O Jogo do Ano escrita por Dorothy Bass


Capítulo 1
O convite


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores lindos e maravilhosos, tudo bem? Deixem suas opiniões nos comentários e espero que gostem!



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A menina de lisos (porém embaraçados) cabelos castanhos caminhava em direção a mais um ano – o último ano – de colégio de sua vida. A bata bege e larga caía por seu corpo magro, assim como seus longos colares coloridos e sua bolsa de franjas marrom. O shorts jeans rasgado mal aparecia, coberto pela blusa, e a alpargata preta e rasgada deixava uma parte do peito de seu pé direito exposta. Se seu pai a tivesse visto usando aqueles trapos para ir ao colégio, certamente daria um sermão sobre como ela era um “ponto fora da curva” e uma pessoa “sem noção”. Palavras dele mesmo. E sabendo disso, ela resolvera sair de casa antes mesmo de seu pai estar acordado. Não era fácil para Florence Vermont ser uma artista em uma família de engenheiros bem sucedidos.

Chegou na entrada antes mesmo de o portão abrir, então acendeu um cigarro para esperar a chegada de alguém que tivesse as chaves. Suspirou e encostou na parede cinza cheia de pichações da entrada de seu colégio. Esperou por alguns minutos, até que a coordenadora chegou e abriu o portão enquanto tagarelava sobre como era irritante ter que pintar as paredes do colégio todo mês por conta do grafite, que aparecia misteriosamente ali. Florence tentou ser simpática com a moça, já que sentia... dó. É, sentia dó dela. Era uma mulher na casa dos 50 anos que vivia tentando corrigir os incorrigíveis alunos daquele colégio com seus sermões e frases como "estou com você nessa luta". Ela poderia facilmente escrever um livro de auto-ajuda e sair do beco sem saída que era o Maryland High School.

Lançou-se pelo corredor em direção à sua sala, mas antes de entrar parou para ler os avisos de começo de ano. Sempre havia algo de engraçado ali, como post-its da psicóloga do colégio cheios de corações e frases positivas. Era engraçado porque, em menos de uma hora, eles estariam cobertos de desenhos de pênis. Seus olhos mel-esverdeados pararam em uma folha amassada que estava pregada no meio do quadro. Uma colagem de letras feitas com recortes de jornais e revistas formava uma frase.

“Os bravos ousem jogar.”

Abaixo dela, seis linhas numeradas se estendiam tortas. Florence franziu a sobrancelha, tentando entender sobre o que aquilo se tratava.

– Jogar? – sussurrou, aproximando-se do quadro para olhar melhor.

– Parece interessante. – uma voz masculina se pronunciou ao lado da menina, que deu um pulo pra trás com o susto. Ela não esperava que alguém já estivesse no colégio àquela hora. Olhou para o menino sem expressão alguma por alguns segundos e voltou a encarar a folha de papel.

– Talvez seja. Se eu soubesse do que se trata... – ela falou.

– Isso importa muito? – ele perguntou, com um sorriso divertido no rosto enquanto remexia a mochila quase vazia em busca de uma caneta. Achou-a, enfim, em meio ao monte de papéis soltos que ali estavam, e escreveu seu nome na primeira linha.

– Brody Dalson... eu nunca te vi por aqui. – falou, já virada para o menino novamente.

Ele tinha cabelos curtos, mas eram tão lisos que alguns fios caíam sobre sua testa, enquanto os outros estavam bagunçados, com alguns para cima e outros para o lado. Seus olhos eram relativamente pequenos, em um azul acinzentado. Tinha o nariz arrebitado, mas que tinha uma pequena lombada um pouco antes da ponta, e podia-se ver uma pequena covinha se formando em sua bochecha esquerda.

– Entrei esse ano. Mas, caso queira me conhecer... – ele disse, e bateu seu dedo indicador duas vezes em cima da folha de papel amassado – joga comigo. – falou, e saiu pelo corredor, com uma expressão descontraída e um pequeno sorriso no canto da boca.

Florence voltou a ficar ali, sozinha, mordendo os lábios e mexendo as pernas inquietas.

“O que eu tenho a perder?”, pensou, e lançou a mão para dentro de sua bolsa para pegar uma caneta.

“Florence Vermont”.

***

Uma multidão de alunos se espremia em frente ao quadro de avisos. Os olhos curiosos das pessoas procuravam pelo pedaço de papel amassado sobre o qual todos estavam falando, e os murmúrios se espalhavam pelo corredor inteiro. Os dois nomes que ali apareciam eram pronunciados com surpresa e uma certa admiração. A frase “Os bravos ousem jogar” não era exatamente encorajadora para muitos dos alunos, então o fato de duas pessoas se inscreverem era de certo modo impressionante e admirável.

Uma menina de pele morena e cabelos altos, volumosos e crespos entrou no corredor com uma expressão furiosa, quase gritando com a menina pequena e loira que tentava acompanhar seus passos.

– Ele não reconhece nada do que eu faço, Jamie! É impressionante! Sou a melhor da turma, vou bem em todos os simulados, faço aulas de piano, nado pela equipe do Estado, e ainda assim ele não consegue me elogiar nenhuma vez? Sem contar que não me deixa sair! Não posso ter uma vida fora de casa! Quantas vezes eu já saí com você? Dá pra contar nos dedos! É absurdo, absurdo, absurdo! – ela falava, e a menina ao seu lado apenas a escutava com uma expressão de aborrecimento.

– April, eu sei que é chato, mas... ele é seu pai. Não tem muito o que fazer.

– Não! Ele é o diretor. Não meu pai. Pelo menos não é como um pai que ele se comporta. Às vezes eu tenho que lembrar pra ele que nós chegamos em casa e que eu não sou uma das estudantes dele quando a gente pisa lá.

– Bom, você podia tentar enfrentar o diretor White, né. Quer dizer, ser um pouco mais dura com ele e... Nossa! – Jamie parou de andar quando viu o amontoado de pessoas em volta do quadro.

– Que isso? – April perguntou mais para si mesma que para a sua amiga. Ela, como a pessoa ansiosa que era, logo foi se esgueirando para dentro da confusão, deixando a pequena loira para trás.

Quando finalmente conseguiu chegar à frente de todos, passou os olhos pelo quadro, procurando o que era tão interessante ali, e então viu as letras de jornal.

“Os bravos ousem jogar?”, pensou alto.

Viu os nomes assinados ali, e os reconheceu na hora. Seu pai havia mencionado Brody Dalson em um jantar. Ele era um estudante-problema que o colégio foi obrigado a aceitar depois que ele foi expulso de todos os outros lugares por onde passou. Ele havia assoprado a fumaça de seu cigarro na cara de uma professora, se ela se lembrava bem.

E Florence Vermont, bom... Era Florence. A "menina metida a hippie", palavras de seu pai, que quase repetiu a série no ano anterior. Duas pessoas de quem April deveria manter distância. Más influências. Em um pulo, ela pegou seu lápis e assinou seu nome, deixando todos os alunos que ali estavam perplexos.

“April White?”

“A filha do diretor colocou o nome na lista!”

April foi empurrada para o lado por alguém, que esticou a mão e assinou um nome abaixo do dela. Ela se inclinou para ler quem era a quarta pessoa.

– Quentin Greyswood? – perguntou, olhando em volta para todos que encaravam a lista e riam, mas Quentin não estava ali. Alguém havia colocado seu nome. – Quem foi o engraçadinho?

– Cuidado que a filha do diretor ficou brava, hein. Foge, Chuck. – um garoto baixinho falou, olhando para Chuck, um garoto alto, de cabelos castanhos quase na altura dos ombros, olhos castanhos e maxilar bem marcado, que segurava o riso com a mão fechada em frente à sua boca.

– Você gosta de brincadeiras, né, Chuck? Por que não joga também, então? – April perguntou, enquanto gesticulava com as mãos pequenas e o cutucava no peito. Ele revirou os olhos, e ela continuou – Você não tem coragem o suficiente, então. Foi o que eu imaginei. Ta tudo bem ter medo... – ela disse, levantando o rosto e o olhando com superioridade, e alguns segundos após virar as costas para Chuck, ela ouviu alguns “wow” e uma agitação das pessoas atrás dela.

Olhou para trás e viu o menino com a caneta na mão, olhando para ela com os olhos semicerrados e um sorriso que não mostrava os dentes. Ela sorriu para ele, irônica, e seguiu seu caminho para a sala de aula, puxando sua amiga pela mão. Chuck encarou o pequeno corpo da morena indo embora.

– Que ex você foi arrumar, hein... – o menino baixo que falara com Chuck antes falou, dando dois tapinhas no ombro do mesmo.

***

Em meio à confusão de pessoas entrando e saindo das salas no intervalo entre as duas primeiras aulas, entrou no corredor uma menina de cabelos lisos e de um loiro artificial muito claro, quase branco, que dava passos firmes em direção ao banheiro, onde entrou alguns segundos depois. Ela usava uma calça jeans de corte reto e uma camisa azul bebê, além de estar com os cabelos presos em um rabo de cavalo firme e baixo.

Porém, menos de um cinco minutos depois, quando ela saiu de lá, estava diferente. A calça foi substituída por um shorts curto de cintura alta que mostrava sua poupa de sua bunda, a camisa por um top preto rendado e muitos colares, e os cabelos presos foram soltos.

Ela atraía olhares rápidos e medrosos de grande parte das pessoas por quem passava. Todos sabiam quem era ela. Arizona Albourg. Todos os dias trocava de roupa quando chegava no colégio. E ninguém sabia nada sobre ela. O que se sabia era que Arizona matava muitas aulas, usava drogas, e a cada semana um menino diferente vinha buscá-la no colégio. Era quieta. Falar muito nunca foi parte da pessoa que é Arizona Albourg. Tinha seu grupo de amigos quase tão problemáticos quanto ela, e o olhar mais penetrante que aquele colégio já viu. Era o retrato de uma pessoa que chama atenção sem precisar dizer uma palavra.

Arizona parou em frente ao quadro e olhou para o pedaço de papel grudado ali. Levantou o queixo alguns centímetros, abrindo um pequeno espaço entre seus lábios, que logo depois foi fechado para dar lugar a um meio sorriso. Pegou seu lápis de olho na bolsa e assinou.

“Ari A.”

E que os jogos comecem.


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Notas finais do capítulo

E aí, curtiram? De quem gostaram mais? Acham a história promissora? haha espero muito que sim!Beijos, vejo vocês nos comentários!