Monster escrita por Artur


Capítulo 1
Capítulo Único: Um Mundo Imperfeito


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores queridos! Aqui vai uma one shot especial para vocês! Tive a ideia de escrever algo com esse tema após observar que várias garotas e garotos sofrem desse mal imposto pela sociedade em que vivemos. Enfim, espero que gostem!



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Monster

Um Mundo Imperfeito

Os ventos se chocavam com as janelas fechadas da casa dos Cavalcantti. Não demorou muito, e logo as gotículas de chuva já atingiam o teto provocando pequenos barulhos que se ecoavam no interior da residência.

Os donos da casa conversavam na cozinha, ambos com uma expressão séria em face. A mulher, dona de cabelos encaracolados e olhos que exalam preocupação, colocava uma última colher de açúcar em um copo de água.

— A professora reclamou do rendimento dela novamente? - O homem questionou, retirando a gravata de coloração avermelhada com listras inclinadas e pretas, envolta do pescoço.

Um silêncio se faz na cozinha e o rapaz apenas observa sua esposa terminar de ingerir a bebida que acabara de preparar. Elisa realiza um suspiro angustiante assim que cessa tal ação, fitando seus olhos no esposo que tentava apressar o assunto com o olhar. Douglas esboçava uma feição cansativa e exausta, tudo que mais queria era deitar-se na vasta cama que o esperava no quarto.

— Eu não sei mais o que fazer, tento conversar com ela, mas ela vive trancada naquele quarto! Não sai nem para se divertir com as amigas, diz que não está no clima. - Elisa explicou, passando suas mãos trêmulas pelos seus cabelos escuros.

— Qual o problema dessa garota? A Érica não é a mesma menina de antes. - Proferiu o empresário, andando pelo espaço do cômodo enquanto virava-se para a esposa e erguia o dedo indicador. — E nem venha me dizer que é culpa da adolescência, muito pelo contrário! Quando tínhamos a idade dela o que mais queríamos era sair e nos divertir.

— Eu não sei exatamente que está acontecendo com ela, mas eu ouvi uma conversa dela com uma amiga e a Érica falou algo relacionado a se achar feia. - Elisa retrucou, seguindo o marido que já se direcionava para o quarto do casal.

— Isso é coisa de mulher, acho melhor você conversar com ela. Mas não hoje, ela já deve estar dormindo. - Douglas proferiu em um tom de voz exaustivo, continuando após adentrar no banheiro. — Quando foi que essa garota começou a se importar tanto com a beleza?

Ao contrário do que se pensou, Érica ainda não havia dormido, o mesmo fato se repetiu dias antes. A jovem que possuía cabelos encaracolados herdados da mãe, uma pele intensamente delicada e olhos vibrantes, passava a maior parte do tempo lamentando-se em frente ao espelho que havia no próprio quarto.

Érica permanecia numa busca incessante pela perfeição, uma busca traiçoeira pela estética padrão imposta pela sociedade em que vive. A garota queixava-se de tudo; dizia que seu rosto não era delicado, seus cabelos não eram lisos como os das meninas da televisão, ou as garotas populares da escola em que estudava. Para Érica, seu corpo era deformado, seus olhos eram os mais comuns, Érica era imperfeita e com certeza não se encaixava nas normas da beleza.

A adolescente sentia-se excluída no âmbito em que vivia, repleto de garotas que se dizem estar a beira da perfeição. Devido a isso, Érica planejava algo que a fizesse se enquadrar no padrão da beleza extrema. O último - e o mais alarmante, foi parar de alimentar-se regularmente durante o dia e a noite. Comendo apenas aquilo que pensava ser necessário para obter o corpo perfeito, a silhueta perfeita, ou qualquer outra coisa que apagasse a imperfeição que nela existia.

E quando finalmente consegue dormir, o drama de Érica não termina. A garota vinha sonhando com inúmeras coisas que para ela, era uma pesadelo que refletia o próprio rosto, realçando o quanto tinha defeitos. Mas Érica tinha muito mais do que simples pesadelos, ela enxergava toda noite, a sombra de alguém em pé ao lado do final da cama da adolescente.

Érica tentava olhar o rosto daquele alguém, mas nunca conseguia enxergar com nitidez. A escuridão da noite e do quarto tomava conta de todo o corpo desse misterioso alguém que nada fazia, apenas ficava em pé, observando a jovem dormir. Érica acreditava que a sombra ria do que via na própria frente, como se estivesse zombando das imperfeições da garota.

Amanhece, e Érica mais uma vez não teve uma boa noite de sono. A claridade invade o quarto da garota, que ignora o espelho à frente da cama. Érica se dirige para o banheiro da casa, a jovem cambaleia vagarosamente até adentrar no cômodo.

Érica abre a torneira da pia, e com as mãos, leva a água para o próprio rosto repetindo o ato três vezes. E quando termina, a jovem fixa seu olhar na sua imagem refletida no espelho de tamanho mediano, a qual só possuía o rosto pálido de Érica.

Seus olhos estavam corados, o tom de pele já havia mudado de coloração, as manchas escuras ao redor da região dos olhos revelavam as noites sem dormir. Para Érika, aquilo refletido no espelho era na verdade um monstro que massacrava incansavelmente a vida da garota.

Érica muda a direção dos olhos para um conjunto de maquiagem que existia ao redor da pia. A jovem engole em seco, continuando nesse ciclo vicioso que muitas outras garotas já entraram. Érica é apenas mais uma que não desiste de encontrar um caminho para a perfeição.

Mas Érica entrou em uma busca sem solução, afinal, ela é imperfeita e vive em um mundo completamente imperfeito.


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que tenham gostado! Deixem suas opiniões, ficarei grato em saber o que acharam da proposta da fic! E sim, o final é esse, não quis criar um desfecho para a história de Érica, espero que entendam o motivo...



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