Um Estudo em Fanfictions escrita por Mrs Neko


Capítulo 9
9. De Mãos Dadas


Notas iniciais do capítulo

Feliz ano novo!! Prometi que a fic não seria abandonada, não foi? Posso até tardar, mas enquanto Deus me der saúde para limpar minha casa, trabalhar, cuidar da família e procurar vagas para "autora de fanfictions" no jornal Amarelo, não vou desistir!!

Antes de mais nada, gostaria de, novamente, me curvar e pedir desculpas pela demora, pelos motivos explicados nas notas do capítulo anterior, e de agradecer a Violet Laufeysson e Lucif Constante pelos likes, Thami Johnlocked e Amy Pond pelos "follows", e James Martins Cumberbatch pelos comentários. ♥

Este capítulo em específico é uma tentativa frustrada de fazer uma songfic com a adorável música de Nando Reis, De Mãos Dadas. Áudio em https://youtu.be/rbRcX9TX9pY, referências nesta imagem, http://www.zerochan.net/1526626, da fanartista Madtenka, do DeviantArt.

Outra coisa importante: por favor nunca se esqueça nem tenha vergonha de chamar a atenção para quaisquer erros de Português que você encontrar pelo caminho!



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Sherlock dava voltas e mais voltas em torno da cena do crime arruinada pela chuva, com a fúria, contida à força, de um leão enjaulado.



A decepção de ver um assassinato interessante em potencial totalmente lavado pela precipitação ácida era ainda pior do que as semanas de tédio, trancado no apartamento, com John e a sra. Hudson pisando em ovos, assustados como carneirinhos, com receio que o detetive destruísse a própria casa a tiros, novamente.



Para que tanto medo inútil? Afinal de contas, o que eram alguns buraquinhos na parede, frente ao jogo desestressante de Moriarty, que incluía explosão de pessoas e residências, fugas de prisões em massa, incitação ao suicídio, sabotagem de julgamentos e etc...?



E o que era um assassinato interessante, depois de um vendaval? Sinais de luta, lama, objetos do perpetrador e da vítima, miríades de detalhes; tudo ia embora, sob as torrentes da tempestade, e das pegadas dos curiosos, e dos policiais que os seguiram, pisoteando tudo que restava como uma manada de búfalos.



Era tão frustrante. Ter um limite, uma barreira de bruma molhada, um bloqueio intransponível ao tempo que seus olhos alcançavam, calculavam, enquanto seu palácio mental reconstituía o homicídio. Se ao menos não houvesse os passos pesados e destruidores dos curiosos e dos outros pedestres, se ao menos houvesse uma evidência, uma única, por menor que fosse, ainda que fosse menor que...



Um espirro?



Um espirro. De John. Pobre John, sua jaqueta cáqui não servia como capa de chuva nem para um bebê, que dirá para um homem com mais de quarenta anos, friorento e acostumado ao clima escaldante do deserto. Uma imagem que enternecia o coração do consultor investigativo, um homem pequenino e exausto, os olhos azul-petróleo nublados de exaustão sob profundas olheiras, os lábios finos trêmulos, o corpo todo encolhido incapaz até de ficar tenso, tentando inutilmente achar um lugar tranquilo e seguro para analisar o cadáver, enquanto sua mente e seus olhos, cansados de um dia de trabalho no hospital, só eram capazes de perceber características que Sherlock já notara, à primeira vista.



Um motivador adorável como sempre, porém inútil contra três causas mortis possíveis e nada menos que 21 métodos de assassinato que poderiam apresentar o mesmo aspecto.



E em poucas horas ele poderia ficar doente e incapaz de acompanhar Sherlock no trabalho. Isto era ainda pior que um caso não solucionado. Um caso sem John era uma história sem final feliz - como sua vida quase tinha acabado, antes de conhecer o médico. Sherlock era incapaz de trabalhar, de pensar, de funcionar, sem o esposo por perto.


O consultor aproximou-se com o silêncio de um fantasma e a cautela de um felino, enquanto fingia total concentração no ato de tirar uma luva, imperceptível até mesmo para o marido que se levantava devagar, e com a mão nua, colocou a mão do pequeno loiro no bolso de seu sobretudo.



Um rubor sutil coloria as bochechas de John. Gratidão, amor, calor e conforto, distrações adoráveis que o detetive, sempre um arguto observador, não reparava que estavam também no próprio rosto, já que sua mente se ocupava com o plano de levar Watson ao Angelo's, onde poderia alimentá-lo com alguma massa com especiarias do amigo ex-assaltante, roubar uma ou duas garfadas para prevenir o organismo do desagradável contratempo de um desmaio (lamentavelmente seu corpo já não era o mesmo da juventude), e terminar de aquecer o esposo com vinho.



E depois, caminhando de mãos dadas, no abrigo morno da companhia um do outro, ambos estariam prontos para mais uma jornada de trabalho.



*******



John foi arrancado do caminho de volta do trabalho por uma mão longa, nervosa e ossuda, com uma força que a aparência não denunciava, mas era bem conhecida. Sherlock, como sempre, localizou-o e o arrastou, em menos de cinco segundos, para um táxi no meio da avenida.



Tão inescapável quanto o aperto em sua mão e pulso, era a adrenalina hipnótica na deliciosa voz de barítono. A situação que Holmes descrevia, cada vez mais rápido, como se sua língua fosse incapaz de acompanhar o ritmo vertiginoso do cérebro hiperativo, era realmente macabra; no entanto, o investigador falava do assassinato "interessante" em que Greg Lestrade solicitava consultoria com a excitação de uma criança prestes a abrir um presente de Natal.



Não era improvável que o ex-médico militar acompanhasse o marido ao encontro de um louco homicida, de um serial killer, de uma organização criminosa, ou do próprio Moriarty. Porém, nenhum cenário de morte, tampouco nenhuma batalha, seriam suficientes para assustá-lo, enquanto ele segurasse aquela mão decidida, a presença reconfortante de um corpo frágil e uma alma forte, a mente sábia e arguta do homem que ele amava, que lhe dava um tesouro para proteger, uma causa para lutar.



John podia enfrentar o Universo, pelo privilégio de segurar aquela mão.



Quando o enigma - os restos de um jovem infeliz no meio-fio - apresentou-se diante do casal, Sherlock, curioso e elétrico, soltou Watson, rompendo um pouco da conexão íntima entre eles. Mas John observava, da maneira quieta e tranquila que os anos lhe ensinaram a admirar melhor o amado, e podia perceber, como se iluminado por alguma empatia irresistível, as emoções de Holmes, invisíveis para os yarders que não se cansavam de ofendê-lo ou chamá-lo de aberração.



Em todos aqueles movimentos lindos, rápidos, fortes, hiperativos, que o soldado nunca se cansava de olhar, era possível, para seus olhos e seu coração, sentir o misto de expectativa, ânsia e frustração que movia Holmes. John gostava de compará-lo com algum predador da natureza, glorioso, implacável, insaciável, bem focado em sua presa.



Escassez ou contradição de pistas jamais o desencorajavam, no entanto, o detetive consultor parecia dolorosamente decepcionado consigo mesmo, por se encontrar incapaz de juntar as peças do quebra-cabeça, da maneira que se encontravam, espalhadas ou lavadas pela chuva forte.



Tão forte e, mesmo assim, o médico distraído esqueceu-se de pegar o guarda-chuva em seu armário no hospital. Era bobagem praguejar contra o derramamento generoso e teimoso do céu, que entrava pela gola levantada de sua jaqueta, em caminhos sinuosos, lentos e certeiros, congelando o corpo pequeno, acostumado a resistir a tempestades de areia.



Para achar algo melhor com o que ocupar a mente, o doutor resolveu seguir o exemplo do esposo e procurar evidências no cadáver. Não foi uma ideia sábia nem útil; o exame visual era insuficiente para saber a causa mortis; e tudo o que restava do rosto do rapaz morto lembrava, com uma fidelidade assombrosa, um retrato em um dos arquivos do escritório de Mycroft Holmes, motivo de uma briga entre os irmãos, que só parou quando John foi a Vauxhall, buscar o esposo, no local de trabalho do cunhado.



Não era nada confortável caminhar sob os ângulos de visão do Governo Britânico.



E lembrar desse desconforto atrapalharia ainda mais o artista da Dedução. Para tirar a mente do mais alto deste caminho, o pequeno médico tentava conversar sobre os possíveis detalhes da morte da vítima. Sherlock detestava repetições, e sem dúvida sua mente já havia percorrido os caminhos das palavras de John, milhares de vezes. Mesmo assim, por alguns segundos breves, o moreno lhe dirigiu um olhar claro e generoso, expressão do alívio, deleite e conforto que tinha em compartilhar seus pensamentos com o biógrafo. O alívio depois de uma vida inteira tendo apenas um crânio para compartilhar seus pensamentos.



Watson amava a sinceridade e a paz daquele olhar, embora não entendesse porque o esposo acreditava ser a parte mais afortunada do relacionamento. Enquanto o mais novo tinha a sorte de ser abençoado com vários talentos - não apenas o seu intelecto quase sobrenatural - o médico se sentia apenas um homem comum e imperceptível, um soldado ferido e azarado.



Que bom que ele havia conhecido Sherlock Holmes, o homem de quem absolutamente ninguém podia passar despercebido.



Um homem que agora parecia olhar intensamente algum ponto fixo, que John podia prever quase exatamente qual era. Tudo o que ele conseguira reconstituir da cena do crime agora movia-se, com sintonia e velocidade imensuráveis, em seu palácio mental.



O loiro encharcado sentia-se grato por ser o único capaz de mais do que perceber, entender esta cena. Era adorável ver as mãos de artista, tensas, simetricamente juntas, como em oração; os olhos azuis quase transparentes, brilhantes, acesos, nervosos, com o turbilhão dentro da mente por trás deles, a luz dos postes da rua refletida nos cachos escuros, como uma aura mística e misteriosa.



A chuva noturna, que encharcava, e pouco a pouco congelava o mundo, não parecia ter qualquer efeito sobre seu marido, além de deixá-lo ainda mais bonito. Mas antes que John pudesse se perder ainda mais em seu maravilhoso objeto de contemplação, seu corpo quis lhe dar um lembrete de que, ao seu incômodo cansaço, logo logo se juntaria um medonho resfriado.



Desalentado, o médico levantou-se devagar, olhando a rua triste em volta da cena do crime, numa busca inútil por abrigo. Não havia nada, num raio de vários metros, para usar como proteção além da jaqueta, com a única exceção possível de um caixote.



Até que de repente, uma proteção providencial o alcançou, com um calor inesperado e gentil, um revigorante que se espalhava por seu corpo, a partir da mão que Sherlock segurava furtivamente, para colocar no bolso do casaco.



E a partir daquela mão, o investigador segurava o marido cada vez mais perto, com uma tranquilidade morna, como se andar discretamente aconchegado em John fosse a coisa mais natural do mundo.



E sempre seria, enquanto ambos estivessem vivos, para desfrutar da companhia, do amor e da proteção um do outro.



Esquecido do cansaço e do frio, Watson sorriu para si mesmo, e apertou delicadamente a mão de Sherlock, antes de passar o braço em volta da cintura do mais alto. Era fácil e prazeroso sentir que ele esquecia todo o nervosismo e frustração.


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Notas finais do capítulo

Alguém já conseguiu assistir o especial de Sherlock? Está a fim de me dar spoilers? Se não, qual a desculpa mais apropriada para fazer você comentar? =D



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