Um Estudo em Fanfictions escrita por Mrs Neko


Capítulo 3
3. Bom Dia


Notas iniciais do capítulo

E depois do medonho quase-thriller do capítulo passado, que tal iniciar um dia ao sabor de fluffy?
E para o clima ficar ainda mais caseiro e gostoso, recomendo um pouquinho de "música de fundo", a deliciosa canção Banana Pancakes, do cantor havaiano Jack Johnson. Ouça em: https://youtu.be/OkyrIRyrRdY
PS: não está revisado nem betado, então quem ver erros de ortografia, por favor, não tenha vergonha de me avisar!



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Greg estacionou o sedan ao meio-fio da rua Baker, sem saber se amaldiçoava o trânsito hiperativo já àquela hora da manhã, ou se procurava forças para descobrir a fonte da resistência impossível do carro batido e do próprio corpo exausto e cheio de escoriações depois de virar a noite trabalhando, pela enésima vez.


O policial desejou, assim como Mycroft, saber vários idiomas, para xingar os responsáveis por aquele maldito triplo assassinato, com toda a ênfase que a psicopatia hedionda deles merecia, e com a mesma necessidade profunda com que o infeliz Lestrade ansiava por passar 48 horas seguidas numa cama quente e macia.


No entanto, em algum dia distante e irreversível de sua tola e ingênua juventude, ele havia escolhido tornar-se um yarder, [1] estudou e, ao fim da árdua permanência na academia, recebeu seu distintivo, e agora, ao invés de perder tempo na ilusão de defender civis inocentes e indefesos, o belíssimo homem grisalho subia as escadas do pequeno conjunto de apartamentos no número 221, em busca do único maluco capaz de achar diversão na meia dúzia de pistas absolutamente contraditórias, que o desafortunado homem da lei precisou praticamente flertar com a morte para pôr as mãos.


Na pior das hipóteses, ele ainda podia tentar juntar alguma energia para extravasar toda a frustração pela noite medonha, e repreender fervorosamente a sra. Hudson e seus inquilinos pelo descuido de esquecer a porta do prédio aberta. Com o bônus de um café do Speedy's.


A fúria do infeliz detetive-inspetor cresceu, até quase tornar-se uma explosão, quando a porta do 221B cedeu suavemente às suas mãos cansadas, após os moradores ignorarem a campainha, por várias e várias vezes. Definitivamente ele agora sentia muita inveja da noite tranquila que seu bom amigo certamente passara no pub, a ponto de chegar em casa bêbado o bastante para esquecer-se de algo tão infantil. E ainda mais vontade de socar o seu magrelo e desbocado consultor.


No entanto, toda a sua ira se desvaneceu quase com a mesma velocidade que chegou perto de incendiar o pequeno flat, diante da cena quase meiga na sala de estar.


Uma bacia de pipocas quase vazia, duas xícaras vazias, com a mancha escura, redonda, do chá que as havia enchido, sobre a mesa de café. O escabelo que usualmente ficava diante da poltrona de John estava perto do sofá bege de couro, apoiando as longas pernas de Sherlock, que dormia a sono solto, enroscado no usual roupão de seda azul-royal, num cobertor felpudo de xadrez vermelho, e num aperto possessivo dos braços longos e fortes, em torno dos ombros e da cintura de John, o corpo pequenino oculto sob a metade do cobertor, pijamas, e um dos usuais blusões de lã, e ainda mais adormecido que o companheiro, cuja cabeça abrigava em seu peito.


Era uma pena que aqueles dois tontos precisavam ficar inconscientes para perceber e demonstrar o que sentiam um pelo outro. E ao invés de fotografar o quadro diante de si e enviá-lo para o Governo Britânico, para sua equipe, ou para qualquer outra pessoa, Gregory resolveu tomar uma atitude mais digna: foi até a pia, pegou uma panela e uma colher e bateu-as vigorosamente até os dois dorminhocos acordarem.


A visão cômica de Sherlock Holmes, saltando descabelado e tomado de pavor como um gato escaldado, era a melhor coisa que havia ocorrido ao paternal grisalho, desde vários meses. E como tudo que era bom, durou pouco. Depois de perceber que seu oponente não era nenhum psicopata, tampouco um terrorista, mas um policial armado com uma panela e uma colher, o detetive realizou o anseio do mais velho de xingar alguém - porém não os assassinos - em vários idiomas. O pobre médico, ainda grogue, acordou devagar com os berros do amigo.


– Ah, bom dia, Greg. - bocejou o loiro. - Sabe, ontem à noite estava passando uma maratona de Star Trek. Venha assistir com a gente, semana que vem...


– Nem venha com essa, John! - o investigador felino negou veementemente com um gesto amplo. - Gavin quase nos matou de susto, e você ainda vem com essa história de também forçar ele a assistir aquele seu programa chato?!


Star Trek não é chato! - a resposta retrucada vinha com os pulsos cerrados do combatente, e a testa franzida e o bico infantil que o pequeno doutor sempre fazia, inconscientemente, quando estava bravo.


– Nisto eu concordo com o John - Greg tentou intervir para engolir o riso diante do misto entre discussão infantil e briga de casal apresentado por seus amigos.


– Tão chato que eu dormi - e foi a vez do jovem Holmes bocejar.


O ex-soldado apenas revirou os olhos, sua paciência praticamente infinita o inibia de bater no consultor investigativo. Os sons preguiçosos dos seus passos e movimentos ecoavam pela casa diminuta, junto com o cheiro quente e aconchegante do Earl Grey com que o rapaz menor pretendia iniciar mais uma manhã cotidiana, a despeito do despertador inusitado.


O perfume e o calor do chá se irradiaram pelo apartamento de uma maneira que fez Gregory sentir a boca cheia d'água, e perder o fio da narrativa do caso da noite passada, e por pouco, o interesse do companheiro de investigações. Era muito provável que, ao conhecer John, Sherlock tenha deduzido as habilidades domésticas do azarado veterano de guerra; e planejado usar o pobre como empregado ou, nas próprias palavras, "assistente pessoal residente".


Lamentavelmente, seu estômago não sabia demonstrar a mínima dignidade diante da maneira vergonhosa que o mais jovem fazia para aproveitar-se do amigo, que vinha acordá-los definitivamente com uma bandeja carregada com um generoso café-da-manhã inglês: bacon, ovos, torradas, pães amanteigados (os derivados do trigo tão amanhecidos e requentados quanto bem-vindos!), e o proverbial chá.


Oh, céus, ninguém no mundo fazia um chá tão delicioso como John. Devia ser algum dom sobrenatural, não havia qualquer outra explicação.


– Vamos tomar um café? - ele ofereceu com o típico e pequenino sorriso meigo.


– Podem comer enquanto eu me arrumo - o moreno levantou-se e, ato contínuo, tentou escapar - , serei bem rápido. Até que enfim você me trouxe um caso interessante Gavin, eu não o perderia por nada!!


– Nada disso!! - Watson ordenou em sua voz de Capitão, tão assustadora quanto o baque da bandeja sobre a mesa de café. - Nem pense nisso, mocinho!


– Mas, John! Comer me deixa-


– Lento você vai ficar se passar mal de fome e for um alvo fácil pra algum maluco na rua! - a diferença de altura ficava cada vez menos evidente, à medida que a voz rouca perdia a doçura usual, e um dedo caloso e queimado pelo sol do deserto se enterrava no peito do detetive. - Deus sabe quantos dias você pode passar distraído com um caso, vivendo à beira de café e nicotina! Então, William Sherlock Scott Holmes, antes que você se mate com seu precioso Jogo, sente-se e tome seu café-da-manhã!!


O beicinho infantil que o investigador felino fez podia ser, tranquilamente, comparado com uma tromba de elefante. No entanto, tudo que ele fez foi voltar ao sofá e obedecer em silêncio.


Greg sorriu para a xícara, diante dos desfechos inesperados da associação do jovem não-sociopata e do médico não-traumatizado.


Nada melhor que uma refeição deliciosa e uma cena hilária de briga de casal para começar um bom dia.



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Notas finais do capítulo

1. Yarders: uma gíria usada pelos britânicos para chamar os policiais da New Scotland Yard.
2. Oba, John é um garoto trekkie!!!! :D (E Sherlock é um misto de grumpy cat e Mr. Spock, :v kkk parei)
3. Este capítulo ficou na minha cabeça por dias a fio, estou super cansada, mas só consegui escrever agora. :'( Ou seja, o semestre acabou de começar, e eu preciso desesperadamente do seu amor em caixinhas! Trekkers e Sherlockians, vamos nos dar as mãos, nos unir, abraçar, emocionar e... comentar! Por favor...! Até a próxima, e que a Força esteja com todos nós!



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