiva de si mesmo predominava seu rosto. - É tudo culpa minha. Devia tê-la deixado lá em cima. Ou trazido bem perto de mim. Não longe. E quanto ao homens azuis... Não devia tê-los agredido.

– Ao menos – disse Ally com a voz mais doce que pôde – você não agrediu alguém do grupo, como da última vez.

– Mas minha atitude me fez perder Mabel. Isso é pior que qualquer coisa.

– Talvez não seja, Alex. Não seja duro consigo mesmo. Se não tivesse investido contra eles, eles a teriam levado do mesmo jeito. Ao menos você tentou.

– Ally, você estava me julgando pela minha atitude há dois minutos. Eu estava acordando ainda, mas ouvi.

– Eu estava de cabeça quente. Como sempre, aliás, mas... - ela olhou para Gabbe, ao seu lado. - Estou aprendendo a lidar com isso, entende? - Ela voltou seu olhar para o líder. - Me desculpe, Alex.

– O fato é – disse Lin, tentando desviar o clima pesado – que Mabel deve estar bem. Eles a levaram, mas e daí? Devem ter feito o mesmo com Kuni Yovesh, não acham? Se ele mandou aquela mensagem, sobreviveu aos homens azuis de alguma forma.

– Ele pode estar preso – disse Ally, com seu pessimismo.

– Mesmo que esteja. Se está preso, significa que está vivo. Ele foi levado a algum lugar, e devem ter levado Mabel pra lá.

– Mas onde seria esse lugar? - Perguntou Gabbe.

– Só temos um caminho a seguir – disse Stux. - Não há muitas opções, meu amigo. Eles devem estar no fim desse caminho em espiral, não? Não parece haver outro lugar.

– Realmente, não – disse HaNa. - Mas será que esse lugar é mesmo uma prisão? Afinal, Kuni conseguiu mandar vibrações. E presos mesmo, estamos nós.

– É verdade – disse Esfinge, usando um tronco para se levantar e ficar de pé no galho. - Mas não por muito tempo.

– O que vai fazer, Esfinge?

– Tem que ter um jeito de reverter a gravidade, Lin. Quem sabe se chegarmos na grama lá em cima. Quer dizer, lá embaixo. Quer dizer... Vocês entenderam.

– Eu acho perigoso – disse HaNa, inocentemente.

– Não pra mim. Passei a minha vida toda nas árvores. O Black Hole é perigoso, mas ainda estamos vivos, não estamos? E mesmo que seja perigoso, não podemos ficar aqui o dia todo.

Lin queria argumentar, mas Esfinge já estava subindo – ou descendo – pelo tronco da árvore, em direção à grama. Ela se apoiava nos buracos do grande tronco e usava sua habilidades em escalada para subir tão rápido como se estivesse deslizando. Em pouco tempo, ela se aproximou da grama, onde o tronco ficava ainda maior. Mas ela conseguiu se apoiar até chegar às raízes. Ela usou as pernas para abraçar o tronco com firmeza e colocou a mão na terra por entre as raízes, firmando-as. Então, se concentrou e começou a sentir tudo caindo pra cima. Ela esperou até ter certeza de que estava completamente firmada na graviade da terra. Então soltou as pernas apenas o suficiente para que sua cabeça chegasse ao chão. Depois, soltou as pernas e as conduziu à grama até que ficasse deitada. Finalmente, levantou e olhou para cima. Lá longe, no topo da árvore, os outros a obsevavam.

– Viram? É fácil!

– Fácil? - Perguntou HaNa, ironicamente. - Isso é fácil para uma macaquinha feito você. Nunca vi alguém se sair tão bem nas árvores.

– Querida, – disse Stux – você não praticava esportes?

– Sim, mas vôlei não tem nada a ver com escaladas.

– Mas você precisa tentar. Todos vamos ter que descer.

HaNa se encolheu um pouco, mas deu de ombros. Ele estava certo. Muito devagar e com muito cuidado, HaNa tentou imitar os passos de Esfinge. Ela se escorou no tronco e ficou de pé. Então, começou a procurar algum vão onde pudesse se apoiar. Ela começou muito bem, se apoiando na árvore e subindo, ou descendo. Estava quase na metade quando se desquilibrou totalmente. Ela tentou se segurar, mas escorregou.

Gritando muito alto, HaNa caiu, passou direto pelos galhos da árvore e foi em direção ao céu.

HaNa achou que cairia para sempre, como Alice. Não deixou de pensar em Mabel, que dissera que o Black Hole seria como a toca do coelho de Alice. Mas, depois de algum tempo, ela percebeu que não estava mais caindo em direção ao céu.

Estava caindo em direção ao chão.


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Notas finais do capítulo

HaNaaaaaaaa
Socorro! Mds! A HaNa! Que vai acontecer com ela?
Agora, só no próximo capítulo, pimpolhos. Até lá! Amo vocês!



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