Após várias horas de caminhada com meu esquadrão Anbu, notei que já passava da hora do almoço quando avistei os enormes portões de Konoha, atravessei-os dispensando a equipe oficializando o fim da missão. Logo em seguida, me dirigi rapidamente para a torre do Hokage. Ao chegar lá deparei-me com Naruto, que estava sentado em sua mesa do mesmo jeito de sempre, com a mesa lotada de papéis e ele estranhamente concentrado. Ao me ver abriu logo aquele sorriso costumeiro e logo pronunciou:

– Hey Teme! Você está volta! Espero que com boas notícias.

– Hn. Não muitas. – respondi normalmente e o ouvi soltar um longo suspiro, como se estivesse cansado.

– Estou atrasado com esses papéis e preciso termina de analisar alguns até o final da tarde. – comentou ainda com os olhos sob os papéis. - Então me traga seu relatório mais tarde.

– O que perdi por aqui? – perguntei intrigado olhando diretamente para ele, apesar de ser um dobe, ele não costumava se atrasar com a papelada.

Mesmo não fazendo qualquer movimento para me olhar, percebi que sua postura mudou e ele ficou ligeiramente mais tenso, até sua concentração nos papéis já havia desaparecido. Assim finalmente resolveu me responder.

– Sakura-chan veio me procurar para que eu a ajudasse. – relatou Naruto calmamente tendo agora minha total atenção. – Precisei dar a ela meu chakra para que fosse totalmente curada. – concluiu finalmente tirando os olhos dos papéis e me encarando.

– Totalmente curada? O que quer dizer? – questionei um pouco ansioso.

– Sakura-chan estava gravemente doente. De acordo com a Obaa-chan, a Sakura-chan estava fazendo uso de uma planta em curas com propriedades desconhecidas que desde que voltou da missão que eu a enviei na Vila Oculta da Fumaça, a planta atingiu sua rede de chakra prejudicando sua produção, isso ocasionaria sua morte em alguns meses. – vi seu punho se fechar e seus olhos mudarem para raiva, tristeza ou até mesmo culpa, arriscaria dizer que vi até uma indignação neles, talvez a mesma que crescia dentro de mim agora. Eu estava perplexo, então era disso que se tratava afinal - Foi quando Tsunade a mandou em busca de Hiroaki, ele é um antigo aluno dela e especialista em processos de cura. A mãe dele teve a mesma doença e Tsunade o treinou no intuito de salvar a mulher, porém Hiroaki não conseguiu. Mesmo assim em agradecimento a Tsunade, ele saiu de sua aldeia para vir ajudar Sakura-chan e pelo que vi ele foi fundamental na cura, tanto fisicamente como emocionalmente. – terminou com um suspiro e se levantou indo em direção a enorme janela da sala. Cada minuto que passava ficava pior, ela preferiu confiar em um estranho do que em nós.

– Eu não posso acreditar que tudo isso estava acontecendo e nenhum de nós sabíamos. – comentei monótono tentando não transparecer minha indignação, uma fúria surgia dentro de mim e eu quase não tinha controle, me sentia traído e enganado, mais uma vez. Fiquei mais indignado por estar tão na frente do meu nariz e eu não ter conseguido ver, mesmo quando minhas desconfianças surgiram e eu não fui atrás de investigar.

– Eu sei Sasuke, me sinto do mesmo jeito. Não consigo acreditar que a Sakura-chan nos escondeu algo como isso, de tamanha magnitude e gravidade. Foram semanas e talvez meses em que ela estava nessa situação e eu não pude ver, me sinto inútil por isso, ela é como minha irmã. – falou Naruto com uma expressão triste olhando para nenhum lugar específico através da janela. – Mesmo ficando totalmente em choque quando ela me procurou, não hesitei um segundo em ajuda-la, ela me acalmou quando disse que confiava de olhos fechados sua vida em minhas mãos. Isso me deu confiança e mesmo com todos os riscos previamente ditos, dei a ela meu chakra mesmo sendo um procedimento extremamente complicado, fico feliz que tudo tenha dado certo. – comentou com um sorriso mínimo nos lábios mas ainda com uma expressão vazia, aposto que se sentia culpado por alguma coisa.

– Onde e como ela está agora? – era tudo o que eu conseguia dizer.

Naruto demorou um pouco para me responder, parecia ter se perdido em seus pensamentos enquanto eu era consumido por minha fúria e indignação. Como ela pôde?

– Ela está bem. Está descansando no hospital sobre os olhos cuidadosos de Hiroaki e Tsunade.

Aquela foi a última informação que ouvi antes de sair pela janela e ir em direção ao hospital pulando pelos telhados para evitar a movimentação das ruas. Algo ruim crescia dentro de mim e tudo que eu pensava é que teria que confrontá-la.

Durante o caminho eu ponderava e minha conclusão foi de que ela estaria no melhor quarto do hospital, então fui direto para lá. Após alguns minutos cheguei ao prédio e cautelosamente – já que não haveria permissão para entrar - me vi no corredor do possível quarto de Sakura, a confirmação veio quando vi Hiroaki saindo de um quarto, ao que parecia ele e Tsunade revezavam em vigiar Sakura.

– Sinto muito Sasuke, você não tem autorização para entrar. Não poderá passar daqui. – falou Hiroaki ao me ver e se colocou no meu caminho quando tentei me aproximar.

– Quem irá me impedir? Você? – provoquei-o quase rindo, assim como fazia com meus inimigos no passado. – Entrarei aí você querendo ou não.

Dei um passo na direção do quarto de Sakura mas Hiroaki insistia em permanecer a minha frente, como se me desafiasse. Tsc. Eu entraria naquele quarto de qualquer jeito. Encarei-o dando-lhe uma última chance de sair do meu caminho, como ele não o fez eu me preparei para meu próximo movimento, porém antes que as coisas começassem a esquentar fui interrompido pela estrondosa voz de Tsunade.

– É melhor nem pensar nisso moleque!

Eu apenas a encarei cancelando qualquer movimento contra o cara a minha frente, mas também demonstrei que não sairia dali tão fácilmente. Tsunade pareceu entender a dica.

– Está tudo bem Hiroaki! Deixe o Uchiha passar, ele não representa perigo algum. Assim aproveitamos também para tomar um café e descansarmos um pouco. – falou Tsunade para Hiroaki mas nunca desviando seu olhar de mim enquanto eu a agradecia mentalmente.

Mesmo meio vacilante Hiroaki saiu da minha frente e seguiu andando pelo corredor acompanhado de Tsunade. Abri a porta do quarto e entrei com apenas metade do meu corpo, estava meio vacilante com o que poderia encontrar. O quarto estava bem arrumado e bem iluminado pelo luz do dia que entrava pela janela. Entrei agora totalmente com meu corpo e fechei a porta atrás de mim, sem o menor ruído. Foi quando vi o corpo frágil de Sakura deitado na cama dormindo profundamente e fiquei tenso por um minuto. Ao me aproximar analisei cada parte de seu corpo, estava com alguns fios ligados e haviam hematomas aqui ou ali, Sakura estava visivelmente mais magra e com uma aparência mais frágil e delicada. Era estranho, mas vê-la nesse estado me cortava por dentro e me aborrecia extremamente não estar aqui quando tudo aconteceu.

Permaneci olhando para Sakura por alguns minutos, vê-la dormindo tão solene e pacificamente me fez ver algo mais além... vi o quão bom é ter ela simplesmente respirando, tê-la no dia a dia, vi o quão bom é saber que ela está viva e bem na minha frente, mas acima de tudo isso percebi o que realmente sinto. Isso tudo quase me fez esquecer minha fúria para com ela. Decidi me controlar por enquanto e me sentar numa poltrona ao lado da cama e debaixo da janela, vigiaria seu sono enquanto pensava no que falar e em como proceder nossa conversa quando ela acordasse.

[...]

Algumas horas passaram e eu permanecia sentado na poltrona olhando Sakura dormir. Tsunade veio analisa-la algumas vezes e disse que Sakura estava bem, precisava apenas descansar. Antes da ex-Hokage deixar a sala me disse que retornaria somente no dia seguinte deixando assim Sakura sobre meus cuidados, mas que eu a avisasse caso algo viesse acontecer.

Após alguns minutos fui levado pelos meus pensamentos enquanto observava pela janela o céu alaranjado indicando que o pôr do sol havia chegado e logo a noite surgiria. Foi quando ouvi um resmungo próximo a mim seguido de meu nome dito num sussurro. Tornei meu olhar para cama e vi uma Sakura sentada me olhando com uma confusão visível em seu rosto enquanto aqueles belos olhos verdes me fitavam, quase esmoreci.

– O que faz aqui Sasuke-kun? Não devia estar em missão?

– Isso não importa agora. – respondi seco me levantando e indo em sua direção. – Por quê Sakura? – era egoísta questioná-la de imediato em seu atual estado, mas não consegui me controlar.

– Por que o que Sasuke-kun? – perguntou dando uma de desentendida, minha pergunta era óbvia e diria que Sakura estava fugindo do assunto, já que desviou seu olhar do meu que a fitava intensamente.

– Não se faça de boba, sabe muito bem do que estou falando. Por que não me contou? – questionei tentando ao máximo controlar minha voz.

– Por que eu contaria? – rebateu ela, agora me olhando desafiadora, aquilo me pegou desprevenido e fiquei chocado por um momento, de certa forma era verdade e deve ser por isso que senti uma pontada desconfortável no peito. Apenas a olhei com um olhar reprovador, o que pareceu que a fez repensar em sua resposta.

– Não queria preocupar ninguém Sasuke-kun. – confessou calmamente encarando as mãos entrelaçadas no colo.

– E como acha que estamos agora? Além de preocupados estão todos decepcionados por sua atitude, tem noção de quão egoísta você foi? Você estava morrendo Sakura! Confiou em um estranho, não em nós. – soltei agora um pouco mais alterado, não conseguia mais conter minha indignação.

– Você não se importa Sasuke, nunca se importou. Por que seria diferente agora? – falou como num sussurro e com o olhar cabisbaixo, notei que essa frase machucava ambos. Essa conversa estava indo pra um rumo não vantajoso para mim, mas eu não seria vencido.

– Hn. Talvez eu não mereça nada relacionado a você, mas Naruto pelo menos merecia saber e você o procurou apenas por necessidade de cura. – contrapus e notei seu espanto, peguei no seu ponto fraco.

– Não fale assim! Confio cegamente em Naruto, eu só queria poupá-lo de mais uma preocupação, já que como Hokage ele tem muitas. – argumentou ela voltando a me olhar com uma determinação forte em seus olhos jade, a mesma de quando é desafiada.

– E porque não em mim? – não pude evitar perguntar.

– Não adianta que fiquemos nessa discussão Sasuke, não nos levará a nada. – falou de repente desconversando e eu não esperava por isso.

– Hn. – estava realmente tentando me acalmar e com isso me sentei na beira da cama próximo a ela, apoiei os cotovelos em meus joelhos, apertando fortemente meus olhos tentando aliviar minha própria tensão. Ela pareceu notar meu aborrecimento com a situação e também por não ter recebido uma resposta.

– Sasuke-kun, o que importa é que estou bem agora, os últimos tempos não foram fáceis e passei por muita coisa, como treinos duros, esforço e muita dedicação, se não fosse Tsunade e Hiroaki eu não estaria aqui discutindo com você agora, admito que talvez tenha errado em esconder minha doença, mas o que vocês teriam feito? Iriam somente se preocupar atoa, e eu não sei se teria conseguido lidar com isso também. Não basta eu estar aqui bem?

– Esse argumento é tão inútil para mim quanto essa discussão Sakura. Como se sentiria se fosse eu ou Naruto a lhe esconder algo assim? – questionei mais calmo no entanto ainda chateado mesmo sabendo que não adiantaria prosseguir com essa situação. Fechei os olhos seguido de um suspiro profundo. – Ouça! Porque eu não me repito e isso não acontecerá de novo. O time 7 é como minha família e por isso me achei no direito de saber, não quero perder mais ninguém nessa vida. Eu mudei na minha viagem de redenção e agora eu posso sentir, mesmo não transparecendo. – confessei para única a qual achei merecedora saber. – E sim! Você estar bem agora é o que me basta, por isso essa discussão acabou. – conclui agora com os olhos abertos, mas sem a olhar, era um momento embaraçoso para mim.

– Continua mandão Sasuke-kun. – comentou rindo e seu sorriso iluminou o quarto, quebrando aquele gelo de cobranças de instantes atrás. - Mesmo não sendo diretamente pois eu te conheço bem, agradeço sua preocupação e peço desculpas pelo mal que causei a todos.- desculpou-se com uma inocência que somente ela possuía.

– Hn. – soltei e o momento me pareceu propício para mais uma vez fazer o único gesto que eu tinha como mais próximo de demonstrar carinho. Levantei minha mão direita e toquei meu dedo indicador e meio em sua testa, deixando uma Sakura confusa e que me fitava de forma intensa, sorri internamente.

– Isso de novo Sasuke-kun! Acho que está na hora de me contar o significado.

– Talvez na próxima vez Sakura. – respondi não esperando que Sakura entendesse o duplo sentido, o qual respondia sua pergunta ao mesmo tempo que não. – Você precisa descansar.

– Não me venha com essa Sasuke-kun. Você me fez esse mesmo gesto a anos atrás e eu realmente quero saber, depois disso poderei descansar. – pediu fazendo bico tentando me persuadir, como se aquilo fosse um tipo de acordo.

– Hn. – dei um sorriso mínimo, jamais achei que algo como isso funcionaria comigo. – Te contarei e você pode tirar suas próprias conclusões. – aconselhei e então comecei a narrar. - Houve um tempo na minha infância em que eu era muito apegado ao meu irmão, eu costumava brincar pelo Distrito e sempre queria que ele viesse brincar comigo ou me ensinar jutsus novos, mas Itachi desenvolveu rápido suas habilidades e com isso vinha novas responsabilidades que o mantinha sempre ocupado, então muitas vezes que eu o chamava para brincar comigo ele me fazia esse mesmo gesto, seguido de um “Talvez na próxima vez Sasuke”. Além disso, esse foi o último gesto que ele fez antes de morrer próximo a mim. Vejo isso como o modo que ele dizia que cuidaria de mim, independente de tudo, o modo como demonstrava suas emoções e sentimentos. É algo que herdei de Itachi. – conclui com um leve levantar de lábios, era bom lembrar de meu irmão assim, alguém amoroso, não um assassino e traidor.

No momento em que terminei meu relato fui incapaz de olhá-la, mas poucos instantes depois senti pequenos braços acompanhados de um punhado de fios que agora se enrolavam em volta do meu pescoço e vi a cabeleira rosa de Sakura inundar minha visão juntamente de sua respiração agitada contra minha pele. De imediato fiquei sem reação, mas só quando senti suas lágrimas caírem sobre mim soube que ela havia entendido o que eu quis dizer com minhas palavras - como esperado - aliás Sakura me entendia como ninguém jamais faria. Só então me permiti retribuir seu abraço.

– Agora você precisa descansar Sakura, Tsunade virá te ver de manhã. – falei de repente rompendo com aquele momento, não por querer mas sim por não estar acostumado com aquilo.

– Obrigada Sasuke-kun. - agradeceu com um sorriso se afastando ao mesmo tempo que enxugava as lágrimas do rosto. Diria que vi em seus olhos esmeralda uma alegria a qual jamais conseguiria explicar, apenas me perguntava o motivo daquilo e no mais íntimo de mim torcia pra que eu fosse o motivo, mesmo eu não merecendo um fio de cabelo rosa dela.

Minutos passaram e uma enfermeira entrou no quarto para analisar o progresso de Sakura agora que ela havia acordado. Ouvi uma conversa breve delas em que a enfermeira dizia que Sakura estava se recuperando bem, mas de imediato precisava descansar e se alimentar bem. Alguns exames foram realizados e logo a enfermeira saiu nos deixando a sós novamente.

– Você vai ficar Sasuke-kun? – perguntou Sakura já sonolenta.

– Sim. Apenas durma, estarei aqui quando acordar. – proferi tentando tranquiliza-la.

Logo em seguida vi os olhos de Sakura se fecharem calmamente a arrastando para um sono profundo enquanto que eu mais uma vez a olhava dormir em sua forma calma e solene, mesmo após ter passado por tantas coisas ainda via a tranquilidade que ela transmitia mesmo adormecida e que eu estava longe adquirir um dia, mas minha única certeza era de que a partir desse dia ela seria oficialmente o complemento que sempre precisei e que esteve presente por todo esse tempo mesmo eu insistindo em afastá-lo para longe, porém hoje não seria mais necessário resistir a isso. Foi um dia exaustivo e pela primeira vez - desde que soube a verdade sobre meu irmão - o desespero me tomou e achei que perderia alguém especial novamente, o medo de ficar sozinho novamente não me agradava nem um pouco, Sakura era meu socorro para isso, jamais havia me abandonado e a sensação de quase perde-la sem poder fazer nada, foi torturante. A garota a minha frente é mais importante pra mim do que até mesmo eu sabia, pena que jamais serei capaz de contar-lhe isso ou até mesmo amá-la como ela merece, mas ao menos poderia dar o meu melhor. E foi com pensando em cada sentimento que me foi apresentado naquele dia, que logo adormeci na poltrona, mas não antes de pegar timidamente sua delicada mão na minha.

Se existia algo de bom em mim, isso poderia ser somente Sakura.