Um novo trilhar escrita por Nyne


Capítulo 13
Capítulo 12 - A origem da insegurança


Notas iniciais do capítulo

Olá queridas leitoras, como estão?
Segue mais um capítulo, espero que gostem.
P.S ***Leiam as notas finais***



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/634904/chapter/13

Já dentro do escritório e em sua sala, Carlos começa a desabafar com a mulher. Ela estava sentada em uma pequena poltrona de frente para ele.

– Ela não é mais a mesma pessoa. Não ri mais, não brinca, não se arruma, não sai de casa. Não dormimos mais juntos há meses e quando digo isso não é apenas a questão de dividir o mesmo quarto. É tudo... Ela está definhando a cada dia bem ali, na minha frente, mas eu não posso fazer nada para ajuda lá. Tudo o que tentei fazer foi inútil.

– Eu posso imaginar como ela se sente. Me senti da mesma forma quando tiraram você de mim. Mas ainda assim não se compara ao que ela está sentindo.

– Mas mesmo assim a senhora seguiu em frente não foi?

– Sim, mas foi como lhe falei. A dor dela não se compara a minha. Tiraram você de mim, mas mesmo longe eu sabia onde você estava e principalmente Carlos, sabia que você estava vivo.

Carlos levou as mãos ao rosto, mostrando cansaço.

– A culpa disso tudo foi minha, desde o inicio. Se eu tivesse sido mais maleável quanto à história de uma adoção, sequer teria tentado as malditas inseminações, não teria se frustrado... Mas eu não consigo, não consigo!

– Você tem medo que a história se repita não é? Só que com personagens diferentes.

– A senhora sabe que sim.

A mulher coloca uma das mãos sobre o joelho de Carlos.

– Não acha que já está na hora de enfrentar esses fantasmas Carlos?

– Eu não consigo... É doloroso demais pra mim, a senhora sabe disso melhor do que qualquer outra pessoa.

– Claro que sei, e não pense que não é doloroso pra mim também. Te ver crescer sempre a distancia, não ter participado como gostaria da sua vida. Isso me dói demais.

– A culpa não foi da senhora, nunca foi.

– E nem sua. Você era apenas um menino, não podia fazer nada.

– Mas eu cresci e mesmo assim não fiz o suficiente. Nem agora que sou um homem feito. Não gosto de ter que esconder a senhora.

– Você não faz isso por mal Carlos, você nunca foi um rapaz mau. Lembre que eu te pedi isso, pelo bem da saúde sua mãe.

– Minha mãe é a senhora. Sempre foi e sempre vai ser.

Os olhos da mulher começam a marejar.

– E você sempre será meu menino Carlos. Gerado no meu coração.

Ele abraça a mulher a sua frente. Fica assim por algum tempo. Nenhum dos dois queria se soltar. Carlos dá um longo suspiro e aos poucos vai afrouxando os braços.

– Então Carlos. Vamos enfrentar esses fantasmas do passado?

– Eu não sei como.

– Que tal começar contando a verdade pra sua esposa? A sua verdade?

– Eu não sei como fazer isso. Ela mal fala comigo agora, parece uma estranha. Além do mais, vai achar que menti pra ela por todos esses anos, o que não está de todo errado, porque foi isso que acabei fazendo.

– Ela conhece sua... - a mulher deu uma pausa antes de terminar a frase - Sua família?

– Sim. E sabe que nunca me dei bem com eles, só não sabe os reais motivos. Nas datas comemorativas nós sempre ficamos com a família da Suzana. Ela nunca me questionou por isso.

– E sua mãe?

– Já disse que minha mãe é a senhora.

– Carlos... - diz a mulher com um olhar misto de repreensão e compaixão.

– Depois que ela morreu cortei ainda mais o contato com o marido... O meu pai.

– O que te faz achar que ela não vai te entender agora? Das vezes que conversamos, ficou bem claro pra mim o quanto essa mulher te ama Carlos.

– Nunca falei sobre a senhora e a minha infância pra ela.

– Você fez o que tinha que fazer. Eu te pedi isso. Sua mãe estava muito doente.

– É estranho.

– O que?

– Não sinto falta dela. Não sinto falta do meu... Pai - a palavra soou amarga. - Não sinto falta de ninguém daquela casa.

– Você precisa liberar perdão.

– Eu não consigo! É mais forte que eu.

– Me deixa te ajudar filho.

– Eu quero e preciso muito da ajuda da senhora, mas eu mesmo não sei por onde começar.

– Já te disse. Contando a sua verdade pra Suzana. Exponha seus medos pra ela, conte sobre o seu passado Carlos. Todo ele.

– Se eu fizer isso inevitavelmente terei que falar sobre a senhora também.

– Eu sei.

– Não sente mais medo?

A mulher fica ereta, colocando as mãos nas coxas.

– O meu medo era seus pais me afastarem de você pra sempre e eles tinham como fazer isso, você sabe. Hoje sua mãe já é falecida e você já é um homem feito como você mesmo disse. Seu pai não tem mais domínio sobre você. Não tenho mais medo. Só uma pessoa pode afastar você de mim. E essa pessoa é você mesmo.

– Não quero que a senhora se afaste, muito pelo contrário. Quero mais do que nunca a senhora perto de mim.

A mulher sorri e leva uma das mãos ao rosto de Carlos.

– Você ama sua mulher?

– Demais. Se não amasse já tinha jogado tudo pro ar.

– Quem ama não tem medo. Não tema a reação dela. Se liberte filho.

– Não posso jogar uma bomba dessas em cima dela agora. Preciso que ela reaja um pouco.

– Tudo bem, eu entendo.

Carlos fica alguns instantes em silencio. A mulher apenas o observa. Ele parecia estar refletindo sobre alguma coisa.

– Estou com medo.

– É normal se sentir assim, mas está na hora de você enfrentar esse medo.

– Eu sei.

– Sempre estarei do seu lado, nunca se esqueça disso.

**************************************************************

Ao chegar em casa aquele dia Carlos teve uma surpresa. Ao adentrar o quarto que era dele e Suzana encontra a mulher sentada na cama abraçada aos joelhos. Ela olhava fixamente para a porta, como se estivesse esperando por ele.
Estava com os cabelos molhados e uma camisola. Carlos deduziu que não havia muito tempo, deveria ter saído do banho. Olhou para a esposa e pela primeira vez em tantos anos não soube o que dizer a ela.

– Boa noite.

– Boa noite.

– Não vou demorar, só vim pegar uma toalha limpa.

– Carlos? Será que podemos conversar?

Ele a olhou receoso do que poderia estar por detrás daquela conversa.

– Claro, como quiser.

– Venha até aqui, por favor.

Ele seguiu na direção dela e sentou ao seu lado na cama. Suzana não o olhava.
Manteve os olhos voltados para baixo.

– Vou te fazer uma pergunta e quero que você seja sincero comigo.

Ele continuou a olhando esperando a tal pergunta.

– Você já quis se separar de mim?

Aquilo foi como um choque no homem, que arregalou os olhos e disparou sem sequer pestanejar.

– Não, nunca.

– Nem mesmo agora que estou assim?

Ele olha para ela, que continuava olhando para baixo.

– Suzana, que tipo de homem eu seria se na pior fase da sua vida, da nossa vida, eu simplesmente desistisse de você? De que teria valido até hoje todas as declarações que te fiz, todas as vezes que disse que te amava?

Ele a ouve fungar baixinho, como se estivesse contendo o choro. Segura o queixo dela de modo que faça com que agora ela o olhasse. Seus olhos já estavam vermelhos.

– Mas e você Suzana? - Sua boca secou no momento em que iniciou a pergunta - Quer se separar de mim?

Ela começa a chorar sem dizer nenhuma palavra. Carlos sente um aperto no peito, afinal não era aquilo que esperava, mas antes que formulasse qualquer coisa, vê Suzana sinalizar negativamente com a cabeça. Um alívio toma conta do seu ser.

– Não quero viver sem você, mas não quero que você fique comigo estando infeliz.

– Infeliz é uma palavra forte. Não me sinto infeliz com você. Nunca me senti assim. Mas me sinto mal por ver que eu sim estou fazendo você se sentir desse jeito.

– Não, não está. Sou eu mesma. Desculpa Carlos, mas está muito mais difícil do que imaginei...

Ele a abraça e fica assim por um tempo. Nota que Suzana o aperta e em nenhum momento faz menção de solta-lo.

– Na alegria e na tristeza lembra? Tem sido tempos difíceis, mas eu não vou desistir de você, vou repetir isso quantas vezes forem necessárias até você entender.

Ele passava as mãos pelo cabelo e costas dela.

– Foi um baque muito grande pros dois. Acredite, dói em mim com a mesma intensidade, mas a vida tem que seguir. Preciso seguir em frente por você e você precisa seguir em frente por mim também.

– Eu sei... Carlos... Eu quero...

– Recomeçar do zero?

– Sim. Mais uma vez, mas agora pra valer.

– Eu também.

Ele coloca uma mecha do cabelo ainda molhado de Suzana atrás de sua orelha enquanto a olha. Não precisou tomar a iniciativa. Suzana fez isso.

O beijou com receio, mas não como se estivesse com medo da reação dele, mas como se aquela fosse realmente à primeira vez em que se beijavam.

– Posso passar a noite aqui com você? - pergunta sem mesmo saber o motivo da pergunta.

– Claro que sim. Nunca mais quero que você passe uma noite fora desse quarto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pra quem ainda não leu a minha One, continuação da fic "Chance", segue o link:
https://fanfiction.com.br/historia/649150/Descobertas/
É interessante ler a fic "Chance" antes, porém, a one pode ser lida e compreendida claramente mesmo pra quem não leu.
Espero poder ver reviews de vocês, especialmente dos leitores fantasma, em ambas as fics.
Ficarei muito feliz, de verdade.
Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um novo trilhar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.