Acasos escrita por Renata Guimarães


Capítulo 7
Capítulo 7




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Então nós pegamos um táxi até meu apartamento, não sei como o caminho passou tão rápido do momento que dei meu endereço até chegar ao prédio, mas passou. Eu só vi borrões enquanto eu observava pela janela com a minha cabeça apoiada no vidro da porta traseira do táxi. Eu ouvia a voz da May e a do taxista mas não conseguia reter a informação. Dois pares de braços me tiraram de onde eu estava jogada, não vi nada, só senti que tinha um par peludo e outro par mais fino. O porteiro do prédio veio andando na minha direção e na direção da May que era um lindo borrão ao meu lado. Os dois me levaram até o elevador apoiada.

— Não sei pra que toda essa ajuda, eu to bem! – Tentei me livrar do braço do porteiro e da May.

— A senhora ta com a voz arrastada.

— Não estou! Eu estou perfeitamente bem.

Tentei andar por mim mesma e soltei um grito de dor no automático.

— Já esqueceu que você torceu o pé? – May tirou os meus cabelos que caiam no meu rosto tampando minha visão.

— Aé! – Comecei a ri. – Fudi meu pé! – Ri mais ainda. – Realmente...

Fiquei rindo durante algum tempo e só parei de rir quando a porta do elevador se fechou e ele subiu me deixando subitamente enjoada.

— Qual é a porta do seu apartamento?

Não consegui responder nada, mantive a cabeça levantada e os olhos serrados com as costas apoiada no espelho traseiro do elevador. Em uma tentativa de fazer o enjoo passar. Só fiz um três com a mão e o elevador chegou rapidamente ao quinto andar. May me carregou com os braços embaixo dos meus e por trás das minhas costas até a porta do meu apartamento. Ela abriu a porta com as minhas chaves, em que momento eu dei as chaves para ela?

— Chegamos, vou te por na cama e vou indo. – Meu estomago gritou e senti o enjoo aumentar.

— Vou vomitar – eu disse.

Eu sai me apoiando pelos moveis e pelas paredes até o banheiro sem encostar o pé torcido no chão sempre que pude evitar, mas não consegui evitar de derrubar algumas coisas no caminho. Quando me ajoelhei pra vomitar senti a presença da May se ajoelhando ao meu lado e suas mãos segurando meu cabelo.

— Você não deveria ter bebido mais, você ta realmente mal.

Mesmo após vomitar eu continuei enjoada e com uma dor na boca do estomago. Joguei o peso do meu corpo para trás, já não estava mais aguentando e bati com a cabeça na pia de leve. Ali mesmo fiquei respirando e controlando a vontade.

— Vou pegar um copo d’água pra você.

— Porque você ta me ajudando? – Eu disse ofegante e olhando pra ela com os olhos pesados.

— Eu sou sua babá se lembra? – Dei um sorriso e ela saiu do meu campo de visão que era basicamente o que estava fora da porta do banheiro.

— Sim eu me lembro. – Falei para mim mesma.

Ela voltou e me deu o copo d’água que eu fui bebendo aos poucos e ao terminar coloquei de lado.

— Você é muito bondosa, não sei como tem tanta paciência. Poderia simplesmente ter me atropelado, ter levantado e ido embora.

— Isso era o que aconteceria em uma situação normal, eu te atropelaria, ia ficar por isso mesmo e eu ia embora, mas você resolveu se meter em uma briga de homem e eu não ia deixar você se machucar, seria desumano da minha parte.

— Caralho, você é mulher de sonho com toda a certeza! Não existe pessoa boa assim.

— Você usou alguma droga alucinógena?

— Não, mal tenho resistência a bebida, quanto mais a droga.

— Você se lembra de ter dormido? – Parei para pensar.

— Não.

— Então pronto. – Ela se apoiou no batente da porta. – E também você me beijou a força sua babaca, eu não podia te enfiar em um taxi e pronto.

— Eu não te beijei a força!

— Só estou brincando! – Ela riu. – Vem cá, apesar de você estar muito sensual jogada... Completamente largada ai no chão é melhor você levantar e eu te por na cama.

Levantei minha cabeça que pesava mais que chumbo e tentei me levantar, mas só consegui com a ajuda dela.

— Você não vai me dar um banho?

— Não!

— E um beijo?

— Não! Ainda mais depois de você ter vomitado... Não mesmo! – Ela ficava rindo, não sei do que não estava vendo graça.

— Que tipo de babá você é? Que malvada.

— Sou o tipo de babá que não alivia para bebê que em vez de ter leite na mamadeira tem água que passarinho não bebe.

Me taquei no sofá assim que passamos do lado dele. Eu não quero ir dormir. É tipo naquele filme "A Origem", as pessoas tão sonhando, mas não sabem que tão sonhando. Ela é tipo a Marion Cotillard que é fruto da imaginação do Leonardo Dicaprio.

— Vem cá, Marion Cotillard. – Bati no lugar no sofá vazio ao meu lado. – Senta aqui comigo.

— Hã? Marion Cotillard? – Ela fez uma cara de confusão. – Tem certeza que você ta pura?

— Xiu! – A puxei pelo braço, até ela sentar no sofá. – Você é minha Marion Cotillard.

— Eu me pareço com essa tal “Marion Cotillard”?

— Não. – Fiquei rindo da cara dela.

Ela se sentou sem entender muito bem, mas deixou o assunto morrer. Não me demorei e deitei minha cabeça no colo dela. Eu sentia tudo girar como se meu cérebro tivesse dando cambalhota dentro da minha cabeça.

— Você tem bastante quadros nas paredes.

— É que eu compro na feirinha de arte que tem aqui perto.

— Então você gosta de arte?

— Gosto, eu estudei artes... – Fechei meus olhos. – Fiz alguns anos de faculdade de Belas Artes.

— Então você é tipo uma artista?

— Digamos que sim, eu não trabalho como pintora, não vivo de vender quadros, eu sou tatuadora.

— Tatuadora?

— É eu sei que não pareço uma tatuadora. – Estiquei meus braços limpos, sem nenhuma tatuagem. – Mas eu sou uma ótima tatuadora, modéstia à parte. E você? Gosta de arte?

— Eu grafito as vezes com meus amigos.

— Então você é uma artista.

— Bem... Na verdade não, porque eu não sei desenhar. Não sou eu que faço os desenhos eu só ajudo eles na hora de colorir o grafite. E quando eu grafito sozinha normalmente eu uso aquele stencil moldes sabe?

— Sei e quem faz os stencil?

— Minha amiga, a Helen que tava comigo hoje ela trabalha em gráfica e entende de desenho.

— Quem sabe eu não faço um desenho pra você algum dia e você grafita pela cidade.

— Ou pode me tatuar de graça, eu aceito.

— Você está querendo tirar proveito de uma pobre bêbada?

— Não, mas você pode me pagar essa noite de babá dessa forma.

— Já combinamos o pagamento em beijos.

— É verdade... Só que você não falou nada em beijos com gosto de vomito.

— Ué, mas quem disse que eu tenho que pagar hoje? Vai ver eu vomitei de propósito só para te ver uma outra vez.

— Seria uma atitude muito desesperada para uma moça tão bonita.

— Eu que bebo e você que fica bêbada? Bonita...

— Você não é bonita?

— Não, não sou o tipo de nenhuma lésbica.

— Quem disse que eu sou lésbica?

— Você é hétero? – Fiz uma cara de surpresa. – Então eu sou a primeira garota que você fica? Não acredito que você é hétero, você não tem cara de hétero. – Ela ficou rindo da minha cara.

— Não tenho?

— Não.

— Vai ver é porque não sou mesmo.

— Então você é bi?

— Não.

— Então o que você é? Um homem que se parece muito com uma mulher?

— Não, eu só não gosto de me definir. Eu sou deboista, contanto que eu curta a pessoa não interessa o que ela é.

— Então eu não sou a primeira garota que você ficou?

— Não, sinto lhe desapontar desse jeito, senhorita.

— Tudo bem, a vida é cheia de decepções, normal.

Fiquei pensando como seria o dia de amanhã, se eu iria conseguir convencer ela a passar a noite aqui. Não estou nem pensando de uma maneira sexual, só queria alguém para apoiar a cabeça antes de dormir, faz um bom tempo que não me lembro da sensação de ter alguém do meu lado na cama. Agora só de ter ela acariciando minha cabeça já me sinto extremamente confortável e se ela realmente não for mulher de sonho como ela diz eu quero passar mais tempo com ela. Não quero que ela suma se ela for uma pessoa física. No momento ela me parece bem física. Sinto algo quente tocar o canto da minha bochecha e a ponta da minha boca, são os lábios dela, minha reação é me aconchegar ao corpo dela e ali ficar. Gabriel é foda, me embebedou, me abandonou, fui atropelada, beijei uma garota depois de um bom tempo e agora ela ta aqui cuidando de mim alguém que ela não conhece nem por um dia. Esse deve ser meu dia de sorte, pude fazer o que eu gosto que é minha arte. Livrei-me de uma pessoa desagradável. Conheci uma garota super legal. Tudo isso saindo da minha zona de conforto, eu deveria fazer mais isso.

— Eu gosto da maneira que você pensa, me ver como artista quando normalmente as pessoas me veem como vagabunda.

— E você tem um cheiro bom.

— E você tem cheiro de cachaça... – O rosto dela tava bem próximo ao meu, eu podia sentir. – Dorme.

É bom ouvir o som suave da voz dela sussurrando perto do meu rosto. É bom ter ela aqui e isso me faz sorrir igual uma idiota de maneira incontrolável. Ela deve me achar uma carente.


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