- Então, o que pretende fazer sobre ele? - perguntou Angela, mordendo uma maçã. Ela e Marie estavam na sacada do apartamento da loura, observando o céu pré crepuscular e conversando.

- Sobre quem? - pergunta Marie.

- Ora, sobre Jake. - essa afirmação faz a loura quase cuspir fora o suco de abacaxi.

- Fa-fazer o quê?

- Ah, pára. Eu sei que você tá interessada nele. É só ver o jeito que você olha, toda boba, nem prestando atenção ao que ele fala.

- Não é tanto assim. Só foi uma vez em que fiquei distraída e tropeçei.

- E quando quase derramou refrigerante nele, e quando escorregou no piso molhado enquanto o via passar... Além de aérea, ainda é desastrada.

Marie ficou vermelinha e fez um biquinho. Virou amiga do Jake desde aquele dia em que se encontraram no ônibus, e começaram a andar juntos desde que ele terminou com a namorada. De repente, o mundo ficou mais colorido, e ela não conseguia evitar ficar vermelha toda vez que pensava nele.

- Tudo bem - ela adimitiu. - Estou interessada nele. E daí?

- E daí que tem que fazer alguma coisa. Você não vai nem ao menos ao baile com ele? - Angela perguntou, jogando a maçã já terminada no lixo.

- Ele nem me convidou!

- E daí? Convida ele! Já pensou? Ter aquela noite linda, dançando até a meia-noite com o príncipe encantado...

- Talvez não seja bem assim... Se bem que... - Ela ia dizendo "Vale a pena tentar".

- Se bem que...?

O sol já começava a se por.

- Ah, não sei. Acho que precisamos nos conhecer melhor.

- O quê? Vocês se conhecem há quase um mês! Se se conhecerem mais, pode ficar chato depois de começar a namorar.

- A namorar? Angela, a gente nem tem nada ainda! Mal me considero amiga dele.

- Ainda bem, porque virar amiga primeiro é furada. Nunca teve um namorado? Sua mãe nunca te orientou sobre isso?

Marie olhou sério para Angela. Esta percebeu na hora que tinha tocado em uma ferida que ainda não tinha cicatrizado. A loura quase tinha os olhos cheios de água.

- Não fale assim dela, ela... Não viveu o suficiente para conhecer meu primeiro namorado.

- Tudo bem, tudo bem. Mas... Então, você mentiu para o Jake?

- Sim.

As duas olharam os últimos raios de sol no céu. Não acreditavam como o pôr do sol é rápido.

- Na verdade, acho que não faço nada porque tenho medo de ser rejeitada.

- Ah, se ele te rejeitar, é porque não te merece. Mas mesmo correndo esse risco, não acha que vale a pena tentar?

Marie sorriu e disse:

- Sim.

Angela olhou no relógio. Estava na hora de ir pra casa. Se despediu da loura e foi embora.

Na rua, um estranho chamou seu nome de dentro de um beco. A morena olhou pros dois lados, e, constatando que ninguém a observava, foi até lá. Encontrou com um homem de barba branca, que parecia impaciente. Ele disse:

- Não acha que está na hora de acabar com isso?

- Não. Espere mais um pouco. As asas precisam de tempo para serem curadas.

- Mas elas precisam aprender a se curar sozinhas. Você não pode ficar todo dia trocando o band-aid.

- Espere mais um pouco, por favor! Eu prometo que ao primeiro sinal de melhora eu volto.

- Angela...

- Acalme-se. Agora tenho que ir pra casa. Você me leva?

Depois de um grande suspiro, o senhor de barba branca disse:

- Tá bom. - e o homem estalou os dedos, fazendo com que os dois sumissem no vazio, com um pequeno rastro de luz.

No dia seguinte, no colégio, na hora da saída, Marie estava conversando com Jake quando chegaram àquele ponto da conversa em que não há mais nada a dizer, e as pessoas ficam embaraçadas com esse fato. Mas Marie sabia que tinha de se confessar.

- Jake, eu...

Foi interrompida por uma risadinha atrás deles. Era a Lígia, com mais duas amigas de sorrisos desdenhosos.

- Jake, Jake. Desde que você começou a andar com essa perdedora você se rebaixou. Agora, quase nehuma das garotas o deseja, sabia? E também, todos falam do novo casalsinho otário.

Marie ficou com muita raiva.

- E quem disse que nós nos importamos? - Jake disse, revirando os olhos, surpreendendo Marie. "Ele não se importa?" - Vamos embora, Marie?

- Vamos. - ela disse, se recuperando.

Mas foram surpreendidos. Lígia gritou bem alto nas costas deles:

- Sua ladra de namorado! Aposto que sua mãe, a Angela... - e ela sorriu triunfante para as amigas - ... era uma vadia como você!

Agora a loura estava vermelha, vermelha. Como Lígia sabia que sua mãe havia morrido, ela não sabia, nem queria saber. Mas não podia tolerar aquela ofensa. Lígia era mesmo muito mal-educada, pensou. Foi até a morena de cabelos grandes e deu um tapa naquele rostinho bonito e nojento, na frente de um Jake perplexo com aquela atitude repentina. Quando Lígia levantou o rosto machucado, Marie falou:

- Não mencione o nome da minha mãe nessa sua boca suja!!!

E correu pra fora do colégio, na direção de casa. Logo um trovão encheu os seus ouvidos e suas lágrimas se misturavam com a chuva.