Seguir em Frente

Três semanas haviam passado desde o dia que sua boca maldita havia afastado a única pessoa que ele podia considerar uma amiga. A única pessoa que realmente se preocupou com ele em algum momento de sua vida. Sua boca maldita, suas palavras malditas, seu comportamento maldito.

Por três semanas ele tentou de todas as formas conversar com ela, pedir desculpas, implorar de todas as formas, mas era impossível. Ela não queria saber de suas estúpidas desculpas. E isso doía, doía tanto como se fosse um cruciatus em seu peito, porque ela havia desistido dele. As férias de verão iriam começar e logo estariam de novo em casa, mas em Cokeworth seria mais difícil encurralá-la. Em Hogwarts talvez ele teria mais chances, só lhe bastava tentar, desde que o Potter não ficasse em seu caminho.

Mas finalmente o destino lhe sorria. Primeiro ele ouviu o som de conversa, e depois o som claro e límpido da risada que ele mais amava ouvir no mundo. Ela estava próxima, provavelmente saindo de alguma reunião dos monitores devido à hora já tardia. Andando silenciosamente ele pôde avista-la se despedindo de uma colega monitora da corvinal e então seguindo para a sua própria torre. Aproveitando as sombras ele apertou o passo para alcança-la e delicadamente a pegou pelo antebraço.

–Lily, espere. Por favor. – A ruiva se sobressaltou ao toque e a voz baixa do rapaz e sacou a varinha. Era irritante como ele conseguia andar pelos corredores sem fazer um único barulho.

–Severus, você me assustou.

–Desculpe. Não queria te assustar, apenas falar com você. Por favor, nós podemos conversar?

–Não, não podemos. Você já disse tudo o que você tinha a dizer e eu estou cansada disso Severus. Nós já conversamos e eu deixei bem claro o que eu achava então estamos terminados.

–Não! Não Lils , eu não quero perder a sua amizade, por favor.

–Sev, você já perdeu – Lily respondeu baixo, com a voz cheia de magoa.

Respirando com dificuldade e percebendo que definitivamente não iria convencê-la, Severus passou para o plano “tomando medidas drásticas”, segundo firmemente ela pelo braço a arrastou até uma virada do corredor e a empurrou por uma porta.

–Experliamus!

–O que você está fazendo?!

–Garantindo que você me ouça.

–Me desarmando?!

– Me prevenindo!

– Isso é um armário de vassouras?

– E vamos ficar aqui até você me ouvir. – o som do trinco bloqueando a porta pode ser ouvido junto ao murmúrio do feitiço nos lábios de Severus.

–Ok – Lily suspirou pesadamente. _ Vá em frente, discurse. Não vai me convencer.

– Apenas escute e pense ok?

– Desenvolve Sev, minha paciência com você já terminou a séculos.

–Eu não queria dizer aquelas coisas horríveis para você na frente de todos. Eu estava nervoso, e ... Potter e aquele bando de seguidores dele, você viu o que eles fizeram!

– Esse é o problema Severus.Isso não é uma justificativa, o fato deles serem horríveis com você não te dá o direito de atacar a única pessoa que tentou te ajudar!

– E é por isso que eu quero te pedir desculpas.

–Não , você não quer me pedir desculpas. Você quer justificar seus atos para que eu os aceite. E eu não vou aceitar Severus. Eu cansei. Ninguém entende porque eu continuo conversando com você, por que eu me dou ao trabalho de me importar se a cada vez você acaba me atacando.

–Não, Lily ...

–Pare. Apenas pare. É você quem vai ouvir agora por que eu não aguento mais esse looping eterno em que você sempre aparece com essas desculpas e justificativas furadas. Então pare e abra bem os seus ouvidos para o que eu vou te dizer. Nós acabamos agora!

–Não!...

–Acabamos! Eu não sei, se entendo e não aceito, ou se aceito e não entendo, mas eu pensei sobre isso e eu sei que a sua necessidade de se provar digno dos preceitos da sua casa e dos tão esnobes e preconceituosos membros dela é o que move você a agir dessa forma. Os ditos “amigos” que você tem, não me incluem mais.

–Lógico que incluem, você é a única ...

– Se eu fosse a “única” você não me atacaria como me atacou naquele dia. Eu defendo você, mas você nunca me defendeu dos seus amigos preconceituosos que odeiam nascidos trouxas e querem seguir aquele bruxo perverso que está conseguindo cada vez mais poder. Se eu fosse a “única”, você estaria do meu lado. Mas o seu desejo de se encaixar com os “puros sangues” é mais forte Severus. Então, infelizmente nós vamos nos afastar. Você seguirá seu caminho, e eu vou seguir o meu. E eu espero, realmente espero Severus que você tome cuidado e saiba pensar e escolher suas companhias. Você foi importante pra mim, vai ser sempre uma parte da minha vida, mas ... é nocivo me preocupar tanto com uma pessoa que não se preocupa comigo.

– Mas ... eu me preocupo com voc...

–Não! Não se preocupa. Se você se preocupasse você não me magoaria como fez. Durante todo esse ano, o seu desejo de se encaixar em outros grupos foi nos afastando cada vez mais, e agora foi o ápice. Você não tem mais que me procurar nas aulas ou na biblioteca para estudos, a partir de agora vou permanecer com meus outros amigos. Simplesmente siga seu caminho Severus e eu seguirei o meu. Mas... vou guardar sempre comigo os bons momentos que tivemos juntos, quero que seja uma distância pacifica Sev, não quero que você se magoe e volte sua raiva contra mim, quero apenas que possamos nos distanciar em paz. Você fez suas escolhas, então agora eu faço as minhas. – Lily respirava com dificuldade e tentava não chorar. Ele fora seu amigo, seu grande amigo. Quem lhe apresentara todo aquele mundo de magia antes mesmo dela pisar em Hogwarts, e ela o perdera. E era o melhor. Seria o melhor. Desejariam boa sorte e seguiriam suas vidas.

Severus permaneceu alguns minutos encarando a ruiva a sua frente e processando tudo aquilo que ela lhe dissera. Ela não o odiava, pelo menos. Ela queria apenas se afastar. Mas doía, doía de qualquer forma. Mas ela estava certa, não? Ele não a defendia dos comentários preconceituosos daqueles que odiavam sangues ruins. Ele não a defendia para não se expor sendo ele próprio um mestiço. E ele queria tanto se encaixar. Fazer parte daquele seleto grupo de bruxos, crescer em poder, ser importante. Ela estava certa, e isso doía também, doía tanto quanto a distancia que ela queria impor a eles.

–Você... – Severus engoliu em seco, piscando para garantir que não havia nenhuma lagrima se acumulando em seus malditos olhos – Você está certa. Eu fui um péssimo amigo, mas eu não queria ... eu ... eu ... – Suspirou e respirou fundo tentando continuar – Eu gosto tanto de você Lils, eu acho que você é a bruxa mais inteligente e boa que eu já conheci e você está certa em querer se afastar. Já fiz mal o suficiente. Mas... tudo isso não impede de eu querer que você me perdoe e que possamos continuar sendo amigos ...

– Não vai acontecer Severus, não enquanto seus desejos esbarrarem com quem eu sou. Realmente, não é só você que está perdendo algo. Eu também estou perdendo você. Mas, é o que a minha mãe sempre diz quando algo do tipo acontece: “ A vida é assim, e assim é a vida. Pessoas vem e vão”.

Mudo. Sem ter mais o que dizer, Severus ficou ali apenas parado a olhando. Tentando gravar em seu cérebro cada mínimo detalhe da bruxa a sua frente. O tom exato dos olhos verdes, o vermelho escuro de seu cabelo, as pequenas sardas que cobriam seu nariz, a simetria perfeita do rosto, a boca cheia e rosada.

–Vamos acabar logo com isso Severus, abra a porta. Devolva-me a varinha, vamos embora.

Severus apenas movimentou a cabeça concordando, e antes que ele lhe devolvesse a varinha com um rápido movimento se aproximou e ligou seus lábios aos de Lily. Pega desprevenida, a ruiva ficou apenas parada enquanto sentia os lábios frios de Severus sobre os seus. Não houve mais, apenas o simples toque de lábios contra lábios e a rápida reação de Severus. Em um segundo, a varinha da grifinória estava na palma de sua mão e a porta do armário de vassouras escancarado. Em um instante Severus estava lá, no outro ele havia partido, andando rápido pelo correr, sem olhar para trás.

Se olhasse para trás, não conseguiria nunca seguir em frente.