Hospital Beds escrita por Saturno


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

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O teto extremamente branco me fez suspirar, extremamente cansada. Cansada Bem, cansada de absolutamente nada.

Não havia muito o que fazer em uma cama de hospital, exceto por olhar pela janela ou para o lado, onde um cara dormia tranquilamente.



Eu não o conhecia, e nem ele me conhecia. Mas, às vezes, conversávamos sobre alguns assuntos, como a comida péssima do hospital ou sobre as nossas doenças incuráveis. Era divertido, afinal.

— Como está se sentindo? — questionou alguém ao meu lado, percebi que o homem não dormia mais.

— Sonolenta. E você? — perguntei. Eu ao menos sabia seu nome.

— O mesmo — disse ele, sorrindo.

Eu nunca parei para observá-lo, mas dessa vez olhei atentamente seu rosto. Ele estava pálido, suas pálpebras pareciam cansadas e sua boca pequena seca. Ele tinha cabelos castanhos curtos.

— Eu nunca vi alguém te visitar — comentei, de repente, sem ao menos perceber. Maldita boca grande!

Ele olhou-me por alguns segundos e, em seguida, sorriu tristemente.

— Eu não tenho muitos amigos ou familiares. Eles nem sabem que estou aqui — respondeu baixinho.

— Ah… Bem, eu também não tenho ninguém. Antes eu tinha até mesmo pena por mim mesma, morrer sozinha… Dá pena, não dá?

— Eu prefiro morrer sozinho, você sabe, é melhor do que ter alguém chorando por mim e sofrendo também — disse ele, sorrindo novamente.

Me perguntava como ele conseguia sorrir. Nós éramos pacientes em estado terminal, não tínhamos cura e nem mesmo um pingo de felicidade dentro de nós. Só tínhamos… Sim, ele tinha a mim e eu a ele. Não era muita coisa, mas já era algo.

Eu não sei o motivo, mas gostava dele. Era incrível seu sorriso, apesar do rosto abatido. Sua voz era tão calma, até mesmo pensei que ele estava ali para me acalmar.

As médicas daqui não eram muito receptivas, reclamavam mais do que nós, até mesmo as psicólogas eram irritantes. Por este motivo, era bom ter alguém para trocar um “bom dia”. A pior coisa era saber se aquele “bom dia” seria o último ou se ainda viriam mais.


Não há nada para fazer aqui
Tudo é mentira e reclamação
Na cama de um hospital
Vindo e indo
Adormecendo e acordando
Na cama de um hospital


— Você acha que existe paraíso ou inferno? — questionou ele.

Sentei-me na maca nada confortável. Os barulhos das máquinas eram extremamente irritantes, mas, talvez, apenas talvez, eu já havia me acostumado e me alegrado por eles, pois significavam que estávamos vivos, ainda.


— Acho que não. Acho que quando morremos… Não sei, deve ser escuro, só isso. — respondi, receosa.

Apesar de parecer melancólico, nossas conversas eram tranquilas. Talvez já nos convencemos que a morte viria, uma hora ou outra, ela chegaria ou não estaríamos nesse quarto, com aparência deplorável e sobrevivendo a base de remédios fortes e cirurgias perigosas.

— É, acho que sim. — sussurrou.

Não tivemos oportunidade de conversar mais, pois uma enfermeira apareceu com nossos remédios. Logo estávamos em um sono profundo, por algumas horas.

Eu não sabia seu nome e nem o porquê de estar aqui. Mas eu sabia meu nome e sabia que estava aqui devido a uma doença rara e sem cura. Eu sempre soube que morreria cedo demais, talvez eu esperava morrer ainda criança, mas a vida me deu mais alguns anos e eu não os aproveitei sabiamente.

Pela noite, eu não conseguia abrir meus olhos, mas eu ainda escutava o barulho dos aparelhos. Bip… Bip… Bip… Bip…

Bip…Bip… Bip…


Bip… Bip…


Bip…





O que significa aquilo? Eu estava morrendo? Eu estava morta?


Tudo pareceu extremamente confuso, ouvi vozes, mas não conseguia escutar os barulhos da máquina. Por quê eu não conseguia?

Os barulhos estavam tão distantes…

Eu tenho um amigo
Deitado do outro lado
Eu não o escolhi
Ele não me escolheu
Nós não temos chance
De recuperação



A vida é imprevisível, talvez as cartomantes saibam o que pode acontecer, talvez bruxas tenham consciência. Mas, normalmente, não sabemos o que poderá acontecer. Nunca sabemos.

Naquele dia ensolarado de verão, acordei sozinha. Não havia ninguém ao meu lado, ninguém nas minhas costas e ninguém na minha frente. Não havia “bom dia”, não haviam sorrisos e nem conversas tranquilas. Não haviam nomes e nem barulhos de máquinas.

Isso até algumas horas.

Adormeci por um tempo pela tarde e, quando acordei, havia uma mulher negra ao meu lado, chorando baixinho.

— Como está se sentindo? — perguntei a ela.

— Eu não quero morrer — murmurou.

Sorri, tristemente. As camas de hospitais eram geladas, miseráveis e solitárias.

Nós não temos chance
De recuperação
Deitados em hospitais
Felicidade e miséria


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Notas finais do capítulo

Bem, eu tentei. Me digam o que acharam!



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