Helena escrita por Juliane Bee


Capítulo 1
A amizade é um amor que nunca morre.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem dessa oneshot que escrevi com carinho. Dedico ela a pessoa que está ao meu lado há quase 15 anos. Minha melhor amiga, minha irmã. Sem voce eu não seria nada, e voce é a minha Helena. Te amo demais, e sempre estarei aqui por voce.Pensem nessa pessoa especial para voces, e se deliciem com a estória (não posso falar se divirtam, já que ela é bem tocante mesmo, mas não quero que fiquem tristes, viu?)Uma boa leitura a todos!Não esqueçam de comentar o que acharam :)Até breve!



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In oceans deep my faith will stand.

–Ta na hora. - A voz de Lucas me fez voltar a realidade. Fitei seus olhos castanhos, na esperança de que eles conseguissem me tranquilizar. Nada adiantou.

Ele estendeu sua mão, fazendo nossos corpos se tocarem. Uma onda de calor me atingiu, e consegui sentir meu corpo de volta. Tudo ainda era tão surreal, parecia que eu estava sonhando.

Infelizmente eu estava errada.

Desci do carro com sua ajuda, tentando me equilibrar. Não, eu não estava de salto. Meu corpo não conseguia se manter de pé tamanha tristeza.

Andei com ele devagar até a entrada da pequena igreja que conhecia tão bem. Tantas memórias vividas aqui, é impossível não pensar nela.

Pessoas se aglomeraram na entrada, muitas eu nunca tinha visto na vida. Seus rostos não me eram familiares, e suas expressões não demonstravam nada. Senti vontade de soca-los. Gritar em seus ouvidos que fossem embora dali, e que demonstrassem respeito a quem realmente a conhecia.

Helena.

Sorri lembrando de quando passamos a primeira comunhão. Naquele dia rimos tanto das outras garotas, elas pensavam que ao morder a hóstia sangue escorreria pela boca. Aquilo foi hilário.

Notei que agora algumas delas estavam sentadas nos bancos mais afastados. Assim que me viram acenaram com a cabeça. Elas estavam sendo sinceras, sentia isso. Assenti com a cabeça segurando firme a mão de Lucas.

–Está tudo bem, querida. - Sussurrou em meu ouvido tentando me acalmar.

Senti minhas mãos tremerem, assim como meus olhos. Não, por favor. Não quero chorar de novo, não agora. Balancei a cabeça concordando. Ele me encarou, sabia que eu estava mentindo. Helena também notaria.

Pensei nela.

Precisava continuar firme, por ela.

–Eu volto logo. - beijou minha cabeça, se afastando devagar.

Não queria que ele fosse. Não queria ficar sozinha.

–Cecília! - Dona Clarice me abraçou com força. Respirei fundo, não sabia o que fazer. Fechei meus olhos enquanto afagava suas costas.

Lembrei de todas as vezes que dei a ela feliz dia das mães, por ser como uma segunda mãe para mim. Todos os finais de semana que dormi em sua casa, e aquele bolo de caneca que só ela sabia fazer - e que estava pronto assim que eu chegava.

–Eu sinto muito - Balbuciei em meio ao choro.

–Eu também, querida. - Ela continuou me apertando.

Assim como eu, parte dela também tinha ido embora.

Ela me largou, ficando em minha frente. Seu cabelo sempre impecável agora estava caindo em seu rosto, totalmente vermelho pelo choro. Eu não deveria estar diferente.

–Você sabe que ela gostaria muito que você falasse - Fungou tentando controlar as palavras que mal saiam de sua boca - Não quero te forçar a nada, sei que está sendo difícil..

–Eu não deixaria de prestar uma última homenagem - ela sorriu tímida evidenciando seus pequenos pés de galinha. Ainda é estranho ve-la desse jeito, tão senhora. Parece que foi ontem sua festa em comemoração aos seus 40 anos.

–Sobre a Clara.. - começou a falar.

–Vamos falar sobre isso depois. - balancei a cabeça.

–Se Helena quis isso, não vamos contraria-la - sorriu - Você sempre fez parte parte da nossa família, Cecília. Não vejo pessoa melhor para ser a guardiã de minha neta.

Fitei o chão. Lágrimas teimavam em escorrer pelo meu rosto, e eu nem tinha visto Clarinha ainda.

Dona Clarice afagou minhas costas voltando a sentar no primeiro banco, bem próximo ao altar. Os outros três filhos estavam ao seu lado, a amparando. Faltava alguém nesse foto, a caçula. Dos quatro filhos, Helena era disparado a mais nova. Quando nasceu, seus irmãos já eram adultos, e agora já tinham sua própria família. Entendi um pouco o que ela quis fazer.

Clara merece uma família que a ame incondicionalmente, e que estejam dispostos prontamente a ajuda-la no que fosse preciso, e que sejam conectados a ela. De alguma forma eu era.

Olhei para a pia batismal mais a esquerda do altar, lembrando do batizado de Clara. Ainda era tão recente em minha memória.

Segurei aquele corpinho pequeno em minhas mãos, com um medo gigantesco de que a derrubaria.

–Você está fazendo certo, é só deixa-la se acomodar em seus braços - Helena falou colocando Clara em meus braços.

E foi como ela disse. A pequena gemeu um pouco, mas não estranhou.

–Viu? Ela reconheceu a dinda. - Lembrei de seu sorriso. Esse dia foi tão feliz, estávamos em família. Eu, Lucas, Helena, Miguel..

Notei que no outro banco da frente Vicente fitava o nada. Seu único irmão, sua única família, tinha ido embora. Meu olhar encontrou o dele, totalmente sem expressão. Eu sentia tanto por isso. Miguel sempre foi um cara tão bacana, e Helena o amava profundamente. Era tão bonito ver que o sentimento era recíproco. Talvez o destino soubesse disso, que um completava o outro e vice-versa, e por isso levou os dois juntos. Viveram com amor, e na hora de partir não foi diferente.

–Eu sinto muito, Cecília. - Um antigo colega de escola veio me cumprimentar. Assenti. Continuava sem saber o que dizer. Não parecia real. - Sei como eram amigas, e deve ser difícil pra você.

Eram. Ele falou no passado.

Senti minha cabeça latejando.

–Com licença - falei me afastando dele. Senti alguns olhares em minha direção. As pessoas estavam com pena. Dó.

Andei até a janela colorida com lindos vitrais. Sorri lembrando da decoração da minha festa de 15 anos. Helena me ajudou a organizar tudo, e a controlar os penetras que teimavam em entrar. Miguel era um deles, mas descobrimos muito tempo depois.

Lembro até hoje do texto que ela leu em minha homenagem, venceu a timidez para me presentar com lindas palavras. Sei que ela guarda com carinho a rosa que lhe dei naquele dia, dentro do livro do bebe de Clara.

Limpei uma lágrima.

–Hey - Lucas apareceu em minha frente, me fazendo voltar a realidade.

Seus cachos estavam mais curtos do que costumavam ser, mas não éramos mais adolescentes. Tínhamos virado adultos tão rápido.

Sorri lembrando do que Helena disse quando lhe contei sobre ele.

–Vocês vão casar - falou por besteira continuando a pintar suas unhas.

–Porque diz isso? - Passava os canais da televisão sem para em nenhum.

–Cecília, o cara já está te aguentando há 1 semana. Ou ele é maluco, ou te ama de verdade - Fiz uma careta fingindo estar ofendida - Tenho certeza que a segunda opção é a correta. - Balancei a cabeça.

Ela estava certa no final das contas, nós só demoramos um tempinho para acreditar nisso. Tempo demais. Agora ela não esta mais aqui para ser minha madrinha - como prometi há mais de 15 anos.

–Olha quem veio ver a Dinda - Ele pegou a garotinha do chão e a colocou em seu colo.

Ela lembrava tanto a mãe.

Abracei os dois, as pessoas que mais amo na vida.

–Vai ficar tudo bem - Lucas falou em meu ouvido.

Peguei Clara em meus braços, sorrindo para a garotinha de 1 ano em minha frente. Tão pequena, não faz ideia do que está acontecendo.

–A dinda tá aqui, amor. - Beijei sua bochecha branquinha, e me inebriei com seu cheirinho de bebe.

A única que usava cor nesse lugar era ela, um vestido rosa com detalhes bordados. O vestido que lhe dei no último aniversário, que comemoramos na praia. Nós cinco.

A primeira pessoa a subir no altar foi Vicente, que falou o quanto sentiria falta do irmão. Que vai levar consigo pra sempre sua alegria, e o jeito brincalhão de levar a vida. E é exatamente isso que falarei para Clara quando perguntar de seu pai. Seu sorriso era do tamanho do mundo, assim como seu coração. Ele também fez parte dessa decisão, e colocou o nome de Lucas ao lado do meu.

Peguei na mão dele, que até agora não tinha chorado. Ele tentava ser forte por nós dois, mas não é possível. O abracei. Ele também perdeu o melhor amigo.

Os irmãos de Helena foram breves, mesmo sendo parentes de sangue não conviviam tanto com ela. Se perguntassem qual a cor preferida dela, era capaz de nenhum acertar.

É azul.

Quando Dona Clarice começou a falar, senti meus pelos do braço se arrepiarem. Sei que ela está aqui ouvindo tudo, e demostrando seu amor por meio de energias positivas.

Sorri pensando no que ela falaria.

“Ta tudo bem, Mãe. Só não conte aquelas histórias de quando eu era criança. Todo mundo já ouviu 1 milhão de vezes.”

E foi o que ela fez. Falou de como a filha era doce, inteligente, uma criança nada quieta, e uma mãe incrível. Mesmo tendo Helena tão jovem, aos 21 anos, ela mostrou estar preparada. Amou a filha desde o momento em que descobriu estar grávida, e adiou o casamento só pra depois que ela nascesse - não queria se estressar, e nem sobrecarregar o bebe.

Assim que voltei a fita-la notei que me encarava, assim como as outras pessoas ali presentes.

–Sua vez - Lucas estendeu os braços pegando Clara. Assenti.

Respirei fundo.

Andei até o altar, ficando no lugar dela. Fitei aqueles rostos em minha frente, notando alguns conhecidos que ainda não havia visto. O padre não disse nada, mas senti que queria dizer “quando quiser”.

–Ahn.. - minha voz saiu rasgada pelo microfone - Eu pensei tantas vezes no que dizer, mas não consigo - mordi minha língua, talvez essa dor me fizesse esquecer da outra, que era ainda pior - É tão surreal pensar que eles não estão mais aqui com a gente, quer dizer, eu os vi ontem. Ontem! - Uma lágrima escorreu em meu rosto - Eu não consigo entender porque coisas ruins acontecem com pessoas boas, não faz sentido. Helena e Miguel eram tão jovens, começando a vida - Naquele momento minha cabeça girava - Eu não consigo pensar em mais nada a não ser o fato de que nunca mais vou poder abraçar minha melhor amiga. Eu tento voltar no tempo e pensar em algum momento em que ela não está comigo, mas não consigo. Ela sempre esteve presente, e nesses 20 anos nunca me abandonou. Helena sempre será minha irmã de alma, e vou leva-la comigo aonde quer que eu vá. Ainda não acredito que você me deixou - Fitei o teto encarando a pintura de um céu azul - mas fico mais tranquila porque não está sozinha. Miguel está ao seu lado como sempre esteve, e o amor de vocês vai permanecer aqui, conosco. - Meu olhar encontrou o de Lucas, que abraçava Clarinha emocionado - Clara é a prova de que o amor de vocês é mais forte que tudo. Você pensou em tudo, não é? - Sorri - Eu nunca vou poder agradecer tamanha alegria ao saber que vocês me escolheram, assim como Lucas, para cuidar da nossa pequena. Você sabe que eu não posso ter filhos.. - eu já estava gaguejando - e me deu a sua para cuidar. Para amar. Eu amo Clara mais que tudo. Ela é um pedacinho de vocês que sempre me fará lembrar dos nossos momentos juntos. Miguel, você foi o cara mais bacana que já conheci, e por favor, não conte suas piadas no céu. Elas são horríveis - ouvi alguns risos - E Helena, eu te amo. Sempre vou te amar. Cuidarei da sua filha como se fosse minha, lembrando-a sempre da mãe maravilhosa que ela teve. - funguei - Eu.amo.voces. - Falei pausadamente. Fechei os olhos pensando nos dois, e em todos os momentos maravilhosos que tivemos juntos. Sempre vou leva-los comigo.

Me afastei do microfone, me despedindo das pessoas que ali estavam, e dizendo um até breve para os dois.

Sei que ela vai continuar presente em nossas vidas.

Um pedaço de mim é ela.

Andei até Lucas sorrindo. Peguei Clarinha em meus braços, e segurei sua mão. Olhei para a garotinha de olhos azuis - como os da mãe - sentindo um orgulho danado por ser sua dinda.

Lucas ficou ao meu lado, afagando meu ombro. Encarei as duas pessoas mais importantes da minha vida, e falei com segurança:

–Vamos pra casa.

...

“Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas nunca estará só.”


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Notas finais do capítulo

Então? Curtiram?
Espero que tenham gostado, e que comentem o que acharam.
Foi muito legal escrever Helena, e espero que sintam o que quis passar.
Abracem seus amigos! Fale o que sente por ele!
Uma ótima semana, mês, vida.
Até mais,
Ju.