KATHERINE

Já estava saturada daquela sensação,desde que achara sua filha,tudo que parecia fazer era perdê-la; primeiro no bus,depois para os Inumanos e agora a perderia para John ? Não,Katherine não a perderia,não de novo.

Fazia uma prece baixa enquanto sobrevoava as montanhas. Não fora difícil ver os focos de incêndios,nem as aeronaves que atacavam o refúgio,eram em torno de seis e apostava sua vida que haviam mais. John realmente não estava para brincadeira. Decidiu tornar as coisas um pouco mais interessantes,aproximou-se de uma das aeronaves e a atravessou,sua intangibilidade era capaz de causar curto circuitos em objetos eletrônicos,então não foi nenhuma surpresa quando o transporte começou a falhar,perder altitude e explodir ao chocar-se com a primeira coisa que encontrara. Repetira o feito mais duas vezes antes de notar as vibrações que foram capazes de causar uma pequena avalanche. Chame de sexto sentido,intuição de mãe,telepatia ... Mas Kate sabia,Skye fizera aquilo. Apenas não achava que a garota fosse ser idiota o suficiente para continuar ali enquanto eram atacados,mas novamente ... Não conhecia nada sobre a menina.

Achá-la no meio daquela confusão também não fora exatamente fácil,a fumaça impedia uma visão clara e respirar já havia se tornado impossível,o fogo sequestrara qualquer vestígio de oxigênio presente. Se apressou e quando já pensava em subir para respirar melhor,notou uma criaturinha caída,a tomou no colo e as tirou dali.

– Ei,não vou te deixar de novo – sussurrava enquanto dava um beijo sobre a testa da jovem,a levou para um local “mais seguro”,mas não poderia usar sua intangibilidade para voar com ela em seus braços,ou a queda não seria nada agradável,para Skye. Checou seu pulso e a aninhou da melhor forma que pôde em seu colo,tentou seu ponto na tentativa de chamar May mas o aparelho não funcionou. Efeitos indesejados da sua intangibilidade com aparelhos eletrônicos; ela não era seletiva.

Notou a menina se remexer e ir,pouco a pouco,recobrando a consciência,sorriu e até as outras explosões foram ignoradas.

– Katherine ? – a menina indagou baixo,nitidamente confusa e duvidando dos próprios olhos.

– Hey,kid - a mais velha respondeu,outra explosão,dessa vez mais perto do ponto onde estavam.

Skye não fez mais perguntas e levantou-se de forma cambaleante,apoiando uma das mãos na parede antes de prosseguir até,o que antes fora a porta daquela casa.

– Precisamos sair daqui – falou de forma séria e parecia estar exausta,as pálpebras tinham dificuldade para manterem-se abertas,mas ela nunca admitiria. A única forma de fazê-la parar de lutar seria se a matassem,Kate sabia disso.

SKYE

Lá estava o cansaço que Jiaying mencionou da primeira vez que usara seus poderes inescrupulosamente,mas não iria descansar ou fugir enquanto todas aquelas pessoas morriam. Não era porque seu nome estava numa profecia idiota que fazia aquilo,simplesmente era o certo a fazer.

Encontrar Katherine fora uma grata surpresa,SHIELD poderia ajudá-los.

– Você tem que mandar os agentes da SHIELD derrubarem as aeronaves – falou enquanto outra explosão era ouvida,cada vez mais próximo delas,eles estavam realmente determinados a exterminarem Afterlife do mapa,se bem que ele nunca estivera realmente nele.

– Não existe mais SHIELD – a mulher respondeu e só então Skye virou-se para encará-la,quase como se esperasse ela desmentir aquilo – Ela foi tomada pela HYDRA,eu e os outros estamos atuando “solo”,por assim dizer – Katherine prosseguiu,num ar cansado. Disparos eram ouvidos ao longe.

– Então é bem provável que voltemos para nosso lar doce lar – embora o tom fosse de deboche,havia um certo pavor por trás. – Aliás,um aviso que meu adorável pai é o homem que comanda HYDRA não iria machucar – emendou,apressando os passos. Estavam voltando para o centro,da onde seria muito mais fácil a escalada. Por que tudo parece tão deserto ? indagava-se internamente e torcia para a resposta ser porque Gordon havia levado todos os Inumanos para um local seguro. Algumas aeronaves pareciam abandonar o espaço aéreo,não era idiota,sabia que eles tinham pego alguns Inumanos,seria o único motivo para retornarem.

– Eu não sei quem é o seu pai – ela admitiu e certificou-se que o caminho estava livre para só então prosseguir – Pode ser ele ou Coulson – emendara e não parecia nem um pouco constrangida com aquilo,embora devesse,e muito.

Após o impacto inicial da revelação,Skye estava realmente confusa sobre os gostos peculiares de Katherine – Que merda de gosto é esse ? O primeiro é um supervilão e o segundo é um domador de unicórnios,que acredita no papai Noel e em fadas – falou achando aquilo muito bizarro,eram completos opostos e Skye já tinha até uma ideia de quem ganhara aquela corrida da vida – Com certeza meu pai deve ser o chefão,as vezes eu tenho essa vontade de dominação mundial também,deve ser genético – brincou,mas ao sorrir sentiu a costela protestar,levou a mão até ela e parou um pouco,recuperando o fôlego. Recusou a ajuda da mais velha com um aceno de mão.

– Você não precisa fazer tudo só,Skye,ou me afastar a cada oportunidade que tem – a morena falou num ar sério e ressentido.

– Oh,me desculpe por não estar muito atenciosa aos seus sentimentos enquanto tento não morrer – retrucou sarcasticamente. Katherine parecia não compreender que sentimentalismo era relativamente novo em sua vida. Não fazia ideia do que a mulher esperava que fizesse.

Mantiveram-se caladas,enquanto ouviam som de botas revistando cada casa,cada viela. Depois de tantas bombas,possivelmente estivesse na hora de recuperar os prêmios. Ambas sabiam o que deveriam fazer,entregou uma pistola nas mãos da mulher.

Separaram-se e cada uma tomou um flanco,cercando os soldados. Skye esvaziou todo o pente da semiautomática nos quatro soldados que reviravam os escombros,sim,tivera a intenção de fazer barulho e chamar a atenção dos demais,como esperado eles vieram,bem a tempo de receberem um pouco do tratamento de Katherine. Dez soldados da HYDRA a menos. Aproximou-se do quarteto que havia matado e pegou suas armas mais leves,não estava em condição de carregar um fuzil e só então escutou um gemido ... Um choro baixo. Tirou os brutamontes e os escombros da frente da casa com um manear de mão e adentrou na mesma,sendo guiada pelo choro.

– Katherine! – a chamou e a mulher rapidamente se apressou a ir ao seu encontro. Deparando-se com uma criança,que não teria mais do que quatro anos,encolhida no canto da parede,enquanto seus pais estavam estendidos no outro extremo,mortos.

A mulher com certeza teria mais tato lidando com aquilo do que Skye,a menina saiu da casa; aquela era apenas uma das centenas de casas que havia no refúgio,aquele era apenas um dos inúmeros locais que eles poderiam se esconder,era uma verdadeira cidade e Skye nunca conseguiria salvar todos,olhando para aquela criança assustada,teve essa revelação.

Katherine não demorou a sair da casa,trazendo a menina no colo,enrolada numa manta. Puseram-se a caminhar novamente,outros agentes possivelmente fossem surgir em pouco tempo.

Tudo estava tão quieto ... Aonde estaria Wanda,Lincoln e os outros ? Por que ninguém parecia reagir ? Em nome de Deus,eles tinham poderes!

MAY

Achar Afterlife não foi um problema,afinal,já tinham a localização no GPS e os enormes focos de incêndio eram bem visíveis. O grande problema foi descer até lá,não havia local para pousar e May não poderia se meter entre cinco aeronaves inimigas,seria fuzilada ainda no ar. Usaram o cloacking para planar sobre uma das montanhas próximas ao refúgio,por tempo suficiente para May saltar,mas antes tivera que dar aulas básicas de pilotagem para Miles,ou aquele quinjet,assim como Afterlife,seria apenas história,dali a algumas horas.

– Não importa o que você faça,não saia daqui,você consegue fazer isso ? – a chinesa questionou de forma irritada e no humor que estava,caso recebesse uma resposta negativa,iria matá-lo. Ele pareceu notar,pois concordou,mesmo que a contragosto.

A mulher seguiu o mais rápido que pôde até o local,mas seu mais rápido ainda levou bons vinte minutos. Pelos seus cálculos,Afterlife já era atacada a mais de uma hora e May odiava as probabilidades que tinha.

Cruzou com um grupo de Inumanos que pareciam mais perdidos do que a mulher,movimentar-se entre aquelas ruas era nauseante e não era nem pelo fato da fuligem e falta de oxigênio,era porque todas pareciam idênticas,e May não tinha a menor noção de onde Skye pudesse estar,mas se bem conhecia a garota,bastaria seguir os sons dos tiros e eventualmente a encontraria.

Ouviu três explosões em sequência,todas em pontos distintos do lugar,e teve que escolher uma para checar,torcia para estar indo em direção a correta.

Encontrou Lincoln e Wanda atrasando a formação de quinze soldados que tentavam invadir,mas nem eles tendo poderes conseguiriam aquela proeza.

Aproveitou-se do fato de estar chegando por trás do grupo de soldados e atirou na nuca de cinco deles,Wanda aproveitou que eles cessaram os disparos em sua direção e desfez a barreira que produzira para proteger-se,iniciando o que ela sabia fazer melhor,separar cabeças de corpos. Lincoln divertia-se mais com o fato de erguer os soldados numa altura bem elevada e deixá-los cair,vendo seus crânios serem esmagados com o impacto.

– Skye ?! – May perguntou ao aproximar-se da dupla que,definitivamente,já haviam tido dias melhores.

Wanda e Lincoln balançaram a cabeça negativamente.

– Saiam daqui,eles não pararão de mandar soldados – May os recomendou antes de retornar à caminhar.

– E você ?! – ambos perguntaram em uníssono,dando uma corridinha para conseguir acompanhá-la.

– Eu checarei cada pedaço desse lugar,até ter absoluta certeza que ela não está aqui – a chinesa respondeu e a dupla sorriu,cúmplice.

– Então não vai se importar com a companhia – Wanda sussurrou,limpando um sangramento nasal com o dorso da mão.

Vermelho,definitivamente,era a cor daquela criança.

SKYE

– Poder legal esse o seu – Kate tentou iniciar uma conversa com a menina,enquanto passavam por cima de mais escombros.

– Mais legal seria me livrar dele – respondeu baixo e tossiu sobre a mão,tingindo-a de vermelho. Escondeu antes que Katherine visse. Ótimo,na melhor das hipóteses suas mucosas estavam apenas queimadas,na pior,seus pulmões colapsariam dali a meia hora e ela se afogaria no próprio sangue. Estava agindo como uma idiota,sabia disso,e com a iminência da morte,não quis continuar com aquele clima estranho – Desculpa,por antes – sussurrou e voltou os olhos na direção da mulher,que carregava a criança de forma terna.

– Eu pesquisei algumas casas em L.A ... – Kate soltou a indireta,enquanto olhava de esguelha para Skye, – Talvez,depois que tudo isso acabar,possamos passar um tempo juntas – ela finalizou de forma incerta,não fazia a menor ideia de qual seria a resposta da garota.

– Isso seria bem legal – respondeu e a lançou um sorriso de canto,mas os olhos mantiveram-se baixos. Ela realmente acreditava que conseguiriam ter uma “vida normal”,depois de tudo aquilo ? Skye era um pouco mais realista sobre seu futuro do que Kate,pelo visto ... Se bem que futuro se tornou uma palavra pouco adequada para a condição atual de Skye.

Já subiam pela montanha,e a cada passo que dava naquele terreno íngreme,era acometida por uma dor nauseante,capaz de a arrancar da realidade – Por aqui – indicou enquanto tomavam à esquerda,escapando por poucos segundos da luz que uma das aeronaves jogava sobre a montanha. O espaço era tão ínfimo,que tinham que apoiar as mãos nas laterais para não despencarem pelo precipício. Odiava alturas e tudo que pensava era em não provocar nenhum tremor e não olhar pra baixo.

Quando enfim atingiram a passagem que ia até montanha vizinha,notaram diversos indícios de luta; o sangue destacava-se sobre a neve,mas não havia nenhum cadáver,não sabia se tirava aquilo como um bom sinal.

– Ora,ora,vocês realmente demoraram – Raina anunciou,revelando-se. Era seguida pelos dois Inumanos que foram englobados pela cratera e parecia genuinamente impressionada.

Luzes fortes se projetaram sobre o grupo e Skye pôs o antebraço sobre os olhos,ou não conseguiria enxergar nada. Foram cercadas pelos jatos. – Vá embora – falou para Kate,enquanto punha-se na frente dela e da criança. A mulher permaneceu parada,comprimindo uma criança chorosa no colo. Parecia considerar soltá-la apenas para lutar,mas sabia que se fizesse isso,a menina seria morta pelo fogo cruzado.

– Só tragam a adolescente viva – Raina ordenou num tom entediado e virou as costas,sendo içada novamente para o conforto do jatinho.

A dupla acatou a ordem e investiu contra a garota,que formou uma barreira,os impedindo de prosseguir – Vá logo! – gritou enquanto alguns soldados começavam a descer das aeronaves,Katherine tinha uma mínima janela para escapar e caso não a aproveitasse,as três seriam capturadas,ao invés de apenas uma.

Sabia que não conseguiria segurá-los por muito mais tempo,encarou Katherine uma última vez e esperou ela atravessar para a segurança da montanha vizinha,antes de vibrar tão fortemente a superfície,que fora capaz de separar as duas montanhas,quebrando a passagem pela qual Kate acabara de passar,além de criar uma enorme avalanche que varreu todos que permaneciam ali,inclusive ela. O frio nunca pareceu tão familiar.