O outro lado da moeda : Skye escrita por Blake


Capítulo 37
Capítulo 37




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TEAM SHIELD

Ninguém mais suportava ficar naquela base no meio do nada, naquele frio horrendo. Era deprimente demais, e Hunter fazia questão de esbravejar isso para todos que quisessem ouvir, após tantas lamentações, Coulson enfim teve que dar-se por vencido. Passariam uma temporada em alto mar, Ilíada parecia um bom lugar para reconstruir a SHIELD. Os Inumanos de Hunan já haviam sido devolvidos para a Geladeira, Triskelion estava engatinhando para ser novamente o centro de operações, a Academia demoraria um pouco mais para ser reaberta, e Phillip parecia saber exatamente uma boa dupla para comandá-la... Os capangas da HYDRA fugiram no vento após saberem a morte de John Garrett e aqueles que foram capturados, bem, não tiveram um futuro muito promissor. Tudo estaria perfeito, caso não fosse o pequeno detalhe dos Inumanos e Skye sendo o centro de tudo isso.

– Para onde irão? – indagou ao entregar os novos documentos dos Inumanos. Coulson realmente falou sério quando disse que iria contratar aqueles que quisessem ficar. Leah foi uma das que resolveu estender sua estadia na SHIELD, assim como Eric e Erin.

– Algum lugar quente, com natureza ao redor e uma boa vista – Jiaying respondeu de forma calma, sorrindo placidamente – Obrigada, Phillip – agradeceu e o estendeu a mão numa espécie de cumprimento.

– Parece um ótimo plano – respondeu e apertou a mão que ela o estendeu, sorrindo em retorno – Cuidem-se e qualquer coisa, bem, vocês sabem onde nos achar – concluiu e abriu os braços, trocando um abraço amistoso.

– Merda, Phil C., você tem que ver isso – Hunter entrou no escritório correndo, sempre muito entusiasmado e sem um pingo de juízo.

Todos estavam reunidos na sala comum, atentos ao que se passava na televisão.

“Após uma conversa muito franca com a Srta. Pryde, chegamos a conclusão de que os Inumanos não representam uma ameaça para nossa sociedade, são pessoas dotadas de habilidades, mas sem nenhuma intenção de utilizá-las para benefício próprio... Não é a toa que passaram tanto tempo escondidos, sem nos causar nenhum transtorno. São pais, mães, irmãos, que estão tentando sobreviver, assim como todos nós. Nenhuma medida de contenção será tomada, pois não encontramos indicativos de que essas pessoas sejam mal intencionadas...”

Alguém abaixou o volume da televisão, enquanto absolutamente todos se entreolhavam abismados com o quão bem aquilo havia ido. BEM ATÉ DEMAIS.

– Isso foi fácil – Hunter ergueu a cerveja, numa espécie de brinde solitário e sorria de orelha a orelha – Isso é coisa da Bobbi – comentou e era o único a estar tão convencido de que aquilo havia sido realmente tão diplomático.

– Nós não estamos mantendo a família de ninguém refém, certo, senhor? – Tripp, um pouco mais realista, perguntou.

Coulson balançou a cabeça negativamente – Eu acho que não – divagou um tanto incerto no que via – Alguém liga para Skye e Barbara – sugeriu, olhando ao redor e vendo absolutamente todos com os aparelhos em mãos, já discando o número delas.

– Fora de área ou desligado – alguns disseram.

– Eu nunca tenho sinal nessa porcaria – Hunter comentou e simplesmente voltou a beber, genuinamente feliz, enquanto todos os demais continuavam tentando.

SKYE

– Todo mundo deve está louco atrás da gente – Barbara comentou, enquanto aguardavam calmamente num dos bancos do Central Park.

– Nós iremos ligar quando estivermos com Miles, estamos sendo seguidas, não podemos arriscar tudo agora que estamos tão próximas – comentou, mantendo os olhos sobre algumas crianças que brincavam mais à frente.

– Eles não pararão de nos seguir, querem saber onde é a nova instalação da SHIELD – Bobbi pontuou, arqueando uma das sobrancelhas. – São apenas cinco idiotas que estão nos seguindo – avaliou com superioridade.

Foi impossível não sorrir. A loura era realmente uma princesa guerreira.

– Calma aí, Amazona, vamos recuperar o que viemos recuperar e depois eles são inteiramente seus – respondeu em tom jocoso.

Uma SUV parou às costas da dupla. Não precisou virar-se para saber que era Miles, acompanhado de mais três brutamontes do exército... Eles não foram nada sutis ao caminhar, denunciando exatamente suas respectivas alturas e pesos.

– Três caras, três grandes caras – Morse sussurrou, também não precisou virar-se para ter noção disso.

A jovem riu novamente, a companhia da loura era divertida.

– Pryde? – um dos grandalhões a interpelou com mau humor.

Virou-se, com falsa surpresa e apenas confirmou com a cabeça.

– Nossos chefes querem o vídeo – prosseguiu de forma séria, mantendo-se à frente dos demais soldados e Miles, que estavam um pouco mais afastados daquele ponto.

– Esse não foi o combinado e eu não farei isso – disse naturalmente, levantando-se do banco e se pondo a encarar o homem, que fraquejou um pouco naquela encenação de macho alfa. Estava aterrorizado, havia visto do que Skye era capaz, não queria ser a pessoa a ter que contraria-la, mas estava seguindo ordens. Não tinha muita escolha.

– Então temo que não sejamos autorizados a libertar o Sr. Nichols – anunciou e gaguejou discretamente.

– Você realmente quer fazer uma cena aqui? No meio do parque? – sussurrou com frieza – Eu não prevejo o futuro, mas acredite quando eu digo que é isso que irá acontecer, eu irei matá-lo, em frente a todas essas crianças, e então eu irei matar seus companheiros – pausou, deixando ele sentir o peso daquelas palavras, permitindo que ele imaginasse o cenário; a dor, os gritos, as possíveis fatalidades... - E se meu amigo sair daqui com um arranhão sequer, então eu irei atrás da sua família e eles sofrerão... Muito – outra pausa, mas dessa vez exibia um sorrisinho torto sobre os lábios, como se, ao invés de sangue, corresse ácido por suas veias – Ou, você liberta meu amigo, nós damos essa conversa por encerrada e o vídeo é esquecido – sua voz era estranhamente sombria, enquanto Skye era a calma em pessoa.

Notou uma linha de suor se formar sobre a testa do homem, que não a encarava naquele ar prepotente de minutos atrás, estava realmente aterrorizado. Bom. Era a intenção. – Então, qual das duas opções será? –

Ele considerou longamente aquilo, nitidamente nervoso, enxugou o suor das mãos na calça e só então ergueu o dedo, num comando para que os demais trouxessem Miles.

Sorriu de forma vitoriosa.

– Boa escolha – sussurrou, enquanto as algemas de Miles eram retiradas.

– Agora vamos dar o fora daqui – Barbara comentou, olhando por cima do ombro para se deparar com mais três pessoas que se juntaram à tarefa de segui-los.

– Eles te injetaram algo? Algum rastreador? – foi a primeira pergunta que o fez. Ele parecia ter passado por um inferno, estava magro, no mesmo ar de mendigo que tinha desde a última vez que o viu, só que pior.

– Eu não sei, não me sinto diferente – comentou e fechou os olhos, como se a claridade o incomodasse. Vê-lo daquela forma apenas aumentava a culpa que sentia. Não o merecia, nunca o mereceria.

– Ok, ficaremos bem – o certificou de forma confiante e passaram a seguir Morse, que movia-se com habilidade.

– Você sabe nadar, certo? – Bobbi virou-se para Miles, que pareceu um tanto confuso. Talvez não houvesse escutado bem a pergunta. Ao notar isso, Bobbi repetiu – Você sabe nadar? – falou pausadamente.

Ele confirmou com a cabeça, ainda indeciso e ela sorriu triunfante.

– Eu disse que isso daria certo – anunciou e correu até o lago. Jogando-se no mesmo. Não tiveram muito tempo para pensar e simplesmente a seguiram.

Um dos submarinos de Gonzalez repousava no Jacqueline K. O. R., o gigantesco lago que ficava bem no coração do parque. O lago era simplesmente perfeito para levá-los de uma margem à outra. Os perseguidores nunca conseguiriam segui-los, a menos que também tivessem um submarino de prontidão... Realmente torciam para não ser o caso.

Desaparecer sempre foi a especialidade de Skye, talvez mais uma das qualidades das mulheres da família Pryde.

**

– Você não parece bem – Skye avaliou, passando um copo de água para as mãos trêmulas de Miles.

Estavam num navio cargueiro, num dos conteiners, e faziam o percurso até a Ilíada, que, pelo que Barbara ficou sabendo, era onde Coulson pretendia reconstruir a SHIELD. Em pleno alto mar... Já era melhor ir preparando o estômago para longos enjoos.

– Você teve que passar por isso? – ele questionou após beber todo o conteúdo do copo.

– O que? – indagou um tanto confusa.

– O interrogatório, privação de sono, eles te afogando, música ruim, os choques... Eu desejei morrer – sussurrou, nitidamente traumatizado.

– É uma das primeiras coisas que aprendemos, como ser forte em situações extremas – revelou e sentou-se ao lado da cama onde ele estava – Me perdoe por colocá-lo nessa posição – se desculpou, genuinamente arrependida. Nunca deveria ter entrado na vida de Miles, ele era mais um que se machucava por sua culpa... Era sua sina, machucar todos com quem se importava.

– Eu só passei cinco dias com eles e perdi completamente a esperança, era como se eu estivesse morto, mas eu ainda respirava... – divagou, sem conseguir expressar logicamente o que sentia. Skye sabia exatamente ao que ele se referia. – Você passou sua vida inteira e eles nunca conseguiram te quebrar, nunca conseguiram tirar a bondade que você tem... Não sei como conseguiu, eu me sinto quebrado – admitiu num ar distante, não parecia o Miles sedutor, infantil e brincalhão de outrora. Ele havia amadurecido, experiências como aquelas têm esse efeito sobre você.

– Mas eles tiraram Miles, não apenas minha bondade, eles tiraram tudo – admitiu e suspirou pesadamente antes de prosseguir – Você tem que achar algo ou alguém que preencha esse vazio, às vezes você acaba achando isso ao matar pessoas, ou sendo um monstro, outras vezes você esbarra com a pessoa certa, que vai te mostrar que a vida pode ter mais cores do que apenas preto e vermelho, então você muda... Você passa a acreditar que talvez sua alma não esteja completamente condenada à escuridão – pausou, achando aquilo no mínimo irônico – Mas em algum momento você percebe que é tudo uma mentira... Que você vive uma mentira – refletiu – Antes de mentir para você, eu menti para mim mesma, acreditando que eu poderia mudar... Mas essa sede de sangue, essa raiva, nunca vai embora, você pode ignorá-la por algum tempo, fingir que ela não existe... Mas mais cedo ou mais tarde ela irá despertar e destruirá tudo – concluiu num ar infeliz e resignado. Já havia entrado em bons termos com a própria consciência. Não havia nada que pudesse fazer para mudar quem era, para mudar o que fizera... Simplesmente não sujeitaria mais ninguém a se ferir por estar ao seu lado.

– Em outras palavras está dizendo que se arrepende por ter me conhecido? – parecia quase ofendido ao perguntar aquilo.

– Não, Miles, eu me arrependo das mentiras e de todo sofrimento que lhe causei... Eu me arrependo por tê-lo usado como um meio de curar minhas próprias feridas –

– Eu não me importo, Skye – declarou, sentando-se ao lado da garota – Eu sempre soube que você era especial – esboçou um mínimo sorriso e brincou com os cabelos acobreados.

– Você fala como se fosse algo bom, Miles... Ser especial foi o que nos pôs nessa confusão – rebateu e afastou a cabeça, livrando-se do carinho. – Você disse que precisava pensar, bem... Você não foi o único, eu quase destruir um maldito hospital porque te perder me fez perceber o quão vazia eu realmente sou, eu fiquei completamente perdida e isso não é saudável – pontuou.

– Então eu te faço mal?! – inquiriu com indignação.

– Não, eu faço mal a mim mesma por depender tanto de você, eu tenho que ser capaz de me sustentar em minhas próprias pernas e parar de usar suas costas como carona – respondeu cheia de maturidade algo pouco condizente para sua pouca idade.

– Então pra que se dar o trabalho de me salvar? – sarcasmo era tangível.

A menina deu um riso nasalado, olhando-o pelo canto dos olhos - Porque você é alguém que vale a pena ser salvo e porque seu coração sempre foi maior que seu cérebro – brincou e o sorriu inocentemente. – E porque eu queria olhar para você quando eu fosse agradecer –

– Agradecer pelo quê? – a feição dele suavizou ao ouvir a frase dita por Skye, como se uma fagulha de esperança ainda crepitasse.

– Por tudo – assumiu – Mas principalmente por me salvar dois anos atrás –

– Quando você precisar – respondeu e a fitou com ternura. Abraçando-a quando o silêncio ficou incômodo demais. – Eu sempre estarei aqui – sussurrou ao ouvido dela e recebeu o sorriso que iluminava toda sua alma em retorno, num gesto que, vindo de Skye, valia mais do que palavras.


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Notas finais do capítulo

Que 2016 para vocês seja tão bom quanto os filmes que serão lançados esse ano. Amém? Amém! ♥