Uma semana depois, começou as aulas do primeiro ano. Marie suspirou e fechou a porta do apartamento. Ia andando pelo corredor tão desligada que nem reparou no garoto que vinha em sua direção. Acabaram se chocando.

- Ei! - ele disse. A amiga de cabelos pretos que estava perto dele exclamou com voz grossa:

- Olha por onde anda, garota!

- Ah...! Desculpe! - ela disse furtivamente e se apressou na direção do elevador.

- Tem gente que não se toca. - A morena comentou com o garoto, que olhava para Marie com uma expressão reflexiva.

A garota de cabelos louros se sentiu embaraçada. Olhou no espelho do elevador e levou um susto: seu rosto estava vermelinho, como se tivesse acabado de correr. Mas Marie não se lembrava de ter chegado a esse ponto (mesmo com pressa).

Tentando normalizar o rosto,  desceu do elevador, dirigiu-se até a portaria, andou até o ponto, pegou o ônibus e foi para a escola de ensino médio que era meio longe de casa. No caminho, tentava esquecer tudo, mas não dava.

Chegando à escola, olhou ao redor e viu vários grupos separados, como se fosse aquilo que se chamava antigamente... Panelinhas. Os populares separados dos nerds, separados dos indies, separados dos rockers, separados dos emos, separados dos esquisitos... E agora? Marie não sabia em qual grupinho se encaixar. Ia andando, percebendo que todos olhavam pra ela, julgando-a altomaticamente. Pelo menos era assim que se sentia. Principalmente com relação aos populares.

Então Marie se deparou com o garoto com quem ela havia se chocado mais cedo. Ele estava com a morena que havia sido grossa com ela. Mas supôs que o menino não iria notá-la, então passou direto por ele, fingindo não percebê-lo também.

- Nem fala mais com quem esbarrou hoje? Que falta de educação...

Ela se virou assustada e viu que ele tinha mesmo a notado. "Que coisa", pensou.  

- Ah... Nem percebi você, desculpe - ela mentiu, um pouco ruborizada(o garoto era bonitinho!). - Sinto muito por hoje mais cedo...

A campa tocou.

- Daqui a pouco a gente se fala, ok? - ele disse, piscando pra ela.

- ... Tá. - Marie fez.

A garota de cabelos negros olhou feio para ela e foi embora com o popular.  "Acho que aqui vai ser difícil fazer amigos", Marie pensava, andando pra sala 1-C.

Chegando lá, notou que todos já estavam sentados, e haviam ocupado todas as carteiras. Foi buscar uma na outra sala, mas quando voltou, acabou tropeçando no pé de um engraçadinho e caiu no chão com a carteira, que quase quebra. Todos riram. Marie se levantou do chão e avistou o garoto popular, que também ria, junto com a morena (que estava com um sorriso desdenhoso). Suspirou e foi até o fundo (onde tinha espaço), colocou a carteira no chão e sentou nela.

As aulas que seguiram passaram devagar para Marie, que nunca viu matéria mais chata que os povos greco-romanos. Quando achou que nunca mais ia sair dali, tocou a campa do intervalo. Decidiu que não ia ficar sozinha e se pôs a chegar perto do grupinhos e puxar assunto.

- Oi! - ela disse aos populares com um sorriso contagiante. - Gostam de qual esporte?

Mas eles a ignoravam, como se ela fosse invisível. Falavam sobre como ela era esquisita.

- E ai? - Marie falava com os indies - Qual a boa?

Mas ninguém prestava atenção nela, só falavam sobre como ela era estranha para eles. 

- Oi - ela dizia, desanimada, aos emos - quanto você acha que custa um veneno?

Mas eles nem se interessavam, só choravam porque ela não era exatamente como eles.

- Hello - disse ela aos rockers - qual a melhor banda pra se escutar?

Idem aos populares.

- Klóngin mogin - ela disse aos esquisitões - Alam fiotum grabieeen?

Idem aos indies.

"Ai, já vi que vou ficar sozinha mesmo. Que saudade dos meus amigos!" pensava ela, tristemente. E foi se sentar sozinha na mesa do canto da cantina.

De longe, uma garota de olhos acinzentados observava Marie.