Helena escrita por Saturno


Capítulo 4
O Comediante


Notas iniciais do capítulo

Olá! Boa leitura.



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Fazia calor e meu desejo por uma piscina era grande.

Estive horas sentadas no jardim, no chão para ser mais precisa, quando finalmente o choro passou. Mamãe estava em casa, mas não me questionou e nem tentou me acalmar, pois já estava velha demais para perceber que eu não estava chorando por garotos.

Mas claro que minha paz passageira acabaria alguma hora, não é?

— Ei... — ele sentou-se ao meu lado e me olhou, analisando-me.

— O que está fazendo aqui, Álisson? — questionei, virando o rosto, como uma criança mimada.

— Vim pedir desculpas — falou ele.

— Não foi sua culpa.

— Não importa. Ele é meu irmão, afinal de contas. Desculpe pelo que ele te disse. Pedro é um idiota sem senso do comum. Sabe, as vezes me pergunto se ele é algum tipo de espécime rara, daquelas que não tem cérebro e nem mesmo um cheiro bom — ele coçou a barba rasa e deu um sorriso pequeno.

É claro que eu gargalhei.

— Não faz muito sentido. Mas... obrigada pela tentativa.

Ficamos em silencio por alguns segundos. Observando as arvores dançarem, como se fosse um espetáculo inédito de verão.

— Helena... Você é linda — murmurou Álisson de repente, chamando minha total atenção.

— Se está me dizendo isso porque sente pena de mim, Álisson, então...

— Não! Helena, não. Não estou dizendo isso por pena. Estou sendo sincero, você realmente é linda. Sabe, eu sei que você não vê nada de especial em mim, apesar de eu ser irresistível, mas... Eu gosto de você, gosto do seu sorriso e dos seus olhos — ele olhou para o chão e pude ver que estava tão vermelho quanto eu. — Você é a única que ri das minhas piadas...

— É estranho você me dizer essas coisas justamente num momento como esse — respondi, desacreditando totalmente em suas palavras.

— Vou repetir, Helena, não estou dizendo isso porque estou com pena, certo? Não sou como meu irmão, eu não brinco com os sentimentos alheios. Não brinco com as pessoas. Eu não sou assim — retrucou ele, como se eu o estivesse ofendendo.

— Eu sei, Álisson. Só que... sei lá, por que está me dizendo isso agora?

— Porque depois do te falei no parque... Eu parei para pensar. Temos que fazer valer a pena, certo? Então porque eu deixaria para depois o que eu tenho a oportunidade de dizer agora? Não quero que os dias passem e o momento acabe. Eu quero fazer valer apena, cada segundo. — dessa vez ele finalmente me olhou nos olhos. Não suportei e dei risada.

— Do que está rindo?

— Você todo vermelho... Que fofinho — apertei sua bochecha como se fosse uma tia chata.

— Ah cala a boca — Álisson virou o rosto ossudo e me deu um leve cutucão.

— E sobre mim, Álisson? Sobre eu ser gorda...

— O que tem? Eu gosto de você, algo mais do que isso importa? Eu não ligo se você é gorda ou magra, acho que no fim tanto faz, não é? Quando morrermos, nossos esqueletos, ou cinzas depende de como quer que seja, estarão lá e ninguém saberá dizer se foi uma pessoa negra ou branca, gorda ou magra, hétero ou homo, então tanto faz, sabe? E também...—

— Certo, Álisson, fica quieto, você tá estragando o clima — falei interrompendo-o.

Eu me aproximei e o beijei. Não foi o beijo do ano e nem o de nossas vidas. Foi um simples e demorado colar de lábios. Mas foi ótimo e fabuloso.

— O que eu devo fazer agora? Pedir você em namoro pra sua mãe? Na escola eles não ensinam como isso funciona... — Álisson coçou a nunca, como se realmente estivesse sendo sincero.

— Sempre muito engraçado, não é, Álisson?

— Eu não tenho culpa se você não sabe identificar um comediante — a típica frase de Álisson, que sempre me fez dar um leve sorriso.

Pela primeira vez em anos eu me senti verdadeiramente feliz.


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Notas finais do capítulo

Então? Como eu disse a história seria de romance abordando esse preconceito. O que acharam desse momento bonito?

Enfim, obrigada pelos comentários maravilhosos. Até mais!



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