Projeto Princesa escrita por Suéllen Costa


Capítulo 5
POV Peter Williams




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“Apenas mais uma,” disse o fotógrafo, a câmera sorrindo em minha frente. Abri um largo sorriso, minhas mãos dentro dos bolsos, e esperei a foto ser tirada. “Pronto. Já deu por hoje, pequeno Gravil!”
Tentei rir, dar ao menos um sorrisinho para Lasker, o velho fotógrafo da Markevil. Mas suas piadas eram sempre horríveis, e eu nem podia ser educado, mesmo. Esta é a regra número um.
Vi meu chefe agitando a mão de longe, chamando-me. Caminhei até ele, fechando a porta assim que entrei na cabine.
“Peter, Peter, Peter. Quem diria?” Ele me estendeu uma revista, a foto de um Peter sorridente abraçado a uma bela garota. Um Peter bem falso, claro. “Sua linha cresce cada vez mais desde a última coleção que lançamos. Todos estão loucos por você!”
“Que ótimo,” disse, sério, desta vez sem nem ter me forçado a não sorrir.
“Markevil é a marca do século! Todos querem nossas roupas. Todos querem as suas roupas!” Ele aumentou o sorriso, gestos grandiosos no ar.
“Legal. Dispensado?” Perguntei, a mão já na maçaneta.
“Claro, claro,” Paul riu. “Você tem muita coisa pra fazer, como ir se inscrever. Já deves estar atrasado, aliás.”
“Me inscrever?” Soltei a mão da porta, os braços caindo na lateral do meu corpo. “Iremos fazer mais parcerias?”
“Não, não é este tipo de inscrição. A que eu quero que você faça envolve uma princesa, dinheiro, e muita fama. Quero que se inscreva na Seleção da princesa Evlyn, Peter.”
Encarei ele, a raiva já crescendo em mim. Dar uma de modelo por aí já era chato, ficar me vendendo para ganhar um pouco mais de fama era o limite. Tive vontade de me jogar contra ele, bate-lo até que retirasse tudo o que disse. Porém eu não podia fazer isto. Violaria a minha terceira regra se eu o fizesse; Contato físico. Além de, claro, seria demitido e voltaria a ficar sem dinheiro, o único motivo por eu estar neste lugar. Por isto, eu apenas o encarei. Encarei os olhos esbugalhados saltando para fora, tão grandes quanto o nariz gordo. Encarei sua cabeça despida de cabelos, a luz refletindo na careca lisa. Encarei suas mãos, batucando os dedos na mesa, os pés acompanhando o ritmo.
Foi então que eu comecei a rir, achando tudo aquilo a coisa mais engraçada, como se fosse uma pegadinha e um cara magrelo apareceria atrás de mim com câmeras dizendo Rá! Te pegamos! “Eu não vou fazer isto.”
“Sim, você irá. A menos que você queira perder seu emprego,” ele sorriu, satisfeito, enquanto eu repensava mentalmente em quebrar a terceira regra. “Boa escolha, Peter. Eu sabia que irias escolher a certa. Agora vá, você tem uma ficha para preencher ainda hoje. Não queremos perder mais tempo, não é?” Ele se virou para a janela de modo que ficasse de costas pra mim, abandonado uma carta em cima da mesa, um selo da realeza prendendo a aba e enfeitando o envelope. A peguei e então saí, martelando o chão a cada passo que dava.
Rasguei o envelope, desviando os olhos dela apenas para ver por onde andava, as vezes tropeçando em alguma lata de lixo ou batendo em uma porta.
Girei a chave do carro, o painel iluminando o papel. Deixei a carta aberta no banco ao lado e então me voltei ao volante, somente os olhos ainda grudadas nela.
“Já teve relacionamentos. Gostos. Planos para o futuro. Deus , como responderei isto?”, Perguntei para o carro que estava a minha frente, um mar enorme tomando conta da minha visão aos poucos e ganhando toda minha atenção, girando o carro em sua direção.
Parei o carro na vaga, encarando o azul do horizonte.
As ondas parecem me chamar, clamando meu nome como se fosse algo belo. Os vidros das janelas impediam-me de ouvir o som delas, se chocando uma contra a outra, beijando a areia branca e a carregando para longe.
Eu sempre gostei do mar. Ele tinha um jeito fascinante de me acalmar, me puxando para as profundezas e, em vez de me levar para a escuridão, me leva sempre para a luz. O que é meio contraditório com o que as revistas, velhos amigos, fãs e conhecidos sempre falam, O pobrezinho teme o mar. Tem trauma por causa de que seus pais morreram lá, afogados. É, eles estão bem errados. Mas em uma coisa eles possuem razão. Eu tenho um trauma por causa da morte de meus pais, e este trauma é amar. Gostar de alguém e depois vê-las partirem. Por isto, desde os meus dezesseis anos, sigo fielmente as minhas regras de Como Não Amar Ninguém. Ou de Como Não Deixar Que Alguém Me Ame. Tanto faz.
Desamarrei o cadarço do tênis e tirei as meias, largando-os no carro. Com a carta na mão, abri a porta, deixando a areia afundar-se até as canelas.
Havia sido um belo dia de sol pouco antes, quando o céu estava limpo e a praia lotada de pessoas. Porém, agora, com a chuva grossa lavando as ruas, tudo o que sobrou foi duas crianças birrentas que teimavam sair da água, mesmo a mãe os ameaçando tirar o Ponpucho, seja lá o que isso for.
Corri para a cobertura de um barzinho onde um homem barbudo estava prestes a fechar.
“Desculpe, rapaz. O bar já está fechado.” Disse ele sem olhar para mim.
“Poderia me vender apenas uma bebida? Qualquer uma. Tive um dia meio difícil hoje.”
O homem suspirou alto, olhando para mim com os cantos dos olhos. “Ah, tá bom,” ele cedeu. “Mas apenas uma! Uma trovoada logo irá chegar e quero estar em casa antes dela.”
“Apenas uma.” Repeti, assentindo com a cabeça.
O homem abriu novamente a portinha que levava ao interior do bar, voltando em seguida com uma lata de cerveja gelada na mão.
Sentei na banqueta, tomando um grande gole da bebida, encarando a carta na minha mão. Peguei uma caneta que vi num porta-lápis, me voltando a ficha.
Em cinco minutos, tudo o que eu tinha conseguido preencher foi o nome, idade e a qual era minha casta.
Quem diabos escreveu esta ficha? , ouvi o grito de minha voz ressoar mentalmente. Um drogado?
Encarei a folha parda com desdém, perguntas como Por que desejas participar da seleção? me encarando de volta, ainda mais revoltadas que eu.
Por que quero participar da seleção?, pensei. Ah, nada não. Só talvez por causa do meu chefe que por acaso está me OBRIGANDO a participar.
“E então, você vai se inscrever na seleção da princesa, é?” O homem falou, puxando um banco para sentar a minha frente, a barba esvoaçando no rosto e destampando um crachá de papel improvisado, o nome Seu Samuel rabiscado com caneta vermelha.
Assinto com a cabeça, não conseguindo dizer as palavras. Elas eram amargas demais, até mesmo para mim.
“Meu filho também vai,” ele deu uma risada curta, parecendo falar pra si próprio. “Ele é louco por aquela garota desde moleque. Se ele for um dos escolhidos, provavelmente terá um treco!”
Pronto. Eu havia acabado de preencher toda a ficha. Encarei a folha, relendo as respostas. Elas pareciam boas, na verdade, apesar de a maioria ser mentira.
“Espero que ele tenha sorte então,” digo distraidamente, vendo o velho me dar uma sorriso simpático. Arrependi no mesmo instante do que disse, encolhendo os ombros.
Acabei com o restante da bebida virando-a de uma só vez, torcendo para que uma lata fosse o suficiente para calar todos os meus pensamentos.
Abri a carteira e deixei o dinheiro na bancada, saindo do bar.
“Desejo-lhe sorte também, rapaz!” Gritou Seu Samuel quando eu já estava longe, correndo na chuva.


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