Sombras do Passado escrita por Zusaky


Capítulo 2
Il


Notas iniciais do capítulo

Hey, people!
Voltei rápido, pois é. Como tenho apenas até o final do mês para terminar a história, o intervalo de dias entre um capítulo e outro será curto. Mais uma vez, se encontrarem algum erro, me avisem, por favor.

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/636476/chapter/2

Eileen estava impaciente. Gostaria de saber quantas horas passara escondida ali, naquele hotel barato e com maus funcionários. Mas ele estava vazio e tinha certeza de que ninguém iria lhe perturbar ou fazer maiores perguntas. Isso já estava de bom tamanho. Não se importava com os lençóis baratos, mas o barulho que as portas faziam ao serem abertas lhe tirava do sério. Era simplesmente agoniante.

Ela bocejou pela enésima vez. Provavelmente fazia horas que estava olhando para aquele lugar que ficava logo ao lado do seu quarto no hotel. Uma casa de dois andares, mas extremamente estreita, com a decoração da típica Londres Vitoriana de séculos antes. Tinha um jardim com a grama já precisando ser aparada; e ficava mais afastada das demais casas.

Alguém vivia ali. E era por esse alguém que Eileen estivera esperando por todo o tempo.

Quando a porta da casa abriu, um sorriso acendeu-se quase que involuntariamente em seu rosto. No mesmo instante ela saiu porta afora. Já estava com tudo preparado para aquele momento. Desceu as escadas rapidamente e passou pela recepção sem olhar para a moça que outrora havia a atendido tão pessimamente.

Caminhou a passos largos até chegar a seu destino. Quando a cabeleira branca e o corpo pequeno e fino entraram em seu campo de visão ela baixou o olhar e continuou a andar. Suas mãos e olhos estavam concentrados nos bolsos de sua própria jaqueta.

Não demorou até que sentisse seu corpo se chocando contra outro.

— Oh, meu Deus! — exclamou, numa perfeita atuação. — Me desculpe.

O velho homem permanecia de pé, mas algumas de suas coisas haviam ido ao chão. Eileen rapidamente se agachou e pôs-se a pegar os objetos. O homem juntou-se a ela.

— Sou tão distraída.

— Não... não precisa se desculpar. Foi minha culpa.

Ao se levantarem, Eileen dedicou um sorriso doce ao velho. Odiava ter de fazer aquilo, mas, às vezes, era preciso. Analisou o rosto do homem. Era a primeira vez fazia aquilo de tão perto com ele. Provavelmente já havia passado dos cinquenta anos, mas não foi aquilo que lhe chamou a atenção. Os olhos do homem, azuis como o mar, estavam extremamente preocupados. Ele estava afoito e parecia estar com pressa também.

Assim que fizeram uma rápida despedida, Eileen se segurou para não correr até a casa. Normalmente era mais controlada, mas aquele homem havia curiosamente atiçado sua curiosidade. Imaginou o motivo pelo qual queriam vê-lo morto.

Ele está construindo algo perigoso, dissera-lhe Mark William.

A ansiedade ainda não havia sumido quando a assassina chegou em frente a porta. Remexeu novamente no bolso de sua jaqueta e, de lá, tirou um molho de chaves. O molho que o velho homem carregava consigo antes que Eileen esbarrasse nele.

Havia o observado tempo suficiente para saber que, sempre após deixar a cabana, ele conferia o molho de cinco chaves que possuía e guardava no bolso da camisa. Ele fazia a mesma coisa ao retornar. Sabendo disso, foi fácil colocar um outro molho qualquer no lugar do original.

A surpresa veio mesmo quando Eileen entrou na casa e a observou. Não havia nada na sala, a não ser pelas cortinas brancas penduradas em frente às janelas. Ela foi de cômodo a cômodo, desde à cozinha – havia alguns poucos mantimentos – até os quartos – apenas um possuía uma cama e cobertores.

Ele está construindo algo perigoso, ela lembrou-se novamente. Aquilo era, de fato, verdade? A não ser que ele não estivesse escondendo aquele algo ali, embora fosse difícil de acreditar, visto que fazia dias que ele estava ali, e saia apenas para comprar comida.

Indo mais ao fundo da casa, no térreo, Eileen observou o chão perto de uma das paredes. A poeira que deveria estar ali – como em quase todos os outros cantos – estava mal varrida. Era como se tivessem pego uma vassoura e feito um círculo. O único detalhe era que apenas metade desse círculo era visto.

Será que a outra metade...

Eileen não se conteve. Apoiou ambas as mãos na parede e a empurrou.

Nada.

Afastou-se um pouco mais para a esquerda e tentou novamente. Dessa vez, a parede se mexeu com uma facilidade tremenda. Eileen não hesitou ao passar para o outro lado.

Havia uma lamparina presa na parede e a assassina logo se perguntou quem ainda usaria uma coisa daquelas. Tampou o nariz e forçou-se a enxergar o que havia na sua frente. Uma porta vermelha que tinha aproximadamente sua altura. Tentou girar a maçaneta, mas estava trancada.

Eileen pegou novamente o molho de chaves. Uma daquelas teria que abrir. Sorriu quando ouviu um click ao girar a segunda chave.

À sua frente agora se estendia um túnel, que descia sabia-se lá quantos metros. A assassina se arrepiou com o súbito frio que acometeu seu corpo. O chão era de cimento e havia mais lamparinas nos dois lados da parede por toda a descida.

— Quem raios é esse cara? — se perguntou, e logo em seguida ouviu a própria voz diversas vezes, num grande eco.

Quando finalmente terminou a incansável descida, os olhos de Eileen arderam com a intensa luminosidade. O piso era completamente branco, bem como as paredes e a luz. Foi somente quando este primeiro choque passou foi que ela pôde observar o ambiente.

Era como se houvesse sido transportada para uma outra dimensão. Numa hora estava em uma casa empoeirada, na outra, estava numa espécie de laboratório. Vários computadores estavam espalhados, um imenso painel estava grudado tanto na parede esquerda como na direita, com várias informações piscando na tela a todo momento. Eileen não pôde precisar quantos fios tinha naquele lugar. Incontáveis.

Era uma sala retangular, mas à sua frente havia algo mais. Ela se aproximou, a curiosidade mais aguçada do que nunca. Era um corredor até que largo. Ao final dele, havia um outro túnel, mas este não descia, era completamente horizontal e Eileen não conseguiu ver onde ele terminava ou começava. Ao longo desse túnel havia o que a assassina chamou de coisa.

Eileen simplesmente não soube como definir aquilo. Era uma espécie de cano; redondo e que se estendia por todo o túnel. Não era pequeno, chegava a passar da cintura de um homem alto. Alguns dos cabos que ela encontrou na primeira sala se ligavam na coisa. A assassina se sentiu estranhamente atraída para perto do equipamento. Levantou a mão para tocá-lo, porém o ato não se concretizou.

— Não toque nisso!

Eileen se virou rapidamente ao ouvir aquela voz; o revolver já em mãos. O cientista que havia encontrado antes de entrar na casa estava ali, perigosamente perto. Estava suado, como se houvesse corrido uma maratona para chegar até ali. Nos seus olhos havia a mesma preocupação de antes, mas também com um medo incomum, assombroso, quase suplicante.

— Quem é você? — a assassina indagou, o dedo no gatilho da arma e o coração batendo extremamente rápido. Não era normal que ficasse naquele estado. De quantas pessoas já havia tirado a vida? Aquele velho seria apenas mais um. A hesitação, porém, só ia crescendo dentro de si. Ela deu alguns poucos passos para o lado, se afastando da máquina. — O que é essa coisa?

O cientista tinha as mãos levantadas. Elas tremiam. Ele tentou se aproximar, mas a assassina apontou novamente o revolver para o peito dele.

— Eu não posso... não posso dizer.

Eileen se irritou com a resposta. Passou a apontar a arma agora para o equipamento, e só então viu o terror crescer ainda mais nos olhos azuis.

— Vou perguntar mais uma vez... — ela falava devagar, quase que pausadamente. — O que é isso?

O homem velho foi ao chão, de joelhos. Ficou imaginando como as coisas poderiam ter chegado onde chegaram. Saíra por poucos instantes e, na volta, assim que havia entrado em casa – ele não lembrava-se de ter deixado a porta da frente aberta –, foi que viu: a parede falsa não estava completamente fechada. Na hora soube que algo estava errado.

Não, não, não, ele repetira diversas vezes na mente enquanto descia pelo túnel, o corpo já praguejando pelo excessivo esforço.

Foi somente quando chegou na sala de controle e avistou a elegante jovem de cabelos curtos e negros que passou a entender a situação. Ela o havia enganado minutos antes. Não sabia como e nem o porquê. Talvez alguém houvesse descoberto seus planos. Não, o cientista descartava completamente aquela possibilidade. Talvez tivesse sido apenas um descuido seu. Ou aquela jovem fosse apenas curiosa demais. Não, não, nada daquilo importava mais. Nada mais possuía importância quando se tinha uma arma apontada para o próprio peito. Ou para a criação que sofrera tanto para realizar.

— Essa coisa — o cientista falou a última palavra com certo desgosto, mostrando-se ofendido com o apelido que a máquina havia recebido — é a cura que a humanidade precisa.

Eileen não respondeu. Não soube o que dizer. Passou alguns poucos instantes analisando a resposta, para só depois entender que estava, na verdade, conversando com um louco.

Ele está construindo algo perigoso, ela lembrou-se mais uma vez.

— Cura? — A voz era puro desdém. — Não venha com essa para cima de mim.

O cientista não mudou o semblante. Apesar do medo expressivo, Eileen não viu nada mais que denunciasse que ele estava mentindo.

— Do que se trata essa cura?

— Não posso dizer. Prefiro morrer a isso.

A assassina crispou os lábios. A mesma resposta, novamente. Tentou se recordar de quando havia se irritado tanto com alguma outra vítima. Foi inútil.

— Diga-me uma coisa, senhor Curador. — Eileen apoiou a arma no próprio queixo e exibiu um sorriso amargo. — O que seria pior: matar você ou destruir essa coisa?

— Seria um erro me matar.

— Mas você não disse que preferiria morrer?

— Seria um erro me matar — ele repetiu, como se fosse uma reza; o que seria bastante apropriado, pensou a mulher, uma vez que ele já estava ajoelhado.

Eileen revirou os olhos.

— Não existe certo ou errado nessa minha profissão.

Dessa vez ele ficou calado. E então a assassina percebeu que estava perdendo tempo demais com aquele homem louco. Não mais importava o que ele havia construído nem para que servia, queria apenas sair daquele buraco que havia chegado.

Eileen parou de fitar os olhos azuis e passou a observar, com raiva, a máquina. Queriam que ela matasse o cientista. Ela faria mais do que isso. Não por dinheiro, mas porque... simplesmente porque queria. Não haveria consequências. Não para alguém como ela. Não para Eileen Hawkins.

O cientista sabia o que viria a seguir quando viu a armada sendo apontada novamente para sua criação. Pensou que seu coração iria parar na mesma hora. Havia um sorrisinho de escárnio da face da assassina. Não haveria piedade.

Ele se levantou. A distância entre os dois não era muita. Forçou suas velhas pernas a correrem o mais rápido que podiam.

O gatilho já tinha sido apertado.

Houve um momento – um pequeno momento – de silêncio após a bala perfurar a máquina. E então veio um ar gelado, um ar como Eileen nunca antes havia sentido. E sentiu-se tonta. Tentou mexer a cabeça, mas não conseguiu. Era como se algo estivesse segurando absolutamente todas as partes de seu corpo. Sentiu uma dor alucinante, mas não havia voz para passar pela garganta. Notou algo que parecia ser uma descarga elétrica percorrer todo o seu corpo.

Quando forçou-se a abrir os olhos, tentou olhar para si própria. Estava... desintegrando-se. E de um jeito tão rápido que parecia estar em mais um de seus pesadelos.

Por fim, tudo desapareceu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? Alguém se arrisca a tentar adivinhar o que é a invenção do cientista? Irei aguardar pela opinião de vocês. :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sombras do Passado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.