Doce Atração escrita por Arthur Araujo


Capítulo 9
Capitulo Oito




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Ponho os fones de ouvido até que o avião está no ar, opto por dormir nas primeiras horas, quando eu acordar eu leio um livro ou faço algo assim.

Falho nas primeiras tentativas, tudo que vejo são os olhos do Henry Gustin me encarando, sua cabeça cheia de problemas e quebrada. Depois quando finalmente consigo adormecer sonho com o Gustin brincando com o Nolan e a mãe dele, sinto que eu atrapalhei tudo. Tenho um mal pressentimento em relação aquela mulher.

Quando decido parar de tentar dormir já são uma da manhã, já se passaram duas horas de viagem, levanto para ir no banheiro, lavo rosto, e volto para a poltrona.

Eu pego o celular, tem dois novos e-mails não visualizados.

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De: American Show

Assunto: Novo Romance

05 de Agosto 15:56

Para: Julie Zaneze

QUE. NOME. PERFEITO.

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De: America Zaneze

Assunto: Chegada em NY

05 de Agosto 21:47

Para: Julie Zaneze

Julie. Você deve estar no voo agora, mas se você ler isso aqui, eu vou te buscar as Cinco horas no aeroporto, O.K.?

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Não me preocupo em responder. Sinto um frio na barriga e me preparo para abrir o notebook do Gustin, deve ter muito mais que apenas um endereçozinho.

Ligo-o.

A primeira imagem que a aparece é o bloqueio de tela, Nolan, ele está mais velho que a foto do apartamento do Gustin, ele está com o olho espremido por causa do sol, ele está sem camisa, está na praia, seu cabelo molhado, ele é lindinho. Sinto-me com inveja, esse poderia ser o nosso filho, mas ele escolheu outra ao invés de mim.

Clico em iniciar, pede a senha, escrevo zombiebeatles, foi a camisa que eu estava usando no dia que nos conhecemos. Tem uma foto nossa no fundo da tela inicial.

Estamos na frente de um carro escrevi “Recém-Casados” observo os arquivos. Tem uma pasta que me chama atenção.

PARA JULIE

Clico nela.

São diversos arquivos de vídeo nomeados com datas cronológicas, o primeiro vídeo tem bastante tempo, o ultimo tem cerca de quatorze dias. Coloco o fone de ouvidos e o vídeo começa.

– Oi, Julie. Primeira coisa que eu quero dizer, não se culpe, serio, você não fez nada, é perfeita. É muito importante para mim e quero que você entenda. Eu estou morrendo e não tem nada que se possa fazer quando a isso. Eu descobri já tem um tempo, mas agora que já sei o que fazer, penso em como me despedir. Porque eu estou indo? Porque não quero que você me assista falecer e não possa fazer nada, talvez a dor de você acreditar que eu fugi, fui embora sem me despedir, ou morri, seja menos dolorosa de estar comigo nos últimos dias. Sinto muito, eu tenho outra pessoa para passar meus últimos dias, o nome dele é Nolan e a mãe dele se chama Elizabeth, eu não a amo como eu gosto de você, mas eu nunca me perdoaria se eu passasse meus últimos dias longes do meu filho.

Pauso o vídeo, respiro fundo, Gustin está na nossa casa, eu deveria estar no trabalho na hora, e ele pode ventura deveria ter dito que estava de folga ou algo assim. Quando tiro do pause a qualidade e a imaginem mudam, ele esta dentro de um carro, antes parecia gravado com a câmera semiprofissional agora apenas com uma câmera de celular.

– Mudando de assunto, voltando pro foco principal no caso, eu tenho um tumor no cérebro, se você não sabe o que é isso, foram apenas a porra das minhas células que se multiplicando desordenadamente e agora isso esta me matando. Eu acreditava que fosse uma simples e comum Glioma, eu estaria feliz, se fosse tão simples, mas as dores de cabeça ter ficado piores a cada dia que se passa, me sinto enjoado e quero vomitar, sinto sono quando estou no trabalho, eu nem consigo enxergar direito mais, estou indo para uma consulta, eu falei que ia viajar, estou começando a mentir, quer saber a verdade? Eu estou internado, fazendo radioterapia, sabe porque eu vou raspar o cabelo, Julie? Você sabe? Acho que não. EU ESTOU FAZENDO QUIMIO. Desculpe ter gritado, estou atrasado. Até mais.

Me perto entre um soluço e outro, eu olho pela janela, as coisas do céu em tom escuro, onde foi para o meu amor, o que aconteceu com ele, quero saber, mas não sou forte para isso, minhas mãos tremulas abrem o segundo vídeo.

– Olá de novo. Estou falando no hospital, faz três dias que eu estou aqui, você nem me ligou, eu não quero pensar no motivo, desculpa pela câmera estar instável, o médico disse que era comum a coordenação motora falhar, minhas mãos estão assim, mas o resto do meu corpo está em ótimo estado, o doutor disse que algo deu errado, as células tiveram uma reação estranha com a radiação. QUE MERDA.

Ele está deitado numa cama de hospital, sua cabeça brilha, ele está com aqueles vestidos que não amarram atrás, imagino-o fazendo piadas sobre isso, me sinto culpa por não ter ligado imaginei que ele estivesse em alguma reunião de trabalho, e quando ele chegou careca, eu lembro que ele falou que tinha feito uma aposta e perdera.

– Estou indo para casa, que animação. Já sei a história perfeita, você vai acreditar, sempre acredita, que poxa vida, desgraça de dor de cabeça, sinto uma vontade estrema de estourá-la, mas tenho outras coisas para fazer ainda. Bem, eu gostaria de avisar que eu vou fazer uma cirurgia, eu fiz uma ressonância foi desagradável, mas até então está tudo não ruim, mas como a terapia não está tendo um lucro muito valioso, vou tentar algo mais radical, vou entrar em casa agora, até mais.

Levanto para beber água e volto para assistir o terceiro vídeo.

– Sinto muito, muito mesmo. Você saiu para visitar sua mãe, eu fui grosso com você quando disse que não queria visitar sua família, eu menti, eu os amo, sua mãe e seus irmãos são incríveis, mas eu precisava de um tempo sozinho. Eu fiz a cirurgia, o que notei primeiramente é que posso sempre dizer que vou viajar e você nunca questiona, segundo eu notei que sou uma droga e que com certeza vou morrer, como eu sei disso? É simples, a operação não funcionou, e a droga da temozolomida não está fazendo efeito nenhum, além do mais, está começando a se espalhar. Sabe o que é interessante disso? ELE RARAMENTE SE EXPALHA, MAS ESSA DROGA TINHA QUE MIGRA PARA OUTRO LUGAR JUSTO ESTANDO NO MEU CORPO. Vou te contar o que eu planejo fazer, eu vou embora. Vou morar com o Nolan e com a Elizabeth, adeus Julie, sinto muito te deixar desse jeito.

Não há mais lagrimas no meu corpo que suficientes para eu chorar. Meu corpo está viciado no Gustin como uma droga, preciso deixá-lo ir, mas não consigo evitar de ver outro vídeo.

– Estou em algum lugar por aqui, é um jardim, o Nolan gosta de jardins, ele tenta conversar conosco, é tão fofo eu o ano. Eliza também o ama, não somos o melhor casal mas somos os melhores pais que conseguimos ser.

A câmera vira para a garota loira e sorridente.

“Amor, diz um oi para a Julie”

“Quem é Julie?”

“Não importa”

Ele vira a câmera para o Nolan, ele brica com uns bonequinhos do Batman e do Superman.

“Nolan, olha pra mim”

“Não.”

“Nolan...”

“Não”

“Nolan?”

“Papei?”

Gustin ri, tão fofo. De repente tudo fica estranho, a câmera de celular muda, mostra o teto do lugar, então ela fica em pé mostrando a entrada, entram pessoas armadas, parece um restaurante.

As cenas seguintes são inexplicáveis, tão rápidas que eu até veria novamente se não me doessem tanto, quando acaba o vídeo fico com a imagem na minha cabeça, Gustin chorando, o Nolan também, ambos sobre o corpo ensanguentado da Elizabeth.

Quero gritar, paro de assistir os vídeos, desligo o notebook, e paro, eu senti raiva, inveja de uma mulher morta. Elizabeth está morta. Henry Gustin está morto. Nolan não tem mais pais.


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