A Mesma Face escrita por LelahBallu


Capítulo 11
When the Truth Hunts You Down


Notas iniciais do capítulo

Hey!!
Bye!!



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FELICITY SMOAK

Cansada.

Exausta.

Destruída.

Não havia outra palavra que pudesse me descrever no momento.  Todo o meu corpo doía, cada pequeno músculo, e tudo graças a minha adorável cunhada postiça.

Thea Queen.

— Você está destruída. – Ela murmurou com um sorriso arrogante. Lancei um olhar raivoso para Thea. Eu estava jogada no tatame enquanto ela me encarava de cima. Enquanto eu lamentava cada momento em que concordei em participar da aula experimental de luta, ela parecia que havia saído apenas para uma caminhada matinal.

Maldita.

Estreitei meus olhos com desconfiança.

— Você disse que essa era sua primeira vez também. – Meu tom não deixando dúvida que a chamava de mentirosa em minha mente, ela meneou a cabeça com diversão e deitou-se ao meu lado em posição oposta, sua cabeça ao lado dos meus pés.

— É a minha primeira vez. – Repetiu. – Mas eu também costumo fazer exercícios com frequência. Eu não achei que você fosse tão... Sedentária.

— Ei! Esse é meu segundo nome! – Brinquei. Ela empurrou meus pés como resposta. Resisti a vontade de devolver o movimento, por que nesse caso eu acabaria chutando sua cabeça, e eu acho que seria nesse momento que nossa amizade morreria.

— Megan. – Thea murmurou mais séria, olhei em volta procurando pelo restante dos alunos e me questionando por que mesmo nessas ocasiões em que estávamos sozinhas, Thea não chamava meu nome verdadeiro. – Eu preciso fazer essa pergunta, e espero que não me entenda errado, mas qual é o seu plano?

Respirei fundo tentando compreender onde ela queria chegar. Apoiei-me em meus cotovelos e forcei-me a encara-la.

— Plano? – Repeti.

— Você precisa ter um. – Respondeu se sentando, a imitei sentando-me também. – Já faz quatro meses que você é Megan Queen. Em um pulo serão seis. – Assenti concordando. Era incrível que eu tivesse chegado tão longe, e mais do que isso que Oliver nunca mais tenha falado em divórcio ou para algum contado mais próximo. Mas para ser sincera, dentre o último mês poucas foram às vezes que vi Oliver, tão logo ele retornou daquela viagem ele entrou em outra. Agora ele estava na Rússia, há uma semana, e pelo o que havia dito ainda demoraria outra para voltar. Do meu ponto de vista as coisas não pioraram, nem melhoraram, ficaram congeladas. Conversávamos muito pelo celular, vídeo-chamadas e mensagens, em alguns momentos eu sentia que isso nos deixava mais próximos do que separados, mas quando ele realmente estava aqui, voltávamos a rotina de terapias de casais e noites limitadas a dormirmos abraçados. Eu sequer podia reclamar sobre isso, era o máximo que eu poderia ter dele, mas o mais estranho disso tudo, era Oliver não estar mais reclamando. - ...Você não pode apenas ser a garota ingênua que faz tudo o que Me... A outra quer, apenas por que aparentemente ela tem mais poder.

— Thea... – Murmurei pensando em questiona-la sobre seu irmão.

— Eu entendo. – Interrompeu-me. Alheia de onde estavam meus pensamentos.  – Você precisa do dinheiro por conta da sua mãe, e eu adoraria te ajudar com isso, mas você me parece o tipo de pessoa orgulhosa demais para isso. Meu ponto é: Você precisa de um plano para quando isso acabar. – Ela me encarou procurando por algum sinal de que eu havia a compreendido. – Você não pode bancar a mártir, não existe isso de agora sua mãe está tendo o que você esperava, agora que Megan voltou, vai apenas aceitar toda a culpa para si e lidar com a consequência.

Sorri ao perceber que Thea Queen realmente estava preocupada com meu futuro.

— Ok. – Assenti. – Primeiro, eu não sou mais o tipo orgulhosa, eu deixei isso para trás no momento em que aceitei me passar por outra pessoa em troca de dinheiro. E essa é a razão pela qual eu não posso aceitar nenhuma ajuda sua, por que torna todo o sacrífico que fiz até agora, sem sentido. Eu me comprometi, com algo que não gosto, mas irei levar até o fim. – Dei de ombros. - Haverá sim consequências, eu não posso fugir delas, mas eu não estou pensando e nem vou bancar a mártir.

— Isso quer dizer que você tem um plano? – Thea sondou.

— Isso quer dizer que estou no meio de um. – Respondi a surpreendendo.

Bem, não era exatamente um plano.

— O quê? – Perguntou confusa.

— Megan me ligou algumas semanas atrás. – Falei sincera. – Oliver havia acabado de conversar comigo e tentei em vão trazê-la de volta com a ameaça do divorcio iminente. – Thea me encarou com expectativa. – Ela quer apenas que eu resolva tudo.

— Ela realmente é tão despreocupada assim? – Thea questionou confusa. – Eu sei que ela não se importa com Ollie ou as crianças, mas a razão pela qual ela se casou com ele ainda existe. Oliver é rico, e isso a dela rica também, de repente isso não importa mais? – Ela esperou minha resposta. - Não, ao ponto dela simplesmente confiar em você para salvar o casamento dos dois?

— Eu acho que Megan é segura demais em seu papel para se preocupar tanto. – Falei. – Em sua mente tudo pode explodir, mas ela não fará isso fácil o bastante. No mínimo ela sairá desse casamento com uma generosa quantia de dinheiro e isso é um fato. Oliver se preocupa com sua família, e com os negócios da família o suficiente para querer que esse divórcio saia com o menor escândalo possível, ele não poupará dinheiro para abafar tudo, certo?

Era nisso que estava a garantia de Megan.

— Você tem razão.  – Assentiu. – Ollie não irá querer um grande escândalo.

— É nisso que está à segurança de Megan. – Falei. – Ela já vem de uma família rica, ela tem um marido rico, ela quer manter isso? Sim, claro que sim, ou me colocar em seu lugar seria sem sentindo algum, mas ela não acha que precisa se preocupar com uma grande perda, por que de um jeito ou de outro, Megan saí ganhando.

— Então, por quê manter essa charada? – Thea questionou. – Por que a manter aqui, e ficar lá fora curtindo uma vida de solteira, se ela pode ser solteira?

— Por que Megan ama o status.  – Respondi. – Ela ama ser uma de vocês. Ela é uma Queen, por que mudar isso?  - A questionei. - E mais do que isso, embora tudo tenha começado como uma tentativa de me manter em seu lugar para enganar sua família, uma diversão a custa de vocês, agora virou algo mais.

— Como assim? – Thea me perguntou confusa.

— Megan está intrigada. – Revelei.  – Com nós duas. – Ao perceber seu semblante ainda confuso, decidi revelar tudo que até então eu sabia. – Helena me ligou logo no dia seguinte, ela queria saber por que eu a vi e não a cumprimentei. – Concluí. Levou apenas um segundo para Thea chegar a mesma conclusão que eu.

— Megan está em Vegas. – Thea murmurou perplexa.

— Ao menos estava. Mas não Megan. – Neguei. – Felicity.

— Ela está se passando por você? – Questionou cada vez mais surpresa.

— Eu imagino que em sua mente deve ser uma troca justa. – Dei de ombros.

— E Helena achou que era você...

— Não. – A interrompi. – Helena me ligou para me informar, mas sua natureza não deixou que ela fizesse isso sem certo deboche e ironia. – Brinquei. – Acontece que ela foi visitar minha mãe no hospital, e viu Megan lá. – Continuei. – Ela disse que por um momento realmente pensou que era eu, devido a forma que se vestia, mas Megan nunca conheceu Helena, então ela não se deu o trabalho de cumprimenta-la. Ela passou por ela sem quase nota-la.  – Falei lembrando-me do que Helena havia dito. – Helena disse que quase tinha ido até ela, mas a surpresa por me ver a li sem avisa-la fez com que sua reação fosse mais lenta, e a ausência completa de reação de Megan ao ver minha melhor amiga a denunciou.

— Megan não sabe que Helena sabe. – Thea murmurou assentindo, lembrando-se de algo que eu mesma já havia dito a ela. – Então creio que foi sorte, mas o que Megan quer se passando por você?

— Thea eu sou idêntica a Megan, isso no mínimo a preocupa. – Dei de ombros. – Ela deve estar em busca do passado, de alguma prova de que somos irmãs.

— Então agora você admite que ela é sua irmã? – Thea inclinou a cabeça me analisando. Franzi o cenho estranhando sua frase. – Eu confesso que pensei que você havia mentido quando me disse que não. Pensei que não quisesse assumir isso.

— Ela não é minha irmã. – Falei séria. – Eu não sou estúpida, é claro que geneticamente eu suspeito que sim, Megan não é apenas parecida comigo, mas é exatamente igual, as chances de isso acontecer sem estarmos ligadas biologicamente? Quase nulas. Mas Megan não é minha irmã, ela não é ninguém para mim.  – Respirei fundo. – Eu me nego a estar relacionada dessa forma a alguém que me vê como uma ferramenta, alguém que despreza tanto as coisas que tem, ela tem a vida perfeita e não cogita fazer um movimento sequer para mantê-la. Tudo e todos são descartáveis para Megan, inclusive eu. Então, não, eu jamais vou admitir algo do tipo. Ela não é minha irmã.

— Há também o fato de que se você aceita o fato de que ela é sua irmã, talvez você esteja aceitando o fato de que sua mãe...

— Thea. – A interrompi meneando a cabeça em negativa. Isso era algo que eu sequer queria cogitar, nem mesmo Helena em meio a nossas conversas foi nessa direção. Eu não queria pensar na possibilidade de Donna Smoak não ser minha mãe, e mais do que isso eu não queria pensar na possibilidade de ela ser, mas por algum motivo ter entregado sua filha a outras pessoas. Eu não queria ir por esse caminho. Enquanto Megan estava o escavando, eu queria apenas ignorar.

Thea me dedicou um olhar preocupado, e após alguns momentos em que se limitou a apenas me observar, ela forçou um sorriso. Compreendendo minha escolha, ela resolveu mudar de assunto, ou melhor, retornar.

— Então, qual é o seu plano? – Questionou-me. – É melhor eu fazer parte dele. – Sorri diante o que disse. Thea mais do que qualquer um estava ansiosa para fazer Megan pagar por seus pecados.

— Nada muito diferente do que sempre tive em mente. – Confessei. – Eu continuarei sendo Megan, fingirei que não sei como ela está se movimentando, e cumprirei minha parte do plano dela. Continuarei sendo Megan Queen. – Observei Thea franzir o cenho, até então nada chamava sua atenção. – Eu apenas mudei algo.

— O quê? – Perguntou com interesse genuíno.

— Eu sempre tive em mente em revelar a verdade para Oliver. – Confessei. – Não seria justo apenas deixar Megan seguir com sua vida como se nada tivesse acontecido, e com você sabendo de tudo isso seria ainda mais impossível. Eu ia contar, no fim.

— Não vai mais revelar a verdade para meu irmão? – Perguntou não parecendo ter ideia de como reagir a isso. – Como você disse, eu não vou ficar parada. – Advertiu.

— Eu sei. – Assenti. – Eu vou, e o quanto antes, eu não vou esperar que o prazo acabe. – A informei. – Eu continuarei sendo Megan, mas preciso que Oliver saiba quem realmente sou, apenas assim poderemos fazer algo a respeito. Eu preciso de Oliver.

— Você quer sua ajuda. – Deduziu.  – Contra Megan.

— Eu quero que ele tenha o que sempre pediu. – Falei. – Honestidade.

— Mas já? – Ela meneou a cabeça em negativa. – Eu acho que vocês precisam de mais tempo.

— Nós dois? – Estranhei a maneira que disse.

— Oliver precisa ficar mais ligado a você. – Falou. – Ou ele acabará se voltando contra você. E eu quero que apenas uma pessoa saia prejudicada nisso, e não é você.

— Eu vejo o que você está tentando fazer, Thea. – Falei. – Mas isso não vai acontecer.  Não há nenhum cenário em minha mente em que eu e Oliver termine juntos. De um de jeito ou de outro eu sou a mulher que o enganou, passou meses ao seu lado mentindo. Oliver pode ignorar meus erros, talvez até mesmo desculpa-los, mas ele jamais irá perdoa-los.

— E se isso acontece? – Perguntou-me insistente. – Eu não acho que Oliver perceba, mas ele já está ligado a você, chame-a de Megan ou Felicity, ele aos poucos vem se rendendo a sua personalidade. – Encarou-me séria. -  Felicity, o que acontece se Oliver diz que te ama?

— Isso não seria real. – Neguei.

— Por que não? – Perguntou parecendo irritada.  - Pelo amor de Deus Felicity, você não vai vir argumentar comigo dizendo que ele na verdade estaria dizendo isso a Megan. – Meneou a cabeça com descrença. - Oliver nunca amou Megan.

— Eu sei disso. – Assentiu concordando. – Mas Oliver não me ama, Thea. – Neguei. – Ninguém ama alguém que não conhece. Ele não me conhece, não realmente, se muito, Oliver conhece apenas parte de mim. E não se pode amar alguém pela metade.

— Você não está disposta ao menos a deixar que ele a conheça completamente? – Questionou-me se erguendo, eu quero dizer, pode parecer impossível qualquer relacionamento entre vocês dois agora. – Assentiu se erguendo, não querendo a desvantagem do que o ato proporcionou, me levantei também. – Mas eu conheço meu irmão, e eu sei que ele não vai conseguir apenas deixa-la partir, quando tudo acabar.

— Você não entende. – Meneei a cabeça encontrando uma irônica diversão no que dizia. – Oliver será aquele pedindo para que eu vá embora.

— Então você apenas vai embora. – Havia certa mágoa no que disse. Respirei fundo tentando não pensar em quando teria que deixar todos para trás, Oliver, Thea e as crianças. Dei de ombros o movimento saindo falho.

— Essa não é minha vida. – Respondi por fim. – Não adianta tentar fazer com que seja.

— Mas...

— Por favor, Thea. – Murmurei não podendo lidar mais com sua insistência com relação a isso. – É assim que tem que ser. – Ainda parecendo nem um pouco satisfeita com o que eu disse, ela assentiu.

— Está bem. – Concordou. – Mas ainda acho seu plano falho. – Advertiu. - Há muito que cobrir, e muito que pode dar errado, e acima de tudo, não acho que esse seja o momento para revelar a Ollie.

— Eu...

— O que exatamente você está dizendo para minha esposa esconder de mim? – Eu era ciente que não deveria ter girado tão rapidamente em direção a voz masculina e não ter sido tão transparente ao encara-lo. Mas a surpresa de encontrar Oliver parado apenas um passo fora da sala que estávamos fez com que cada músculo meu ficasse congelado.

— O que diabos...

— Ollie. – Thea murmurou surpresa. - Você voltou mais cedo.

— Por quê? – Perguntei agitada. Interrompendo qualquer que fosse a resposta de Oliver.

— Ok. – Oliver murmurou cruzando os braços e nos observando com atenção. – Essa não é bem a reação que eu esperava. – Confessou.

— Eu... Ahm... Desculpe. – Meneei a cabeça. – Só fui pega de surpresa.

— Eu ainda quero saber como você veio exatamente para aqui. – Thea murmurou enquanto Oliver deixava o receio de lado e entrava. Meus olhos não deixaram de acompanhar cada movimento seu, até que parou em minha frente, o corpo um pouco voltado para sua irmã.

— E eu ainda quero saber do que vocês estavam falando. – Murmurou deixando seu olhar se prender aos meus. Seus olhos estreitos em um sinal claro de desconfiança. – O que eu não deveria saber? – Engoli em seco tentando encontrar algo que pudesse distraí-lo. Sim, eu queria dizer a verdade para Oliver, esperava que sua raiva por Megan fosse maior do que poderia sentir por mim quando descobrisse. Esperava que apesar de toda a raiva que fosse gerar, Oliver se concentrasse em Megan primeiro, e assim temporariamente pudesse tê-lo ao meu lado. Mas para isso era preciso um pouco mais de tato ao revelar a verdade, e não era assim que poderia ser.

— Eu...

— Não conte, Megan. – Thea me interrompeu. Isso fez com que Oliver virasse completamente para ela.

— Como é que é? – Perguntou atônito.

— Olhe, é surpresa. – Thea murmurou e logo percebi que ela já havia chegado a sua própria maneira de distraí-lo. – É uma surpresa de aniversário. – Pisquei confusa, por um momento demorando a perceber que realmente o aniversário de Oliver estava ridicularmente perto.

— Thea. – Oliver murmurou soltando um suspiro aborrecido. – Eu não quero festas. – Pediu.

— E eu não quero protestos. – Sorriu com deboche. – E é claro que a festa não é uma surpresa. Seria óbvio demais.

— Então o que é? – Oliver a questionou pressionando.

— Ollie. – Seu sorriso se ampliou em provocação. – Eu realmente preciso lhe explicar o conceito de surpresa?

Oliver deu um passo em direção a Thea, mas segurei o seu antebraço o interrompendo. Ele me encarou de imediato, seu olhar indo logo em seguida para baixo.

— Como você soube que estávamos aqui? – Questionei estando realmente curiosa sobre isso. Seus olhos voltaram a encontrar os meus. – Por que voltou mais cedo?

— Eu senti sua falta. – Respondeu prontamente, e logo fiquei sem palavras. Esperei pelo momento em que ele completaria dizendo que sentia falta das crianças, como antes ele já fez, mas nada mais foi dito. Ele apenas voltou a falar quando percebeu que eu não tinha uma resposta para o que havia dito. – E Alex me disse que vocês estavam aqui. – Explicou.

— Alex? – Agora era a vez de Thea ficar surpreendida.

— Sim. – Assentiu. – Ele estava jogado no sofá e parecia um pouco irritado.

— Hum. – Thea sorriu. – Bom para ele. – Oliver meneou a cabeça sem entender o bom humor da irmã. Confesso que eu mesma não conseguia entender no momento. Minha atenção voltou-se para Oliver que agora já não encarava a irmã.

— O que vocês estavam fazendo? – Perguntou-me com interesse.

— Thea sugeriu aulas de luta. – Respondi. – Ela disse que seria fácil. – Deixei meu olhar carrancudo cair em Thea que apenas deu de ombros. – Não confie nela.

— Eu geralmente não confio. – Murmurou fazendo com que eu o encarasse. Para minha surpresa Oliver tirava seu terno, ficando apenas com a camisa e o colete. Franzi o cenho enquanto o observava sem a peça, suas mãos ocupadas em erguer a manga esquerda até o cotovelo, e então fazer o mesmo com a direita.

— O que você está fazendo? – Perguntei por fim.

— Se você queria uma aula de luta, bastava ter pedido ao melhor. – Respondeu se livrando dos sapatos e indo até o centro do tatame.

— Como é que é? – Murmurei aturdida.

— Eu não consigo lidar com o típico comportamento machão. – Thea meneou a cabeça e se afastou. – Estarei esperando os pombinhos terminarem. - A observei partir e deixei meu olhar voltar a cair em Oliver que me encarava com desafio.

— Você está esperando o quê? – Perguntei resistindo a vontade de cruzar meus braços e bater o pé no chão. O sorriso que recebi fez com que meu coração errasse uma batida e que outros lugares incendiassem. Com um gesto do dedo indicador ele me chamou para que me aproximasse. Meneei a cabeça com certo divertimento negando.

— Você não é um lutador Oliver. – Murmurei. Ainda que sem ao menos estar completamente consciente, andei em sua direção. – E Thea está certa, isso é apenas um ataque de testosterona.

— Eu sou um ótimo lutador e você sabe disso.  – Retrucou. Hesitei um passo temendo ter dito algo que não devia, mas diante o brilho que eu conseguia perceber em seus olhar, concluí que havia sido uma brincadeira.

— Desculpe, mas eu sequer consigo imaginar Oliver Queen como um lutador. – Murmurei apontando para suas roupas. – Não assim. Você mais parece como a criança rica no canto, observando as outras crianças se divertirem. Doido para se aproximar, mas não pode. Mamãe disse que não era para sujar a roupa nova. – O provoquei.

— Megan. – Oliver murmurou fazendo com que eu o encarasse em dúvida. – Você também era a criança rica no canto.

Não, eu nunca fui.

Mas ele não sabia disso.

— E se é roupas que a incomodam, eu posso tirar minha camisa se preferir. – Continuou, as mãos chegando a ir aos botões. Tentador, mas voltei a menear uma negativa. Com um dar de ombros se endireitou.  – Venha, mostre-me o que aprendeu hoje.

— Eu tive uma aula. – O lembrei. Percebi também que estava cedendo no ato. – Pegue leve comigo Sr. Lutador. – Falei me aproximando e erguendo meus punhos na posição que o professor havia ensinado mais cedo e imitando a própria postura de Oliver. Isso o fez sorrir ainda mais.

— Vamos.  – Murmurou dando alguns passos para trás e curvando-se dando socos no ar, estava claro que se divertia. – Acerte-me uma vez. – Apontou para o peito. – Apenas uma.

— Se eu conseguir... – Murmurei o seguindo. – Vai me dizer a verdade?

— Que verdade? – Perguntou se parando.

— Por que você voltou mais cedo. – Falei simplesmente. Ele voltou a posição anterior e sorriu.

— Eu disse a verdade. – Então voltou a se agitar, dessa vez apontou para o queixo. – Vamos, apenas um.  Depois que você falhar eu tenho minhas próprias exigências.

— Exigências. – Repeti.

— Mais como um pedido. – Falou. – Eu quero ser recebido apropriadamente por minha esposa.

— Hmm. Vou pensar sobre isso. – Falei antes de avançar para ele colocando toda minha força em meu braço direito.  Eu podia nunca ter tido aula de lutas antes, mas eu já havia socado um homem antes. Duas vezes. Três contando com Alex. Eu havia saído bem sucedida em todas.

Era de se esperar que minha quarta vez fosse completamente diferente das anteriores.

Primeiro: Não havia o fator surpresa que me ajudou nos três primeiros socos.

Segundo: Oliver não estava bêbado como o hospede do hotel que me encurralou para uma rapidinha.

Terceiro: Cooper, meu “ex” traidor era mais magro, baixo e lento do que Oliver.

Quarto: Comparar Alex com Oliver é simplesmente patético.

Oliver facilmente desviou do meu soco e no mesmo ato segurou meu braço, girando meu corpo e colando ao seu, deixando-o atrás de mim. Sentindo a respiração de Oliver em meu pescoço eu soube o quanto eu estava encrencada. Engolindo em seco foquei apenas em ficar quieta em seus braços. Por que me mexer faria com que as coisas ficassem bem menos inocentes.

— Agora. – Murmurou perto de minha orelha, meu corpo todo se agitando em resposta. – Eu acho que este é o momento em que eu recebo o meu prêmio.

— Parabéns.  – Murmurei irônica. - Acaba de dominar uma mulher com zero experiência em luta.

— Nós dois sabemos que se fosse quisesse realmente, já estaria fora dos meus braços. – Respondeu com humor. Senti seu nariz roçar minha pele aquecida. Não pude fazer muito além de fechar meus olhos em resposta. Absorvendo, desejando cada contato seu, eu poderia estar enganada, mas quase jurava ter sentindo seus lábios. – Isabel chegou de surpresa na viagem. – Murmurou, nada poderia ser mais decepcionante do que essa jogada de água fria. O encanto havia ido embora, e toda a diversão também, assim como ele havia dito saí de seus braços sem muito esforço, girei-me para encara-lo, não conseguindo esconder o quanto aquela afirmação me irritava.  – Mas não foi por isso que voltei mais cedo, eu fui sincero em minha resposta.  – Meneei a cabeça deixando-o saber que não acreditava inteiramente no que havia dito. – Isabel é competente no que faz, é uma das melhores, senão a melhor, esta é a única pela qual ela ainda continua na Queen Consolidated, em um erro cometido por nós dois não seria justo apenas afasta-la de algo que ela conquistou merecidamente. Então eu não posso, e não vou evita-la em viagens que envolvam trabalhos, ou no escritório, por que faz parte do meu trabalho ter essas reuniões.

— Por que você está me dizendo isso? – Questionei cruzando meus braços.

— Por ela não joga justo. – Respondeu. – Ela mente, e modifica, então eu não quis esconder isso de você. – O observei colocar as mãos nos bolsos, ombros caídos. Era óbvio que esperava que o repreendesse, ou acabássemos brigando novamente, mas pela primeira vez, eu vi verdade em suas palavras. E sua postura? Dizia-me o quanto ele queria fazer as coisas direito, Oliver poderia até ter guardado isso para mais tarde, ter aproveitado um pouco de nosso momento íntimo, e esperado um momento mais oportuno para ele. Mas ele não fez. Ele queria honestidade.

Ainda encarava os próprios pés então mal percebeu quando me aproximei.  O deixando confuso levei minha mão até sua gravata, ato que o fez me encarar de imediato.

— Eu sempre cumpro minhas promessas. – Falei. – Eu acho que estou te devendo um prêmio. – Ainda segurando sua gravata o atraí para mim, e logo meus lábios encontraram os seus. O choque fez com que sua resposta fosse um pouco mais lenta e me deu toda a liberdade para conduzir o beijo. Deixei meus dedos afundarem nos fios grossos do seu cabelo e empurrei minha língua de encontro a sua. Oliver abraçou minha cintura com força, apenas um braço a envolvendo enquanto uma mão ia até meu rosto o acariciando, seu corpo achatando o meu, não deixando nenhum espaço livre. Foi quando sua mão em minhas costas começou a descer, que eu lembrei onde estávamos e que em qualquer momento a sala poderia voltar a ser ocupada. Afastei meu rosto do seu apenas para receber outro beijo, e outro. Beijos curtos que serviam mais para acalmar do que para prosseguir.

— Foi assim que eu imaginei que seria recebido.  – Murmurou, seus olhos ainda em meus lábios. Os seus carregando um sorriso. Balancei a cabeça com diversão, não podendo esconder o sorriso de resposta nem mesmo de mim.  Espalmando minhas mãos em seu abdômen o induzi a se afastar.

— Vamos embora. – Murmurei calçando meus sapatos e aguardando que fizesse o mesmo.  – Thea não deve estar muito paciente.

— Conhecendo minha irmã, ela já foi embora. – Murmurou antes de chegar ao meu lado e envolver minha mão com a sua. Sem nenhuma surpresa, Oliver estava certo, Thea já havia ido embora me deixando sozinha com seu irmão. Esperei o momento em que me sentiria desconfortável com a situação, mas este não veio. Foi natural segurar sua mão enquanto íamos até o carro, assim como foi fazer o mesmo quando saímos do carro e caminhamos para a entrada.

Isso me assustou.

Por que tudo seria mais difícil mais tarde.

Temi que mais tarde, quando a noite chegasse, Oliver fizesse algum tipo de aproximação, por que sendo honesta comigo mesma, eu não seria capaz de dizer não. Mas após um jantar que para minha surpresa teve visitas como Adrian Chase, Tommy e Sara. Oliver se despediu das crianças com um beijo de boa noite e me disse que ia sair com Tommy. Com um beijo rápido partiu, deixando-me novamente confusa com sua chegada repentina, e saída igual.

Foi quando cansada de esperar por Oliver, fechei meus olhos e senti o sono chegar que escutei uma pequena e leve pancada na porta. Um pouco sonolenta e sem muito humor fui até ela para abrir, sem muita surpresa deparei-me com cabelos bagunçados e olhos azuis e sonolentos me encarando.

— Mamãe, eu não consigo dormir. – Lexie murmurou, sua voz um pouco rouca dizendo-me que não era bem assim.

— Por que eu acho que você acabou de acordar? – Perguntei com um sorriso divertido. Ela ficou calada, Uma respiração profunda acompanhada de um olhar caído tirando toda minha diversão. – Você teve um pesadelo abelhinha? – Ela assentiu em resposta, incapaz de dizer em voz alta.  Inclinei minha cabeça a encarando preocupada. – Você quer me dizer do que se trata? – Ela meneou a cabeça em uma negativa. Eu sabia como era, ter tanto medo que até dizer com o que havia sonhado se tornava impossível, em momentos como esse eu sempre ia até minha mãe, e apenas sua presença e seu abraço reconfortante era capaz de afastar os pensamentos ruins. Curvei-me para pegar a mão de Lexie e com carinho a puxei para dentro do quarto. – Vamos, eu sei do que você precisa. – Falei a ajudando subir na cama, deitei-me a atraindo para mim em um abraço e fui recompensada por um suspiro aliviado. – Melhor?

— Melhor. – Murmurou suavemente. Ficamos assim por alguns momentos, até que ela se afastou sentando-se sobre suas pernas, ajeitei os travesseiros sob minhas costas e aguardei, sabia que ela reunia coragem para me pedir algo. Provavelmente algo que a verdadeira Megan jamais havia feito. Seu olhar me avaliava com expectativa, quando finalmente falou. – Mamãe, você pode me contar uma história para dormir?

Oh merda.

Megan não estava sozinha nessa.

— Uma história. – Repeti com esperança de que a resposta fosse outra do que eu já sabia que seria.

— Sim. – Assentiu com força. – Papai sempre me conta uma quando tenho pesadelos.

— Humm. – Murmurei minha mente agitada procurando uma saída e não encontrando. – Está bem, eu posso.

A última frase mais parecia uma promessa para mim, do que para a criança.

“Eu consigo.”

Alexia me encarou feliz e aguardou.

Eu a encarei assustada e aguardei.

— Ok. – Assenti com veemência. – Vamos lá.

— Não vale histórias que todo mundo conhece. – Advertiu. A encarei pensando no quanto a amava, mas que ela corria sérios riscos de voltar para seu quarto sozinha e sem história nenhuma. Com um sorriso forçado concordei.

Puxei Alexia para meu colo a deixando mais confortável, enquanto ganhava tempo pensando em alguma história boa o suficiente para distraí-la de seu pesadelo. Nunca fui boa contando história, eu amava lê-las, me perdia na imensidão de palavras que aos poucos me encantava e construía cenários, por meio de narrativas me dando imagens tão vívidas que nenhum filme seria capaz de replica-las, mas eu infelizmente sempre fui terrível tentando cria-las. Não havia nenhum livro infantil por perto, e não podia recorrer a histórias como “A bela e a Fera”, ou “Cinderela”, Alexia já as havia vetado.

— Mamãe? – Lexi murmurou ainda com voz tremente, a abracei emitindo um suspiro, era uma criança, não era tão difícil agradar uma criança. – Você não vai me contar nenhuma história? – Exceto que era da minha criança que estávamos falando, eu conhecia Alexia tempo o suficiente para saber que ela seria a pior julgadora possível. Meneando minha cabeça e sentindo sua impaciência crescer cada vez mais, chegando até mesmo guerrear com o medo que tanto sentia antes, forcei minha cabeça a trabalhar rapidamente, lhe dando a única história que eu sabia seria capaz de contar detalhadamente. Respirei fundo e forcei minha voz a ficar o mais suave o possível enquanto começava.

— Em um reino um...

— Está errado. – Alexia me interrompeu se erguendo para me encarar. A encarei incrédula. Eu estava no meu primeiro fôlego ainda, como eu tinha errado?

— Errado? – Questionei confusa.

— Sim. – Assentiu veemente. – Toda história começa com “Era uma vez”. – Corrigiu-me. – Você não disse isso. – Sorri, por que era impossível não fazê-lo, ao encarar o rosto pequenino tão sério e fiel a uma história que ainda nem conhecia.

— Verdade. – Assenti.  – Eu errei. – A puxei de volta e a abracei. – Vou fazer direito agora. – Prometi.

— Eu sei. – Murmurou me abraçando de volta.

— Posso começar? – Perguntei temendo ser interrompida novamente. Apenas a senti acenando afirmativamente. – Era uma vez em um reino tão distante, mas tão distante que não se podia sequer contar o quanto distante esse reino era.

Esse reino ficava em cima, nos céus, e embora seja bastante distante, ele era bem pequenino. Cabia em apenas uma nuvem de algodão doce. A nuvem era bem fofinha e doce, muito doce. Nesse reino havia apenas um pequeno castelo e um pequeno vilarejo. No castelo vivia uma princesa, seu nome era... Seu nome...

— Mamãe esqueceu o nome da princesa? – Alexia me interrompeu. – Você pode dar seu nome, a princesa Me...

— Princesa Lis. – A interrompi. – O nome da princesa era Lis.

— Lis?

— Sim.

— Eu gosto. – Falou simplesmente. – O que aconteceu com a princesa Lis?

— A princesa Lis vivia no castelo com sua mãe, a rainha. – Continuei. – Todas as manhãs elas brincavam juntas, todos dias. – Respirei fundo. – Mas a rainha era muito ocupada e precisava deixar a princesa no vilarejo, com seus súditos e amigos, eram pessoas humildes, mas gentis, eram poucos, mas para a princesa eram muitos. E por um bom tempo a princesa foi feliz. A princesa cresceu, e a rainha envelheceu, e o que antes parecia muito para a princesa, passou a ser pouco. Por estar sempre ocupada a rainha ficou doente e cada vez menos ficava com a princesa. Lis, como gostava de ser chamada por seus amigos, sentava-se na borda da nuvem e olhava para baixo.

— O que ela via? – Perguntou curiosa.

— Ela via outro reino. – Murmurei. – Um reino maior, e mais cheio, um reino muito brilhante. E aos olhos de Lis, parecia até mesmo melhor. – Confessei. – Ela queria fazer parte daquele reino. Ela achava que entrando no reino ela encontraria um curandeiro, alguém que ajudaria sua mãe.

— Ela não podia descer? – Perguntou parecendo triste.

— Ela não tinha certeza. – Acariciei seus cabelos. – Ela queria, ela queria tentar, mas temia. Ela poderia cair, e quem ficaria com sua mãe? Alguém precisava cuidar da rainha.

— O que aconteceu?

— Um dia, quando estava olhando para baixo, Lis percebeu uma escada feita por nuvens. – Respondi voltando a história. – Nuvens coloridas, todas feitas de algodão. Lis ficou confusa, afinal ela ficava todos os dias olhando para o mesmo lugar, de ondem surgiu a escada? – Perguntei, sem esperar uma resposta. – Lis não queria perder tempo questionando, ela viu uma oportunidade, então desceu o primeiro degrau, primeiro com medo, mas ao se sentir segura ela desceu outro, e outro, sempre olhando para frente. Sempre pensando em ajudar a rainha. O problema é que ao não olhar para trás, Lis não percebeu que as nuvens sumiam, e sem as nuvens ela não poderia voltar para casa, só quando desceu e olhou para cima Lis percebeu: Ela estava muito longe de casa e não sabia como voltar. – Falei. – Mas já tendo descido e orgulhosa demais para aceitar até mesmo chorar, Lis resolveu seguir em frente, achar alguém para salvar sua rainha e quem sabe essa pessoa não a indicaria um novo caminho para casa?

— Ela encontrou o curandeiro?

— Sim, mas...

— Mamãe. – Parei me inclinando para observar seu rosto. – O que é um curandeiro? – Sorri diante sua pergunta. Eu sabia que era ruim em contar histórias.

— É como um médico. – Expliquei.

— Então Lis encontrou o médico?

— Encontrou. – Assenti.

— A rainha vai ficar bem então.

— Lis queria acreditar que sim. – Murmurei engolindo em seco.  – Mas após descrever o que a rainha sentia, o curandeiro charlatão balançou a cabeça e disse “Sinto muito princesa, mas a rainha está muito doente.” Lis ficou com o coração quebrado, ela amava muito a rainha, pela primeira vez Lis quis chorar, mas agradeceu ao curandeiro e foi embora. “Espere” disse o curandeiro, “Eu não disse que não poderia ajuda-la, mas a princesa vai precisar me dar três moedas de ouro.”. A felicidade de Lis ao saber que sua mãe podia ser curada foi embora tão logo chegou. Seu castelo era pequeno, sua rainha ajudava o povo do vilarejo e mesmo que tivesse três moedas de ouro, havia os outros gastos. Sem falar, que a princesa desceu sem nada, como poderia pagar ao curandeiro charlatão? – Voltei a perguntar. – Ao perceber que a princesa não tinha as três moedas, o curandeiro a mandou embora, disse que seu tempo era precioso e que não poderia perder com uma princesa de um reino tão pequeno. Triste e sem saber como voltar para casa a princesa vagou por aquele grande e desconhecido reino, resolveu que juntaria as moedas e procuraria o curandeiro de novo. Os dias se passaram e Lis encontrou uma plebeia. Seu nome era Lena, ela a ajudou e indicou para trabalhar em uma casa consigo, ia acontecer um grande jantar e seus patrões precisavam de ajuda extra. Lis ficou feliz, Lena parecia ser o tipo de pessoa que se encaixaria perfeitamente em seu reino, era gentil, divertida e humilde. Precisando do trabalho Lis concordou.

— Ela ganhou as três moedas? – Perguntou ansiosa.

— Não ainda. – Neguei. – Mas mal sabia Lis, esse era o começo de uma nova aventura.

— Lis ainda não vai voltar para casa? – Perguntou parecendo estar triste.

— Ainda não. – Meneei a cabeça. – No jantar havia muito convidados, todos muito orgulhosos e grosseiros, ninguém encarava Lena e Lis, olhavam apenas para seus pratos e copos cheios. Lis não ligou, não gostava daquelas pessoas rudes, tão diferente da rainha e dos aldeões de seu reino. Tudo ocorreu bem, até que Lis foi ao banheiro. Ela precisava arrumar tudo, pois contava com o pagamento, o banheiro estava ocupado, mas Lis não ligou para isso. Ninguém a havia encarado antes, por que isso mudaria? Ela continuou trabalhando e ignorando a pessoa a sua frente, até que teve que se aproximar, então a coisa mais estranha aconteceu.

— O quê? O que aconteceu?

— Lis olhou para frente e seus olhos encontraram olhos tão azuis quanto os seus. – Comentei lembrando-me da sensação. – Idênticos, e o rosto que era igual ao seu também, sorriu. Na sua frente estava a rainha do reino... Dourado. – Murmurei apressadamente.

— Dourado? – Alexia questionou claramente não gostando.

— Era o reino que Lis agora estava. – Expliquei. – Tudo era dourado, como ouro. E todos se vestiam bem. A rainha era idêntica a princesa, mesma idade, mesmo rosto, poderiam até mesmo se passar por irmãs.

— Qual o nome da rainha? – Oh merda, agora ficaria estranho. – Mamãe?

— Mag. – Murmurei. – Seu nome era Mag.

— Parece com o se...

— A rainha Mag era como todo o restante do reino, era orgulhosa, e menosprezava a todos.  – Continuei a ignorando. – Ela encarou a princesa e suas roupas simples e perguntou de onde ela vinha. Desconfiada a princesa revelou. “Eu moro logo acima, em um reino cercado por nuvens, meu reino fica acima de uma nuvem de algodão doce e é isolado de todos.”

— A rainha não gostou do reino da princesa.

— Pelo contrário.  – A corrigi. – A rainha que vivia cercada por todos, invejou a princesa, e viu o desespero de Lis por ajuda como uma oportunidade. “Estou cansada de todos, não quer ficar em meu lugar?” Perguntou já com um plano em mente.

— Lis não queria. – Alexia murmurou atenta. – Não é? Ela sente falta da rainha.

— Exato. E não parecia certo. – Continuei. – Assumir uma vida que não é sua. Embora odiasse a todos, Mag era muito adorada, era casada com o rei e tinha dois filhos. Lis não queria enganar a família de Mag, seria errado. Mas como dizer não a rainha? Ela ofereceu as três moedas de ouro se Lis trocasse de lugar consigo. Prometeu que enviaria o curandeiro a rainha e que se Lis se passasse por ela por um tempinho, tudo ficaria bem.

— Lis aceitou? – Acenei concordando. – O que aconteceu? A mãe de Lis ficou bem?

— Lis não sabe de certeza. – Dei de ombros. – Ela combinou com rainha que uma vez a cada quatro semanas ela iria até uma pedra que fica logo abaixo da nuvem e deixaria um recado. Mag tinha que responder de volta e descer a mensagem por uma corda. Mas Mag nunca respondeu, Lis tinha visto o curandeiro subir, então mesmo morrendo de saudades tinha que cumprir sua parte do acordo. Ela foi até o castelo e fingiu ser Mag.

— Tudo acabou bem?

— Um pouco. – Respondi. – Lis conheceu o Rei e seus filhos. Ela pensou que eles seriam como Mag, mesquinhos e orgulhosos, mas não foi isso que aconteceu. As crianças eram boas e o rei...  – Hesitei. -... O rei era especial.

— Especial? – Questionou precisando de mais.

— Ele era bom. – Respondi. – E valente. Mais do que qualquer um no reino. O rei enfrentaria todos os vilões, todos ogros e dragões, pelos pequenos e por sua rainha. O rei também era muito bonito e charmoso, e acima de tudo, assim como tudo em seu reino, o rei tinha o coração de ouro. Lis ficou triste.

— Por quê?

— Por que seu coração antes tão puro havia ficado manchado. – Respondi. – Ela ainda era gentil, e se importava com os outros, mas pela primeira vez, Lis mentiu. Todos os dias Lis mentia para o bondoso rei, e a cada mentira seu coração era pincelado por uma tinta escura. Lis por mais que tentasse, não conseguia lava-la. Lis passou a mentir para si mesma, por que a cada dia que passava ela esquecia de sua vida na nuvem de algodão doce, esquecia de sua pobre e doce mãe, ela passou a acreditar que aquele reino e as pessoas dentro dele, pertencia a si. – Concluí sentindo-me melancólica. – Então Lis fez algo que ela prometeu a si mesma que jamais aconteceria.

— O quê? – Alexia perguntou com expectativa.

— Ela se apaixonou. – Murmurei quase muito baixo para seus ouvidos. Pois se tratava de uma confissão. – Pelo o rei com coração de ouro. Pela vida que aprendeu a viver, e pelos filhos do nobre rei.

— Mas isso é bom. – Lexi protestou. – Lis vai ter seu final feliz.

— Lis não acha que merece. – Respondi. – Mais do que isso, apenas Lis sabia a verdade, então para o rei, aquela diante de si era sua rainha, era Mag. O rei casou com Mag pela felicidade do reino. Então assim como jamais poderia amar Lis, pois nunca a conheceu, o rei jamais poderia amar Mag, por que a presença de Lis o impedia de conhecer sua verdadeira esposa. O rei sofria, e todos viviam de mentirinha.

— O final dessa história vai ser feliz? – Lexi perguntou chateada.

— Claro que sim. – Menti, forçando um sorriso. – Não há um conto de fadas em que não tenha um feliz para sempre.

— Mas e se todo mundo está triste?

— Então é realidade. – Murmurei antes que pudesse me contar.

— Por que apenas a rainha má é feliz? – Perguntou aborrecida. – Ela foi embora.

— Ela disse que voltaria. – A lembrei. – Apenas quando ela retornar, é que a história acaba.

— Então o rei irá se apaixonar por Lis? – Perguntou se erguendo.

— É isso que você quer? – Surpresa a observei assentir com veemência.

— Eu gosto mais de Lis. – Sorri diante sua inocente resposta.

— Vamos fazer assim. – Murmurei a puxando de volta para os meus braços e encostando minha cabeça sobre a sua. – Essa história ainda não acabou. Depois eu contarei o final, mas por enquanto a princesa é feliz, vivendo sua pequena mentirinha ela é feliz.

— Mesmo com o coração manchado? – Lexi perguntou com sua voz já sonolenta.

— Essa fecha seus olhos.  – Murmurei também fechando os meus. – E imagina que a horrorosa tinta preta é rosa, como o amor que sente por seus filhos e por sua mãe, rosa como a nuvem de seu reino, e azul como o céu onde está sua nuvem, então há também algumas pinceladas de verde, como a grama em que deita com seu cachorro, amarelo como sol que aquece sua pele ao brincar de pique esconde no jardim com as crianças, a cor da alegria. E as vezes é vermelho, vermelho como o amor que ela sente pelo rei.  – Suspirei. - Então nesses momentos, a princesa é feliz. Tão feliz que não há nenhuma manchinha em seu coração, pequenina que seja.

Não até ela abrir os olhos.

Não murmurei a última frase, por que não seria justo não lhe dar um final feliz hoje. Abri meus olhos e levei uma mão ao rosto, percebendo que em meio a minha narrativa havia deixado uma lágrima escapar. Olhei para baixo e notei que ela dormia.  Respirei fundo hesitando aperta-la junto a mim, eu queria protege-la. Queria que ela continuasse pensando que havia apenas contos de fadas com finais felizes. Queria protege-la da malvada rainha que um dia voltaria, mas eu não podia. O final não poderia ser mudado, por mais que eu quisesse, e ficando ou partindo, Megan só deixaria tristeza para ela e William. Não sei por quanto tempo fiquei a observando, mas notei em certo momento que eu estava sendo observada também, ergui meus olhos para encontrar Oliver parado junto a porta, ainda vestindo seu terno ele me encarava com um pequeno sorriso em seu rosto.

— Pesadelo? – Perguntou-me encarando Lexi. Assenti concordando.

— Pegou no sono após eu contar uma história. – Murmurei deixando meu olhar cair no topo da cabeça de Lexi.

— Como acabou? – Questionou.

— Ainda não acabou. – Respondi ainda encarando os cabelos loiros. Voltei a erguer a cabeça ao escutar a porta sendo fechada. Pensei que ele a tiraria dali, mas se limitou a deixar sua pasta junto a parede e tirar seu terno. Franzi o cenho. Eu não havia visto ele sair com uma pasta.

— Você precisa me contar um dia então. – Murmurou erguendo as mangas de sua camisa e tirando seu colete, após se livrar dos sapatos ele subiu na cama. Com Lexie entre nós dois, seus olhos encararam os meus, sua mão se ergueu colocando meu cabelo atrás da orelha, um gesto terno que me surpreendeu, pois logo em seguida seu dedo tracejou a linha invisível que a lágrima havia seguido. Franzi o cenho questionando-me se ele realmente havia chegado após o fim da história.

— Oliver...

— Não. – Silenciou-me colocando sua mão sobre minha bochecha. Ergui a minha mão encontrando a sua e entrelaçando meus dedos aos seus. – Acho que agora é apenas o momento em que ambos fechamos os olhos. – Pisquei diante sua resposta. Será? Chegando a tempo de ouvir o final ou não, ele não entenderia muito, eu já não falava de Megan nessa parte, não havia com o que me preocupar. Para uma criança, essa havia sido uma história qualquer, para um adulto vivendo aquela situação... Não. – Está na hora de dormir. Eu estou cansado. – Concluiu fazendo-me perceber que suas palavras foram ao acaso, e triste percebi que estava decepcionada. Por que se não tivesse sido ao acaso, sua frase demostrava que ao menos ele queria participar daquela pequena mentirinha. Mas não, Oliver apenas queria deitar junto a sua filha e esposa, descansar, sem questionamentos e discussões.

Assenti concordando. E assim como sugeriu, fechei meus olhos.

— Desculpe. – Abri meus olhos ao escutar seu pedido, e estranhei. Faziam semanas que não brigávamos, ou chegava a ficar algum clima tenso, mas a verdade era que Oliver tinha estado tão ocupado desde aquela noite, quando nos beijamos, que não teve muito com o que brigarmos.

— Por quê? – Perguntei com genuína confusão.

— Eu queria chegar mais cedo. – Confessou. – Eu tinha planos. Mas eu não pude. – Sorri percebendo sua honestidade e atenta ao fato que ainda mantínhamos nossas mãos unidas.

— Tudo bem, sempre há o amanhã. – Respondi. Ele sorriu de volta para minha surpresa moveu Lexie com cuidado a afastando um pouco do centro da cama, ao contornar a cama percebi sua intenção e fui mais para o centro da cama. Logo Oliver deitava atrás de mim, com apenas um braço nos envolveu. Sentindo sua respiração tão próxima ao meu ouvido eu fechei meus olhos, e tal como a história contada, a macha negra sumiu, e tudo o que restou foi o vibrante vermelho.

Acordei com Thea me chamando e sozinha na cama.

Oliver já havia ido para empresa e as crianças tomavam café da manhã. Tive algum momento com eles enquanto ignorava os típicos comentários vagos de Moira e Thea que estava estranhamente calada, após ter praticamente me arrancado da cama.

— Thea. Como planeja passar o seu dia hoje? – A pergunta de Moira foi feita para Thea, mas seus olhos estavam em mim. Ao que parece ela já sabia a resposta e eu estava envolvida nisso.

— Megan e eu vamos deixar as crianças na escola, então vamos visitar Ollie na empresa. – Thea murmurou, eu que estava ocupada passando geleia em uma torrada errei o caminho, deixando-a cair um pouco sobre meu vestido. Encarei Thea surpresa. “Íamos visitar Ollie”? – Mas como o dia é muito longo me lembrarei de atualiza-la caso desejamos fazer algo a mais. – Thea sorriu para a mãe que a encarou sem humor.

— “Megan e eu”. - Moira repetiu com desdém. – Chega a ser incrível a rapidez com que vocês mudaram o status de inimi... – Hesitou ao ver William a encarando com interesse. -... Apenas cunhadas, para melhores amigas. – Comentou.

— Isso é bom, minha querida. – Falei. – Com sua experiência de vida, viver tantos anos e não ter nenhuma surpresa tornaria tudo tão mais... Entediante. – Lhe dirigi um sorriso repleto de falsa doçura.  Moira me encarou com desgosto.

— Você sabe que isso não vai durar muito, certo? – Questionou. Eu sabia ao que ela referia, em algum momento Oliver se cansaria, mas então o problema não seria mais meu.  Ainda que soubesse os significados de suas palavras a ignorei.

— Não seja tola minha querida, todos nós esperamos que você ainda viva longo anos.  – Falei me erguendo.  Encarei as crianças que nos observam confusos. – Vamos? Não queremos nos atrasar.

— Mamãe eu nem quero ir. – Encarei Lexie sem de fato estar surpresa com seu comentário. Honestamente depois dos cabelos cortados da coleguinha eu já havia traçado todo o caminho de Lexie em minha imaginação, e não envolvia notas altas, várias escolhas de faculdade e prêmios acadêmicos. Para ser honesta, eu vivia esperando a próxima reclamação. Deixei meu olhar cair em Thea que sorria para a sobrinha.

— O quê? Eu não sou culpada por isso. – Negou. – Eu a ajudo com as atividades. – Defendeu-se.

— Ok. – Assenti. – Vamos todos para escola, querendo ou não. – Concluí deixando meu olhar cair em Lexie novamente que se encolheu. – Não se preocupe abelhinha, nem todo mundo ama a escola de primeira, alguns de nós precisamos de mais alguns motivos para isso. Você vai encontrar os seus. – Segurei a mão de Willian e deixei que Thea ficasse com Lexie, no caminho tentei conversar com Will que me parecia cada vez mais introvertido e fiquei preocupada.

Ele seguia sendo o garoto carinhoso e ao contrário de Lexie parecia gostar muito da escola. Mas ultimamente haviam momentos em que ficava pensativo, seu pequenos ombros pareciam estar recebendo um peso grade demais para ele. Quando chegamos à escola nos despedimos com um rápido beijo e efusivos acenos por parte de Thea. Lexie apesar do que dizia saiu saltitante encontrar suas amigas e Will logo caminhou lado a lado com um garoto sorridente que parecia ansioso para falar sobre jogos.

— Eu estou preocupada. – Confessei quando já estávamos a caminho da QC. Thea me dirigiu um breve olhar antes de se concentrar no trânsito novamente.

— Não fique. – Falou. – É uma passagem rápida, acho que nem veremos Isabel, além da visita surpresa para Oliver eu na verdade preciso subir para assinar alguns papéis.

— Eu estava falando de Willinam, mas obrigada por me lembrar da visita surpresa para Oliver, que na verdade foi mais uma surpresa para mim. – A fuzilei com o olhar.

— É uma questão de justiça. – Falou simplesmente. – Ontem ele invadiu nosso espaço, nada mais justo do que fazermos o mesmo com ele hoje.

— Vocês dois vivem em constante rivalidade? – Perguntei tentando esconder meu sorriso.

— Eu tenho uma certeza que antes de nascer assinamos um contrato, que contém essa cláusula. – Deu de ombros. – É algo de irmãos.

— Eu sou filha única. – Murmurei em desculpa. Ela me encarou de esguelha, logo percebi sua intenção. - Nem ouse. – Falei. – Já disse, ela não é minha irmã.

— Ok.

Entramos na QC e subimos para o andar de Oliver de imediato. Thea foi bastante cumprimentada e a assistente de Oliver logo nos informou que seu irmão não estava, mas que logo chegaria. Thea teve que procurar por um dos assistentes de Isabel para saber sobre os tais papéis e acabou me deixando sozinha em uma das salas de reunião. Tão concentrada eu estava em observar os demais edifícios através das gigantescas janelas de vidros, perdi o momento em que ele entrou, e foi quando sua mão alcançou meu braço e meu nome soou atrás de mim que me senti nervosa.

Forçando um sorriso girei-me para observa-lo.

Adrian Chase me encarava com seu sorriso charmoso e olhar repleto de desejo.

— Chase. – Murmurei forçadamente. – Eu havia me esquecido de que agora você trabalhava diretamente com os casos da empresa. – Adrian tinha tentando entrar em contato comigo inúmeras vezes nas últimas semanas. Vezes que eu prontamente ignorei.

— Eu estou magoado. – Respondeu o que dizia ia totalmente de contra com sua expressão. – Eu não gosto de pensar em você se esquecendo de  mim assim, com tanta facilidade. – Seu dedo subiu e desceu pelo meu antebraço. – Não quando temos tantas memórias boas. – Disse, seu tom repleto de insinuações.

O encarei tentando a todo custo ignorar a forma com que me encarava.

Eu sabia.

Eu sabia no momento em que pisei na empresa que visitar Oliver de surpresa havia sido uma péssima ideia. Por que eu continuava escutar Thea? Agora ela havia saído em busca daqueles malditos papéis e havia me deixado sozinha com ninguém menos que Adrian Chase. O que diabos Thea tinha na cabeça? O que eu tinha?

— Eu estava pensando em você outro dia. – Adrian murmurou fazendo com que eu fosse obrigada a encara-lo. Fingir que encarava a madeira polida da mesa não era mais uma opção. Sem outra alternativa fingi descaso.

— É mesmo? – Murmurei forçando um sorriso educado. Ele assentiu, seu sorriso se ampliando na medida em que se aproximava. Resisti à vontade de dar um passo para trás. Adrian é um homem bonito e como eu já havia percebido antes, dono de um charme sem igual, fazia o tipo encrenqueiro em roupas de bom moço e isso era perigoso.

— Mesmo. – Apenas assentir não foi o suficiente para ele, ele precisou ir mais além, é claro. – Eu estive pensando em como nos divertimos antes e como é uma pena não termos feito mais vezes. Em como eu gostaria que repetíssemos. – Falou deslizando seus dedos em meu rosto, uma carícia leve que fez mais ao meu corpo do que eu gostaria admitir. Lembrar-me de quem era o homem a minha frente e a forma amigável com que ele falava com Oliver quando estávamos juntos, uma atitude completamente falsa e desprovida de caráter fez com que eu percebesse que seu toque também trouxe mais, trouxe sem dúvida nenhuma uma boa dose de repulsa. Com calma ergui minha mão segurando seu pulso, afastando seu toque de mim.

— Não. – Murmurei fazendo com que ele me encarasse surpreso.

— Não? – Repetiu.

— É uma palavra simples. – Falei. – Tente não fazer muito esforço tentando compreender o significado.  - Eu sabia que não deveria tê-lo provocado dessa maneira. Mas ontem mesmo Chase havia jantado conosco. Havia feito piadas e dado leves tapas nas costas de Oliver enquanto dizia que havia sido uma boa noite. Hoje ele estava dando em cima de sua mulher, eu sabia que na cabeça dele era nada demais, já que Megan havia lhe dado essa abertura e já haviam sido amantes, mas quantas vezes a cena de ontem havia acontecido? Quantas vezes Oliver recebeu Chase em sua casa, para então Megan e seu advogado o traírem. Como Chase conseguia encarar Oliver tão tranquilamente, sem nenhum remorso?

Diante minha firme negativa tudo o que fez foi sorrir. Assentiu levemente como se tivesse respondido a uma pergunta feita a si mesmo e recuou alguns passos antes de me dar as costas. Exalei um suspiro aliviado, mas este foi precipitado. Pois ainda de costas o escutei murmurar:

— Estou acostumado com os joguinhos, eu sei lidar com eles. – Virou-se com um sorriso de canto. Temi por aquele sorriso. Uma mulher distraída poderia se deixar enganar por ele. – Eu gosto até. – Acrescentou dando um novo passo dessa vez em minha direção. – Você sabe... – Um passo mais perto foi registrado em minha mente. – Para ser sincero... – Mais um, e eu novamente resisti a vontade de recuar.

— Chase. – Murmurei uma advertência que ele prontamente ignorou. Seus olhos fixos nos meus quando deu seu último passo, tão perto quanto apenas Oliver ousaria.

—... Eu sinto que agora eu posso me divertir 10 vezes mais com você. – Disse antes de suas mãos envolverem meu rosto e puxar seu rosto até o meu, dessa vez recuar era imprescindível, mas igualmente ineficaz. Seus braços me seguraram com força enquanto eu empurrava seus ombros, sentia urgência em afasta-lo, mas ele era forte demais e por mais que eu tivesse todas essas ideias de como chuta-lo ou golpeá-lo, eu apenas não consegui aplica-las. Senti-me cercada, vulnerável, e eu odiei isso. Tentei empurra-lo uma vez mais e um imenso alívio me envolveu quando seu corpo foi jogado para trás, mas não foi minha força ou determinação que o afastou de mim, com choque e respiração pesada observei o rosto duro de Oliver encarar Chase que agora o encarava atônito do chão. Sem dúvida alguma procurando alguma desculpa plausível e falhando.

— Oliver... – Murmurei tremente. Meu medo agora era diferente, girava em torno de como Oliver iria reagir ao que viu. Qual seria sua reação para mim. Ele me dirigiu um olhar surpreso e preocupado. Tentando processar o que havia presenciado. Fechei minha mão em punho esperando que dissesse algo, por que eu já não sabia o que dizer, mas seu olhar se voltou para Chase, sua fúria se renovando. – Não! – Gritei quando com horror vi Oliver avançar em Adrian, sua intenção clara. Para minha surpresa ele parou de imediato voltando-se para mim ele me encarou ainda com fúria.

— Ele tocou em você. – Todo o seu corpo vibrava, estava tenso e respirava ofegante. Oliver obviamente tentava se controlar, e estava falhando. O riso de Chase se fez presente, alto e claro. Debochava da situação, debochava de Oliver.

— Por favor, você acha que esta é a primeira vez? – Ele se ergueu com mais elegância do que eu esperava que um homem que se encontrava nessa situação teria. – Eu e Megan estamos familiarizados com o corpo um do outro. Demais.

Prendi a respiração diante o que disse, esperei o momento em que Oliver tornaria a ir até ele e de forma inconsciente me aproximei de Oliver segurando-o pelo braço. O senti enrijecer sob meu toque, mas em nenhum momento ele fez menção de ir até Adrian novamente. Oliver foi de mil a zero em questão de poucos segundos. Seus olhos gélidos encaram Chase com queixo erguido.

— Saia daqui. – Foi a ordem vinda em tom cortante. – E nunca, nunca. Nunca a toque novamente.

Pisquei surpresa.  Observei o perfil de Oliver, ignorando um confuso e irritado Adrian Chase se retirar, demorou um momento até Oliver acalmasse sua respiração, seu olhar caindo no meu e então passeando por meu rosto. Não era isso que eu esperava, eu não conseguia dizer nada por que eu não tinha palavras no momento. Baixei meus olhos até nossas mãos unidas e tentei buscar em minha mente em que momento isso aconteceu. Quando ergui meu olhar, ele ainda me encarava, seus olhos mais calmos.

— Você está bem? – Perguntou, sua voz saindo rouca. Franzi o cenho tentando entender seu comportamento. Era um grande contraste com o Oliver que me recebeu com desconfianças e esmurrando paredes só em cogitar a possibilidade de estar sendo traído. Oliver havia ficado furioso após ver o beijo, mas diante a frase de Chase, diante o claro fato de que essa não seria a primeira vez, nada fez. Concentrei-me nos últimos dias, em cada momento em que passamos juntos, e tentei chegar em vão em outra conclusão, mas não consegui.

— Megan? – Chamou-me preocupado. Inclinei meu rosto absorvendo o que deduzi. Lembrei de cada frase ambígua. De cada olhar desconfiado e gesto vago.

— Você sabe.  – O encarei buscando a verdade em seus olhos. – De tudo. – Ele franziu o cenho parecendo confuso. Mas o ato pareceu irreal demais para mim. – Você me pediu honestidade, e esteve mentindo.

— Do que você está falando? – Questionou-me dando um passo para trás. Parecia tão genuíno e falso ao mesmo tempo. Eu estava ficando cada vez mais confusa.

— Eu... Eu preciso ir. – Murmurei ansiosa para sair dali, não podia lidar com isso agora. – Nós conversamos em casa.

— Você não pode apenas ir embora, não depois do que aconteceu. – Falou movendo para ficar no meu caminho.

— Mais tarde, Oliver. – Falei passando por ele. – Quando ambos conseguirmos sermos sinceros um com o outro.

— Megan. – Chamou-me em tom urgente, mas o ignorei estava a decidida a sair daquela empresa o mais rápido possível. – Mega... Felicity! – Parei em brusco, com o coração acelerando. O eco das batidas rugindo em meus ouvidos. Virei-me lentamente, meus olhos hesitando em encontrar os seus. Por que com apenas uma palavra ele havia assumido o que eu tinha dito.

Ele sabia.

Ele sabia de tudo.

— Felicity. – Repetiu não ousando se aproximar.  – Fique.

Ergui meus olhos por fim encontrando os seus, a determinação estando presente nos seus, tornando difícil interpretar qualquer outra emoção.

— Nós precisamos conversar.


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Notas finais do capítulo

Prontinho leitores, espero que gostem, fui breve nas notas hoje por que eu estou morrendo de dor de cabeça aqui!!
Espero que tenham gostado.
Xoxo, LelahBallu.



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