Tentei me concentrar no treino e até que consegui um pouco, mas aquilo sempre me vinha na cabeça. Jogaríamos contra Shikomoe e eu não sabia o que esperar delas. Nós as vencemos no amistoso, mas esse era um jogo sério e em vista ao tempo que não as vimos, com certeza elas treinaram bastante por causa do seu título. Chegamos e nos arrumamos no vestiário. Eu me alongava em silêncio e Setsuko me fitou sem expressão por um momento. Desde aquele dia que eu contei sobre Daiki e eu, ela não falou mais comigo. Acho que também por eu estar estranha com todo mundo. Soube por Kyoko que ela estava saindo com Atsushi, mas nada além disso.

– Minna! – Kotori-senpai exclamou animada – Fomos bem longe para uma primeira vez, então eu estou torcendo por vocês. – Ela fez um sinal positivo – Joguem pelo amor ao esporte, ok?

– Hai! – Akemi e Chiharu exclamaram animadas. As outras sorriram.

Me endireitei com o olhar sério, suspirei por um momento percebendo o que eu estava fazendo. Eu... Não queria mais jogar basquete. Isso é irônico, ne? Os dois últimos anos da minha vida foram focados no basquete. Agora... O que eu faria? Deixaria de jogar ou...

– Hanako-chan, vamos? – Akemi sorriu gentilmente.

A olhei em dúvida e fui com ela. Fomos para a quadra e eu tirei o moletom do time. Suspirei e alonguei minha perna mais uma vez, sem saber que Satsuki, Kagami e todos da geração dos milagres estavam na arquibancada. Daiki estava sério e Satsuki parecia estar em dúvida.

– Hum... Ela não parece bem. – Ela disse com as mãos na altura do peito.

– Hum. – Daiki disse sem expressão.

– Ne, ne. Muracchi, você está saindo com a morena, ne? – Kise perguntou.

– Hum. – Ele assentiu, mastigando salgadinhos.

– Ela e Hanakocchi são amigas. Você sabe o que ela tem?

– Não. – Ele mentiu – Setsuko e eu conversamos sobre outras coisas.

Kise não entendeu a expressão dele, Atsushi franzira a testa, parecia saber de algo.

– Vai começar. – Midorima disse.

O apito soou e começamos a jogar. Takara liderava, nos mostrando o próximo passo, mas na verdade nem precisava. Com o trabalho árduo de Kotori-senpai, praticamente sabíamos o próximo passo uma das outras. Jun, Takara e Kyoko faziam conjunto e estavam indo bem, mas o time adversário também estava. Setsuko e eu fazíamos uma dupla, mas não estávamos indo tão bem como de costume, o que deu a vantagem para as adversárias. Yoneko parecia contente com isso, mas, não sei por que, eu não ligava pra nada. Setsuko franziu o cenho e me parou, agarrando meu braço.

– Oe, qual o seu problema? – Ela exclamou irritada.

– Nada. – Disse sem expressão.

– Mentirosa, não está vendo que estamos perdendo?!

Olhei para o placar, era verdade. A diferença de pontos era absurda, estávamos perdendo vergonhosamente. Abaixei o olhar, por que eu não me importava mais com nada? Satsuki respirava nervosa.

– O que ela tem? – Ela se perguntava, impotente.

Daiki me olhava com a testa franzida, sabia muito bem o que era, ne. Voltamos a jogar, mas mesmo assim eu não me concentrava. Errava os passes para Setsuko e mesmo com Jun aparecendo para pegar as bolas que eu jogava, ela não conseguia. Takara não compreendia e Kyoko começou a ficar preocupada. Eu parecia estar fazendo aquilo de propósito, mas eu não estava. Apenas não estava conseguindo jogar direito.

– Que droga ela está fazendo? – Sumiko disse do banco.

Kotori-senpai franzia a testa, sabia que tinha algo de errado comigo. Eu errei mais uma jogada para Setsuko, fazendo com que Yoneko pegasse a bola. Ela se irritou e veio em minha direção.

– Você está de brincadeira?! – Ela exclamou agarrando meu braço com força – Que merda você está fazendo?!

– Nada. – Resmunguei, fazendo-a soltar meu braço – Me deixa em paz.

Ela franziu a testa surpresa.

– Idiota, pára de palhaçada e joga direito! – Ela gritou.

Franzi levemente o cenho. Todos nos olharam e Kotori pediu tempo, nos mandando voltar para o banco.

– Nossa, acho que nem precisamos nos esforçar tanto dessa vez. – Yoneko comentou com a de cabelo laranja.

Voltamos e eu me sentei no banco de cabeça baixa. Kotori chamou Setsuko pra saber o que houve. Eu não queria falar com ninguém, não queria ouvir ninguém. Eu só queria sumir e acordar quando tudo tivesse passado. Antes que Kotori fosse falar comigo, Satsuki chegou correndo preocupada.

– Hanako!

Levantei me virando.

– O que houve? – Ela perguntava preocupada – Você está estranha. Por que não me conta nada?

Eu olhava para ela, mas acima de seu ombro vi Daiki vindo em nossa direção. Franzi um pouco o cenho, irritada. Que droga é essa? Ele era escudeiro dela agora? Virei o rosto quando ele chegou.

– Hanako, me diga o que é. – Satsuki pedia.

– Não é nada. – Disse – Não interessa.

– Se não é nada porque não me interessa? É claro que é alguma coisa! – Ela dizia – Você está diferente, você mudou.

– As pessoas mudam. Só isso. – Disse sem emoção.

– Hanako... – Ela disse surpresa.

– Hanako, ela só quer saber o que você tem. – Daiki disse.

– E o que você está fazendo?! – Me voltei irritada para ele – Isso não interessa a você! Nós estamos conversando!

– Por que está falando assim? – Satsuki disse surpresa – Daiki não fez nada.

Franzi a testa, claro que ele não contou nada a ela.

– Você não sabe de nada. Vai embora. – Eu disse virando o rosto de novo.

– Claro que não vou! – Ela protestou – Sou sua irmã mais velha, você vai me falar! Eu sou um pouco mais experiente, vou entender o que você está passando se você me falar...

– Não vai não! – Exclamei me voltando para ela – Você não sabe de nada, você nunca soube mesmo estando na sua frente!

– Hanako... – Ela disse surpresa vendo meus olhos marejados.

– Você não sabe... – Rangi o dente – Não sabe o que é dar duro por uma coisa e no final ficar sozinha sem objetivo nenhum. Não sabe... Por que você sempre foi a favorita...

– Uhm... Nani... – Ela não entendia – Hanako... Eu não sou a favorita. Nossos pais nos amam da mesma forma. – Ela sorria levemente para melhorar a situação.

– Eu sei, idiota! – Quase gritei – Acha que eu estou falando deles?!

– Oe, Hanako! – Daiki tentou intervir.

– Você não sabe o que é amar alguém e essa pessoa nem pensar em você! – Exclamei pra ela.

Daiki fez uma expressão surpresa.

– Kuroko pode até não demonstrar, mas ele com certeza gosta de você. – Eu disse – Até o garoto que eu gostava gosta de você!

Ela ficou boquiaberta.

– Nani...

– Eu que fui idiota mesmo de fazer tudo isso, sabendo no fundo que ele gosta de você! Você...

Ela me olhava perplexa.

– Você... – Rangi os dentes e me forcei a parar, abaixando a cabeça e fazendo com que minha franja tampasse meus olhos – Você nunca vai entender a dor que é beijar alguém... E dormir alguém que só pensa em outra quando estão juntos.

Ela arregalou os olhos e Daiki engoliu a seco, pasmo. Setsuko se aproximou de repente e agarrou em minha roupa.

– Pára com essa palhaçada! – Ela exclamou, socando meu rosto.

Caí sentada no chão com a bochecha vermelha. Minha cabeça estava baixa, eu não tinha reação nem para pensar no que faria. Sumiko estava perto e até ela arregalou os olhos pelo o que Setsuko fez.

– Oe, Tomoko-chan! – Kotori-senpai se aproximou – Parem com isso!

– “Parem com isso, parem com isso”. – Setsuko dizia – Hanako, sua fraca! – Gritou.

Cerrei meus punhos enquanto ela me encarava.

– Tudo que você fez foi por causa desse babaca! – Ela exclamou.

Satsuki percebeu e fitou Daiki, que não tinha reação.

– Não adiantou, mas e daí?! – Setsuki exclamava – Você não vai ficar sem nada por causa dele, idiota! Tenha amor próprio, ele é um imbecil por não gostar de você! Você é muito mais que isso! Você é a Hanako e não a Satsuki! Seja você, babaca! – Ela gritou, concluindo.

Todos na quadra, todos naquele ginásio assistiam aquilo. Eu estava de cabeça baixa e Setsuko ainda me encarava, ofegante por gritar tanto. Eu nunca a vi desse jeito. “Você conquista as pessoas facilmente, por isso Sumiko te defendeu”, me lembrei de quando Daiki disse isso. Eu... Conquistei Setsuko também? Ela estava me ajudando? Apertei meus lábios um contra o outro, percebendo. Eu... Estava magoando as minhas amigas, ne? Eu estava fazendo besteira... Elas gostavam de mim e eu estava magoando todas elas. Me levantei do chão ao passo que o elástico no meu cabelo afrouxou e se soltou. Percebi e o peguei no chão, olhando para ele. Abri um leve sorriso enquanto o olhava, percebendo que eu precisava prender o cabelo. Ninguém entendia e arregalaram os olhos quando fiz uma reverência para Setsuko de repente.

– Uhm... Nani... – Ela não entendia.

– Gomen nasai, Setsuko. – Eu disse ainda curvada – Eu compreendi o que você disse. Arigatou.

Ela acalmou o olhar. Me endireitei e me virei para Satsuki.

– Hanako?

– Gomen, nee-chan. – Sorri levemente – Eu fui idiota, egoísta. Te magoei sem nem ao menos você saber a razão. Eu não só joguei em função de outra pessoa, mas eu praticamente vivi por ela. E eu nunca mais vou fazer isso. – Disse gentilmente, decidida – Gomen ne.

– Eh?

– Satsuki-nee-chan. – Cantarolei pondo uma mecha do cabelo atrás da orelha – Torça por mim.

– Como... Assim? – Ela acalmou olhar.

– Eu vou jogar pelo que realmente importa. – Disse com a mão ainda na orelha, sorrindo gentilmente – Vou jogar pelas minhas amigas... Vou jogar por mim.

Daiki acalmou o olhar, parecia admirado. Os olhos de Satsuki brilharam, ela sorriu emocionada.

– Ganbatte! – Ela disse quase chorando.

– Hai. – Sorri.

Me virei e fui até Kotori-senpai.

– Treinadora. Gomen. – Eu disse – Mas posso tentar de novo?

Ela deu um meio sorriso.

– Baka, baka. – Cantarolou – Não faça mais aquilo.

– Hai.

O apito soou e até o juiz pareceu ter se esquecido do tempo vendo aquela cena que acabara de passar. Ficamos em nossas posições e agora eu tinha um verdadeiro motivo para jogar: eu.

– Não quer desistir não? – Yoneko perguntou – Pelo visto você tem que resolver coisas mais importantes.

– Não. – Sorri para ela – Melhor você não nos subestimar de novo.

Ela franziu a testa. Voltamos a jogar e dessa vez eu estava fazendo tudo certo. Passava a bola corretamente, jogava corretamente! Kyoko e Setsuko faziam a maioria das cestas e conseguimos alcançar os pontos, mas não o bastante para passá-las. Elas estavam realmente melhores, principalmente seus bloqueios. Franzi a testa, pensando num possível plano. Nada me passava pela cabeça, a não ser minha única opção.

– Eu sabia que você estava brincando. – Yoneko se aproximou – Uma garota como você não joga a sério mesmo.

“Pressão psicológica? Run.”, pensei. Sorri confiante e recebi a bola de Takara. A peguei e olhei para Yoneko.

– Eu disse pra você não nos subestimar. – Sorri.

Meus olhos ficaram meio abertos e raios cor de rosa começaram a sair levemente dos meus olhos. Firmei o pé no chão e dei impulso, correndo em seguida. Passei por Yoneko tão rápido que ela não teve reação para me deter. As outras tentaram, mas eu desviei com facilidade delas. Fui em direção à cesta e saltei, fazendo uma enterrada.

– Uhm...! – Daiki gaguejou.

– Sugoii! – Satsuki disse.

– Hai...

– Cala a boca, depois eu quero falar com você. – Ela disse irritada.

Ele engoliu a seco, se lembrou da cena anterior. Eu aterrissei e apoiei os pés nos chão, tentando não cambalear. Estava sentindo algo estranho, me tremia um pouco como se não conseguisse me controlar. Setsuko se aproximou.

– O que foi isso? – Ela perguntou surpresa.

Abri um sorriso, me tremendo um pouco.

– Nossa chance... Melhor se afastarem um pouco até os pontos subirem.

Ela não entendeu, mas o fez. O jogo continuou e eu logo roubei a bola. Elas tentaram me acompanhar, mas os raios rosa saindo dos meus olhos aumentaram e ficaram incontroláveis. Arregalei os olhos e desviei delas. Uma conseguiu me deter, mas eu saltei antes do meio da quadra e lancei a bola, que acertou em cheio a cesta. Midorima arregalou os olhos. Bloqueei uma delas e peguei a bola, passando facilmente pelas que tentavam me parar, como se elas não fossem nada. atsushi prestava atenção naquilo. Quando cheguei perto da cesta, fiz uma enterrada.

– Não pode ser! – Kagami exclamou.

– Você percebeu, ne? – Kise dava um sorriso confiante.

– Ela...

– Hanakocchi copiou todos nós.

– Impossível! – Midorima exclamou.

– Esqueceu de quem ela é irmã? – Akashi disse – Esqueceu de quem ela é vizinha desde criança?

Eles o olharam e perceberam. Eu jogava como nunca! Me sentia diferente, eu estava diferente! Ninguém conseguia me deter, me parar! Eu... Estava na zona e não acreditava nisso! As outras estavam de olhos arregalados, os pontos estavam subindo com tanta rapidez que parecia que uma criança brincava com o botão. Yoneko e as outras não acreditavam. Ela mesma tentou me deter, mas antes de me parar eu girei e joguei a bola para o outro lado da quadra.

– Setsuko! – Gritei.

Ela correu e pegou a bola, correndo em direção à cesta e fazendo dois pontos ao som do apito que indicara o término do jogo. Eu apoiava as mãos nos joelhos, mas me endireitei e sorri, limpando o suor com o braço. Não sabia se conseguiria de fato jogar como todos eles, mas eu consegui. Eu... Eu estava realmente feliz! Tinha um motivo real para sorrir. As meninas correram em minha direção e me pegaram no colo. Eu exclamei sorrindo, sabia que desse motivo eu não tinha dúvidas. Os sorrisos das minhas amigas eram uma ótima razão pela qual jogar!