Três Tempos escrita por Opelon


Capítulo 1
Três Tempos.


Notas iniciais do capítulo

Admito que essa one saiu num surto de inspiração louco e totalmente sem noção.

Na verdade, eu já estava escrevendo outra fanfic para o desafio, mas travei em um ponto e não consegui sair dele até agora SHASUAHUSAHSUAHSAU


As palavras repetidas foram propositais. Sla, gostei delas assim

Bom, nos vemos lá embaixo o
Eu acho ;-;



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Luke odeia se olhar no espelho ao acordar. Odeia ver seus caracóis negros e olhos escuros. Odeia ver as cicatrizes que lhe desfiguram o rosto.

Havia coisas que Luke amava e havia coisas que Luke simplesmente odiava.

Porque tem o antes, o agora e, consequentemente, o depois.

O antes fora cruel.

Luke amava correr pelo parque que havia perto de sua casa. Amava sentir o vento sobre si; amava ver as crianças correndo pelo parque, despreocupadas com a vida. Amava ver o chacoalhar preguiçoso das árvores

Os dias frios eram seus favoritos. O céu cinzento dava a ele a desculpa perfeita para se esconder sob toucas e capuzes. Usava nesses dias cachecóis tão escuros quanto seus cachos e as pessoas simplesmente o ignoravam. Seus moletons eram grandes e grossos porque ele amava se sentir confortável.

Entretanto, da mesma maneira que gostava do frio, detestava os dias quentes, onde era obrigado a usar camisas e shorts, sentindo-se exposto. As pessoas olhavam para ele de esguelha quando passava por perto delas, com olhares acusadores. E ele apenas as ignorava. Nesses dias, enquanto sentia sua camisa grudar na pele pelo suor provocado pela corrida, ele via as crianças coradas e esbaforidas pelo calor.

Luke amava coisas doces. Nada no mundo tiraria a certeza dele de que chocolate quente, balas de alcaçuz e biscoitos recheados eram a melhor coisa do mundo. Aquilo o animava em dias tristes.

Luke odiava coisas amargas e salgadas. Não sabia como as pessoas preferiam café a um bom chocolate quente, ou como preferiam aquelas bolachas de água e sal sem graça do que um biscoito de chocolate. Elas eram loucas.

Trabalhava numa pequena loja de móveis antigos (outra coisa que amava; a antiguidade) e mesmo que a loja vivesse às moscas, ele limpava e lustrava os móveis todo santo dia. Não havia espaço para poeira ali e, mesmo que a chefe brigasse sempre com ele e com sua mania de limpeza, Luke apenas dava ombros. Odiava a sujeira e a desorganização com fervor.

Naquele tempo, o homem pensava em dar aulas de história às crianças que ele tanto amava. Era unir o útil ao agradável, no final das contas. Sempre fora uma pessoa curiosa e, em seus tempos de escola, um dos melhores alunos de história de sua sala. Não que não fosse bom em outras matérias, no entanto, era nas aulas do professor barrigudo e de bigode engraçado que ele se sentia a vontade de explorar o mundo e seus mistérios.

Para falar a verdade, Luke não era exatamente bom em algumas matérias, como a Matemática, por exemplo. Por Deus, aquela matéria era um inferno! Seu castigo pessoal. Como odiava aqueles números idiotas e fórmulas que ele nunca usaria na vida. Para Luke, não havia mistérios o suficiente ali para prendê-lo. Era tudo tão exato, tão convencionado que perdia a graça. Ele cursaria História, já tinha essa convicção desde jovem, portanto não precisaria tanto daqueles números bestas.

Era uma pessoa decidida, desde pequeno. Essa era uma das qualidades que mais apreciava em si mesmo. Não titubeava quando tinha que escolher algo ou quando se deparava com uma situação difícil. Isso o ajudou muito quando sua sexualidade floresceu. Não via problemas em assumir que se sentia atraído pelo mesmo sexo, assim como não via problemas em falar isso para seus pais. Fora ali que descobrira que a vida era uma rosa espinhosa. Seus pais, ao contrário do que pensara, não o aceitaram e muito menos apoiaram o garoto com então 17 anos. Sua mãe fora a que mais se negara a creditar. Ela era uma mulher religiosa e acreditava piamente que seu filho iria para o inferno. Descobrira, então, que não gostava de religião. Ele acreditava sim em Deus e tinha sua fé, mas ela era embasada em conceitos de justiça e amor. Nunca julgaria alguém apenas porque essa pessoa era diferente. Nunca.

Saiu de casa aos 18, finalmente livre de toda a repreensão e olhares enviesados que lhe eram dirigidos. Provou do sabor da liberdade e gostou. Aquilo era a coisa mais doce que já provara.

No ano seguinte havia sido aprovado no vestibular da faculdade que queria. Finalmente seguiria seu sonho! Aquele fora um ano agitado demais. Tivera que conciliar seus estudos com o trabalho e com as festas que ia. Naquele ano, desfrutou de beijos roubados, o primeiro namorado sério e de toda aquela coisa que só universitário faz.

Tinha 20 quando foi atacado. Nunca soube quem fora as pessoas que o machucaram que maneira tão brutal. Ele estava saindo da loja quando dois homens encapuzados o arrastaram e o encurralaram numa rua deserta. Tinham facas em mãos e seu rosto, agora, marcas. Ver seu sangue escorrer enquanto a sua pessoa eram declamadas ofensas e xingamentos a sua sexualidade foi a coisa mais repugnante que vivera. Pegou, ali, ódio pelo vermelho.

Seu rosto ficara enfaixado por semanas e quando suas feridas finalmente se fecharam, as marcas de sua alma e coração gangrenavam.

Nunca mais fora o mesmo. Se fechara para o mundo e abandonou a faculdade. Não lia mais Tolstói ou Austen. Não comia mais coisas doces, por que nem mesmos elas conseguiam o tirar da profunda tristeza e medo no qual ele havia entrado. Não corria mais, por vergonha de seu rosto marcado.

Essas coisas pertenciam ao passado do verbo “haver”: o “havia”

Mas agora, não havia mais nada.

O agora não foi caloroso

Luke agora não ama mais nada, tampouco odeia.

Ele é apenas alguém que vive no modo automático. Não ri, sorri. Não chora ou bufa. Ele vive, pelo menos é o que as batidas de seu coração dizem.

Luke agora só tem a loja de móveis antigos para se agarrar. Lustra os móveis e deixa tudo impecavelmente limpo, sem pó nenhum. Só que não há mais animação. Como já dito: ele está no modo automático.

As poucas pessoas que visitam a loja praticamente fogem quando ele atende-as. Lia, sua chefe, diz sorrindo que a culpa é de Luke por sempre deixar os móveis brilhantes. Segundo ela, coisas antigas tinham que estar empoeiradas simplesmente porque eram antigas!

Luke sente o peito se contorcer por fazer Lia perder os poucos clientes. Aquilo era o máximo que se permitiu sentir.

Agora ele não sai mais tão tarde da loja, com medo de que as pessoas que o atacaram voltem. Ele sente medo. Sai nas ruas com toucas e capuzes escondendo seu rosto; tem vergonha. Não ama mais seus caracóis ou seus olhos escuros. E as pessoas o encaram e não reparam em seus belos cabelos ou nos seus olhos misteriosos. Não, elas reparam em suas cicatrizes. Na forma disforme de seu rosto.

Ele se encolhe, com vergonha, com medo, com raiva. Não fala mais nada e o que antes era um jovem caloroso, agora é um homem tão frio quanto o tempo que amava.

Seus amigos não existem mais, apenas um celular cheio de contatos sobrou. Sua mãe não liga mais, e ele também não se importa.

À noite, no aconchego de sua casa, ele olha para as estrelas pela janela de seu quarto e imagina que ele é uma delas: brilhante, bonito e com outras inúmeras companheiras. Mas logo descarta isso, porque, no fim das contas, estrelas também morrem sozinhas.

Ele dorme abraçado a angústia, ao medo e, novamente a vergonha. Por tentar ser quem é, por não se importar com as coisas que lhe disseram, por tentar amar.

Acorda de seus sonhos inquietos e sai de casa apenas com uma torrada no estômago. Estava definhando, sabia disso.

O depois pode ser surpreendente.

Luke, que não amava mais nada, passaria a amar.

Aquele dia prometia coisas que o jovem não suspeitava ao trancar a porta de sua casa.

Ele não imaginava que na loja, Lia conversava animadamente com um jovem de cabelos claros e sorriso cativante para ser o novo vendedor da loja. A mulher não pretendia demitir Luke, longe disso. Apenas achava que Jay (como ele havia se apresentado) pudesse ajudar o homem carrancudo que trabalhava lá.

Luke obviamente não gostaria do loiro abusado em seu espaço de trabalho. Tampouco gostaria dos sorrisos ousados ou da fala irônica de Jay. Não gostaria das piadas idiotas e nem da forma como Jay parecia sujar tudo em que tocava, a chefe sabia disso.

E Lia estava certa.

Luke odiaria o menino porque ele era louco de cursar Matemática (que em sua concepção, seria o inferno novamente lhe dando um “olá” em forma de pessoa).

Ele não iria gostaria de Jay. Ponto.

Luke não admitiria as brincadeiras e nem as gracinhas para cima dele, iria ignorar todas. Iria ignorar também os olhos cegos de Jay e também a forma como ele, tão conciso de suas próprias escolhas, começarias a titubear sobre a sua de odiar o menino. A força de vontade do garoto não iria contagiá-lo.

O primeiro convite para sair seria feito numa sexta feira, no final do outono. Pedido que Luke ia negar, obviamente. A surpresa, portanto, seria grande ao ter sua boca o traindo ao aceitar o pedido do loiro azedo, como o moreno o passaria a chamar.

Jay iria saber que Luke não gostava de sair de dia, por algum problema relacionado ao seu rosto. Lia parecia não querer falar sobre isso ao garoto. Por isso, num sábado naquele mesmo final de outono, o loiro o levaria a uma pequena cafeteria que ficava perto de sua casa. O desgosto de Luke seria grande, ainda mais ou descobrir que não havia ali chocolate quente! Jay, que não entenderia nada, perguntaria ao homem o porquê de tanta revolta. E sua resposta seria simples: Luke não gostava de café e não acreditava nem um pouco que as bengaladas que Jay dava nele eram “sem querer”

Ali, ao cheiro de café forte, Luke descobriria que Jay amava animais e que Lady, seu cão-guia, estava de repouso por ter dado à luz a uns seis filhotes. Era ali também que, de maneira espontânea Jay levaria suas mãos ao rosto de Luke, alegando que precisaria conhecer a fisionomia do mais velho. Era óbvio que Luke não deixaria, mas Jay não se daria por vencido.

É claro que depois disso haveria outros encontros, um pouco mais de café e bengaladas na canela. Ficaria claro que o Luke estava, ao poucos, se abrindo para o mundo novamente. Seriam mudanças sutis, uma risada mal contida ali, um grito aqui e um pouco de doce nas madrugadas de inverno.
Luke se descobriria apaixonada por Lady (que havia virado sua escudeira oficial depois de o salvar das bengaladas Jay). Ainda não havia voltado ao ritmo de antes, mas era uma questão de tempo

Ainda teria medo de sair na rua de dia e nas raras vezes que o fazia, procurava ao máximo esconder o rosto. A noite ainda se sentiria sozinho, amedrontado.

Luke, que tinha tanta raiva de seu rosto, deixou Jay o conhecer alguns meses depois. A sensação das mãos cálidas sob suas cicatrizes era estranha e incrivelmente reconfortante. Ninguém saberia dizer que havia tomado a iniciativa, mas os lábios de Luke estariam sob o de Jay de uma forma brusca. E as mãos de ambos estariam trilhando caminhos perigosos pelo corpo um do outro.

Mas ao amanhecer de um novo dia, meses depois, Luke se sentiria disposto a enfrentar o mundo sempre que via Jay dormindo do seu lado, serenamente.

A relação deles seria complicada, cheia de gritos e idas e voltas. Luke não se permitia sair a luz do dia, ainda com medo, com vergonha. E Jay simplesmente não aceitava isso. Várias foram as vezes em que ambos se exaltaram, mas nenhuma fora a vez em que Luke o xingara.

O tempo iria passar e a presença de Jay ia ficar cada vez mais constante, assim como os beijos trocados atrás de um armário que Luke sempre limpava.

A vergonha ia perdendo espaço e Luke já mostraria o rosto por aí. Ainda andaria por medo. Por ele e por Jay, que sempre afirmaria que ele era lindo, mesmo não podendo ver.

No final de tudo, Luke voltaria a comer coisas doces, voltaria a faculdade e voltaria a correr. Ainda odiaria matemática, assim como odiaria o gosto de café nos lábios de Jay. Mostraria seu rosto ao mundo e ignoraria os olhares tortos, porque era como diria Jay:

O essencial é invisível aos olhos.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoinhas o
Eu revisei umas trocentas vezes, mas sei que ainda vai ter muitos erros, principalmente na terceira parte. Sério, odeio verbos no futuro ;-;
Nunca consigo trabalhar com eles direito ;-;

Então, o que acharam? Ficou confuso? Chato? Sem sentido? Legal?
Me digam, please *o*