Herdeiros escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 8
Capítulo 7




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“Muito bem... Depois de uma noite boa de sono, acho que estamos prontos para começar, certo?” Perguntou Karina, observando os presentes.

“Fale por você sobre a noite boa... Eu to moído.” Resmungou João, coçando os olhos.

“Cara, pensa que pelo menos temos um café da manhã bom. Já ajuda a diminuir a merda.” Resmungou Pedro, mordendo seu pão.

“Bom? Não tem nenhuma geleia, nenhuma fruta, nada de iogurte... Minha mãe teria um ataque em me ver comendo isso.” Reclamou Jade, mordendo uma maçã.

“Cansei dessa merda.” Resmungou Bruno, se levantando e indo até um banquinho, no qual subiu. “Agora calem suas bocas e olhem para mim.”

“Ui, o moreno se mordeu.”

“O moreno é o mais velho aqui, Maria de Fátima, então vai tentar colocar ordem nessa merda.” Ele rosnou, irritado. “Somos doze pessoas diferentes, vindas de lugares diferentes, com criações diferentes. Alguns estão acostumados a uma dieta fina, outros ao pão com ovo. Alguns são da noite, outros do dia. Mas pelos próximos 18 meses, nós teremos que viver juntos, dormir juntos, comer juntos. E não vai ser fácil, porque aqueles adoráveis anjos que estão no céu, que chamamos de avós, nos deixaram em uma missão suicida. E todos puderam pular fora, mas preferiram ficar e segurar a bucha. Então vamos fazer isso direito, ok?”

“Ui, ui, ui, o principezinho se mordeu.” Debochou Cobra, mas o punho cerrado indicava sua irritação.

“O Bruno está certo, Cobra. Temos 18 meses pela frente, isso não é pouco tempo. Podemos nos esforçar para que esses 18 meses sejam agradáveis, ou seguir vivendo nesse inferno. Você pode querer viver na bagunça, mas acho que todos nós queremos paz.” Mari se manifestou, recebendo alguns acenos na cabeça.

“Acho que temos que nos dividir em três grupos principais, para necessidades básicas: limpeza, cozinha e estoque. Como a Bianca tem mais jeito na cozinha, ela pode cuidar desse setor.” Propôs o arquiteto, recebendo um aceno da jovem.

“Eu me responsabilizo pela limpeza.” Avisou Mari.

“Eu cuidava do estoque na academia em que trabalhava, posso ajudar nisso.” Duca se ofereceu.

“E quem vai cuidar da bufunfa?” Lembrou Cobra.

“Bufunfa? Por Deus.” Vicki massageou as têmporas.

“Eu sugiro o Bruno. De todos aqui, creio que ele seja o mais responsável.” Jeff indicou, e quase todos acenaram.

“Responsável sou eu.”

“Não, Cobra, você é sem vergonha. Ninguém aqui seria louco o bastante para confiar o dinheiro na sua mão.” Garantiu João.

“Mas que dinheiro, gente? Não temos um puto no bolso.”

“Eu estive relendo as instruções ontem à noite, gente. Ontem eu ouvi o Silveira falando que trariam as coisas hoje, e fui atrás de saber o que. Quando fecharam a Fábrica, nossos avós encaixotaram e guardaram todos os figurinos, equipamentos, coisas que tinham, e colocaram em um depósito no nome do advogado, para que ninguém fosse atrás.” Explicou Bruno.

“Tá, gente, mas já fazem décadas. As coisas devem estar velhas, comidas... Se tiver algo eletrônico, já era.” Lembrou Fatinha.

“Mesmo que não nos sirvam, Fatinha, tem coisas que podemos tentar vender para reverter alguns trocados.”

“E o que fazemos para conseguir o resto? Vamos dar um role na esquina?” Sugeriu Pedro.

“Tava tentando chegar lá, gente... Outro item que estava lá é que nós teremos que nos manter, correto? Imagino que a maioria aqui tenha uma poupança, ou pelo menos algumas economias. Juntaremos esse dinheiro e vamos ir nos mantendo e nos esforçando para comprar o que for preciso.”

“Bruno, equipamentos de luta são caríssimos. Assim como instrumentos, equipamentos de som, iluminação...” Karina cortou o rapaz.

“Eu sei, Karina, mas vamos ter que ir nos virando. Tenho algumas dúvidas para o Dr. Silveira, a respeito de algumas regras. Quando ele vier hoje, tratamos de resolver isso.” Finalizou ele. “Por hora, precisamos descobrir quanto dinheiro temos.”

“Bruno, desculpa, mas eu não concordo com isso, cara. Meus pais ralam desde que eu era pirralho para formar essa poupança para a faculdade, saca? Não seria justo dar essa grana embora.” Comentou Pedro.

“Nisso eu concordo. Minha mesada mensal é bem gorda, então eu vou ter mais grana que todo mundo aqui.” Lembrou Vicki.

“Gente, vocês vão receber cinco milhões no final dessa bagunça!”

“Eu entendo o ponto deles, João, e acho válido. Eu também tenho economias boas que eu estava fazendo para comprar um apartamento, e mesmo que eu vá levar uma bolada no final, em relação aos demais eu vou sair com um belo prejuízo.” Explicou Bruno.

“Então qual a sugestão?” Perguntou Jeff.

“Anotamos o investimento, vamos chamar assim, de cada um. E aí temos duas opções: ou começamos a quitar isso conforme for entrando lucro na Fábrica, ou deduzimos esse valor da bolada final e repartimos o que restar. Nesse caso, cada um recebera menos que os cinco redondos.” Analisou Bianca, e todos concordaram.

“Bom, eu tenho perto de 60 mil. Fiz uma universidade pública, não comprei um carro e comecei a estagiar no colegial.” Gabou-se Bruno, checando o saldo no celular e anotando o valor.

“Ok, o bom moço tem mais dinheiro do que eu. Não sei se gostei disso.”

“A diferença, Vicki Vigarista, é que ele tem por mérito próprio.” Sorriu Fatinha, puxando o papel e anotando um valor. “É pouco, moreno, mas foi o que os meus avós me deixaram de herança.”

“E você nunca mexeu nela?” Questionou Mari.

“Uma viagem para a Disney aos quinze anos, algumas roupas... Lá em Carambolas ninguém tem pretensão de faculdade, então eles não fizeram poupança, só me deram o dinheiro na mão.”

Vicki anotou seu valor e saiu ligar para o pai, pedindo que ele providenciasse a transferência do valor altíssimo. Bianca e Karina também fizeram sua anotação, já que tinham a herança vinda da mãe e dos avós maternos. Pedro e João também assinaram, assim como Mari e Jade. Duca anotou um valor modesto, se desculpando por não ter conseguido poupar muito por cuidar da avó doente.

“Desculpa, gente, mas eu não vou poder ajudar nessa. Eu não tenho um tostão.” Jeff se desculpou, sem graça. “Meus pais tem um carrinho de cachorro-quente.”

“Não tem problema, Jeff, de verdade. Você e o Cobra vão nos pagar de volta, ninguém está tirando nada de ninguém.” Acalentou Mari, sorrindo para ele.

“Eu discordo. Eu entrei nessa para ganhar cinco milhões, não menos do que isso.” Cobra perdeu a postura, se levantando e socando a mesa.

“Para o seu azar, Ricardo, nós precisamos comer, equipar o local, gastar dinheiro para que completemos as malditas missões e ganhemos os cinco mil. No final, todos terão uma dedução igual dos seus cinco milhões, que vamos chamar, como eu disse, de investimento. Então cale a sua boca, porque eu não tenho nenhuma paciência para o seu jeito arrogante.” Bruno o cortou, nervoso.

“Se minhas contas aqui estiverem certas, temos um montante de 200 mil, gente.” Bianca arregalou os olhos. “Se procurarmos nos locais certos, e ninguém se importar de as coisas serem de segunda mão, vamos conseguir comprar a maioria do que precisamos.”

“E do que precisamos, Bianca?”

“A princípio, do mercado. Vamos nos dividir, e aí o Duca e o pessoal que vai cuidar da dispensa vai comprar o que precisamos. Bruno, você e eu vamos atrás do Dr. Silveira, para tirar suas dúvidas e vermos como faremos para juntar o dinheiro de todos. Os demais, sugiro que liguem para seus pais e providenciem o que for necessário para essa transferência do dinheiro.”

~*~

“Ara, cinco milhões de reais? E você tá esperando o que pra se decidir, Jefferson?”

“Pai, é uma decisão importante. É um ano e meio da minha vida, entende?”

“Entender o que, homem de Deus? Com essa dinheirama toda, eu e tua mãe vamos viver no luxo o resto da vida.”

“O dinheiro vai ser dele, Lincoln, assim como o sacrifício. E só para saber, cinco milhões não sustentam ninguém no luxo pelo resto da vida, sossegue.” Rute repreendeu o marido, sentando ao lado do filho. “Jeff, pensa bem mesmo, filho. Eles não estão te dando simplesmente esse dinheiro todo, você terá muito o que fazer para conseguir ele.”

“Seria melhor se dessem de uma vez. Não quero meu filho, cabra macho, metido com essas abestagens de dança e teatro. Tá ouvindo, Jefferson? Não te quero nessas coisas não.”

“Então eu já vou cair fora, pai, porque foi isso que a vó Luísa me deixou: uma Fábrica de artes, que eu preciso reerguer. Com dança, com música, com teatro. São essas coisas de boiolinha, como você chama, que vão te dar seu precioso luxo.”

“Tu olha como fala comigo, Jefferson, que não tolero desrespeito. Lhe sento a mão nas fuças.” Ameaçou o pai, agarrando o rapaz pelo colarinho.

“Chega, Lincoln, agora. Você reclamou tanto que teu pai te bateu, mas não tem o menor conflito em sentar a mão no Jeff.” Rute se colocou entre o marido e o filho, autoritária. “Depois não sabe porque tua mãe largou o bandido, né?”

“Cê respeite a memória do meu pai, Rute, ou minha conversa contigo vai ser outra também.”

“Quer saber? Eu vou aceitar a proposta. Vou viver do jeito que eu quero, sem depender de você, pai. E o dia que seu filho fizer cinco milhões de reais com dança de boiolinha, a gente volta a conversar.”

~*~

No meio do salão deserto, Jeff estava sentado no piano deixado ali, encarando as teclas. Correu os dedos por elas, sem saber ao certo para o que serviam, que som produziam. Sempre havia tido um interesse pelo instrumento da avó, mas ela nunca havia tido tempo de ensiná-lo e o pai fez questão de dar o mesmo embora após sua morte.

“Que espécie de som está tentando produzir? Porque não está muito harmônico.” Virou no banco, encontrando Mari, parada tímida em um canto.

“Você está ouvindo há muito tempo?”

“Mais ou menos.” Ela riu baixo, indo até o piano e colocando a mão nele. “Toca.”

Ele martelou as notas de antes, e ela fechou os olhos. Ele estranhou o gesto, mas finalizou a sequência.

“Tentei recriar o que via minha avó fazendo quando eu era criança.” Explicou ele, dando de ombros.

“Você tentou recriar uma cantiga de ninar, não sei o nome ao certo. Meu avô me ensinou quando eu era pequena. Mas você trocou as teclas pelas do lado.”

“E como você sabe?”

“Pela vibração. Cada tecla possui uma vibração, sabe?” Ela sentou ao lado dele. “Coloca a mão onde eu estava. Agora sente a diferença.”

“Eu não senti nada.” Ele admitiu envergonhado, e ela riu.

“Tudo bem, não esperava que você sentisse de primeira. Eu demorei vários meses para conseguir.” Ela admitiu, corando. Quando ela mexeu no cabelo, ele reparou algo.

“Isso é um aparelho auditivo?”

“Hã? Ah, é sim. Eu sou totalmente surda do ouvido direto e parcialmente do esquerdo. O aparelho me ajuda a melhorar a audição do ouvido bom.”

“Você nasceu assim?” Ela negou.

“Quando eu tinha cinco anos, um primo por parte de mãe quis soltar um rojão na festa junina. Mas é claro, ele não sabia o que estava fazendo e eu não entendia o que era aquilo. Basta dizer que estourou ao meu lado e acabou com o meu tímpano direito. O esquerdo também foi danificado pelo barulho, mas menos. Com o passar do tempo e o esforço, foi deteriorando, até que eu comecei a usar o aparelho. Mas meus pais e meus avós me ajudaram muito a ir aprendendo a me virar de outras formas. Sou muito boa em leitura labial, sabia?”

“Vou tomar cuidado de nunca cochichar perto de você.” Ele brincou, recebendo um sorriso. “Então você sabe tocar pela vibração do piano?”

“Principalmente. Eu escuto um pouco, mas confio mais no meu tato.” Ela sorriu, começando a dedilhar. “Tudo vibra com a música, Jeff, incluindo o coração. Acho que eu me guio mais nele do que em outra coisa.”

“Você pode me ensinar a tocar a canção de ninar? A que minha avó tocava?”

“Claro. Presta atenção à minha mão, ok?”

Ele observou os dedos suaves correrem pelas teclas, tentando memorizar a ordem delas. Porém logo se perdeu, envolto em lembranças de sua avó, da maneira doce que ela tocava e de como ela o protegia.

E de como lhe doía que tivesse deixado o pai para trás sem resolver o que sentia.


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Notas finais do capítulo

Oláááá gente!!!
Em primeiro lugar, quero deixar aqui um beijo lindo para a 50 tons de Perina, que deixou o comentário mais TOP das galáxias. Queria ver como seria uma recomendação dela ~sente a indireta~
E aí? Gostaram do capítulo? Como podem ver, algumas tramas paralelas começam a surgir, conflitos individuais dos personagens que precisarão ser revistos. Gostam deles?
Espero que comentem e que continuem a acompanhar. A vida tá uma loucura, tá difícil manter ritmo e fidelidade, mas em dezembro tudo acaba e passa a valer a pena, prometo.
See you soon ;*
http://www.facebook.com/fanficswaalpomps



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