Marauder's Love escrita por Sunshine


Capítulo 4
Capítulo Três — Os olhos cinzas


Notas iniciais do capítulo

Rápido assim mesmo, bjs. :*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/634122/chapter/4

O fim de tarde ainda estava um tanto ensolarado. Todos os alunos festejavam a ida à Hogsmeade menos Morgana. A menina costumava amar os passeios, mas só porque Megan a acopanhava e todos estavam tão distraídos com os doces, comidas, lugares, conversas e risadas, que nunca prestavam atenção nas duas conversando. Dessa vez Megan havia ficado no castelo e a sonserina tinha suas suspeitas de que seria porque Remus também havia ficado.

Morgana caminhava pelas ruas com as mãos nos bolsos do longo casaco preto, os cabelos soltos nos ombros em cachos brancos e uma bota de cano curto cobria o começo da calça verde musgo. No caminho, entre as risadas, as piadas, as conversas e as pessoas, a sonserina começava a se perguntar porque tinha ido se não havia nenhum propósito. Havia negado o convite de ficar com seus amigos sonserinos porque queria um tempo só para si. Era algo confuso mas queria um tempo longe deles para ser ela mesma. Ficar naquele grupo exigia muito de seu lado Malfoy, e as vezes cansava.

Durante as várias voltas que deu, Morgana pensou em voltar para o castelo, em comprar doces, em tomar cerveja amanteigada ou comer alguma coisa, mas já fazia isso quase sempre, não teria tanta graça agora. Por isso, a garota parou ao lado de uma loja, erguendo o rosto para o céu para observar os últimos raios de sol e tudo mudou de uma hora para a outra. Os raios de sol foram lentamente cobertos por uma névoa esverdeada e espessa que tremeluzia e girava como garras travando uma guerra com as nuvens. Não demorou nada para que a caveira e a cobra se enroscassem e Morgana concluísse que, sim, ela estava certa. Aos poucos as pessoas foram tomando noção de que aquilo não era nada que fosse fazer carinho em seus cabelos e começaram a gritar e correr. Sons ensurdecedores explodiram, comensais aparatavam numa velocidade assustadora, quebrando vidros e portas, janelas e objetos. Também não demorou muito para Morgana perceber que o interesse daqueles Comensais poderiam muito bem estar ligados a sua família, ou melhor: a ela. Não era muito difícil saber que sua família prezava uma forma peculiar de segurança.

Num movimento involuntário de proteção, Morgana cobriu os cachos brancos com o capuz do casaco e abaixou o rosto, respirando para encontrar o movimento de suas pernas mais uma vez. Em meio a correria e as explosões, feitiços e gritos, ela não conseguia se mover, a onda de pânico e susto a atingiu por completo e quando seus sentidos estavam voltando sentiu alguém puxar seu braço com agressividade. Um grito estalou em sua garganta e a mesma pessoa que a segurava se virou para cobrir sua boca com os dedos negros de fuligem, Morgana reconheceu em seu olhar um leve atravessar de surpresa, mas foi tão repentino que concluiu ser pura imaginação.

─ Quieta! ─ sua voz era grossa, rouca e um cachecol negro cobria seu nariz e queixo, deixando apenas os olhos e a testa onde alguns fios de cabelo se grudavam ao suor. Aquele olhar foi o suficiente para fazer com que seu grito voltasse o caminho todo e assim que o desconhecido percebeu que ela não atrairia mais nenhuma atenção para os dois, voltou a puxá-la e correr.

Morgana o seguiu cegamente e pareceram correr por uma eternidade, suas pernas já ardiam e começou a ter falta de ar depois de incontáveis quarteirões. Amaldiçoou o universo por ser tão sortuda ao ponto de começar a crise ali mesmo e apertou a mão do desconhecido com mais força, puxando o ar em desespero.

─ Precisamos... Parar. ─ arquejou com os dedos gelados e com os lábios roxos. O homem olhou para ela de lado e assim que viu sua situação soltou um xingamento audível de surpresa. Olhou por trás de seu ombro e praguejou mais uma vez, apertando a mão dela mais uma vez para lhe transmitir segurança.

Ele correu mais rápido, a puxando junto e Morgana arquejou desesperadamente, se perguntando porque ele não parava logo. Do nada, sem nenhum aviso, o desconhecido guinou para o lado, a empurrando para um beco e a forçou a subir as escadas cada vez mais rápido. A sonserina reclamou, arregalando os olhos e seus arquejos se tornaram mais profundos. O homem praguejou, a jogando por seu ombro como se não pesasse nada e subiu as escadas. Abriu uma porta e a fechou em seguida, indo até o fundo do cômodo e abriu mais incontáveis portas enquanto Morgana sentia tudo girar a sua volta.

Ela já não estava mais se situando no tempo, muito menos no lugar, portanto só se tocou que ele a tinha posto no chão quando ele se colocou ao seu lado com os olhos transmitindo séria preocupação.

─ Você tem asma?! ─ ele gritou sussurrando e a garota conseguiu só balançar a cabeça em concordância de maneira grogue enquanto arquejos e espasmos percorriam seu corpo. Seu peito queimava em chamas, a garganta doía e o homem arregalou ainda mais os olhos ao perceber que não estava ajudando em nada. Ele bagunçou o cabelo, mexendo as mãos em desespero e colocou a mão desconfortavelmente no ombro da loira, puxando também as pernas da mesma para cima. ─ Coloca a cabeça entre os joelhos, acho. ─ ele murmurou e ela o obedeceu, fechando os olhos e agarrando as próprias pernas.

Depois de sabe-se lá quantos segundos, os arquejos se transformaram em suspiros e a queimação se transformou em uma dor na qual estava acostumuda. O desconhecido relaxou visivelmente e Morgana ergueu o olhar para ele, focalizando em seus olhos, a única parte que permanecia sem cobertura ou tanta fuligem. Ela abriu a boca para falar mas ele levou a mão suja a sua boca e Morgana já ia reclamar da grosseria mas com o silêncio conseguiu ouvir o que ele suspeitava: passos. Ele se pôs de pé, a puxando pela mão e se enfiou no vão entre um armário e outro. Foram até o fundo, ele apoiou a garota na parede, cobrindo seus cabelos brancos chamativos com seu corpo vestido todo de negro. Ambos prenderam as respirações e se encararam em desespero, conseguindo praticamente ouvir o coração acelerado um do outro.

A porta se abriu com um rangido e pelo movimento por baixo do pano que lhe cobria o rosto Morgana pode saber que o desconhecido trincou o maxilar. Ele apoiou as mãos devagar na parede ao lado do rosto da sonserina, sustentando o corpo e tentou acalmar a garota com um olhar. Pela atitude dele, Morgana pode ter certeza de que sua cara provavelmente estava sendo de pânico profundo. Os músculos doloridos da garota se retesaram ao ouvir a madeira do chão ranger baixinho algumas vezes e em seguida ouviu cochichos.

─ Não parece ter ninguém aqui. ─ uma voz masculina resmungou, soava confuso.

─ É... Talvez estejamos enganados. Eles devem ter seguido reto, não faria sentido se manterem escondidos, nós os acharíamos. ─ uma voz feminina e arrogante esganiçou.

Morgana apertou o casaco do desconhecido sem se dar conta e fechou os olhos, mordendo o lábio inferior com força. Por favor, que eles não nos achem, repetiu para si mesma milhares de vezes. Poucos segundos depois ouviu-se dois estalos e ambos souberam que estavam mais uma vez sozinhos.

Mesmo depois de estarem apenas os dois no cômodo, nem Morgana nem o desconhecido moveram um músculo. A garota ainda continuava tensa e o garoto ainda se apoiava na parede atrás dela. A sonserina o encarou nos olhos mais uma vez e não soube explicar se era o sentimento de gratidão por ele ter a ajudado ou se ela estava sendo estúpidamente idiota, mas num impulso ela o fez.

Com os dedos gelados e ainda trêmulos do ataque de asma, a sonserina ergueu o cachecol do desconhecido apenas o suficiente para que seus lábios ficassem visíveis e com um último olhar nos olhos do garoto, encostou os próprios lábios nos dele com delicadeza estrema, um pressão mais delicada do que o bater de asas de uma mariposa mas ambos poderam saborer os poucos segundos.

Quando Morgana abriu os olhos mais uma vez, já tinha colocado o cachecol de volta ao seu lugar e o garoto a encarava com os olhos carregados de uma expressão que ela não conseguiu decifrar. Surpresa? Desejo? Morgana nunca foi boa com isso.

Ele pigarreou, dando passos atrás até que estivessem fora do vão e abaixou o olhar, coçando a nuca e Morgana deixou um sorriso bobo dançar no canto dos lábios, mas logo o cortou para não parecer uma estúpida sorrindo para o nada.

─ Acho melhor você ir. Saia primeiro e siga direto para a escola. ─ ele murmurou e a garota concordou algumas vezes, caminhando devagar até a porta. Quando tocou a maçaneta, se virou para ele mais uma vez e seu estômago revirou ao notar que ele também a encarava partir.

─ Vou te ver de novo? ─ perguntou numa onda de coragem, erguendo as sobrancelhas e pelas curvas dos olhos cinzas ela soube que ele estava sorrindo. O garoto deu de ombros em resposta e a sonserina sorriu para ele, saindo e fechando a porta em seguida.

O garoto ficou parado por alguns insntantes, encarando a porta e esperando que ela voltasse mais uma vez com outra pergunta que o fizesse sorrir. Ainda surpreso, Sirius tirou o cachecol do rosto para respirar direito e abriu um sorriso maroto.

─ Vai, Malfoy. ─ ele disse risonho e se repreendeu mentalmente por falar sozinho e sorrir sozinho como um idiota. Por Merlin, era apenas Morgana. E aquilo foi apenas um selinho porque ela não sabia quem ele era.

Por um momento o maroto sentiu um leve pânico dela descobrir quem era e achar que ele, de alguma forma, gostava dela, mas esse medo desapareceu quando ele saiu do pequeno prédio e conseguiu ver um fiapo branco escapar do capuz de alguém e mais uma vez ele sorriu. Ela é lerda demais pra desconfiar de algo. Até que o jogo estava começando a ser interessante, Sirius concluiu cobrindo o rosto mais uma vez e se direcionou para a Casa dos Gritos.

(...)

Morgana atravessou os portões da escola depois de caminhar mais do que se lembrava caminhar para chegar até Hogsmeade. Seus pés doiam, seu peito ainda reclamava a cada respiração e seus dedos e pernas tremiam. Não conseguia destinguir ainda se seria pelos últimos atos que fez ou pela fraqueza do seu corpo que ainda não havia recebido nenhum alimento.

Depois de encontrar com Megan, Morgana decidiu que seria melhor guardar o beijo para si mesma. Ninguém sabia também que aquele foi o seu primeiro beijo, e na verdade seu primeiro contato com qualquer garoto. Não gostava da ideia de namorar um sonserino amigo seu, mesmo que alguns desses já tivessem pedido.

Enquanto caminhava para as masmorras a loira se perguntou porque diabos fez aquilo. Ele podia – não parecia, mas podia ser – horrível, e ela definitivamente tinha soado muito mais assanhada do que pretendia ser. Ele podia pensar que ela beijava qualquer um, que ela beijava qualquer um que a salvasse de um ataque, que ela beijava metade da escola e... Argh! A sonserina resmungou consigo mesma, se batendo mentalmente por ser tão idiota ao ponto de tomar uma atitude tão ridícula como aquela. Colocou tudo a perder e sequer conhecia o cara.

Depois de uma passada rápida no quarto e de um banho, Morgana se encaminhou para os corredores, indo encontrar Aleto e Amico. Depois de algumas risadas e piadas, Morgana viu Megan e Remus se aproximando. Eles estavam de mãos dadas?! A sonserina teve de prender o sorriso de vitória que aquela cena lhe trazia, sempre soube que os dois ficariam juntos e torcia mesmo para o evento. Seu sorriso só desapareceu por completo quando eles se aproximaram demais e a loira sabia exatamente o que aquilo significava. Insultos dos quais ela teria de participar.

─ Olha, a sangue ruim arranjou um namorado. ─ Aleto sorriu debochada e Morgana se controlou para não a estapear ali mesmo. Lançou um olhar de desculpas a Megan e esperou que ela entendesse, soltando uma de suas risadas frias e sem ânimo.

Remus se impertigou, Megan se encolheu visivelmente e o braço do garoto se passou para os ombros da morena. Morgana vibrou por dentro.

─ Não estamos namorando ainda, mas fico feliz que aprova. ─ ele pareceu dar ênfase no ainda e Morgana fez uma anotação mental de questionar sobre aquilo com a amiga.

─ Não ouse falar assim comigo seu mestiço idiota. Quando Lord das Trevas finalmente subir ao poder, essa ai vai ser uma das primeiras a morrer. ─ Morgana sentiu um arrepio percorrer sua espinha com aquela fala e antes que pudesse se conter, a frase já tinha saído de seus lábios.

─ Já está bom, gente. ─ todos a olharam chocados, e tudo que pode fazer foi erguer as sobrancelhas, como se desafiasse alguém a entender os motivos de tal frase. ─ Pra que revelar os planos do Lord? ─ como planejado, Aleto e Amico deram uma risada divertida e Remus e Megan se afastaram, não depois de Remus lançar a ela um olhar que lhe pareceu magoado. Morgana respirou fundo, juntando toda a bagunça que seus sentimentos pareciam ser e os trancafiou em um pequeno armário no fundo de sua cabeça, os impedindo de atrapalhar seu perfeito papel de Malfoy.

Um sorriso frio deslizou por seus lábios, serpenteando como uma cobra, o simbulo de sua casa, e Morgana desviou os olhos de Megan, escondendo do mundo inteiro e de si própria o quanto queria ir jantar com eles.

Quando os sonserinos a sua volta resolveram ir para o Salão Principal – ligeiramente atrasados, como sempre – Morgana os seguiu, conversando com Amico e Aleto. Quandos as portas se abriram, Morgana involuntariamente correu os olhos pelo Salão, procurando por aqueles olhos que a prenderam tanto, mas tudo que conseguiu encontrar foi Megan que nem percebeu sua chegada por estar ocupada demais comendo Remus com os olhos e Sirius, que pareceu a olhar. Ótimo, eles estavam provavelmente falando dela e do quanto era idiota. Depois do acontecimento de mais cedo, Morgana quase concordou com a opinião do maroto, mas não daria a ele esse orgulho. Por isso, empinou o nariz e caminhou até o lugar vago na mesa da sonserina.

A sonserina passou o jantar inteiro vagando os olhos pelas mesas, rindo de piadas idiotas que lhe contavam e brincando com a comida enquanto perseguia todos os olhos que lhe alcaçavam a vista numa caçada discreta pelos olhos cinzas. Por trama do Destino, Morgana se sentava de costas para o dono do olhar que tanto ansiava.

Naquela noite, Morgana sonhou com olhos cinzas que a encaravam, rodopiavam a sua volta, se misturavam a nuvens chuvosas e uma boca delicada que tocava a sua durante a noite.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Marauder's Love" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.