O outro lado da moeda : Skye escrita por Blake


Capítulo 13
Capítulo 13




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KATHERINE

1993

– Ser chamada por Nick Fury em pessoa antes mesmo de completar dezoito anos, só ponha isso no seu futuro curriculum e todos a contratarão – David brincou, arrancando um sorriso da garota ao seu lado.

Ela própria não acreditou quando o Professor X a chamou e lhe deu a notícia, havia acabado as aulas regulares na escola para adolescentes superdotados a quase dois anos e iria conseguir seu PhD em física atômica dali a poucas semanas, apesar de ser uma decente agente de campo (ou assim lhe fora dito), não iria enveredar por essa área, iria se focar em pesquisas. Aquela consultoria seria sua última ação em campo, ou assim ela imaginou.

Despediu-se de David com um beijo sobre sua bochecha – Te vejo daqui a três semanas, me compre um presente – falou, debruçada na janela do carro, e o homem apenas sorriu, Katherine era capaz de iluminar o dia de qualquer pessoa.

Girou nos calcanhares, passando alguns instantes admirando a arquitetura do local e só então adentrou a grande Central, onde ficaria pelos próximos quatro anos.

Sua primeira semana ali foi apenas para organizar a missão e avaliar a viabilidade de algumas ações, assim como a utilidade de outras. Era um resgate de civis na Nigéria, e era isso que ela pretendia fazer, resgatar, e não massacrar a todos indiscriminadamente. Opinião que John Garrett não compartilhava, o homem tinha um modo viril e era mais adepto ao lema:”Bata primeiro, pergunte depois”. E óbvio que Katherine e John nunca concordavam em nada, enquanto Kate era uma pessoa da lógica e da ciência, ele era a pessoa do músculo e do charme. Dessa forma, passaram as outras duas semanas brigando.

– Não podemos lançar um míssil num local cheio de reféns! – protestava mais alto do que gostaria, seguindo-o pelo corredor enquanto ele andava a frente da garota, a ignorando. Odiava quando ele agia daquela forma prepotente, se bem que aquela era a única forma que ele agia, então odiava-o constantemente.

– Já confirmamos que os reféns estão no subsolo, não seja tão dramática – ele respondeu num ar entediado, lançando uma piscadela sugestiva na direção de uma secretária. Revirou os olhos e bufou. Andar atrás de John era uma tortura, toda agente que passava por ele tornava-se inquieta e o lançava sorrisos cheios de possibilidades. Ele era bonito, isso até Katherine admitia, mas não era para tanto.

– E por acaso foi confirmado por um engenheiro que os reféns não serão soterrados com o impacto ou outro acéfalo feito você está chutando com a vida dessas pessoas ? – retrucou, num tom ácido. O moreno virou-se e tinha aquele sorriso debochado sobre os lábios, parecia se divertir.

– Quinta a noite – o homem falou, o sorriso ainda permanecia lá, mas os olhos azuis antes desdenhosos adquiririam um ar de curiosidade.

– Quinta a noite ? – repetiu sem entender e suspirou, necessitava de toda sua paciência se tratando de John.

– Nosso encontro, quinta a noite, às 20:00, eu sei onde você mora – ele finalizou e partiu, sem esperar a resposta, deixando uma Katherine completamente sem reação. O que diabos fora aquilo ?! Aquele homem só poderia ser louco.

Apesar de ter feito algumas amizades, dentre todos, Phil era o mais próximo a ela. Quando ele a contou que era o melhor amigo de John não pôde acreditar. Phillip era o completo inverso de John, enquanto Garrett era um idiota, Coulson era a pessoa mais bondosa que ela conhecera. Adorava a companhia dele, era o único momento no seu dia no qual podia relaxar e falar trivialidades, óbvio que o assunto “John” sempre surgia entre uma conversa e outra, mas a primeira vez que Phil mostrou-se inconfortável com isso foi quando mencionara sobre o “encontro”.

– Algum problema ? – questionou ao notar a apreensão do mesmo.

Ele apenas negou com a cabeça – Só não quero que você se machuque – ele admitiu e a lançou um sorriso triste.

Aquela conversa martelaria a consciência de Katherine por muito tempo. Deveria tê-lo escutado, se o tivesse escutado, tudo seria diferente.

Na quinta-feira ela se arrumou para o encontro, pusera um vestido branco, que ficava um pouco acima do seu joelho e as costas tinham rendas delicadas que permitiam ver os contornos da sua silhueta curvilínea, adicionou saltos da cor preta enquanto os cabelos foram soltos, esses que caiam em ondas acobreadas por toda extensão das suas costas, não exagerou na maquiagem, tampouco nas joias, apenas brincos discretos e uma pulseira de ouro branco. Ao encarar o próprio reflexo no espelho não conseguia acreditar que realmente estava ansiosa para o encontro, queria matar-se por aquilo.

A campainha tocou às 19:55 pm. Sorriu com a precisão em não estar atrasado, nem demasiadamente adiantado. Foi atender e foi impossível não sorrir ao notar o John que estava diante de si. Ele vestiu um blazer com jeans preto e sapatos Oxford, nunca imaginaria que ele teria tamanho bom gosto e apesar de ter demorado-se na avaliação da privilegiada anatomia do moreno, o embrulho que ele tinha nas mãos a puxou de volta para a realidade.

– Você está linda – ele disse, quebrando o silêncio e pôde notar que ele foi sincero. Corou, disfarçando com um sorrisinho de canto.

– Você não está nada mal também – brincou e ele sorriu, entregando-lhe o tal embrulho.

– Feliz aniversário – ele anunciou, enquanto Katherine abria a caixa de tamanho mediano e tirava de lá um urso panda, adorável, ele trajava uma blusa da SHIELD e nas mãos tinha uma espada, melhor presente que poderia receber. Sorriu genuinamente e antes que percebesse já havia abraçado o moreno a sua frente, embebedando-se no aroma amadeirado que ele emanava, afastou-se ou não sabia do que seria capaz, nunca foi uma das mais puritanas.

– Obrigada – falou ainda sem jeito e ele apenas sorriu. Pôs o presente sobre o sofá, pegou sua clutch preta e saiu.

Naquela noite não acordara na sua cama, nem em muitas outras noites após aquela.

Decorrida a primeira missão, na qual chegou a um meio-termo com Garrett, lhe foi oferecido um cargo permanente como agente da SHIELD, ela aceitou. Tudo parecia perfeito; tinha um trabalho que amava, tinha um homem que ela amava, tinha amigos e mesmo que ninguém ali tivesse “habilidades inumanas”, eles não pareciam temê-la. Eram sua família e ela os amava.

Nem acreditava que já haviam se passado quatro anos, tempo suficiente para que ela sequer lembrasse como era a vida fora da SHIELD, sem o John e sem o Phil. Usava um anel de noivado que não passou despercebido por ninguém, sim, sim! Alguém havia conseguido a proeza de fazer John Garrett se comprometer publicamente. Katherine não poderia estar mais radiante, tudo que ela sempre quisera foi construir uma família e quando enfim a tivesse, sabia que abandonaria o campo e voltaria para sua ideia inicial de trabalhar apenas com pesquisas, John parecia adorar a possibilidade, ele sempre falava sobre o “John Jr. ou a mini Kate”.

John iria em mais uma missão, uma que Kate foi estranhamente deixada de fora. Não contestou a decisão do noivo, mas a pulga atrás da orelha permaneceu. Ele parecia distante e irritadiço com alguma coisa, mas não importava o quanto Kate insistisse, ele não a dizia. Decidiu que teria que descobrir por conta própria, ele não a deu outra opção. Katherine não demorou sequer cinco minutos para hackear o computador de John, comprovando que quebrar a 4ª emenda é um gene dominante na família Pryde. O que viu nos emails dele a fez perder completamente as forças e iniciar um choro copioso, repleto de pavor. Aparentemente SHIELD não era a única organização para qual John trabalhava, ele também recebia ordens da HYDRA, que o ordenou a manter Katherine próximo o suficiente para que quando tivessem o “item final”, não houvesse problemas em usá-lo contra ela. Não fazia ideia do que era esse item final, mas tinha a impressão que ele iria buscá-lo nessa missão. Copiou todas as provas que coletou e pôs num pendrive, sua mente trabalhando a um ritmo frenético, tirou o anel de noivado e o arremessou contra a parede,enquanto enxugava as lágrimas e forçava-se a se manter racional. Aproveitou que ele havia viajado naquela tarde e arrumou suas malas, mas parecia incapaz de sair pela porta, queria dar o direito da dúvida para ele, mas como ? Aqueles emails não deixaram espaço para tal.

Ligou para Phil, pediu para dormir no apartamento dele naquela noite, inventou uma história sobre ter descoberto John com outra e encontrou refúgio nos braços de Coulson, uma coisa pareceu levar a outra e antes que se desse conta já havia dormido com o melhor amigo do seu ex-noivo traidor, ela nunca foi boa com decisões impensadas, parecia que toda vez que tomava uma, acabava na cama de alguém. Descobrir sobre os sentimentos que Phil nutria por ela a fez sentir-se como o pior ser humano na face da terra, não poderia magoar uma pessoa tão boa quanto Coulson. O escreveu apenas um bilhete que dizia: “Foi um erro” e saiu.

Passou mais cinco dias fingindo, toda vez que John ligava tinha vontade de vomitar e dizer que já sabia de tudo e que ele merecia apodrecer na cadeia, mas não, manteve a farsa. Ele já estava voltando e ela ainda não havia terminado os preparativos para sua fuga, fazer tudo na surdina de dentro de uma agência de espiões requeria bastante empenho, mas não deixaria Garrett ou quem quer que estivesse atrás dela a capturar. No quinto dia tudo estava pronto, David havia ajudado-a, ele não fez perguntas e Katherine agradeceu pela descrição, ele era o único amigo de confiança que a restara. Esperou até o final do expediente, quando a maioria dos funcionários iam para casa e invadiu a sala de Nick Fury, por invadir se entende: atravessou a parede como se ela não existisse. Deixou o pendrive sobre John na mesa do diretor, junto com um bilhete: “Não me procure” e partiu.

Sua nova identidade, Eliza Anne Griffin, nenhum familiar vivo, 22 anos, formada em biotecnologia pela universidade de Cambridge, bem fidedigna a sua real identidade, mas em breve, Eliza Anne, adicionaria mãe as suas qualificações.

1997

No primeiro mês que sua menstruação atrasou não se desesperou, até porque passara por tanto estresse que considerou aquilo normal, mas quando o segundo mês chegou e com ele não a trouxe, soube que algo estava errado e por errado queria dizer, muito errado, o nível de errado que não poderia acontecer naquele momento em particular da sua vida. Fez um teste de farmácia e após confirmar suas suspeitas, chorou pelo restante do mês inteiro. Não fazia ideia de quem era o pai e isso não era nem de longe o maior dos seus problemas. Como iria criar uma criança sendo praticamente uma fugitiva ? Não queria arrastar David novamente para aquilo, muito menos seus antigos amigos da Mansão, era muito perigoso, se HYDRA estava interessada em coletar superpoderosos poderia usá-la para esse propósito. Se fez de forte e achou conforto no fato de que pelo menos não estaria mais só. Deixou para saber o sexo apenas no momento do parto e bastou receber aquele embrulhinho rosa para todos seus medos se dissiparem: Daisy Theresa Griffin. Pôs o Theresa em homenagem a sua falecida mãe.

Se mudava constantemente, pagava tudo em dinheiro e ao notar qualquer coisa minimamente suspeita, mudava-se novamente. Certa vez reconheceu um dos agentes da SHIELD, Nick Fury, mesmo que não intencionalmente, foi um grande responsável por ter sido descoberta. Agentes infiltrados da HYDRA vazavam informações do seu paradeiro sempre que algum agente da SHIELD suspeitava, pelo menos na maioria das vezes eles estavam errados, mas eventualmente eles iriam acertar. Evitava sair com a filha em público e sempre que o fazia, redobrava o cuidado, ninguém poderia saber sobre ela.

Morava em Detroit quando foi encurralada por agentes da SHIELD assim como agentes da HYDRA, nenhum dos dois iria fazer um movimento que não fosse certeiro, não queriam correr o risco dela fugir novamente e daquela vez ela soube que não poderia fugir. Não voltaria para casa, eles a seguiriam e descobririam sobre Daisy. Mandou uma mensagem para a babá da filha e pediu para se encontrarem no banheiro feminino do shopping, especificou exatamente a forma que gostaria que ela agisse, aquele era shopping mais movimentado da cidade, duvidava que eles fossem tentar qualquer coisa ali, os agentes seguiram-na mas não entraram, não havia forma dela fugir, se certificaram de manter agentes do lado de fora de toda parede e no andar de baixo também. Quando a babá finalmente chegou ela se dirigiu para o primeiro box, como pedido, Kate já estava lá, abraçou a filha uma última vez e ligou para Phil, quando o homem declinou conteve as lágrimas, sabia que não poderia ficar brava, não depois do que fizera com ele. Tentou David mas a voz que ouvira do outro lado da linha fez toda sua espinha gelar, era John, ele sorria com escárnio.

– David infelizmente está impossibilitado de receber essa ligação, o motivo é sua morte mesmo – ele disse e parecia deliciar-se – Dois anos, querida Katherine, devo lhe dizer que você é realmente boa nisso, mas não tão boa – ele falava num tom completamente impessoal, como quem comenta sobre a previsão do tempo. Ele era um monstro, deveria ter percebido aquilo desde o princípio. Derrubou uma lágrima mas estava incapaz de o responder, desligou e encarou a ambas.

– Última opção - falou com a voz embargada e beijou a testa da filha, antes de deixar o banheiro. A babá já sabia o que aquilo significava. Katherine usara a justificativa que trabalhava para a CIA e que estava sendo perseguida pela máfia, seria mais fácil ela comprar aquela história do que a real, a sua instrução era dar a criança para um orfanato, sem nenhuma espécie de documento, e manter aquele segredo pelo resto da vida, viu em seus olhos que ela manteria aquela promessa.

Deletou todos os registros do seu celular e passou as horas seguintes rodando pelo shopping, cerca de cinquenta homens a seguiam. Olhou no relógio, cinco horas haviam se passado, partiu para casa e se deparou com ela vazia, nenhum sinal que uma criança estivera ali, agradeceu mentalmente. A única coisa que tinha certeza é que se fosse para cair, levaria o máximo que conseguisse consigo, não se importava se eram SHIELD ou HYDRA, se contentaria com qualquer um àquela altura e fez um baita estrago antes de ser capturada. Aparentemente, durante os dois anos em que a procuravam, foram capazes de desenvolver um dispositivo capaz de impedir seus poderes. Sofreu lavagem cerebral e passou a obedecer cegamente ao ser humano que mais desprezava na face da terra.

O John Garrett charmoso não existia mais, seu rosto estava todo deformado por cicatrizes e queimaduras, seus cabelos antes volumosos eram escassos e tinha um braço mecânico, Nick Fury com certeza pensava ter se livrado do desgraçado, talvez por isso tentasse achá-la e trazê-la de volta.

2015

– Passei dezesseis anos sobre o controle doentio daquele maníaco e a única certeza que eu tenho é que irei matá-lo, da forma mais dolorosa que eu encontrar - anunciou aquilo de forma fria e esperou por alguma reação de protesto vinda de Coulson, não veio. O homem prosseguia imparcial, da mesma forma que estivera durante toda a história.

– Então talvez eu possa te ajudar com isso -.


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